Agroecologia – AS-PTA https://aspta.org.br Agricultura Familiar e Agro­ecologia Mon, 04 Dec 2023 14:17:59 +0000 pt-BR hourly 1 Em 2021, a Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia vai ser diferente porque “não podemos nos calar” https://aspta.org.br/2021/02/21/em-2021-a-marcha-pela-vida-das-mulheres-e-pela-agroecologia-vai-ser-diferente-porque-nao-podemos-nos-calar/ https://aspta.org.br/2021/02/21/em-2021-a-marcha-pela-vida-das-mulheres-e-pela-agroecologia-vai-ser-diferente-porque-nao-podemos-nos-calar/#comments Sun, 21 Feb 2021 20:22:30 +0000 http://aspta.org.br/?p=18522 A mobilização, que chega a 12ª edição, sai das ruas e denuncia, na internet, a sobrecarga de trabalho ampliada pela pandemia e anuncia o papel das mulheres nos cuidados com a alimentação e a agroecologia Estamos nos aproximando do fim de fevereiro e, no início de março, é tempo de uma marcha que reúne milhares … Leia mais

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A mobilização, que chega a 12ª edição, sai das ruas e denuncia, na internet, a sobrecarga de trabalho ampliada pela pandemia e anuncia o papel das mulheres nos cuidados com a alimentação e a agroecologia

Estamos nos aproximando do fim de fevereiro e, no início de março, é tempo de uma marcha que reúne milhares de mulheres do campo desde ano 2010 na região de atuação do Polo da Borborema. É a tradicional Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia. No ano passado, a 11ª edição aconteceu em Esperança e foi a última atividade que reuniu muita gente que o Polo e a AS-PTA realizaram. E este ano vai ter a Marcha?

Quem responde é Roselita Vitor, da coordenação do Polo – uma rede territorial de sindicatos rurais de 13 municípios, mais de 150 associações comunitárias e uma associação de produtores agroecológicos, a EcoBorborema: “Nós, mulheres camponesas do Polo da Borborema, estamos vivendo nosso momento de preparação da 12ª Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia. Vamos realizar a nossa Marcha de uma forma diferente das outras que já fizemos, que a gente se encontrava, revia as companheiras, escutava seus depoimentos, suas histórias de superação e, no dia 8 de março, a gente sempre se encontrava nesta caminhada de 6 mil mulheres. Mas, mesmo nesta pandemia, nós temos a clareza de que não podemos nos calar e é preciso nos reinventar no cenário desafiador que estamos vivendo.”

“Precisamos dizer para a sociedade o quanto tem sido dolorida a pandemia na vida das mulheres. Passamos a ter aumento de trabalho. As crianças em casa, todo mundo em casa. As tarefas domésticas e de cuidados triplicaram. O que temos percebido são mulheres exaustas, cansadas. E, se isso já era uma realidade, com a pandemia, dobrou”, ressalta Rose, como é conhecida, acrescentando que há outra coisa que as mulheres querem denunciar…

“A conjuntura violenta, cada vez mais, no Brasil contra as mulheres. Porque há todo um discurso de conservadorismo, de que essas coisas [do crescimento do trabalho das mulheres, por exemplo] não precisam ser ditas e que é preciso construir a moralidade no país silenciando a voz das mulheres, das mulheres negras, da periferia, do campo”.

Live “Sem cuidado não há vida” – E, apesar da pandemia, no dia Internacional das Mulheres, a Marcha vai acontecer pela internet. Em vez de caminhada, várias mulheres vão falar, dar seus depoimentos e tudo vai ser transmitido pelas redes sociais. A live a começa às 16h e pode ser vista pelos canais do Youtube e Facebook do Polo da Borborema e da AS-PTA.

Mesmo sendo uma marcha virtual, as instituições organizadoras acreditam que “será um momento de muita energia, vibração, de sentir o calor das companheiras que estão lá nas comunidades rurais, com suas vizinhas, com seus filhos e filhas acompanhando nosso debate e discurso de que é preciso resistir, é preciso ecoar nossa voz”, afirma Rose.

E como driblar as dificuldades de acesso à internet que o campo vive? Para isso, a juventude está sendo convocada. A moçada jovem vai dar suporte para que a live possa ser vista nas comunidades pelo maior número de pessoas possíveis.

Depois da live, segue o processo de debates e conversas sobre o tema da Marcha. O planejamento do Polo e da AS-PTA é que haja reuniões comunitárias envolvendo, ao todo, cerca de 600 mulheres. Para dar início ao clima da Marcha, foram organizados dois espaços nas redes sociais e desde o dia 10 de fevereiro, estão sendo publicados nas redes sociais do Polo, da AS-PTA e da Marcha 30 vídeos com agricultoras falando do impacto da pandemia na vida delas.

O canal no Instagram da Marcha foi lançado na semana passada e já tem vários depoimentos de agricultoras, jovens e lideranças sobre a importância da Marcha na vida delas, como estes:

“Acho que todo mundo foi pego de surpresa. Um momento muito novo, difícil para todos nós, principalmente para nós mulheres. A gente está conseguindo se habituar nesse momento, mas ainda está muito difícil. Muitas companheiras nossas entraram em depressão e a gente só não entra em depressão se a gente estiver juntas. Mesmo longe uma da outra, a gente está sempre em contato, sempre segurando uma a mão da outra, nos fortalecendo nesse momento pra gente não cair, porque essa pandemia é difícil pra nós mulheres”, conta Anilda, agricultora de Remígio-PB, no insta da Marcha.

“Se não fosse a Marcha, eu não chamaria mais Ligória! Porque a Marcha tem uma história muito forte na minha vida e na da minha família também. Eu aprendi a lidar com a violência, aprendi a me defender e também a ter minha autonomia, que eu não tinha. Essa Marcha veio me dar bastante sabedoria”, depoimento de Ligória, agricultora de Esperança-PB, também no instagram.

“Pra mim, a Marcha das mulheres mudou a minha vida de forma porque eu tive conhecimento de coisas que eu não tinha antes. Como eu não sabia que o marido em casa querer que a gente desse tudo prontinho na mão dele, que aquilo ali era um tipo de exploração e agora eu sei que é. Até ele mesmo já mudou o comportamento em casa. Então pra mim, a Marcha teve um grande desenvolvimento pra mim. Eu gosto de participar, eu me sinto à vontade no dia da Marcha por conta disso”, conta Tereza, agricultora de Alagoa Nova-PB também nesta rede social.

No início da pandemia, a escuta de mulheres – Em abril de 2020, a AS-PTA e o Polo fizeram uma escuta com as mulheres para saber como elas estavam vivendo aqueles dias iniciais da pandemia. Neste período, ainda não tinha chovido na região e estavam sem produzir alimentos. A pesquisa foi enviada por WhatsApp para 30 mulheres, 24 delas responderam. Em geral, as mulheres falaram sobre o impacto material, principalmente pela redução da renda devido ao fechamento dos espaços de venda de seus produtos. Falaram sobre o rápido empobrecimento das comunidades e até do retorno à fome, já que muitos não tinha qualquer produção.

“Mas elas trouxeram também muitas questões do campo emocional e afetivo – falaram do medo da doença, pânico em ser contaminadas, a saudade por não poder encontrar suas mães ou filhos naquele começo de pandemia”, conta Adriana Galvão, assessora técnica da AS-PTA que acompanha de perto a organização da Marcha e o trabalho com as mulheres realizado na região do Polo.

Na pesquisa, as mulheres relataram também o aumento do trabalho dos cuidados em casa. E, ainda por cima, elas tinham que lidar com toda a insegurança gerada por filhos adolescentes e maridos que negavam a doença e não se isolavam. Além disto tudo, havia a dificuldade de partilhar todos estes desafios, dificuldades e receios com outras pessoas devido ao estado de isolamento, necessário para evitar a contaminação do coronavírus.

“O estado foi ausente no tratamento da pandemia e acabou transferindo para as mulheres todo o ônus desse momento”, reflete Adriana. “Foram as mulheres que cuidaram dos doentes. Foram as mulheres que alimentaram a famílias. Foram as mulheres que se responsabilizaram pela educação dos filhos. As mulheres, se responsabilizaram pela sustentação da vida. E o mais desafiador disso tudo é desnaturalizar que esse trabalho seja única e exclusivamente responsabilidade delas, que isso é um trabalho natural das mulheres”.

Por esta razão, para desnaturalizar as situações de exploração da mulher, é que as mulheres do Polo da Borborema reinventam seu espaço de denúncia e vão ocupar o domínio virtual para dizer ao mundo como vivem e reafirmar o primordial papel assumido pelas mulheres, nesta pandemia, com relação à alimentação.

“Esta Marcha traz o debate sobre os cuidados e sem os cuidados não há vida. A história das mulheres é marcada pelo cuidado com a vida e é por isso que estamos na luta pela agroecologia, por um alimento puro, livre de agrotóxico, não só para o mundo rural, mas para todas as pessoas”, arremata Rose.

