Programa do Contestado – AS-PTA https://aspta.org.br Agricultura Familiar e Agro­ecologia Mon, 04 Dec 2023 14:17:59 +0000 pt-BR hourly 1 6ª edição da Partilha Solidária une Agroecologia e Solidariedade https://aspta.org.br/2023/11/14/6a-edicao-da-partilha-solidaria-une-agroecologia-e-solidariedade/ https://aspta.org.br/2023/11/14/6a-edicao-da-partilha-solidaria-une-agroecologia-e-solidariedade/#respond Tue, 14 Nov 2023 18:27:01 +0000 https://aspta.org.br/?p=20392 O sol do último sábado, 11/11, movimentou a Feira Orgânica de Palmeira, que acontece há 23 anos na Praça do Cemitério. Organizada pelo Grupo São Francisco de Assis de Agroecologia, as manhãs são momentos de aproximar quem produz de quem consome. O intuito é valorizar o trabalho da agricultura familiar agroecológica, reforçando a importância de … Leia mais

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O sol do último sábado, 11/11, movimentou a Feira Orgânica de Palmeira, que acontece há 23 anos na Praça do Cemitério. Organizada pelo Grupo São Francisco de Assis de Agroecologia, as manhãs são momentos de aproximar quem produz de quem consome. O intuito é valorizar o trabalho da agricultura familiar agroecológica, reforçando a importância de comprar direto de quem produz, reconhecendo a origem dos alimentos.

Nesta edição, houve a 6ª Partilha da Agroecologia, com alimentos produzidos pelo grupo, convidando aos que passavam ali a conhecer a produção agroecológica. Para expressar a diversidade das propriedades foi construída, coletivamente, a tradicional mandala da agrobiodiversidade. Os feirantes trouxeram para o centro seus alimentos, sementes, mudas, flores e ervas medicinais. Ao final a mandala foi partilhada.

“É uma opção com qualidade de vida, você poder comprar o produto orgânico e saber que não tem uso de agrotóxico, você aproveita tudo, desde a casca às folhas, eu aproveito tudo o que dá dos produtos orgânicos, além de encontrar as pessoas, formar amizades, hoje eu conheço todos os feirantes, se eu não posso vir na feira, eles me entregam ou reservam os alimentos pra mim”, comenta Solange, uma consumidora assídua da feira.

Um momento importante na programação da partilha foi a benção interreligiosa dos alimentos e da produção dos agricultores, foi um ponto de união, agradecimento e benção feita por representantes da igreja católica, menonita, luterana e religião de matriz africana.

Destacamos como caráter importante desta partilha o olhar solidário para as famílias em vulnerabilidade do município, onde lançamos a Campanha do Alimento Solidário. Os consumidores são convidados a doar alimentos, de preferência agroecológica dos próprios feirantes, e depositar nas caixas de coleta que ficarão permanentemente junto a feira. Ao final da feira estes alimentos são destinados as famílias em situação de vulnerabilidade, possibilitando acesso a alimentos saudáveis, de qualidade e sem o uso de agrotóxicos, produzidos de forma socialmente justa, ambientalmente correta e economicamente viável.

Neste primeiro ato da campanha a entidade que recebeu as doações foi o Serviço de Fortalecimento de vínculos da Associação Menonita Brasileira (AMB). A expectativa é que a campanha se espalhe em mais locais e envolvendo mais organização do município.

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No Sul do Brasil, agricultoras e agricultores discutem propostas para o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica https://aspta.org.br/2023/10/24/no-sul-do-brasil-agricultoras-e-agricultores-discutem-propostas-para-o-plano-nacional-de-agroecologia-e-producao-organica/ https://aspta.org.br/2023/10/24/no-sul-do-brasil-agricultoras-e-agricultores-discutem-propostas-para-o-plano-nacional-de-agroecologia-e-producao-organica/#respond Wed, 25 Oct 2023 00:18:40 +0000 https://aspta.org.br/?p=20334 Enfrentamento das mudanças climáticas, diversificação da produção de alimentos, combate à contaminação por agrotóxicos e aos desmatamentos, garantia de crédito, alimentação escolar agroecológica e políticas públicas de incentivo são algumas das preocupações urgentes apontadas por agricultoras e agricultores dos três estados. Um dia, as plantas murcham na lavoura pelo calor excessivo; no outro, os temporais, … Leia mais

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Enfrentamento das mudanças climáticas, diversificação da produção de alimentos, combate à contaminação por agrotóxicos e aos desmatamentos, garantia de crédito, alimentação escolar agroecológica e políticas públicas de incentivo são algumas das preocupações urgentes apontadas por agricultoras e agricultores dos três estados.

Um dia, as plantas murcham na lavoura pelo calor excessivo; no outro, os temporais, vendavais e o granizo é que ameaçam a produção de alimentos. “Por causa de cenas assim e pela força das catástrofes, as mudanças climáticas chegaram finalmente a ganhar espaço no noticiário. Mas o que ainda falta ir parar na boca do povo mesmo é a agroecologia e um modelo saudável, sustentável de cultivo, que gere a vida e não a destruição da natureza”. As palavras da agricultora agroecológica Sandra Ponijaleki, da Comunidade de Passo do Tio Paulo, em Palmeira (PR), revelam os desafios das famílias que vivem no campo e a importância e urgência de valorizar e de fortalecer a produção orgânica, agroecológica e diversificada de comida no país.

Ela lembra que proteger as fontes, preservar as florestas e as matas ciliares, entre outras ações, também integram esse modelo sustentável, em vez dos desmatamentos que assoreiam os rios, destroem os ecossistemas e não impedem o rastro de destruição deixado pela passagem de ventos mais fortes e violentos. Na opinião da agricultora, passa da hora de se compreender a relação entre essas catástrofes climáticas e a necessidade de ampliar os modos de produção equilibrados e não predatórios, que começam no cuidado com a semente plantada no solo, com a saúde preventiva da população e se estendem até a geração de trabalho, de renda e de riquezas no país. 

Com 33,1 milhões de pessoas sem ter o que comer e mais da metade da população brasileira em situação de insegurança alimentar, segundo os estudos da Rede Penssan, o fortalecimento da agroecologia não pode mais ser protelado e nem ser tratado sem a devida prioridade. Ex-fumicultora no município da região dos Campos Gerais do Paraná, Sandra conta que foi muito criticada quando decidiu fazer a conversão das lavouras em sua pequena propriedade rural, migrando do cultivo convencional para o agroecológico. Hoje é referência local tanto do sucesso da diversificação e da organização da produção, quanto das vantagens da agroecologia para a saúde, a economia local e a segurança alimentar e nutricional do estado. 

No dia 6 de outubro, a comunidade onde Sandra mora Passo do Tio Paulo, em Palmeira (PR) , sediou uma oficina com mais de 50 agricultoras/es, técnicas/os e especialistas das organizações e redes agroecológicas do Paraná para debater e elaborar propostas para o III Planapo – Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica. A partir dessas contribuições, organizadas em seis eixos temáticos, a intenção foi formular propostas de políticas públicas para serem adotadas pelo governo federal, mas também para orientar as redes e articulações agroecológicas de todo o país nas suas ações conjuntas e bandeiras de luta comuns. 

As oficinas para elaboração de propostas para o III Planapo foram realizadas nos três estados do Sul – Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul –, neste mês de outubro, e integram o calendário da iniciativa “Políticas Públicas de Agroecologia na Boca do Povo”, promovida pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA). Além destas, ocorrem em todos os estados  brasileiros e no Distrito Federal atividades voltadas à coleta de propostas que serão sistematizadas em um único documento.

No Sul do Brasil, região bastante castigada pelas adversidades climáticas, coube novamente à agricultura familiar camponesa, aos povos que vivem em comunidades tradicionais, aos indígenas e aos quilombolas, bem como às suas entidades representativas e ativistas das redes de agroecologia, a tarefa de propor soluções e pensar alternativas práticas e duradouras na forma de políticas públicas que visem assegurar saúde, abastecimento e vida digna. O desafio passa por pautar o tema da agroecologia nos debates populares e colocar as medidas de apoio de fato na boca do povo, para fomentar um modelo sustentável, cultivador da vida e da preservação dos recursos naturais, em que ninguém mais passe fome. Os resultados dessa mobilização serão amplamente divulgados, para conhecimento dos atores e da população em geral de cada estado.