 

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No raiar de 2021, a sonhada CoopBorborema vira realidade https://aspta.org.br/2021/02/16/no-raiar-de-2021-a-sonhada-coopborborema-vira-realidade/ https://aspta.org.br/2021/02/16/no-raiar-de-2021-a-sonhada-coopborborema-vira-realidade/#respond Tue, 16 Feb 2021 19:33:14 +0000 http://aspta.org.br/?p=18513 As famílias agricultoras da Borborema paraibana estão em festa com esta conquista que abre portas para novos mercados As famílias agricultoras da região da Borborema iniciaram 2021 com o pé ‘esquerdo’. No primeiro mês do ano realizaram a primeira assembleia da Cooperativa Borborema. Depois de muito desejada e planejada, a CoopBorborema se materializou. Tem diretoria, … Leia mais

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As famílias agricultoras da Borborema paraibana estão em festa com esta conquista que abre portas para novos mercados

As famílias agricultoras da região da Borborema iniciaram 2021 com o pé ‘esquerdo’. No primeiro mês do ano realizaram a primeira assembleia da Cooperativa Borborema. Depois de muito desejada e planejada, a CoopBorborema se materializou. Tem diretoria, sócios, objetivos e estatuto. Tudo construído com muito cuidado e de forma participativa.

A tão sonhada cooperativa, que irá representar não só as famílias agricultoras da região, mas de toda a Paraíba, nasce com o objetivo de abrir caminhos para que a grande variedade de produtos agroecológicos do território chegue aonde ainda não chegou.

“A inauguração [da CoopBorborema] foi no dia 26 de janeiro de 2021. Às 9h, nos reunimos. A vontade era que fosse presencial pra gente poder se tocar, se ver, se abraçar no final pra comemorar tal feito no território. Mais uma conquista nossa!”, conta entusiasmado Mateus Nascimento, um jovem agricultor-experimentador de Queimadas, que assumiu o posto de vice-presidente da cooperativa.

“Mas, infelizmente, por conta da pandemia, fizemos online. Um da gente leu o estatuto. Fizemos alguns ajustes pra ficar de acordo com todo mundo e seguimos”, conta ele, informando que a CoopBorborema tem 24 associados e coração aberto para a chegada de muito mais sócios.

“Do litoral ao sertão, os agricultores e agricultoras familiares podem ser sócios da nossa cooperativa”, acrescenta Gizelda Lopes, presidenta da cooperativa e membro da coordenação política do Polo da Borborema. O Polo é uma rede territorial de sindicatos rurais de 13 municípios, mais de 150 associações comunitárias e uma associação de produtores agroecológicos, a EcoBorborema.

“A cooperativa vai ter a missão de dialogar com as várias formas de mercado para vender os produtos da agricultura familiar. Vai ser bem legal por aproveitar cada coisa que sai do campo, do nosso trabalho da agricultura, que possamos vender e fortalecer a renda das famílias. Na safra das frutas, vamos produzir mais polpas, mais geleias e vamos estocar. Vai ter estoques de alimentos!”, enfatiza Gizelda. O entusiasmo é, principalmente, porque as frutas que antes eram desperdiçadas e apodreciam no terreiro, como as mangas e jabuticabas, vão ser beneficiadas, estocadas no Banco Mãe e esta produção vendida pela cooperativa com a marca regional, Produtos do Roçado.

Além de ser o endereço da CoopBorborema, o Banco Mãe é um espaço de referência para as famílias agricultoras da região e é palco de muitas atividades: beneficiamento do milho da paixão, formações principalmente para mulheres e jovens, beneficiamento de frutas e da mandioca, entre outros alimentos, estocagem dos produtos, das sementes, local de reuniões…

O Banco Mãe apresenta condições para a cooperativa atuar, como a ampliação da produção de alimentos in natura e beneficiados e a capacidade de estocagem. E o Banco Mãe poderá fazer isso porque terá a cooperativa em plena ação, desbravando mercados, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) municipais e o estadual, antes não acessado pelo Polo da Borborema por não ter uma cooperativa que o representasse.

Com uma instituição legalizada e habilitada para ter fins lucrativos, o Polo também vai poder vender seu milho crioulo 100% agroecológico, um grande diferencial em todo o Brasil, para o programa de compra de sementes do governo da Paraíba. Não só o milho, como outras sementes como feijão, fava, além de produtos beneficiados como a farinha de mandioca e outros.

Recentemente, os 60 bancos de sementes tinham estoques em quantidade suficiente para venda. E o governo estadual tinha aberto um edital para compra de sementes crioulas. Mas a venda não pode ser efetivada por falta da instituição jurídica exigida. Justamente, a cooperativa.

Ação prioritária – Segundo Mateus, o primeiro passo da diretoria da cooperativa é registrá-la em cartório para que a instituição passe a existir juridicamente. Para isso, precisava instituir diretoria e ter um estatuto. O que já existe. “Tivemos todo cuidado para a diretoria ser toda composta por agricultores e agricultoras e lideranças sindicais. E também ser por homens, mulheres e jovens”, conta Gizelda.

“Conseguimos criar um estatuto que pudéssemos trazer as questões de gênero e geração, trazer a valorização do papel dos agricultores e agricultoras e os princípios da agroecologia”, destaca a liderança.

Os objetivos da cooperativa também foram construídos com muita intenção e lucidez. “A CoopBorborema traz em seus objetivos o respeito à vida, à natureza, às pessoas, às instituições. Porque é responsabilidade nossa apresentar não só produtos de qualidade, mas que também respeitem a vida das mulheres, das crianças e, automaticamente, respeitem a vida das pessoas que vão se alimentar deste produto 100% agroecológico. Nossos objetivos se contrapõem ao modelo capitalista, que corrói e consome vidas”, pontua Alane Lima, camponesa e assessora técnica da AS-PTA, que assessora o Polo da Borborema nos processos organizativos da agricultura familiar na região.

O segundo passo da cooperativa após a resolução de todas as questões burocráticas, é cair em campo para vender o grande diferencial da CoopBorborema, a linha de produtos derivados do milho da paixão 100% livres de transgenia: fubá, xerém, munguzá, e agora, o flocão da paixão. Além destes, uma grande variedade de produtos beneficiados – doces, bolos, polpas e outras tantas gostosuras – serão produzidos na cozinha-escola do Banco Mãe para ir direto para o mercado via ação da cooperativa e a marca regional, “Produtos do Roçado’.

Uma conquista planejada – Mateus, Gizelda e Alane falaram da caminhada até o dia em que a cooperativa realiza sua primeira assembleia. “O pensamento sobre cooperativa surge há muito tempo, quando se tem a necessidade de escoar o excesso de produção, que não é consumido pelas famílias no território”, comentou Alane.

“[A cooperativa] não é algo que caiu do céu. É algo que a gente havia planejado há algum tempo. É uma filha que vinha sendo concebida e agora a gente está assistindo ao nascimento dela. Então, é muita alegria. A gente está vendo que vão ser novas portas abertas tanto para os agricultores que já existem, como também para futuras gerações de agricultores”, ressalta Mateus.

Para Gizelda, falar em cooperativa e acesso a mercado é lembrar da construção que o Polo da Borborema vem fazendo no território ao longo de 25 anos, com a assessoria da AS-PTA. “No território, havia um grande desafio: os atravessadores. Muitas vezes, compravam a safra ainda no pé de forma bem barata. Não era digno para as famílias que tinham todo o trabalho de produzir, de cuidar, de limpar e, na época de vender a produção, vender de forma bem barata”.

“Então, criamos formas de vender nosso produto”, pontua ela demonstrando de forma bem prática e simples que quando as famílias assumem o protagonismo de suas vidas, conseguem construir condições, instrumentos e possibilidades que permitem uma vida digna.

Segundo Gizelda, esse fluxo em direção à abertura de novos mercados começou com um movimento de fortalecimento das redes de agricultores e agricultoras a partir de vários temas, com os intercâmbios e oficinas. “Demos um salto de qualidade. Aumentamos a produção e fortalecemos o trabalho das mulheres e da juventude”.

Daí em diante, foi uma contínua abertura de novos espaços de venda: as feiras agroecológicas – hoje são 12 que funcionam em 13 municípios – e mais as sete Quitandas Agroecológicas municipais, a regional e a móvel.

“Há dois anos, um grupo de agricultores e agricultoras conheceu a experiência de uma cooperativa no Paraná. Até então, víamos a cooperativa como uma coisa que não era bom para a gente. Mas, saímos do muito encantados com o que vimos. Ao chegar, iniciamos o processo de reuniões com os sindicatos, associações, redes de agricultores e agricultoras na perspectiva de criar a nossa cooperativa”, lembra a primeira presidenta da CoopBorborema.