Clima e respeito à diversidade em destaque no Paraná

Um dos diferenciais do encontro ocorrido no Paraná foi a ideia de incluir a preocupação com o impacto das mudanças climáticas e reforçar as temáticas de gênero, geração e raça no bojo das formulações de políticas públicas para a agroecologia. “É uma exigência da nossa realidade não descolar esses temas do nosso dia a dia, no propósito de pensar uma sociedade mais equilibrada, justa e humana. A gente compreende a agroecologia dentro de um modelo integral de qualidade de vida, de sustentabilidade, de solidariedade entre as pessoas e de compromisso com a natureza”, argumenta o consultor da iniciativa no Paraná, Claudio Luiz Marques. Ele destaca que, no estado, a oficina contou ainda com a organização da Articulação Paranaense de Agroecologia (APRA) e do Coletivo Triunfo.

A oficina paranaense também extraiu dos debates propostas que apontam no sentido de assegurar a efetivação de um sistema específico de crédito para a agroecologia, não apenas uma modalidade dentro de um programa nacional; de garantir o protagonismo das comunidades tradicionais, indígenas, quilombolas e faxinalenses; de reforçar a atenção do Ministério Público (MPPR) para o cumprimento da legislação, a fim de inibir a contaminação por agrotóxicos e produtos transgênicos nas lavouras orgânicas e agroecológicas; e de ampliar a merenda escolar orgânica nas instituições públicas de ensino, entre outras intenções.

Resistência indígena em Santa Catarina

No estado de Santa Catarina, a coleta de contribuições para o III Planapo contou com momentos presenciais e virtuais. Foram realizadas duas atividades presenciais: uma em Florianópolis, dia 6 de outubro, com a participação de agricultoras e agricultores do núcleo da Rede Ecovida de Agroecologia, e outra em Chapecó, na Aldeia Condá, com as lideranças Kaingang, no dia 16. Já a atividade virtual realizada em Santa Catarina, reunindo lideranças de diferentes movimentos sociais e organizações do campo, ocorreu em dois turnos, nos dias 6 e 17 de outubro. 

Foram mobilizadas ao todo nessas atividades cerca de 40 lideranças catarinenses, que promoveram a leitura, debates e sugestões para agregar ao III Planapo. Segundo Anderson Munarini, consultor da iniciativa pelo estado, o que marcou essa rodada de oficinas foi o apelo feito pelo Sr. Efésio, cacique Kaingang da Aldeia Condá, que solicitou ajuda para concluir os plantios. Com as roças prontas, faltavam na aldeia mudas de mandioca e de batata doce, sementes de milho e de feijão, entre outras. “A pobreza no meio rural, em especial nas áreas indígenas, é preocupante e esse povo precisa ser ouvido, reconhecido, respeitado e incluído de fato na atenção dos poderes públicos”, avalia Munarini.

Essa realidade aponta também a necessidade de implementação de um programa governamental de fomento à agricultura indígena, com todos os cuidados dos manejos de preservação, mas motivado pelo cuidado também de combater a fome no campo e entre os povos tradicionais”, afirma Luis Carlos Borsuk, assessor técnico da Associação dos Pequenos Agricultores do Oeste Catarinense (APACO). A utilização de tecnologias sociais para promover segurança hídrica nas comunidades rurais e a elaboração de um programa de bioinsumos, entre outras questões, também foram propostas levantadas nas oficinas da iniciativa catarinense.

Em Santa Catarina, com base no documento elaborado para o plano anterior, o II Planapo, foram sugeridas pequenas alterações para qualificar as 18 propostas formuladas. No debate, surgiu a necessidade de mudar a lógica das políticas públicas de agroecologia, em especial as de crédito – hoje focadas mais no viés econômico e da geração de renda -, para fortalecer o conceito da alimentação saudável e da promoção da saúde. Com isso, busca-se atrair mais os setores de saúde para essas iniciativas e também criar fundos de fomento para agroecologia, apoiada na lógica da produção de alimentos saudáveis. 

RS quer maior rigor na fiscalização e responsabilização das contaminações por agrotóxicos

No Rio Grande do Sul, a oficina do III Planapo ocorreu no dia 5 de outubro, de modo híbrido, com participação de representantes das redes agroecológicas e de órgãos públicos do estado e do governo federal. Reuniu mais de 50 lideranças, entre participações presenciais e remotas. 

A preocupação com a emergência climática e com a pulverização por agrotóxicos também foi destaque no debate e na formulação de propostas pelos participantes do Rio Grande do Sul, o que demanda o estabelecimento de poligonais ou de zonas de exclusão de pulverização aérea de agrotóxicos, além de uma maior fiscalização desses crimes socioambientais no estado e da reparação imediata das perdas. Ao todo, a oficina apontou 16 reivindicações gerais para intensificar a promoção da produção agroecológica e outras 6 demandas específicas.

Também discutimos e indicamos ações que visem assegurar a permanência dos jovens nas unidades de produção e nos territórios, além da necessidade de criação de mecanismos de financiamentos para atender comunidades de povos tradicionais e originários, que não têm título ou posse da terra legalizada”, destaca a consultora da iniciativa “Políticas Públicas de Agroecologia na Boca do Povo” para o Rio Grande do Sul, Cecile Follet. Outro ponto que merece prioridade, na avaliação das/os participantes do encontro gaúcho, diz respeito ao combate aos agroquímicos e à revisão de grande parte das autorizações e liberação para uso de moléculas, princípios ativos e venenos agrícolas comerciais. “A maioria desses agrotóxicos e componentes resulta em prejuízos ao equilíbrio ecológico e à saúde pública e há casos até de produtos que vêm pra cá, mas estão proibidos de serem comercializados nos seus países de origem”, conta Cecile.

E um diferencial das propostas tiradas na oficina do III Planapo no Rio Grande do Sul, até pelo compromisso dos organismos governamentais presentes com a agroecologia, foi o de repensar os arranjos institucionais para qualificar a execução do plano e agregar a atuação de mais órgãos no sentido de avançar nas relações com outros países. Trazer para estes debates e aproximar mais a pauta da agroecologia à agenda, por exemplo, do Ministério das Relações Exteriores (MRE), pode significar o alcance de melhores resultados futuros em questões que dizem respeito ao comércio exterior do Brasil, à constituição de fundos de financiamento, marcos legais compatíveis e à sociobiodiversidade.

Próximos passos

Em novembro, se inicia a próxima etapa dos trabalhos da iniciativa “Políticas Públicas de Agroecologia na Boca do Povo” na região Sul. A partir de agora, serão realizadas atividades para debater e formular propostas voltadas às políticas públicas estaduais que fortaleçam a agroecologia, em especial as Políticas Estaduais de Agroecologia e Produção Orgânica (PEAPOs)

O produtor e a produtora agroecológicos preservam. Se tem uma nascente de água na propriedade, eles vão lá e fazem a preservação, plantam mais árvores ao redor e cuidam para cada dia aumentar mais a água. Não usam agrotóxicos para não matar os bichinhos que fazem o controle natural e não desmatam para plantar. Cultivam vida e alimentos saudáveis. Isso faz toda a diferença!”, completa a agricultora agroecológica Sandra Ponijaleki.

 

Crédito das fotos da oficina em Palmeira, PR: Renato K. Ribeiro e André Jantara / Coletivo Triunfo.

Imagens das atividades em SC: Arquivo da APACO.

Referências para linkar na publicação:
Site da ANA – Articulação Nacional de Agroecologia: https://agroecologia.org.br/
Rede Penssan | 2º Inquérito Nacional Sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19 no Brasil:
https://pesquisassan.net.br/2o-inquerito-nacional-sobre-inseguranca-alimentar-no-contexto-da-pandemia-da-covid-19-no-brasil/ 

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Feira Regional reforça compromisso com preservação da agrobiodiversidade https://aspta.org.br/2023/09/11/feira-regional-reforca-compromisso-com-preservacao-da-agrobiodiversidade/ https://aspta.org.br/2023/09/11/feira-regional-reforca-compromisso-com-preservacao-da-agrobiodiversidade/#respond Mon, 11 Sep 2023 16:47:37 +0000 https://aspta.org.br/?p=20241 19ª edição do maior encontro de sementes crioulas do Centro-Sul do Paraná coroou o final de agosto, marcando novo ano agrícola Centenas de variedades de milho crioulo, feijão, abóbora, hortaliças, flores. Pacotes com as mais diversas espécies de “miudezas”, como são chamadas no Paraná as sementes pequenas de tamanho, mas gigantes na importância. Elas representam … Leia mais

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19ª edição do maior encontro de sementes crioulas do Centro-Sul do Paraná coroou o final de agosto, marcando novo ano agrícola

Centenas de variedades de milho crioulo, feijão, abóbora, hortaliças, flores. Pacotes com as mais diversas espécies de “miudezas”, como são chamadas no Paraná as sementes pequenas de tamanho, mas gigantes na importância. Elas representam a soberania e segurança alimentar e nutricional tanto das famílias guardiãs, que as conservam e multiplicam, quanto das famílias que as consomem – seja em forma de semente ou de alimento, após a colheita. 

Inaugurando o Parque de Exposições Francisco Rutcoski, em Palmeira, região centro-sul paranaense, toda essa diversidade genética, de conhecimentos e territórios, esteve presente na 19ª Feira Regional de Sementes Crioulas e da Agrobiodiversidade. Nas fileiras de mesas, organizadas em mutirão no dia anterior, 115 famílias expositoras preencheram o barracão com sua riqueza única de sementes, mudas, flores e artesanatos. 

Realizada nos dias 25 e 26 de agosto, esta edição da feira recebeu milhares de pessoas e  trouxe como lema “Cuidando dos Bens Comuns: Alimentos Saudáveis, Saúde Popular e Resgate de Tradições”.. Os trabalhos relacionados aos cuidados estão profundamente conectados às mãos das mulheres, em total sinergia com o lema de 2023, e um reflexo da crescente participação feminina, que protagonizou 66% das bancas este ano.

As delegações vieram de mais de 30 municípios  de diferentes regiões do estado do Paraná, além de São Paulo, Santa Catarina e Rio de Janeiro, entre estudantes, povos indígenas, comunidades quilombolas e organizações populares do campo e da cidade. O papel das feiras é central na animação das redes territoriais de agroecologia, ao ser um ponto de encontro entre diferentes sujeitos comprometidos com a preservação da agrobiodiversidade, com o combate à fome, à produção de alimentos e a construção de sistemas agroalimentares saudáveis, justos e territorializados. 

Algumas tradições importantes acompanham e fortalecem as feiras de sementes. Para os milhos foram realizados rigorosos testes de transgenia, assegurando que apenas variedades crioulas circulassem pela feira, compondo uma das estratégias de enfrentamento à contaminação por variedades transgênicas. Em 2023 foram realizados nove testes de transgenia para detectar contaminação, todos com resultados positivos da pureza dos milhos. Outra tradição importante está associada à realização da feira no mês de agosto, celebrando o aguardado momento de preparar a terra e semear novamente, iniciando mais um ano agrícola.  A banda oficial é a Filhos da Mãe Terra, de Mandirituba, trazendo músicas autorais de valorização da cultura popular e da agrobiodiversidade.

Uma novidade de 2023 foi o Espaço da Saúde Popular, organizado pelo Grupo de Mulheres do Coletivo Triunfo. Aromas, texturas e o chá quente, confortando os dias frios do final do inverno, acompanharam este espaço ao longo da feira. Na oficina sobre plantas medicinais e sua importância nas comunidades, partilha de histórias de vida acompanhadas de processos de cura física, emocional, espiritual. Mais de 200 mudas de plantas medicinais, flores e frutíferas foram doadas, como também fitoterápicos produzidos pelo grupo em encontro preparatório para a feira. 

Para Miriane Serrato, assessora da AS-PTA, “as feiras regionais acontecem historicamente por uma construção coletiva das famílias guardiãs e suas organizações de base, com o principal intuito de fortalecer a luta camponesa e preservar a agrobiodiversidade da nossa região, que cada vez mais é engolida pela lógica do agronegócio. Ver a diversidade nas mesas dos expositores em cada feira regional é um símbolo de resistência dos povos do campo.”

As feiras regionais, assim como os demais encontros que dão vida ao calendário de festas e feiras de sementes, têm o intuito de promover processos de preservação e multiplicação da agrobiodiversidade. Funcionam como bancos genéticos itinerantes, que carregam em si sementes crioulas, flores, mudas de árvores e plantas medicinais, ramas e tubérculos, raças de animais, criando também mercados territoriais e processos de incidência política.

Na região centro-sul, elas são convocadas pelo Coletivo Triunfo e seus mais de 25 grupos comunitários e organizações da agricultura familiar, como cooperativas, sindicatos e associações, e assessorado pelo Programa Local Paraná da AS-PTA.

Durante a abertura oficial, na manhã de sábado (26), após a benção ecumênica das sementes, as falas marcam a presença e valorização da cultura tradicional dos povos e o momento de retomada do Brasil, com políticas públicas voltadas à promoção da soberania e segurança alimentar e nutricional.

Joel Anastácio, Kaingang da Terra Indígena de Mangueirinha, sudoeste do Paraná, e agrônomo formado pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), afirmou a importância da produção da agricultura familiar na erradicação da fome. “Viemos para a feira com alguns indígenas, eles trouxeram suas artes para expor, e nesta fala quero deixar uma mensagem aos agricultores e aos guardiões de sementes em nome do nosso povo, para que se sintam orgulhosos, por que vocês sustentam nosso Brasil com alimentos saudáveis, vocês se preocupam de verdade com a segurança alimentar”, disse Joel.

Para a coordenadora-geral do Escritório Estadual do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Familiar (MDA) no Paraná, Leila Klenk, é urgente a necessidade de políticas públicas voltadas para a agricultura familiar e a distribuição de recursos. “É um orgulho enorme prestigiar esta Feira Regional, eu coloco o ministério à disposição de todos, reitero que precisamos nos unir para que, juntos, deputados estaduais e federais possamos fazer o direcionamento das emendas parlamentares de forma coletiva, que venha a atender as necessidades dos agricultores familiares, para que os recursos a exemplo do Pronaf sejam colocados para aqueles que mais precisam. Estou muito emocionada em ver que vocês, guardiões das sementes, guardam a vida e o tempo. A primavera se anuncia, e com ela, uma nova safra, uma nova vida, uma nova esperança, na luta sempre juntos”, afirmou a coordenadora.

Os encontros que a Feira Regional possibilita são culminâncias de múltiplos e variados processos animados por diversas redes e grupos no Paraná e no país. Ou seja, ela ocorre pela ação conjunta de sujeitos coletivos que, desde os seus lugares de atuação, cuidam dos bens comuns e contribuem para a restauração dos sistemas agroalimentares. 

Fotos:  Fernando Angeoletto e Vinícius Luiz Correia

 

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19ª Feira Regional de Sementes Crioulas traz cuidado com os bens comuns como lema de 2023 https://aspta.org.br/2023/08/23/19a-feira-regional-de-sementes-crioulas-traz-cuidado-com-os-bens-comuns-como-lema-de-2023/ https://aspta.org.br/2023/08/23/19a-feira-regional-de-sementes-crioulas-traz-cuidado-com-os-bens-comuns-como-lema-de-2023/#respond Wed, 23 Aug 2023 12:51:20 +0000 https://aspta.org.br/?p=20213 O encontro acontecerá nos dias 25 e 26 de agosto, em Palmeira/PR, reunindo centenas de expositores e participantes As festas e feiras de sementes crioulas e da agrobiodiversidade da região centro-sul do Paraná são tradicionalmente organizadas no mês de agosto para celebrar o aguardado momento de preparar a terra e semear novamente, iniciando mais um … Leia mais

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O encontro acontecerá nos dias 25 e 26 de agosto, em Palmeira/PR, reunindo centenas de expositores e participantes

As festas e feiras de sementes crioulas e da agrobiodiversidade da região centro-sul do Paraná são tradicionalmente organizadas no mês de agosto para celebrar o aguardado momento de preparar a terra e semear novamente, iniciando mais um ano agrícola. Realizada de forma itinerante entre os municípios da região, anima a rede de famílias guardiãs, que mobilizam suas comunidades rurais, urbanas e organizações de base da agricultura familiar, fortalecendo as redes territoriais de agroecologia por onde passa.

A 19ª Feira Regional de Sementes Crioulas e da Agrobiodiversidade, o encontro mais esperado do ano, acontece na próxima sexta e sábado, dias 25 e 26 de agosto, no Parque de Exposições Francisco Rutcoski, em Palmeira, Paraná. Já são mais de 90 expositoras e expositores inscritos de 27 municípios do Paraná e de outros estados como Rio de Janeiro e Santa Catarina.