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Para enfrentar as mudanças do clima, comunidades auto-organizadas e capazes de gerir seus recursos materiais e imateriais https://aspta.org.br/2020/12/07/para-enfrentar-perturbacoes-externas-comunidades-auto-organizadas-e-capazes-de-gerir-seus-recursos-materiais-e-imateriais/ https://aspta.org.br/2020/12/07/para-enfrentar-perturbacoes-externas-comunidades-auto-organizadas-e-capazes-de-gerir-seus-recursos-materiais-e-imateriais/#respond Mon, 07 Dec 2020 19:52:29 +0000 http://aspta.org.br/?p=18441 Muito já foi dito sobre a seca iniciada em 2012 no Semiárido brasileiro: que sua intensidade foi a maior dos últimos 100 anos e, que apesar disto, a população da região não a sentiu como as estiagens das décadas de 1990 e 1980. O que talvez ainda não seja tão divulgado é que esta mesma … Leia mais

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Muito já foi dito sobre a seca iniciada em 2012 no Semiárido brasileiro: que sua intensidade foi a maior dos últimos 100 anos e, que apesar disto, a população da região não a sentiu como as estiagens das décadas de 1990 e 1980. O que talvez ainda não seja tão divulgado é que esta mesma estiagem ainda se faz presente até os dias atuais, de forma mais branda, em alguns territórios deste Semiárido de um milhão de quilômetros quadrados.

Este é o caso do território da Borborema, na Paraíba, que é caracterizado por faixas de ambientes mais úmidos, como o brejo, e mais secos como o agreste e o curimataú. Em todos estes ambientes, as chuvas ainda não voltaram ao normal. Segundo Luciano Marçal, assessor técnico da AS-PTA, ao se comparar a média pluviométrica dos últimos 50 anos observa-se uma redução média de 25% a 30% nas precipitações totais anuais de 2012 até 2020. “Nas áreas mais úmidas, o impacto é grande. Mas, na região do Curimataú, o quadro é mais severo”, pontua Luciano.

Este fato nos remete a um desafio global que Luciano transformou em pergunta: “Como vamos lidar com uma conjuntura onde a perturbação do clima tende a ser cada vez mais severa?”

Os dados levantados por Luciano são sentidos por Paulo Alexandre da Silva, agricultor familiar de 63 anos com muito orgulho de ser experimentador. Nascido e criado na zona rural de Remígio, sem nunca ter migrado para nenhuma outra região e, tampouco, seus cinco filhos, seu Paulo não pensa duas vezes antes de afirmar que o inverno “caiu muito de 10 anos pra cá”.

Por isso, ele passou a preparar o terreno cedo para aproveitar as primeiras chuvadas. “Se não, não tiramos nada”, enfatiza. E aí o agricultor familiar emenda a conversa destacando a importância de ter guardado até hoje as sementes conservadas e cultivadas pelo seu pai e seus avôs que “com pouco inverno, planto e faço uma boa colheita”.

Com entusiasmo, seu Paulo enumera as sementes de feijão que são da sua paixão. Numa tacada só, ele citou quatro variedades diferentes, falou do tempo do ciclo do plantio, do comportamento da planta quando a vagem está pronta para ser colhida e se o feijão é bem aceito no mercado e se tem bom preço.

Nestes tempos de menos chuva, as variedades de ciclo mais ligeiro são as mais adequadas. E ele tem duas sementes que levam 55 dias para a colheita (feijão fava e feijão gorgutuba), outra de 60 dias (feijão mulatinho de cacho) e outra ‘mais custosa’ que carece de 70 dias e de mais chuva para brotar (feijão carioca tochinha). “Tem agricultor que não guarda a sementes da paixão. Vai comprar no mercado sem nem saber que semente é aquela. Planta e tem dia que não colhe nada”.

Desde 2002, seu Paulo é um dos coordenadores de um banco de sementes comunitário que funciona na casa dele, no assentamento da reforma agrária Oziel Pereira. A comunidade guarda no banco variedades de feijão de arranca e outras tantas de feijão de corda, além de duas sementes de milho que são armazenadas só depois dos testes de verificação da contaminação pela transgenia. “O que ajuda também é que a palhada do milho serve de forragem”, emenda ele, que cria junto a esposa seis cabeças de gado, dois cavalos, galinhas, guiné e peru. O Banco de Sementes Comunitário de Oziel Pereira integra uma rede com 62 BSC gerido pela comissão de Sementes do Polo da Borborema.

No arredor de casa, espaço de cuidado de dona Zefinha, fica a criação das aves. Todas cercadas com telas para evitar de devorar as plantas cultivadas na área. A tela para cercar as galinhas foi conseguida por meio do Fundo Rotativo Solidário (FRS) gerenciado pela própria comunidade. Este fundo proporcionou também para o assentamento a construção de cisternas de placa de 16 mil litros, a criação de ovelhas e de galinha de capoeira, entre outros bens. “Hoje, o fundo está adormecido, mas o que implantamos está tudo funcionando”, ressalta o agricultor experimentador.

E a sua produção é diversificada, seu Paulo? “Ah, tenho muita coisa que eu plantei. Pra forragem, gliricídia e sabiá.” E emenda com uma relação de pés de frutas semeados no arredor de casa: cajueiro, acerola, graviola, pinha, ‘imbu’, coco, mamão, banana. “Sou agricultor experimentador. De tudo, experimento. O que dá certo, eu continuo. O que não dá, descarto”, diz ressaltando que é difícil algo não dar certo nas mãos dele. “A gente que está na região de Agreste, quase Curimataú, tem que regar a muda duas vezes por dia. Tem que cuidar dela como se cuida de uma criança.”

E de onde vem a água que o senhor usa? “Tenho três cisternas. Duas de 16 mil litros e uma calçadão. E aqui perto tem dois açudes que, quando chove passa água de ano pra ano”. As cisternas são resultado das parcerias com a Articulação no Semiárido (ASA). O açude fica a 1,5km da propriedade dele. Seriam 3km pra ir buscar água sempre que precisasse, mas a comunidade, por meio da Cooperativa que constituíram, comprou um trator com tanque pipa, que faz a coleta no açude e sai abastecendo toda a comunidade. O bem coletivo foi conquistado via um projeto do Governo da Paraíba, que pagou uma parte e financiou o restante para a Cooperativa.

A seca iniciada em 2012 foi marcada pela morte de milhares de animais, principalmente o gado bovino. O esgotamento dos recursos forrageiros gerou um colapso na oferta de alimentos para os rebanhos. Esse impacto não foi sentido com a mesma intensidade no Território da Borborema. As estratégias de produção e armazenamento de alimentos para os animais com destaque para implementação de campos de palma consorciados, as cercas de mandacaru e a prática da silagem apoiada pela Rede Itinerante de Máquinas Motoensiladeiras permitiram com que as famílias envolvidas constituíssem estoques de forragem no ano de 2011 e que foram determinantes para atravessar o período de estiagem prolongada dos anos que se seguiram. Seu Paulo é um exemplo dessa iniciativa e em 2011, armazenou dois silos.

No alto de seus 63 anos, seu Paulo tem energia e vigor para fazer parte de espaços como a Rede de Agricultores e Agricultoras Experimentadores/as do território da Borborema e o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Remígio, do qual é diretor há três mandatos. A quantidade de intercâmbios que participou nem sabe precisar, mais citou rapidamente “vários na Bahia, no sertão do seu estado, em Pernambuco”. Até palestra ele foi fazer no Mato Grosso do Sul em 2016. “Era pra falar o que era Banco Comunitário de Semente e o que era a Semente da Paixão”.

Se já visitou muitas famílias e comunidades rurais, semiárido afora, já recebeu também muita gente da região e até da França e Moçambique. “Nem me lembro a quantidade. Nestes intercâmbios, a gente ensina e também aprende”.

Do individual para o coletivo – É certo que a propriedade de seu Paulo e Dona Zefinha está cercada de infraestruturas para torná-la mais resiliente à seca. E que seu Paulo tem acesso a informações e conhecimentos que lhe proporcionam maior condição de adaptação à severidade climática. Mas, se ele estivesse isolado, não participasse das diversas dinâmicas comunitárias como o banco de sementes, o fundo rotativo solidário, a rede de agricultores experimentadores, o sindicato, entre outros, quase nada disto seria realidade.

São nas relações e nos fluxos estabelecidos no âmbito comunitário – e também para além das comunidades – que se tecem os fios que sustentam as famílias frente às adversidades climáticas ou de qualquer outra perturbação externa, como a pandemia do novo coronavírus e os desmontes das políticas públicas de fortalecimento da agricultura familiar, da agroecologia e da convivência com o Semiárido, por exemplo.

“As propriedades mais inovadoras estão inseridas em redes e em formas coletivas de gestão de bens comuns”, garante Luciano. Segundo ele, isto tem a ver com a capacidade das comunidades desenvolverem atividades autogestionárias de recursos como a água, a biodiversidade, equipamentos coletivos, o conhecimento e também tem a ver com uma série de mecanismos de reciprocidade, como os mutirões e as trocas não só de produtos e dias de trabalho, mas também as imateriais, como o conhecimento.

Dentro deste cenário, chamam atenção os vários dispositivos de ação coletiva, como as máquinas forrageiras, os equipamentos que bombeiam água, os bancos de sementes comunitários, os fundos rotativos solidários, entre outros, que gerenciam os diversos recursos existentes nas comunidades, municípios e territórios.