Sementes crioulas de centenas de espécies e diversidades, mudas de árvores nativas, frutíferas, flores e plantas medicinais, alimentos beneficiados, produtos de milho crioulo, panificados, erva-mate, doces e artesanatos darão vida ao lema desta edição da feira regional:  “Cuidando dos bens comuns: alimentos saudáveis, saúde popular e resgate das tradições”.

Convocadas pela Coletivo Triunfo, formado por mais de 25 grupos comunitários e organizações da agricultura familiar, como cooperativas, sindicatos e associações, e assessorado pelo Programa Local Paraná da AS-PTA, as feiras regionais têm o intuito de promover processos de preservação e multiplicação da agrobiodiversidade. O Grupo Coletivo Triunfo está presente em pelo menos 15 municípios da região centro-sul e sudeste do estado, articulando uma grande rede de famílias agricultoras e comunidades guardiãs das sementes, conhecimentos e tradições.

Para Miriane Serrato, assessora da AS-PTA, “as feiras regionais acontecem historicamente por uma construção coletiva das famílias guardiãs e suas organizações de base, com o principal intuito de fortalecer a luta camponesa e preservar a agrobiodiversidade da nossa região, que cada vez mais é engolida pela lógica do agronegócio. Ver a diversidade nas mesas dos expositores em cada feira regional é um símbolo de resistência dos povos do campo. Elas são um poço de esperança, em que depositamos nossa água, que é o trabalho que realizamos, mas também bebemos dessa mesma água, que é a resistência das famílias guardiãs, para continuarmos juntas e juntos na caminhada.”

Inscrições e programação

As inscrições para expor na feira regional são gratuitas e ainda podem ser realizadas através de formulário online, clicando aqui, seguindo importantes critérios de participação, assegurando um espaço livre de transgênicos e agrotóxicos, de comida de verdade, que expresse a diversidade e riqueza da produção agroecológica.

Dentre os critérios de participação estão a realização de teste de transgenia em todas as sementes de milho. Se for constatada a contaminação, as sementes deverão ser imediatamente retiradas da banca e da feira. Todas as bancas expositoras devem ter ligação direta com a conservação da agrobiodiversidade, e dentre os produtos devem constar no mínimo cinco variedades crioulas de sementes ou mudas. Só são permitidos produtos (alimentos, artesanatos e insumos) que comprovem sua origem de produção familiar, ou, no caso de implementos agrícolas, que comprovem sua utilidade nas práticas agroecológicas de produção e conservação da agrobiodiversidade. Não será permitida a revenda de produtos industrializados, salvo quando estes produtos forem de origem de agroindústrias ligadas à agricultura familiar.

O alimento é central nas feiras regionais, e, por isso, os encontros sempre começam com o café da partilha, em que a cultura alimentar dos diferentes territórios está presente. Na sexta, 25/08, é dia de visita da comunidade escolar de instituições do ensino básico ao superior, possibilitando o contato e troca de conhecimentos entre diferentes gerações. Neste dia também acontecerão oficinas temáticas e uma noite cultural, embalada pela banda Filhos da Mãe Terra, de Mandirituba/PR.

A abertura oficial da 19ª Feira Regional, será no sábado pela manhã, seguida da benção ecumênica das sementes e apresentações culturais após o almoço. A partilha da mandala  encerra o encontro, espalhando as sementes em terras férteis cuidadas por famílias que cotidianamente lutam por um futuro mais justo, com comida de verdade e muita fartura na colheita.

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Mutirão da Partilha: Unindo Tradição Camponesa, Solidariedade e Agrobiodiversidade https://aspta.org.br/2023/08/19/mutirao-da-partilha-unindo-tradicao-camponesa-solidariedade-e-agrobiodiversidade/ https://aspta.org.br/2023/08/19/mutirao-da-partilha-unindo-tradicao-camponesa-solidariedade-e-agrobiodiversidade/#respond Sat, 19 Aug 2023 15:42:37 +0000 https://aspta.org.br/?p=20207 No coração do Paraná, floresce uma tradição ancestral: o Mutirão da Partilha. Criado pelo Coletivo Triunfo em Fernandes Pinheiro, esse movimento fortalece a união entre agricultores rurais, resgatando práticas ancestrais e promovendo o desenvolvimento sustentável da comunidade. Na Casa das Sementes, a família Santos, composta por Dona Terezinha, Seu Silvestre e Jaqueline, semeia a ideia … Leia mais

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No coração do Paraná, floresce uma tradição ancestral: o Mutirão da Partilha. Criado pelo Coletivo Triunfo em Fernandes Pinheiro, esse movimento fortalece a união entre agricultores rurais, resgatando práticas ancestrais e promovendo o desenvolvimento sustentável da comunidade.

Na Casa das Sementes, a família Santos, composta por Dona Terezinha, Seu Silvestre e Jaqueline, semeia a ideia de colaboração. Desde 2018, esse espaço acolhe encontros e atividades do Coletivo Triunfo, celebrando a agroecologia como base para uma agricultura sustentável.

A verdadeira essência da solidariedade se revelou em 2021, quando Seu Silvestre sofreu um acidente. O Coletivo Triunfo mobilizou mais de 40 pessoas para limpar suas roças, destacando a força da comunidade e o poder da ajuda mútua.

Da solidariedade à inovação, o Mutirão da Partilha floresceu. Em 2022/2023, em parceria com a AS-PTA, nasceu a iniciativa que conecta tradição e agrobiodiversidade. Sementes e conhecimento são compartilhados, promovendo uma troca vital de saberes entre comunidades e gerações.

No campo, famílias cultivaram não apenas sementes, mas também conexões profundas. O milho São Pedro, com mais de 70 anos de história, foi resgatado, livre de transgênicos.  O feijão ganhou espaço com 12 variedades, protegendo espécies em risco. A horta mandala floresceu, mostrando que o manejo consciente e a diversidade caminham lado a lado.

O Mutirão da Partilha também se enraizou no solo, explorando práticas agroecológicas. A seleção massal do milho e a trincheira para análise do solo abriram espaço para conhecimento e cuidado.

Mas o Mutirão da Partilha é mais do que plantar e colher; é celebrar. A tradição camponesa ganha vida com festas, danças e pratos típicos.

 

Assista ao vídeo aqui.

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Publicação apresenta iniciativas de abastecimento solidário desenvolvidas na pandemia com efeitos que se estendem ao atual cenário de fome no país  https://aspta.org.br/2023/08/19/publicacao-apresenta-iniciativas-de-abastecimento-solidario-desenvolvidas-na-pandemia-com-efeitos-que-se-estendem-ao-atual-cenario-de-fome-no-pais/ https://aspta.org.br/2023/08/19/publicacao-apresenta-iniciativas-de-abastecimento-solidario-desenvolvidas-na-pandemia-com-efeitos-que-se-estendem-ao-atual-cenario-de-fome-no-pais/#respond Sat, 19 Aug 2023 15:30:42 +0000 https://aspta.org.br/?p=20202 Dados recentes do relatório sobre o Estado da Segurança Alimentar e Nutrição (SOFI/ONU) registram que 21 milhões de pessoas passam fome, 70,3 milhões estão em insegurança alimentar e 10 milhões estão desnutridas no Brasil. O quadro de insegurança alimentar e fome cresceu de forma alarmante desde a pandemia de Covid-19, e ainda persiste mesmo após a … Leia mais

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Dados recentes do relatório sobre o Estado da Segurança Alimentar e Nutrição (SOFI/ONU) registram que 21 milhões de pessoas passam fome, 70,3 milhões estão em insegurança alimentar e 10 milhões estão desnutridas no Brasil. O quadro de insegurança alimentar e fome cresceu de forma alarmante desde a pandemia de Covid-19, e ainda persiste mesmo após a estabilização da crise sanitária. Articulações entre organizações da sociedade civil, instâncias eclesiásticas e iniciativas legislativas apontam caminhos para enfrentar esta mazela.

Ações de abastecimento solidário, com base em alimentos agroecológicos e voltadas para famílias em insegurança alimentar por conta da pandemia, foram realizadas pelas entidades executoras do projeto Consumidores e Agricultores em Rede a partir de 2020, e seguem ainda vigentes. Foram aportados recursos de 2 projetos financiados pela cooperação internacional da Misereor, além do apoio financeiro da Fundação Banco do Brasil (FBB) e do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), na modalidade Compra com Doação Simultânea operado pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB).

A participação ativa de muitos atores sociais públicos e privados contribuiu decisivamente para essas ações alcançarem 152.386 pessoas em 22 municípios nos três estados da região Sul. Foram movimentados R$ 1.488.215,18, que possibilitaram a doação de 338.440 kg de alimentos com grande diversidade, incluindo folhosas, temperos, grãos, frutas, raízes, hortaliças, bulbos, tubérculos, farinhas, ovos e leite.

Concomitantemente às ações de abastecimento, foram realizadas oficinas formativas de aproveitamento de alimentos, formações cidadãs em Segurança Alimentar e Nutricional, instalação de hortas comunitárias e instalação de composteira para a reciclagem de resíduos orgânicos. Todas as ações realizadas tem a marca da solidariedade de pessoas e entidades engajadas na superação da fome e da vulnerabilidade social.

O Boletim Especial “Ação Covid” 2020-2023, disponível para visualização online, (ou nesse Link) apresenta o desenvolvimento do trabalho em Rede executado pelas ONGs AS-PTA, Centro Vianei, Cepagro e Cetap, cujos resultados incidem diretamente no enfrentamento à fome e insegurança alimentar no Sul do Brasil.

 

Por Natal Magnanti, coordenador, e Fernando Angeoletto, Assessor de Comunicação | Projeto “Consumidores e Agricultores em Rede”

 

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Cartilha – Histórias da Invernada https://aspta.org.br/2023/08/12/cartilha-historias-da-invernada/ https://aspta.org.br/2023/08/12/cartilha-historias-da-invernada/#respond Sat, 12 Aug 2023 15:14:23 +0000 https://aspta.org.br/?p=20198 A história da Invernada aqui contada é fruto de oficinas realizadas em 2022 e 2023 com a participação de muitas famílias da comunidade, que é guardiã da agrobiodiversidade. Localizada em meio às serras preservadas do município de Rio Azul, na região sudeste do estado do Paraná, a trajetória foi contada com apoio do Método Lume … Leia mais

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A história da Invernada aqui contada é fruto de oficinas realizadas em 2022 e 2023 com a participação de muitas famílias da comunidade, que é guardiã da agrobiodiversidade. Localizada em meio às serras preservadas do município de Rio Azul, na região sudeste do estado do Paraná, a trajetória foi contada com apoio do Método Lume de Análise Econômica-Ecológica de Agroecossistemas.

As oficinas comunitárias identificaram as principais mudanças na Invernada, registradas em uma linha do tempo, identificando também as potencialidades e desafios, resultando em um plano de ação construído junto às famílias agricultoras. Nessa metodologia, foram levantados acontecimentos e mudanças ocorridas nos seguintes temas: agricultura e meio ambiente; estrutura agrária; organizações da agricultura familiar e redes; conhecimentos; mercados; infraestrutura; ações do Estado e políticas públicas; desafios e ameaças. As informações foram organizadas nos seguintes períodos históricos: antes de 1950; 1950-1969; 1970-1989; 1990-1999; 2000-2010; 2011-2022. 

Esperamos que esses registros contribuam para que a história da Invernada seja conhecida por muita gente, inclusive das novas gerações, e que possam inspirar ações e políticas públicas em defesa das terras, das sementes crioulas, das águas, das matas e da cultura do povo da Invernada e de todas as comunidades da região Sudeste e Centro-Sul do Paraná.

Este trabalho foi animado pela AS-PTA como parte de uma pesquisa-ação sobre o cuidado com os bens comuns, desenvolvida em oito comunidades de quatro países latinoamericanos: duas comunidades na Bolívia, duas no Peru, uma na Colômbia e três no Brasil. A pesquisa-ação foi apoiada por Secours Catholique Cáritas França (SCCF) e pela Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD).

Histórias da Invernada

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Encontro sobre experimentação agroecológica e preservação da agrobiodiversidade reúne Famílias agricultoras de Teixeira Soares https://aspta.org.br/2023/05/31/encontro-sobre-experimentacao-agroecologica-e-preservacao-da-agrobiodiversidade-reune-familias-agricultoras-de-teixeira-soares/ https://aspta.org.br/2023/05/31/encontro-sobre-experimentacao-agroecologica-e-preservacao-da-agrobiodiversidade-reune-familias-agricultoras-de-teixeira-soares/#respond Wed, 31 May 2023 21:46:40 +0000 http://aspta.org.br/?p=20101 Na programação, sementes crioulas, produção agroecológica e comercialização de sementes, mudas e alimentos As caravanas de diversas comunidades rurais de Teixeira Soares, no Paraná, movimentaram o barracão da Igreja do Rio D’Areia de Baixo no último dia 20 de maio, sábado, para participar do 1º Encontro das Famílias Experimentadoras em Agrobiodiversidade do município. Dentre os … Leia mais

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Na programação, sementes crioulas, produção agroecológica e comercialização de sementes, mudas e alimentos

As caravanas de diversas comunidades rurais de Teixeira Soares, no Paraná, movimentaram o barracão da Igreja do Rio D’Areia de Baixo no último dia 20 de maio, sábado, para participar do 1º Encontro das Famílias Experimentadoras em Agrobiodiversidade do município. Dentre os intuitos do encontro, animar a troca de saberes, de tecnologias sociais e de experimentação agroecológica desenvolvidas pelas famílias agricultoras.

As boas vindas foram dadas pelo presidente do Sindicato do Trabalhadores Rurais (STR) de Teixeira Soares, Welerson Cleiton Pires, que trouxe o histórico de atuação da entidade, fundada em 1989 e seu histórico de luta pelo acesso e direito à terra. Para Weleson, “uma classe unida, torna um sindicato forte”, que tem o papel de promover a defesa de direitos, valorização da agricultura familiar, oferta de serviços de assistência técnica e jurídica e incidência em políticas públicas.

O município tem quatro assentamentos da reforma agrária (São Joaquim, Carvorite, Che Guevara e Rio D’Areia) e 75% de todos os estabelecimentos rurais são caracterizados como de agricultura familiar, que produzem alimentos, segundo dados do Censo Agropecuário de 2017. Porém, há também uma grande concentração de terras, fazendas produtoras de soja e outras comodities. Os dados apresentados pela técnica do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR), Paula Basilio Ribeiro, mostram a desigualdade no acesso a terra e diversos outros desafios enfrentados por quem produz alimentos, como acesso a crédito, ATER agroecológica, sementes crioulas.

Fortalecer a agricultura local é garantir a produção de alimentos saudáveis

Uma das formas de animar a união das famílias agricultoras pela preservação das sementes crioulas e suas tradições é por meio de encontros como este, trazendo à tona o enorme potencial que a agricultura familiar têm de produzir alimentos saudáveis, preservar a agrobiodiversidade e garantir o equilíbrio dos ecossistemas.

Falar de agricultura familiar é também falar de soberania e segurança alimentar e nutricional, pois são quem produz uma variedade de alimentos frescos, saudáveis e diversificados, atendendo às necessidades nutricionais das comunidades locais. Além disso, mantém um conhecimento profundo das práticas agrícolas tradicionais, adaptadas às condições locais, contribuindo para a resiliência e a saúde dos sistemas de produção de alimentos.

Agroecologia como modo de vida

A vida de Maria Portela, o marido Vanderlei e os filhos Hiago e Yasmin, mudou completamente quando voltaram para o campo e puderam escolher o que plantar e colher. A agricultora, que mora há 20 anos no Assentamento São Joaquim, afirma com um sorriso no rosto ao contar sua história durante o encontro que “a agricultura familiar transformou a minha vida! O meu foco é a horticultura e fruticultura, mas há tantas outras atividades, como a produção de leite, ovos, mel”.

A história de Maria evidencia a força, o espírito de comunhão e partilha, tão presentes na cultura camponesa. “Ao ocupar essas terras, nossa família, composta por seis filhos, cultivava milho, feijão e arroz para sobreviver, utilizando sementes e mudas que trouxeram de “herança” de parentes, com a colaboração de todos iniciemos novamente uma nova jornada, de plantar, manejar, cultivar a terra, conhece-la”.