“Os recursos existentes, quando regulados por redes descentralizadas, comunitárias e integradas, se ampliam. E a circulação destes recursos  conferem qualidades que atenuam as perturbações do clima, fortalecem a autonomia da comunidade e mantém dinâmicas de inovação apesar de um quadro  desmonte das políticas públicas para a agricultura familiar, que foram, em grande medida, as ativadoras destes processos locais”, confere Luciano.

Para Roselita Victor, da coordenação do Polo da Borborema, uma rede territorial de sindicatos rurais de 13 municípios, mais de 150 associações comunitárias, e uma associação de produtores agroecológicos, a EcoBorborema, é preciso refletir como as comunidades rurais assumem a trajetória de auto-organização e gestão coletiva nos últimos anos.

“Apoiar dinâmicas comunitárias fortalece a organização local a construir um olhar coletivo a partir de sua realidade, dos seus desafios e perspectivas de fortalecimento pensando na convivência com o Semiárido e nas mudanças climáticas”, assegura Rose.

Assentada da reforma agrária e sindicalista há mais de 30 anos, Rose lembra que nos anos de 1980, no território da Borborema, as associações só serviam aos interesses dos políticos. De lá pra cá, elas têm se tornado células coletivas muito importantes para a construção de forças nas comunidades rurais. “Quando as famílias se juntam, criam outra dinâmica”, atesta ela.

Projeto INNOVA-AF – A partir desta ação, a AS-PTA e o Polo da Borborema estão sistematizando experiências de sete comunidades de sete municípios do território para perceber os mecanismos que acionam um maior nível de proteção e resiliência à  frente aos efeitos das mudanças climáticas globais. O projeto é financiado pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), uma agência da ONU, e do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).

“Já realizamos seis oficinas comunitárias e seis oficinas de auto-organização das mulheres. Está faltando só uma comunidade do município de Queimadas que está com um alto índice de contaminação pelo Covid-19. Deixamos para fazer as reuniões no ano que vem”, informa Adriana Galvão, assessora da AS-PTA.

Ela contou também que, nestas oficinas, se estimula uma leitura compartilhada trajetória histórica da agricultura nas comunidades olhando para os quatro últimos momentos de seca que assolaram a região: 2012 até hoje, 1998, 1993 e 1983. Nos encontros, também são estimuladas análises das mudanças ocorridas na agricultura familiar e nas políticas públicas. Na conversa, uma pergunta central é: “Como estamos construindo uma maior capacidade para enfrentar estas mudanças no clima?”

Por que isto que foi relatado acima, a partir da leitura da equipe técnica da AS-PTA e de Rose, liderança do Polo, precisa ser acessado a partir das próprias comunidades para que se deem conta do quanto sua organização e união são essenciais para a manutenção da vida independente das circunstâncias externas.

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Iniciativa integra uma ação em rede com territórios de oito países da América Latina e Caribe, financiada pelo FIDA e IICA

“Se nós vivêssemos a seca de 2012 para cá, do mesmo jeito que a gente viveu a de 1998 e 99, como seria?” A pergunta de Luciano Marçal, assessor técnico da AS-PTA, provoca o início de uma rodada de falas de lideranças sindicais e comunitárias do Polo da Borborema durante o Encontro de Formação sobre Mudanças Climáticas. A intenção é identificar e refletir coletivamente sobre os avanços da trajetória construída pelo Polo no Território da Borborema, assim como  as conquistas de políticas púbicas que proporcionaram aos agricultores e às agricultoras familiares uma maior capacidade de resistir à longa estiagem como foi a de 2012, tida como a mais forte dos últimos 100 anos.

As respostas trouxeram uma riqueza de elementos: destacou-se na trajetória a centralidade dos processos de construção coletiva dos conhecimentos. O conhecimento acumulado e gerido localmente se constituiu na base das dinâmicas de inovação e foram centrais para as transformações que contribuíram para a aumento das capacidades de adaptação e resiliência do território aos efeitos das secas prolongadas. Também se destacou como sendo uma trajetória de conquistas, a ampliação da base de recursos sob o controle das famílias agricultoras, sobretudo, o acesso à terra, a água, e a biodiversidade; as estratégias de constituição de estoques (água, forragem, sementes, etc.) combinadas com manejo ecológico dos recursos para a produção de alimentos garantiram maior diversidade e estabilidade produtiva.

As iniciativas de gestão coletiva dos bens comuns como os Fundos Rotativos Solidários e o Bancos de Sementes Comunitários, também chamaram a atenção para a importância dos processos de auto-organização para conviver com atual quadro climático. De igual importância foi também destacado como, ao longo dos últimos anos, se fortaleceu o protagonismo das mulheres e da juventude camponesa.  Esta trajetória foi também fundamental para ampliar da capacidade das organizações em dialogar incidir na construção de políticas públicas e com as universidades; participar da construção de políticas públicas adequadas. Também foram levantadas a criação e fortalecimento das redes de agricultores/a no território; a ampliação da força social deste grupo do território; a construção da identidade enquanto Semiárido: ‘Somos povo, temos condição de mudar’; e o aprendizado sobre a convivência com o Semiárido, frutos dos mais de 25 anos de construção de um território agroecológico.

Ao final da rodada, Luciano destaca ainda o papel das comunidades na gestão de recursos, na auto-organização e na ocupação de mercados de forma organizada. “Foi impressionante como mesmo num período de seca prolongado, conseguimos continuar e até ampliar os mercados agroecológicos no território”.

No Semiárido, segundo dados da NASA, o aumento da temperatura se aproxima de 2 graus do ano que passou (2019). “Com as mudanças climáticas, os eventos extremos de seca serão mais violentos e a frequência tende a ser maior. Estamos falando de um desafio planetário e o enfrentamento se dá em vários planos”, salienta o assessor e indaga: “Hoje sabemos que a temperatura é bem diferente de antes e que os invernos mudaram, temos que entender o que está acontecendo, e como nos antecipamos a esse desafio?”

Antônio José da Silva, ou ‘Toinho Cadete’ como é conhecido, uma das lideranças que participavam da reunião, comenta que “desde janeiro até agora tem chovido, mas não teve um calendário de 90 a 120 dias de chuva para plantar e colher. Choveu, mas muito disperso. As fruteiras não produziram. Daqui para a frente, temos que animar mais, se reunir mais, intercambiar mais. Pois devemos acelerar essa discussão”.

O que Toinho traz como sugestão de encaminhamento para o grupo reunido, de forma virtual, no dia 16 de setembro passado, é a essência de um novo projeto que o Polo da Borborema e a AS-PTA vão executar por 14 meses, o Projeto Borborema Agroecológica. No último dia de setembro (30), esta ação foi lançada virtualmente num evento transmitido pelos Facebooks do Polo da Borborema e da AS-PTA.

“É um projeto de construção do conhecimento. Há uma expectativa de que o conjunto das nossas experiências sejam eficazes em relação à mudança climática e há uma responsabilidade grande nossa para que possamos contribuir [com o enfrentamento do problema climático] em outras regiões e países”, explica Marcelo Galassi, da coordenação da AS-PTA na Paraíba. Segundo ele, o desafio que este projeto traz é olhar para as comunidades, entender como elas têm construído suas trajetórias e seus mecanismos de resiliência e pensar como construir essas referências que consigam dialogar com outras redes de agricultores e agricultoras em territórios de toda a América Latina e Caribe.

Na verdade, o projeto Borborema Agroecológica foi criado a partir de um edital lançado pela iniciativa INNOVA: “Gestão de Conhecimento para a Adaptação da Agricultura Familiar ao Câmbio Climático”. Assim como a ação no território paraibano, vão acontecer, simultaneamente, outros projetos territoriais no México, República Dominicana, Honduras, Guatemala, Colômbia, Equador e Bolívia. O INNOVA é realizado a partir de recursos do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), uma agência da ONU, e do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).

No Brasil, o projeto focará em sete municípios de atuação do Polo da Borborema – Alagoa Nova, Areial, Esperança, Lagoa Seca, Queimadas, Remígio, Solânea. Em cada município, uma comunidade. Em cada comunidade, 20 famílias serão acompanhadas. “Faremos vários momentos coletivos de leitura da realidade. Iremos viver um momento interessante de olhar para as comunidades onde trabalhamos, para entender o seu papel no enfrentamento as mudanças climáticas. Sabemos que muito desse desequilíbrio é consequência do agronegócio”, informou Roselita Vitor, da coordenação do Polo da Borborema.

Haverá processos formativos a partir de oficinas, intercâmbios e seminários. E também estão previstas atividades de experimentação e sistematizações, que vão ter apoio metodológico dos institutos de pesquisa e ensino e as universidades parceiras, como as universidades Federal e Estadual da Paraíba, o Instituto Nacional do Semiárido (INSA), e o Centro de Pesquisa Agrícola Francês para o Desenvolvimento Internacional (CIRAD), uma organização francesa de pesquisa agrícola e cooperação internacional que trabalha para o desenvolvimento sustentável das regiões tropicais e do Mediterrâneo.