Hoje, a agricultora constituiu a própria família e segue compartilhando o seu amor pela terra, produzindo praticamente todos os alimentos que consome e comercializando o restante em mercados territoriais, diretamente para grupos de consumidores, associações e cooperativas. Em 2005 o investimento na produção de hortaliças deu certo e trajetória do casal também. “E assim começamos, eu carregava duas caixas atrás da bicicleta e o meu filho na frente, enquanto o Vanderlei carregava mais duas caixas nas costas, toda semana, seis quilômetros percorridos, com sofrimento, mas muita esperança enchendo as caixas.  As entregas foram aumentando, e a bicicleta azul foi aposentada, substituída por uma moto que ganhou uma carreta feita de uma caixa de geladeira velha, e quando a moto não deu mais conta, emprestamos a carroça do pai. Com nosso progresso na entrega de alimentos, finalmente, sobrou dinheiro para comprar uma kombi e assim melhorar também a nossa qualidade de vida”, contou.

O certificado de produção orgânica veio em 2007, junto com o acesso a políticas públicas como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). O contínuo processo de aprendizagem, fortalecido a partir da participação ativa em diversos espaços políticos, favoreceu o surgimento de grupos comunitários e organizações de base. A propriedade faz parte do Núcleo João Maria de Agostinho, da Rede Ecovida de Certificação Participativa, composto por dez famílias de Teixeira Soares e municípios vizinhos, como Irati, Rebouças, Inácio Martins e Rio Azul.

A família sempre teve consigo a priorização da alimentação saudável. Ao falar sobre, Maria relembra duas ocasiões, quando descobriu que seus filhos são intolerantes a um agrotóxico passado em mangas e tomates. “Nós quase perdemos a Yasmin com seis anos de idade depois de ela comer uma manga, por duas semanas ela ficou no hospital até descobrirmos a alergia a um agrotóxico. Há um ano atrás descobrimos que o Yago também é alérgico ao mesmo agrotóxico, que acreditamos que ele tenha ingerido em um aniversário, por meio de um tomate comprado em mercado. Meu foco sempre foi a produção de alimentos livres de agrotóxico, e esses dois acontecimentos me fazem prosseguir ainda mais com o meu trabalho e a incentivar mais pessoas a mudarem suas escolhas e aderirem aos alimentos agroecológicos”, destacou a agricultora.

O Profeta do Tempo

O animado Luiz Carlos Opata, agricultor de 65 anos, é conhecido na região como o “Profeta do Tempo”. Assentado do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e guardião das sementes crioulas, que, ao longo de sua vida, desenvolveu a capacidade de ler o clima. Há mais de 15 anos vem fazendo anotações diárias sobre a quantidade de chuvas em sua propriedade, que também fica no Assentamento São Joaquim, o mesmo de Maria Portela e dezenas de outras famílias que vieram de todo estado do Paraná.

Durante o encontro, compartilhou seu sentimento sobre agrobiodiversidade em meio a lembranças dos anos 80, quando iniciou junto à AS-PTA, a comissão Pastoral da Terra em Palmeira (PR), sua cidade natal, como também a fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais em Palmeira. “Eu cheguei a ser presidente, fui vice-presidente, fui secretário do Sindicato em Palmeira, até vir para Teixeira em 1997. Um fato curioso é que quando cheguei aqui essa área ainda não era assentamento, e o pessoal me falava: ‘vai valer a pena abandonar a nossa terra, pra ir pra outra?’, e valeu, eu já tinha pensado nisso um tempo antes, e eu sempre falava: ‘eu acho que eu vou lá e vou levar sorte para que a comunidade se consolide e vire assentamento’, e por incrível que pareça eu vim em 97, e em 98 foi desapropriada a área, e eu fiquei muito, muito animado, muito feliz por isso”, contou.

Seu Opta completará 66 anos no dia 29 /05 e conta com orgulho sobre sua saúde muito boa, como sempre foi observador da natureza e da vitalidade das pessoas mais idosas. “Eu sempre procurei me espelhar naquelas pessoas mais antigas, mais idosas, elas tinham uma vitalidade muito boa, uma imunidade alta, mesmo trabalhando muito pesado e passando por inúmeras dificuldades. É importante comparar a alimentação de suas épocas, o uso de medicamentos naturais, aos dias de hoje, então isso é um dos fatores que me motiva a continuar participando dos encontros da agrobiodiversidade e me motiva passar para as futuras gerações como forma de exemplo tudo o que vivenciei na luta pela terra e pela agricultura familiar”, disse.

Reflexões em grupo
A partir das inspirações trazidas nas apresentações socializadas, os participantes foram convidados a dialogar sobre suas próprias experiências, conquistas e cenários da agricultura familiar em Teixeira Soares. O intuito foi reconhecer as inovações desenvolvidas e construir um plano de ação conjunto, de promoção da agroecologia, fortalecimento das organizações de base, preservação da agrobiodiversidade e das sementes crioulas.

Para o futuro, a perspectiva é de ação em rede, que se conectam a partir dos fios da incidência política, da defesa de direitos através do sindicato, cooperativas, associações e grupos comunitários, da produção de comida de verdade, do incentivo a juventude a permanecer no campo. Pois é como diz Maria Portela, “seguimos acreditando que passar essa ideologia de vida para frente e incentivar as novas gerações deve estar sempre em discussão com muita atenção, tanto para o cuidado do nosso bem mais precioso que é o meio ambiente, quanto para o cultivo das sementes crioulas que são a representação mais pura do nosso suor e da nossa resistência”.

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Festa da Colheita do Pinhão celebra atividade extrativista e a conservação pelo uso das Araucárias em São Joaquim https://aspta.org.br/2023/04/17/festa-da-colheita-do-pinhao-celebra-atividade-extrativista-e-a-conservacao-pelo-uso-das-araucarias-em-sao-joaquim/ https://aspta.org.br/2023/04/17/festa-da-colheita-do-pinhao-celebra-atividade-extrativista-e-a-conservacao-pelo-uso-das-araucarias-em-sao-joaquim/#respond Mon, 17 Apr 2023 17:06:54 +0000 https://aspta.org.br/?p=20037   O primeiro fim de semana de abril marcou o início da safra do pinhão, de acordo com a regulação dos órgãos ambientais catarinenses. A data foi celebrada com a Festa da Colheita do Pinhão, com duração de 2 dias, organizada pelo Centro Vianei de Educação Popular e o SINTRAF (Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura … Leia mais

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O primeiro fim de semana de abril marcou o início da safra do pinhão, de acordo com a regulação dos órgãos ambientais catarinenses. A data foi celebrada com a Festa da Colheita do Pinhão, com duração de 2 dias, organizada pelo Centro Vianei de Educação Popular e o SINTRAF (Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar de São Joaquim e Região) no município de São Joaquim. Composto por um Seminário e uma Travessia (vivência ao ar livre), o evento abriu espaço para discussão sobre as demandas da cadeia extrativista aliadas à urgente regeneração das Araucárias e conservação dos seus remanescentes.

Originária do período Jurássico, há cerca de 200 milhões de anos, a espécie Araucaria angustifolia encontrou nas latitudes baixas da América do Sul as condições ideais para se multiplicar e resistir ao longo das eras. Este fóssil vivo teve seu auge mais especificamente nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, tendo ocupado, segundo o Atlas Nacional do Brasil (IBGE, 2000), um extenso território de planaltos entre as Serras do Mar e Geral, a leste, e o Rio Paraná, a Oeste, regiões de clima temperado, úmido e sem estação seca marcante.

A pressão antrópica sobre a espécie passou a ser verificada ainda no século XIX, com as levas de imigrantes italianos e alemães que colonizaram principalmente o Sul do Brasil. A necessidade de abertura de áreas para agricultura, além da demanda por madeira para suas habitações e artigos domésticos, deram início à derrubada das Araucárias, árvores dominantes da Floresta Ombrófila Mista que é um ecossistema do bioma Mata Atlântica. Nos últimos 80 anos, porém, o avanço das monoculturas e o abastecimento de mercados nacionais e internacionais com madeira nativa levou ao seu declínio em escala geométrica.

Neste período, estima-se que 100 milhões de exemplares tenham sido cortados apenas para a fabricação de móveis. Dos cerca de 200 mil quilômetros quadrados ocupados originalmente pelas matas de araucárias, apenas 3% da cobertura permanece em pé, em fragmentos descontínuos que comprometem sua reprodução e variabilidade genética. Esta drástica redução coloca em risco de extinção não somente a própria espécie, mas também de outras plantas e animais que desempenham interações ecológicas com as araucárias, como as canelas, imbuias, xaxins, papagaios-de-peito-roxo, onças-pardas, gralhas-azuis, macucos, inhambus e jacutingas, entre outros.