“Vejo esta iniciativa pequena do INNOVA neste grande território da Borborema como uma semente”, ressaltou o representante do INNOVA no evento de lançamento da iniciativa Miguel Altamirano, que iniciou sua fala fazendo menção à força motora da agricultura familiar, que representa 80% da agricultura praticada em todo o planeta. Segundo Miguel, há dois temas relacionados à agricultura familiar que são a essência do INNOVA: a gestão do conhecimento e a inovação. “A inovação já existe no território e o que temos que ver é como projetarmos, como fazermos a troca do conhecimento, o intercâmbio. Esse é o coração do INNOVA e o espírito.” E mais adiante, acrescenta: “Através deste projeto, o Polo se une a uma rede que está em outros territórios que compartilham as mesmas condições do Semiárido brasileiro.”

O representante do FIDA, Leonardo Bichara Rocha, também presente no lançamento destacou que para o Fundo ligado à ONU, é importante que o aprendizado local seja levado, disseminado para outros agricultores, outras porções do Semiárido que reúnam as mesmas condições de vulnerabilidade climática e dificuldades para o aumento de produção e de renda. Miguel salientou ainda que o foco do projeto nos jovens e mulheres, que são o público-alvo do FIDA. “Somos uma agência financiadora que se destaca das outras porque a nossa preocupação não é simplesmente fornecer o recurso e sim saber como o recurso está sendo utilizado e para quais grupos está indo”.

O último a falar no lançamento virtual do projeto Borborema Agroecológica foi Paulo Petersen da coordenação da AS-PTA. “A trajetória do Polo da Borborema que é muito longa, persistente, determinada e bem orientada por princípios e valores. Não é orientada por projetos de financiamentos. É o contrário. Os projetos de financiamento são mobilizados para fortalecer uma trajetória de construção social. Deste ponto de vista, o INNOVA vem ao encontro de uma trajetória que fortalece a ideia dos ‘tesouros escondidos’, uma expressão muito usada na Borborema e que foi dita por um agricultor do Polo, seu Zé Pequeno, e que rompe com a ideia das soluções vêm de fora dos territórios. A concepção que o INNOVA foi criado reforça a autonomia e emancipação locais”, salienta Paulo.

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Em território com soberania alimentar, a partir da organização da agricultura familiar agroecológica, a fome não tem vez https://aspta.org.br/2020/09/17/em-territorio-com-soberania-alimentar-a-partir-da-organizacao-da-agricultura-familiar-agroecologica-a-fome-nao-tem-vez/ https://aspta.org.br/2020/09/17/em-territorio-com-soberania-alimentar-a-partir-da-organizacao-da-agricultura-familiar-agroecologica-a-fome-nao-tem-vez/#respond Thu, 17 Sep 2020 15:08:39 +0000 http://aspta.org.br/?p=18237 Quando todo o Brasil testemunha a volta da inflação nos preços dos alimentos e a redução pela metade do auxílio emergencial direcionado às famílias em situação de pobreza e miséria, vemos a fome bater na porta de milhares de lares brasileiros. Entrar e se instalar nas famílias. Se desde que começou a pandemia, as ações de … Leia mais

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Foto: Flávio Costa

Quando todo o Brasil testemunha a volta da inflação nos preços dos alimentos e a redução pela metade do auxílio emergencial direcionado às famílias em situação de pobreza e miséria, vemos a fome bater na porta de milhares de lares brasileiros. Entrar e se instalar nas famílias.

Se desde que começou a pandemia, as ações de solidariedade para entrega de cestas alimentícias eram necessárias, hoje, seis meses depois de decretada esta situação, elas seguem sendo ainda mais urgentes.

No território da Borborema, no semiárido paraibano, uma iniciativa mobiliza os produtores de alimentos da região e as famílias que não têm comida para alimentar três vezes por dia. O alimento diversificado produzido pela agricultura familiar agroecológica está sendo direcionado para milhares de famílias.

“A gente, da agricultura familiar que faz a agroecologia e a convivência com o Semiárido, sempre acreditou que os alimentos vindos da agricultura livre de transgenia são muito importantes e muito nutritivos pras famílias. Também valorizamos os alimentos que são do nosso território. Estamos doando 25 toneladas vindas do nosso território. Isso mostra pra gente que podemos ter territórios que constroem a soberania alimentar, sustentada na produção agroecológica e com alimentos livres de transgênicos e agrotóxicos”, afirma Roselita Vitor, da diretoria do Polo da Borborema.

O Polo, que reúne 13 sindicatos rurais dos municípios situados no território, junto à AS-PTA e à EcoBorborema, entidade responsável pela organização dos canais de comercialização dos produtos agroecológicos na região como as 12 feiras semanais e os cinco pontos fixos, estão à frente deste movimento de solidariedade que já doou 1,4 mil cestas agroecológicas em julho passado e volta a doar mais 1,5 mil unidades este mês.

Na quinta-feira da semana passada (10) e hoje (17), as famílias cadastradas recebem a doação. As 25 toneladas de alimentos agroecológicos são produzidas pelas mãos de 80 famílias agricultoras camponesas. O alimento é comprado a um preço justo dos/as produtores/as, contribuindo para o aumento da renda destas famílias agricultoras que chegaram a perder cerca de 50% do orçamento neste período da pandemia.

Para comprar o alimento e doá-lo, a AS-PTA mobilizou recursos com agências de cooperação internacional (Pão para o Mundo, ActionAid, e terre des hommes), que são parceiras da instituição. Em julho, as doações foram garantidas com recursos da Fundação Banco do Brasil.

Como a produção agroecológica é diversificada na Borborema, as cestas refletem isto. Nela, vai uma boa variedade de produtos in natura, como feijão, milho, frutas, verduras e também produtos beneficiados – farinha, bolos, beiju e goma de tapioca.

“Uma das coisas que destaco deste processo é a qualidade dos alimentos, que não é qualquer alimento. Um outro ponto foi o esforço feito para identificar as famílias vulneráveis que estão em locais onde o Estado não chega e, muitas vezes, os sindicatos [rurais] e a AS-PTA também não”, destaca Marcelo Galassi, da coordenação da AS-PTA na Paraíba.

“A pandemia, junto a outros elementos, como a descontinuidade de políticas públicas direcionadas às famílias rurais do Semiárido, vem relevando a pobreza e o tamanho da desigualdade social no campo e na cidade que sempre esteve sob nossos olhos”, pontua Marcelo.

Para esta etapa, foram mobilizadas 80 famílias agricultoras e produtoras de alimentos agroecológicos, um número recorde em relação as duas experiências anteriores. Segundo Marcelo, desta vez, as organizações executoras se desafiaram a identificar famílias que não vendiam seus produtos nas feiras, que produziam em pequena escala e não tinham meios de escoar a sua mercadoria. “O Polo e a EcoBorborema foram essenciais para fazer esta identificação”, afirma.

Também foi estabelecido que nas cestas haveria os produtos beneficiados para garantir a participação das mulheres que tiveram as cozinhas de suas casas – ou cozinhas de espaços coletivos – adaptadas para cumprir as normas da vigilância sanitária, a partir de um projeto entre a AS-PTA e a organização Manos Unidas. Os bolos, a goma de tapioca e os beijus adquiridos foram produzidos por 26 mulheres da região. Na venda dos produtos in natura, também tem mulheres envolvidas.

Marcelo conta que até as pessoas que estão vendendo sua mercadoria, não vê esta ação como uma venda apenas. Veem como uma ação de solidariedade. “Na hora de entregar os produtos, vários/as fornecedores/as entregam a mais porque sabe que o produto não vai se perder. E há um zelo nesta entrega também. Teve gente que entregou as batatas já pesadas e embaladas em saquinhos na medida das cestas. Eles sabem que tudo vai chegar a quem precisa”, conta Marcelo.

Olhando para a necessidade dos produtores de reverter a queda nas vendas devido à pandemia, Gerusa da Silva Marques, da direção da Ecoborborema, assegura que esta iniciativa tem sido providencial para as famílias agricultoras. Ela estima que, em média, as vendas caíram cerca de 50%”. Das 12 feiras agroecológicas organizadas pela Ecoborborema, cerca de cinco ou seis pararam por um tempo que variou de semanas a três meses. “Não deixamos de vender totalmente, mas tivemos grande queda. Diante disso, diminuímos a produção. A compra dos alimentos para as cestas tem sido um incentivo bacana.”

O entreposto da agricultura familiar na Borborema – Desta vez, a logística do recebimento dos produtos à entrega das cestas aconteceu no Banco Mãe de Sementes, um espaço conquistado com muita luta dos/as agricultores/as e das organizações de apoio. Foi a primeira ação após reformas que duraram meses, no valor de R$ 200 mil. A sede, em Lagoa Seca, ainda nem teve a religação da energia elétrica. “A nossa intenção é que o Polo e a Eco se apropriem do significado político e da função deste espaço”, ressalta Marcelo.

“Ali é, realmente o espaço dos agricultores e agricultoras”, destaca Gerusa com relação ao Banco Mãe. “A gente está se apoderando dele a cada dia. Tem o desafio de manter financeiramente o prédio, mas será um aprendizado. A gente sabe que vai dar conta e vamos precisar da ajuda de todo mundo. Como organização envolvida com a comercialização, a Ecoborborema é que tem mais condições de gerenciar o espaço”, assume.

Gerusa estima que a receita mensal de todas as feiras, neste tempo de baixa das vendas, ultrapassa a marca dos R$ 40 mil. A Ecoborborema tem mais de 200 famílias associadas e outras tantas que também fornecem seus produtos para a venda nas feiras, mas não são sócias.

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Quitandas da Borborema se consolidam como um imprescindível espaço de comercialização de alimentos agroecológicos nesta pandemia https://aspta.org.br/2020/08/19/quitandas-da-borborema-se-consolidam-como-um-imprescindivel-espaco-de-comercializacao-de-alimentos-agroecologicos-nesta-pandemia/ https://aspta.org.br/2020/08/19/quitandas-da-borborema-se-consolidam-como-um-imprescindivel-espaco-de-comercializacao-de-alimentos-agroecologicos-nesta-pandemia/#respond Wed, 19 Aug 2020 23:39:00 +0000 http://aspta.org.br/?p=18192 Em novembro e dezembro 2019, a inauguração de cinco unidades da rede de Quitandas da Borborema, em Solânea, Arara, Esperança, Remígio e Queimadas, foi providencial diante do que aconteceu meses depois em todo o mundo. Não sabiam os envolvidos neste empreendimento que os pontos de venda fixos, que funcionam de segunda a sábado, seriam essenciais … Leia mais

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Em novembro e dezembro 2019, a inauguração de cinco unidades da rede de Quitandas da Borborema, em Solânea, Arara, Esperança, Remígio e Queimadas, foi providencial diante do que aconteceu meses depois em todo o mundo. Não sabiam os envolvidos neste empreendimento que os pontos de venda fixos, que funcionam de segunda a sábado, seriam essenciais tanto para quem cultiva alimentos na região, quanto para quem os consomem.

Cerca de três meses depois, em 11 de março, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou estado de pandemia devido ao rápido alastramento de um novo vírus, causador de infecções respiratórias graves, em vários países do mundo. O Brasil foi um deles. Rapidamente, os canais de comercialização dos alimentos da agricultura familiar agroecológica foram afetados. Alguns municípios decretaram o fechamento das feiras e, em outros, estes espaços precisaram se ajustar a critérios de segurança sanitária para seguir funcionando.

No território da Borborema, onde há uma rede de 12 feiras agroecológicas em 13 municípios, alguns desses espaços foram suspensos por algum período. As famílias agricultoras que vendiam seus produtos ficaram, de uma hora pra outra, sem poder contar mais com este canal de comercialização. E os clientes assíduos das feiras agroecológicas ficariam sem seus fornecedores de alimento saudável?

Com o fechamento das escolas, a alimentação servida nos dias de aula também deixou de ser distribuída e os fornecedores – os/as mesmos/as agricultores/as das feiras – viram outro mercado fechar as portas. Mesmo com a criação de uma nova lei para que os alimentos sigam sendo oferecidos para os estudantes que estão em casa, poucos municípios de todo o país adquirem os produtos in natura para pôr nas cestas distribuídas às famílias.

Foi justamente isso o que aconteceu com a família de Fátima Melo, 27 anos, que mora no Sítio Lajes, na zona rural de Solânea. Sem a venda das hortaliças para as escolas, ela e o esposo Edivaldo dos Santos viram o orçamento mensal despencar 600 reais. “Não perdemos totalmente a nossa produção e a renda porque surgiu a ação de distribuição de cestas básicas com financiamento da Fundação Banco do Brasil e isso deu uma força grande. Também demos uma diminuída no plantio”, conta Fátima.

Além do mercado institucional do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), a produção deles era escoada para duas feiras agroecológicas – a do município em que vivem e a de Casserengue – e para a feira livre de Casserengue, onde o marido tem um ponto de venda. A feira de Solânea chegou a parar durante duas semanas logo no início da chegada do vírus na região. As duas de Casserengue passaram mais de dois meses fechadas e reabriram há duas ou três semanas.

Fátima, que é monitora EcoSol na Quitanda de Solânea, com medo do vírus, decidiu fechar também este espaço. Mas, a suspensão das vendas só durou oito dias. Logo que viu a situação geral de perda de renda para a sua família e para outras tantas, retomou o funcionamento da Quitanda inaugurada em novembro. Com o isolamento social, com a queda da circulação das pessoas nas ruas, Fátima instituiu a venda com entrega em domicílio, que no período mais crítico da contaminação no município, chegou a representar 90% das vendas. Atualmente, o sistema de delivery é responsável por metade das vendas mensais. Grande parte das encomendas são feitas por quem mora em Bananeiras, um município próximo com uma população urbana com renda mais alta.

Segundo Fátima, a Quitanda tem um papel muito importante na região porque funciona todos os dias da semana, só fecha aos domingos, com uma oferta de alimentos de verdade, livres de venenos. “Tem ajudado muito, muito não só a mim, mas aos agricultores/as. É um trabalho muito gratificante porque a gente sabe que está levando produtos saudáveis para os consumidores. E a gente vem conseguindo superar as dificuldades.”

Sobre o papel das Quitandas da Borborema, Gizelda Lopes, reforça tudo o que Fátima falou. A coordenadora política do Polo da Borborema – uma articulação de 13 sindicatos de trabalhadores rurais no território de mesmo nome – ainda acrescenta: “No tempo de produção, a família come uma parte e vende o excedente. Como um espaço fixo para escoar os produtos, principalmente, neste tempo de pandemia, as Quitandas têm livrado os/as produtores/as dos atravessadores”.

Gizelda também destaca a solidariedade entre campo e cidade que Fátima pontuou. Nos municípios, estes espaços e as feiras semanais são lugares que oferecem comidas sem agrotóxicos a preços mais acessíveis. E por falar em preços, os valores praticados nas Quitandas são iguais aos alimentos não orgânicos ou até menores.

Não é à toa que as vendas de todas as Quitandas em funcionamento, nestes meses de pandemia, cresceram bastante. “As Quitandas da Borborema vieram no tempo certo. Em todas as unidades, de janeiro a fevereiro o ritmo de venda era um. Em meados de março até agora, as vendas subiram, mesmo algumas quitandas funcionando em apenas um turno. As pessoas buscam por limão, mel, frutas, verduras”, acrescenta a vice presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Remígio.

Além dos produtos in natura (frutas, hortaliças, raízes, vegetais, grãos e sementes), as Quitandas oferecem uma variedade de alimentos beneficiados, como doces, bolos, polpas de frutas, fubá, xerém, mungunzá, entre outros.

Gizelda conta que a rede de Quitandas é fruto do fortalecimento do trabalho com a agroecologia desenvolvido na região há cerca de 26 anos. “Esse processo ampliou as propriedades rurais, diversificou a produção, possibilitou que as famílias fiquem no campo com mais sustentabilidade, autonomia e melhor infraestrutura. Chegaram as tecnologias de primeira e segunda águas, a silagem. Houve a valorização do trabalho no arredor de casa. As mulheres ampliaram o beneficiamento dos produtos. E chegou a pergunta: O que fazer com o excedente da produção? Foi aí que as redes de agricultores e agricultoras agroecológicos criaram as feiras e, agora, chegaram as Quitandas da Borborema”, contextualiza.

Início da rede de Quitandas – As Quitandas da Borborema são fruto do debate sobre a necessidade de ampliar e diversificar os circuitos comerciais de comercialização agroecológica com a estruturação de uma rede de pontos fixos. As cinco unidades municipais da Quitanda da Borborema e a unidade regional, que teve sua inauguração adiada devido à pandemia, foi possível por meio da elaboração e realização de um projeto submetido ao Ecoforte – Programa de Fortalecimento e Ampliação das Redes de Agroecologia, Extrativismo e Produção Orgânica Nº 17.240. O Programa Ecoforte é desenvolvido em parceria com a Fundação Banco do Brasil – FBB, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES e o Governo Federal.

Mas antes mesmo da celebração do projeto, a expectativa e o debate sobre a estruturação de pontos fixos foi estimulando a construção de iniciativas locais. A primeira iniciativa aconteceu meses antes da aprovação do Programa Ecoforte. “Ela é fruto da motivação de alguns feirantes que foram conhecer a experiência do ponto fixo ‘Tenda Agroecológica’ no município de Boqueirão, na microrregião dos Cariris Velhos da Paraíba, onde há uma experiência similar”, comenta Ednaldo Rodrigues, assessor técnico da AS-PTA, organização de assessoria à agricultura familiar que atua no território da Borborema num parceria muito estreita com o Polo da Borborema e com a Associação EcoBorborema, criada para viabilizar os canais de comercialização dos produtos agroecológicos que abundam das propriedades das famílias agricultoras em transição agroecológica.