O reconhecimento público da ameaça sofrida pelas Araucárias aconteceu em 1992, por meio da portaria nº 37-N executada pelo Ibama. A partir de então, a espécie Araucaria angustifolia passou a integrar a Lista Oficial de Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção. Em Santa Catarina, tal reconhecimento aconteceu apenas em 2014, através da resolução nº 51 do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema). Além de tardias, as medidas não foram suficientes para conter a pressão sobre as matas de araucárias, que ainda sofrem com o desmatamento ilegal.

Na outra ponta da interação humana com as Araucárias estão as comunidades tradicionais e indígenas que historicamente ocupam os planaltos e serras das regiões Sul e Sudeste. A prática do extrativismo sustentável do pinhão possibilita um considerável incremento de renda e favorece a regeneração da Floresta Ombrófila Mista em estabelecimentos da agricultura familiar, numa relação simbiótica que utiliza os ativos florestais não madeireiros para dinamizar as redes de abastecimento alimentar dos territórios. Em Santa Catarina, a concentração dessas áreas de regeneração está na Serra Catarinense. A região da Associação dos Municípios da Região Serrana (AMURES) concentra os 10 principais municípios produtores de pinhão, responsáveis por 75% a 80% da produção estadual.

Um patrimônio cultural a ser preservado

Um desses municípios é São Joaquim, que sediou a última Festa da Colheita do Pinhão. Na tarde de sexta (31/03), o Seminário da Cadeia Produtiva do Pinhão foi ocupado por 4 mesas-redondas, com discussões de projetos e políticas públicas de incremento ao extrativismo sustentável do pinhão aliado à conservação da floresta ombrófila mista pelo manejo da Araucaria angustifolia. O evento reuniu técnicos, professores, extrativistas e representantes de órgãos públicos das 3 esferas da federação.

Na mesa de abertura, Natal João Magnanti, membro do Centro Vianei e doutor em agroecossistemas com tese sobre a sociobiodiversidade no extrativismo do pinhão, apresentou um dimensionamento da atividade na perspectiva de um patrimônio cultural a ser preservado e melhorado. O olhar é baseado no diagnóstico e plano de ação da cadeia produtiva do pinhão, um estudo apoiado pelo Plano de Ação Territorial para Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção do Planalto Sul (PAT Planalto Sul).

Os dados apontam que milhares de famílias da Serra Catarinense incrementam suas rendas com a coleta do pinhão, movimentando anualnente cerca de R$ 15 milhões – embora apenas R$ 6 milhões tenham sido comercializados formalmente em 2022. “Mesmo com essa importância, ainda há precariedade, como falta de equipamentos e máquinas de extração, beneficiamento, processamento e armazenamento adequados, além da baixa utilização de políticas públicas. Os atacadistas concentram as decisões da cadeia produtiva e a maioria dos recursos provenientes da comercialização do produto no território”, analisa Natal, abrindo um campo de demanda de ações do poder público para auxiliar na organização e fortalecimento dos demais elos da cadeia.

Ainda na mesa de abertura, Alexandre Siminski, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC/Campus Curitibanos) e doutor em Recursos Genéticos Vegetais, explanou sobre a presença das Araucárias em sistemas agroflorestais (SAFs). “São como um manejo da própria paisagem, integrando o gado com roçadas, recolhimento de grimpas e outras atividades que vão além da extração das pinhas”, explica Siminski. Para o professor, a chance de tirar a Araucárias da lista de ameaçadas de extinção somente acontece com a concretização de um correto manejo, enfrentando gargalos como a falta de “tiradores” (pessoas que escalam os pinheiros com mais de 10 metros, de maneira muito precária e arriscada, para coletar as pinhas) e o adensamento de pinheiros nas áreas de extrativismo que dificultam a produção e a produtividade do pinhão, segundo ele.

Perspectivas no agroturismo e comercialização de créditos de carbono

A segunda mesa redonda trouxe as perspectivas sindical, agroturística e preservacionista em relação com a cadeia produtiva do pinhão. Jandir Selzler, coordenador da Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar em Santa Catarina (FETRAF), ressaltou as ameaças que atingem o segmento no Estado, representadas por 40 mil propriedades sem perspectiva de sucessão e diferença de 90 mil pessoas entre os números de homens e mulheres que ocupam as regiões rurais. “É necessária uma inter-cooperação entre o campo e a cidade, de modo que os agricultores familiares sejam não apenas beneficiários, mas sujeitos das cadeias de abastecimento”, apontou Jandir.

Daniele Gelbcke, da Associação de Agroturismo Acolhida na Colônia, defendeu o uso dos saberes tradicionais envolvidos na cadeia do pinhão como um ativo para diferenciar o Turismo de Base Comunitária, realçando os recursos do próprio território. Como linhas de ação, Daniele cita o fortalecimento da produção agroecológica e diversificada, o levantamento dos recursos da sociobiodiversidade no interior e no entorno das propriedades e a valorização dos mesmos através de livros de receitas, programas culinários e roteiros turísticos.

Representante da Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), ONG com destaque nacional nas iniciativas de recuperação da Mata Atlântica, Wigold Schäffer ratificou a importância das araucárias em sistemas agroflorestais, alertando, no entanto, ser contrário a qualquer iniciativa de manejo que considere o corte da árvore para prevenir o adensamento e potencialmente aumentar a produtividade de pinhão por hectare.

“Temos que olhar a floresta como um todo, não cada propriedade individualmente. Se alguém cortar uma árvore, mesmo numa propriedade pequena, pode abrir um precedente perigoso nas mãos de latifundiários”, explica Wigold. Ele aponta para a oportunidade da conservação ser financiada pelo pagamento por créditos de carbono, citando como exemplo o projeto Conservador das Araucárias. Fruto da parceria entre Apremavi e TetraPak, a iniciativa é focada na recuperação florestal de 7 mil km2 de áreas degradadas, com plantio de espécies nativas atrelado ao cálculo da captura de carbono para mitigação das mudanças climáticas. Através do investimento, a maior fabricante de embalagens longa vida do mundo pretende zerar suas emissões de gases-estufa até 2030.

Ações de fortalecimento da cadeia produtiva

Com a pauta das políticas públicas estaduais, a terceira mesa redonda foi aberta por Marquito (PSOL), deputado estadual e presidente da Comissão de Turismo e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc). Para o deputado, que é agrônomo e mestre em agroecossistemas, a atuação parlamentar deve buscar caminhos para pacificar os manejos que acontecem nos sistemas agroflorestais. Ele argumenta que as leis com objetivo de ampliar a cobertura das espécies nativas devem também colaborar com um modelo econômico que traga emprego e renda.

“As monoculturas tem um modelo pronto para plantar e vender, o extrativismo e a agricultura familiar precisam avançar neste sentido”, reforça Marquito. O deputado sugere ainda o intercâmbio com outras 2 importantes espécies manejadas pelo extrativismo em áreas de Mata Atlântica, o butiá e a palmeira juçara, na perspectiva de aperfeiçoamento das cadeias produtivas e busca por soluções comuns.

Representando a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), Marlon Couto apresentou os programas voltados à agricultura familiar realizados pela estatal, como o Fomento Agro SC, voltado a sistemas produtivos, turismo e agroindústrias, e o Jovens e Mulheres em Ação, que realiza formações baseadas na Pedagogia da Alternância.

Em seguida, a bióloga Luthiana Carbonell dos Santos, coordenadora do PAT Planalto Sul, apresentou este plano de conservação que inclui 22 espécies ameaçadas, denominadas de “focais”, trazendo em seu escopo ações para o fortalecimento das cadeias produtivas da sociobiodiversidade do Território de atuação. O PAT avançará de sua fase de diagnóstico da cadeia produtiva do pinhão para execução de ações dirigidas a suprir gargalos identificados, como o incremento do seu uso na alimentação escolar. É também prevista a criação de um selo para indicar a procedência do produto, estimulando o consumo responsável.

Diante de um imprevisto que impediu a participação da superintendência da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), o fechamento da terceira mesa foi realizado por Natal Magnanti, do Centro Vianei. Em sua fala ele abordou o PGPM Bio (Programa Garantia dos Preços Mínimos do Produtos da Sociobiodiversidade), política de Estado operacionalizada pela CONAB voltada para 16 produtos no país, sendo 2 na região Sul (palmeira juçara e pinhão). Com este mecanismo, os extrativistas podem receber até R$ 4 mil por ano para cobrir eventuais vendas realizadas abaixo do preço mínimo, atualmente fixado em R$ 3,19 para o quilo do pinhão. “Infelizmente o PGPM beneficia poucas pessoas aqui em SC, pois o requisito básico é a emissão de nota de produtor rural. Com isso Perdemos de R$ 500 mil a R$ 1 milhão por ano, dependendo do tamanho da safra e do preço de comercialização do pinhão, em função de não acessarmos a política”, conclui Magnanti.

Salvaguarda de sistemas produtivos únicos

As políticas públicas federais foram o tema da quarta e última mesa redonda. Representando a Coordenação de Sociobiodiversidade e Bens Comuns do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), pasta reaberta pelo atual governo, Fernanda de Sá concentrou sua explanação no programa Sistemas Importantes do Patrimônio Agrícola Mundial (Sipam). Convergindo com outras políticas públicas como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), o Sipam visa a salvaguarda dos sistemas agrícolas únicos e suas paisagens culturais associadas, reconhecendo sua importância na segurança alimentar, agrobiodiversidade e diversidade social.

A mesa foi concluída por Moisés Savian, da Secretário de Governança Fundiária, Desenvolvimento Territorial e Socioambiental do MDA. Sua fala refletiu a ampliação dos espaços públicos para a agricultura familiar no atual governo, como a transferência da gestão do abastecimento público do Brasil do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para o MDA. Como ação de curto prazo cita a possibilidade de destravamento do convênio com o Consórcio Intermunicipal Serra Catarinense (Cisama), que pode aportar 1,2 milhão para a cadeia produtiva do pinhão na Serra Catarinense.

Vivência no Sistema Agrícola Tradicional (SAT) para produção de pinhão

Na manhã de sábado (01/04), a Festa da Colheita do Pinhão foi marcada por uma travessia na comunidade do Rincão do Tigre, na área rural de São Joaquim. Na atividade, realizada em um SAT Pinhão, os convidados puderam testemunhar os diversos desafios envolvidos na coleta. Diante do público, o extrativista Vilmar Camargo escalou um exemplar de aproximadamente 7 metros, somente com esporas na bota, e derrubou 27 pinhas manejando uma vara de bambu com gancho na ponta. O resultado da coleta foi servido aos participantes ali mesmo, com a tradicional sapecada, em que os pinhões são assados com o fogo produzido pelas próprias grimpas (as folhas em formato de espinhos) dos pinheiros.

O extrativismo do pinhão ainda depende basicamente deste e de alguns outros métodos, que trazem sérios riscos aos envolvidos – conta-se que todos os anos são registradas mortes por quedas das árvores. Na atividade há 17 anos, o sr. Vilmar atualmente conta com a ajuda da família, especialmente do filho William, de 19 anos. Boa parte do trabalho acontece em áreas de terceiros, que recebem 1/3 da produção extraída. Neste ano, porém, a renda do pinhão vai possibilitar a seu Vilmar o pagamento final da aquisição de uma área de 11 hectares onde exerce a atividade.

No salão comunitário do Rincão do Tigre, o espetáculo de bonecos Praga de Mãe, realizado pelo ator Márcio Rosa Machado acompanhado do acordeonista Eduardo Carvalho, animou o público com cerca de 100 convidados. Na sequência foi servido um farto almoço preparado pelos anfitriões, com saladas, carreteiro e a presença do pinhão na tradicional paçoca e na sobremesa. No encerramento, uma roda de conversa entre os participantes registrou a avaliação das atividades e propostas de encaminhamentos para a melhoria da cadeia produtiva do pinhão.

Campanha permanente foi lançada durante a Festa da Colheita do Pinhão

A campanha Saberes e Fazeres do Pinhão, idealizada pelo Centro Vianei, foi lançada durante o Seminário na tarde de sexta feira (31/03). A iniciativa tem por objetivo principal ampliar a comunicação sobre o produto para além da Serra Catarinense, focando principalmente nas regiões Litoral e Alto Vale de SC. Pretende-se ainda dar visibilidade para as mulheres que participam da cadeia produtiva do pinhão e evidenciar os serviços ecossistêmicos prestados pelos extrativistas e processadores à Floresta Ombrófila Mista e ao bioma Mata Atlântica. A campanha reunirá os contatos das famílias que trabalham com o produto, tanto in natura como processado, para estimular meios de comercialização direta. Os materiais estarão em breve disponibilizados pelo site www.vianei.org.br.

Texto e imagens por Fernando Angeoletto / jornalista do projeto Consumidores e Agricultores em Rede

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Retrospectiva de 2022 a partir das Feiras e festas de Sementes Crioulas do Paraná https://aspta.org.br/2023/03/28/retrospectiva-de-2022-a-partir-das-feiras-e-festas-de-sementes-crioulas-do-parana/ https://aspta.org.br/2023/03/28/retrospectiva-de-2022-a-partir-das-feiras-e-festas-de-sementes-crioulas-do-parana/#comments Tue, 28 Mar 2023 20:20:38 +0000 http://aspta.org.br/?p=20010 2022 foi um ano intenso. Após dois anos de pandemia, quase 700 mil mortes acarretadas pela Covid-19 no Brasil, a possibilidade do reencontro se tornou uma realidade. O Sistema Único de Saúde (SUS) e a garantia da vacinação irrestrita abriu caminhos para a retomada dos intercâmbios entre agricultores/as, dos encontros em seminários e outros eventos, … Leia mais

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2022 foi um ano intenso. Após dois anos de pandemia, quase 700 mil mortes acarretadas pela Covid-19 no Brasil, a possibilidade do reencontro se tornou uma realidade. O Sistema Único de Saúde (SUS) e a garantia da vacinação irrestrita abriu caminhos para a retomada dos intercâmbios entre agricultores/as, dos encontros em seminários e outros eventos, das visitas às comunidades, sindicatos, associações e cooperativas.

Foi assim nas Feiras e Festas de Sementes Crioulas realizadas ao longo de 2022 no estado do Paraná. Guardiãs e guardiões se encontraram nas 24 atividades realizadas em nível municipal e regional articuladas à dinâmica da Rede Sementes da Agroecologia (ReSA). Integrantes da ReSA participaram também de feiras realizadas em São Paulo e Santa Catarina.

Nas 24 Feiras e Festas de Sementes Crioulas realizadas foram envolvidos/as diretamente mais de 400 expositores/as, que compartilharam mudas e sementes, além de flores, alimentos e saberes. Este número é expressivamente maior comparado ao de 2019. Dentre os/as participantes estavam agricultoras/es familiares, indígenas, quilombolas, acampados/as e assentados/as da Reforma Agrária. Chama atenção a participação das mulheres, totalizando aproximadamente 80% das/os expositoras/es.

Estima-se que cerca de 25.000 pessoas circularam pelas Feiras e Festas de Sementes. Um dos públicos que tem se tornado presença importante são os/as estudantes das escolas públicas. A troca de saberes com as/os agricultores/as tem despertado a curiosidade e o interesse sobre a conservação das variedades crioulas pelos/as estudantes, ao mesmo tempo que eles/elas vão percebendo a si mesmos/as e suas famílias envolvidos nas práticas da agricultura, como os quintais e vasos cultivados pelas mães e avós, os temperos e chás frescos e o alimento que colore as mesas.

O momento das Feiras e das Festas tem sido celebrado ainda como um encontro entre campo e cidade, fortalecendo relações entre agricultores urbanos e rurais e com o público urbano. Isso se dá pelo estabelecimento de mercados locais, ofertando e divulgando a produção da agricultura familiar, da comida de verdade, que é livre de transgênicos e agrotóxicos. Se dá também pelo acesso às sementes crioulas, que têm sido adquiridas e cultivadas nos quintais e hortas dos/as residentes nas cidades.

Em 2022 foi a vez da 18ª edição da Feira Regional de Sementes Crioulas e da Agrobiodiversidade do Centro-Sul do Paraná. Tendo como lema “De geração em geração, Sementes Crioulas, Sim! Transgênicos Não!”, a feira colocou em evidência o trabalho cuidadoso conduzido pelos Guardiões/as na conservação das variedades crioulas. Trouxe ainda para o debate o cenário de desmonte das políticas públicas para a agricultura familiar em favorecimento da agricultura capitalista.

Em ano de eleição e de vitória da democracia, as muitas festas e feiras deram vivas à agrobiodiversidade, apresentando caminhos efetivos, assim como inspirações para a garantia da soberania e da segurança alimentar e nutricional e da defesa da biodiversidade.

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