Em Arara, o ponto fixo deles fez um ano justo no mês que foi decretada a pandemia, em março passado. Lá, as/os agricultores tiveram apoio, além da AS-PTA e do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do município, da igreja católica que dispôs de um espaço onde foi instalada a primeira Quitanda agroecológica do território da Borborema. E quem diria que, em menos de um ano depois, o empreendimento se alastraria para mais quatro municípios. E ainda há a previsão de inauguração da Quitanda da Borborema regional, que já está funcionando como entreposto para circulação e diversificação dos produtos da agricultura familiar para os demais pontos fixos.

“Na unidade regional, a jovem Denise Ribeiro dá suporte a todas as Quitandas municipais e atua na divulgação da iniciativa nas redes sociais e no suporte operacional”, comenta Ednaldo, contando que estes canais de comunicação têm sido muito importantes para impulsionar as vendas nas Quitandas Agroecológicas.

Além das unidades fixas, também está previsto no projeto, uma quitanda móvel, no estilo dos atuais “food trucks”, que deve circular durante eventos em Campina Grande e região. Em cada uma das unidades, há um jovem EcoSol com bolsa paga pelo projeto para fazer promoção, venda dos produtos e prestação de contas. O salário deste bolsista e mais os custos fixos das Quitandas são completados com uma porcentagem de 20% da receita mensal.

Impacto do isolamento social nas Quitandas Agroecológicas – Apesar de estarem sendo pontos importantes para a oferta de alimentos saudáveis neste tempo de pandemia, duas unidades sofreram impactos neste tempo, a dos municípios de Queimadas e Esperança. Esta última, voltou a funcionar há cerca de cinco semanas. A de Queimadas segue fechada, mas logo será reaberta.

Ednaldo explica que o principal motivo para o fechamento delas foi o fato de a estrutura estar dentro dos Sindicatos Rurais dos municípios, que por serem estabelecimento de atendimento ao público tiveram restrição no seu funcionamento a partir de decretos municipais.

“Mesmo com todas as mudanças, as Quitandas da Borborema ampliaram o número de famílias agricultoras fornecedoras de alimentos saudáveis, principalmente jovens e mulheres, que tiveram a oportunidade de garantir a renda nesse momento tão difícil que estamos vivenciando”, afirma Ednaldo.

Em breve, todas as unidades municipais das Quitandas da Borborema estarão abertas, funcionando a pleno vapor, favorecendo a compra e consumo de alimentos saudáveis vindos direto da propriedade da família agricultora do próprio município ou de outro próximo. Afinal de contas, como o inverno no território da Borborema foi de chuvas boas e bem distribuídas, os roçados e os quintais abundam de alimentos de verdade para reforçar a saúde de quem os consumir.

E, só para encerrar com chave de ouro este texto, ainda tem outro elemento que potencializa o valor das Quitandas da Borborema. Elas são o que se chama de “circuito curto de comercialização”, ou seja, favorece de uma proximidade entre produtores e consumidores e traz muitos benefícios para quem produz, como para quem consome, por ter acesso a alimentos frescos, e também ao meio ambiente, por não estar implicada na venda uma logística complexa, com grandes frotas para o transporte e elevado consumo de combustível. E já foi evidenciado muitas vezes que o percurso longo entre produtores e consumidores – as cadeias longas de comercialização e distribuição – com muitos atravessadores, que fazem subir os preços dos alimentos e também não pagam um valor justo aos produtores, são bem propícios a problemas de abastecimentos dos centros urbanos. Como foi visto na greve dos caminhoneiros e agora na pandemia.

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Mais de 100 famílias de seis municípios da Borborema iniciam plantio de algodão em consórcios agroecológicos em 2020 https://aspta.org.br/2020/08/12/mais-de-100-familias-de-seis-municipios-da-borborema-iniciam-plantio-de-algodao-em-consorcios-agroecologicos-em-2020/ https://aspta.org.br/2020/08/12/mais-de-100-familias-de-seis-municipios-da-borborema-iniciam-plantio-de-algodao-em-consorcios-agroecologicos-em-2020/#respond Wed, 12 Aug 2020 17:38:47 +0000 http://aspta.org.br/?p=18188 Projeto amplia renda das famílias, produção de alimentos para autoconsumo e dinamiza a Rede dos Bancos Comunitários de Sementes do território No último trimestre deste ano, quando os roçados já deram seus frutos e descansam à espera das próximas chuvas, algumas roças na região da Borborema, na Paraíba, estarão pinceladas de branco. Essa é a … Leia mais

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Projeto amplia renda das famílias, produção de alimentos para autoconsumo e dinamiza a Rede dos Bancos Comunitários de Sementes do território

No último trimestre deste ano, quando os roçados já deram seus frutos e descansam à espera das próximas chuvas, algumas roças na região da Borborema, na Paraíba, estarão pinceladas de branco. Essa é a expectativa de cerca de 100 famílias, que plantaram ao longo do inverno deste ano, sementes de algodão junto a pés de batata, mandioca, milho livre de transgenia, erva-doce, feijão e demais culturas.

Uma das famílias que espera pela última colheita do ano é a de Luis de Santana, da comunidade Sítio São Bento de Cima, em Arara. Eles voltaram a cultivar o algodão depois de cerca de uma década sem produzir devido à perda de valor do produto. Se, há mais ou menos 10 anos, o quilograma (kg) da rama do algodão não conseguia chegar a R$ 1,20 ou R$ 1,30 – valor que, segundo Luis, compensava o custo do plantio – hoje, o kg da pluma orgânica, beneficiada e certificada, está por R$ 10,61. Explicando de forma bem simples, a rama é o algodão bruto, da mesma forma que é retirado do pé, ainda com a semente. Já a pluma é o resultado do processo de retirada da semente numa máquina que também faz um novelo da fibra.

A valorização do algodão tem sido um grande atrativo para que as famílias da região retomem o cultivo da planta, que ficou conhecida como ouro branco do Sertão, por ter gerado muita renda para a região e, especialmente, para o território da Borborema. Na década de 1920 e início da seguinte, Campina Grande, município polo da região, teve um crescimento acentuado impulsionado pelo comércio da fibra cultivada nas redondezas. Campina Grande chegou a ser o segundo polo de venda de algodão do mundo. Perdia só para Liverpool, na Inglaterra.

Mas, para além do valor alcançado com o algodão agroecológico, há outros motivos que atraem o interesse dos agricultores e agricultoras familiares. Uma delas é a vantagem do plantio agroecológico que preza pelo consórcio de culturas. “Há uma diversidade de culturas em uma pequena área”, destaca Luis de Santana, que sempre consorciou o algodão com o milho, a fava, feijão. Do ano passado pra cá, o agricultor planta o algodão junto de algumas variedades de feijão: gordo, rosinha e preto. Mas também já juntou o plantio do algodão com o coentro que produz há mais de 15 anos. “O coentro é bom para o controle das formigas”, comenta ele, destacando que as flores do algodão também atraem muitas abelhas, o que muito bom para quem é apicultor.

No ano passado, em meio hectare, Luis colheu 260kg de rama e 155kg de pluma. “Foi uma experiência boa”, avalia. Além da fibra, o plantio gerou novas sementes de algodão que o abasteceu para o uso este ano e também foram fornecidas para dois bancos comunitários de sementes da região, o do Sítio Serrote Branco, onde sua mãe é sócia, e de Riacho Fundo. A experiência bem avaliada fez Luis repetir a semeadura em 2020 na mesma área. Ele preparou o solo e esperou a chuva que chegou na primeira quinzena de julho para jogar as sementes.

“O plantio do algodão é muito antigo, mas este cultivo agroecológico é uma novidade”, comenta Emanoel Dias, agrônomo e assessor técnico da AS-PTA, uma organização de apoio à agricultura familiar agroecológica que, na Paraíba, atua na região da Borborema, em parceria com o Polo da Borborema, uma articulação de 13 sindicatos de trabalhadores rurais. Segundo Emanoel, existe uma diferença muito grande entre a produção do algodão em monocultivo e a agroecológica.

“O foco da AS-PTA é o estímulo ao plantio do algodão por meio dos consórcios agroecológicos, que são uma boa estratégia para a diversificação das culturas”. Com o consórcio, as famílias produzem também alimentos para a dieta familiar e o excedente gera renda por haver na região uma estrutura que garante a venda direta dos/as produtores/as para os/as consumidores/as.

“Os feijões, milho, erva doce, mandioca, batatas e outras culturas são comercializados no próprio Território da Borborema, por meio da Rede de 12 Feiras Agroecológicas e das cinco Quitandas da Borborema. Os tubérculos serão comercializados in natura, já os grãos e sementes serão empacotados e comercializados com a marca produtos do roçado. No caso do milho especificamente serão produzidos, fubá, xerém, mungunzá e flocão na Unidade de Beneficiamento dos Derivados de Milho Livre de Transgênicos”, acrescenta Emanoel.

O incentivo para a retomada do cultivo do algodão também dinamiza as casas comunitárias de sementes da região, onde há a Rede Bancos Comunitários de Sementes (BCS), com 62 infraestruturas distribuídas em 12 municípios, mobilizando mais de 1,5 mil famílias sócias. Os equipamentos que possuem um estoque diversificado de variedades alimentícias armazenadas de forma coletiva para serem distribuídas anualmente.

Em 2019, o cultivo do algodão agroecológico foi iniciado com 22 famílias, uma delas é a de Luis. Este ano, as 22 famílias anunciaram a vontade de seguir cultivando a partir das sementes que multiplicaram no plantio anterior e mais 77 famílias receberem sementes, totalizando 109 famílias que vivem em seis municípios da Borborema. Além de Arara, cidade de Luis, tem famílias agricultoras de Areial, Casserengue, Esperança, Queimadas e Remígio. “Com o distanciamento social, suspendemos as visitas de campo, e temos notícias dos consórcios pelo WhatsApp. Ficamos sabendo que 86 delas fizeram o plantio. Pode ser que todas tenham plantado. Vamos confirmar isso quando voltarmos os trabalhos de visita às famílias”, conta o técnico da AS-PTA.

O incentivo ao consórcio agroecológico do algodão com culturas alimentícias é um projeto da AS-PTA, Polo da Borborema, a associação EcoBorborema, que trabalha a comercialização dos produtos da agricultura familiar agroecológica, e tem o apoio da Fundação Laudes. Trata-se do Projeto Algodão Orgânico em Consórcios Agroecológicos, que prevê cursos e intercâmbios para que todo o processo de cultivo seja completamente livre de agrotóxicos e seja feito a partir das sementes crioulas, conhecidas na Paraíba como sementes da Paixão. No projeto, as famílias participantes aprendem a fazer caldas protetoras, defensivos naturais, entre outras técnicas de manejo e também recebem orientações para o controle da principal praga do algodão, o bicudo.

Um diferencial neste projeto é o contato com empresas consumidoras do algodão. Em 2019, o contrato de venda foi feito com a empresa Veja/Vert, uma marca francesa de tênis sustentáveis. Este ano, toda a produção das 109 famílias produtoras já está vendida para a Organic Cotton Colours, empresa espanhola produtora de malha para confecção de camisaria, roupa de cama e banho, que atua na Paraíba desde o ano passado e tem comprado algodão orgânico produzido em outros estados do Nordeste.

Além da compra certa de toda a produção, os contratos com as empresas asseguram a volta das sementes de algodão para as famílias produtoras e também para os bancos de sementes da região. Ademais de todos os motivos, a garantia de renda e um destino certo para a produção tornam o plantio do algodão um trabalho muito sedutor para as famílias em transição agroecológica, como a de Luis. Quem sabe assim, as mais de 100 famílias envolvidas no projeto sintam no bolso o sentido da alcunha ‘ouro branco do sertão’ que um dia foi realidade e inspirou músicas como ‘Algodão‘ conhecida na voz do rei do baião Luiz Gonzaga.

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Comida de Verdade: seminário lança Ação Coletiva para mapeamento de experiências de abastecimento alimentar pelo Brasil https://aspta.org.br/2020/07/29/comida-de-verdade-seminario-lanca-acao-coletiva-para-mapeamento-de-experiencias-de-abastecimento-alimentar-pelo-brasil/ https://aspta.org.br/2020/07/29/comida-de-verdade-seminario-lanca-acao-coletiva-para-mapeamento-de-experiencias-de-abastecimento-alimentar-pelo-brasil/#respond Wed, 29 Jul 2020 19:45:54 +0000 http://aspta.org.br/?p=18151 Iniciativa é composta por organizações nacionais e internacionais, academia e sociedade civil  O abastecimento alimentar enquanto expressão dos caminhos que levam a semente ao prato de todos nós. “Covid-19 e sistemas agroalimentares no Brasil: quais as saídas para um futuro melhor?”. Este é o tema-horizonte do seminário que será realizado nesta sexta-feira, 31 de julho, … Leia mais

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Iniciativa é composta por organizações nacionais e internacionais, academia e sociedade civil 

O abastecimento alimentar enquanto expressão dos caminhos que levam a semente ao prato de todos nós. “Covid-19 e sistemas agroalimentares no Brasil: quais as saídas para um futuro melhor?”. Este é o tema-horizonte do seminário que será realizado nesta sexta-feira, 31 de julho, das 17h às 19h, para marcar o lançamento da “Ação Coletiva Comida de Verdade: aprendizagem em tempos de pandemia”. Trata-se de uma iniciativa de abrangência nacional conduzida por uma articulação de treze organizações comprometidas com a promoção da soberania e segurança alimentar e nutricional, bem como a realização do direito humano à alimentação adequada e suas dimensões indissociáveis: estar livre da fome com acesso a uma alimentação saudável.

Tendo a ecologia de saberes como princípio e a centralidade das experiências em agroecologia como um campo político e científico, ancorado em práticas sociais, a Ação Coletiva terá seu lançamento a partir de diálogo realizado entre o coordenador executivo da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, Paulo Petersen; a docente da Universidade de Brasília (UnB) e integrante do Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutricional, Elisabetta Recine; a dirigente do Movimento dos Pequenos Agricultores do Piauí, Maria Kazé; e o jornalista e fundador do “O Joio e O Trigo”, João Peres.

O diálogo será mediado pela pesquisadora Pós-Doc no Programa de Pós-Graduação e Desenvolvimento Regional da Universidade de Santa Cruz do Sul, Potira Preiss e pelo consultor da Aliança Global para o Futuro da Alimentação, Matheus Zanella. Será inspirado pelas palavras da professora ativista indígena do povo Xakriabá, Célia Xakriabá e terá ambientação cultural do músico percussionista, cantor e compositor afro-recifense, Negro Grilo.

Transmitido pelas redes sociais da Ação Coletiva Comida de Verdade, o seminário será o primeiro de uma série a ser realizada com o intuito de fomentar o debate público, político e acadêmico sobre os impactos do coronavírus nas condições de produção e acesso aos alimentos adequados e saudáveis no Brasil, bem como identificar e compreender as experiências de abastecimento alimentar protagonizadas por movimentos sociais do campo e da cidade, organizações populares e coletivos formais ou informais que têm garantido que a comida de verdade chegue à população.

Para Potira Preiss, coordenadora executiva da Ação Coletiva Comida de Verdade, os seminários representam uma oportunidade de compartilhamento de saberes. “Pretendemos aprofundar as reflexões e trocas entre atores diversos que protagonizam, articulam e estudam os sistemas agroalimentares, sejam aqueles que estão na frente da produção e comercialização enfrentando os desafios que a pandemia traz, as organizações que exercem papel fundamental em facilitar o fluxo dos alimentos entre o campo e a cidade, ou mesmo os estudiosos que se dedicam a compreender os impactos sociais e políticos do que está acontecendo. Dessa forma, pretendemos colher os diversos saberes e olhares, contribuindo assim para qualificar o  debate sobre o tema, mas também a busca de soluções conjuntas”, afirma Preiss.

Mapeamento e Sistematização

Comida de verdade é alimento com memória, cultura e afeto. Alimento que em sua trajetória produz vida, igualdade e justiça. Um poderoso prisma cultural que revela as identidades e os modos de vida de um povo. Não à toa, pesquisas e experiências que resguardam a alimentação como direito humano revelam a importância da agroecologia, do acesso à terra a povos indígenas e tradicionais e à territorialização das dinâmicas de abastecimento para a prevenção de todas as formas de má nutrição, da fome à obesidade, bem como para o fortalecimento das ações e políticas de soberania alimentar.

Por isso, de acordo com Elisabetta Recine, membro do Comitê Gestor da Ação Coletiva Comida de Verdade, os processos de mapeamento e sistematização contribuirão para compreender como as experiências podem apontar caminhos para a construção e o fortalecimento de sistemas agroalimentares equitativos e sustentáveis. “As urgências criadas pela pandemia também deram visibilidade e fortaleceram várias iniciativas locais de produção saudável e sustentável que responderam de maneira ágil às necessidades das comunidades e pessoas. Estas iniciativas, tanto de comercialização como de doações, também geraram a oportunidade de cada pessoa contribuir com algo bom e justo diante de tantas notícias trágicas. E, acima de tudo, evidenciam a capacidade que estas formas de produção e abastecimento têm de garantirem a segurança alimentar e nutricional da nossa população”, explica Recine.

Além de Potira Preiss e Elisabetta Recine, a Ação Coletiva Comida de Verdade reúne uma ampla e potente equipe de pesquisa, sistematização, articulação e comunicação, que atuará em todo o país no sentido de dar visibilidade às experiências em curso e fomentar reflexões sobre as transformações que impulsionam os sistemas agroalimentares. Cada região do Brasil contará com o apoio de um/a articulador/a para impulsionar os diálogos e a identificação das experiências de abastecimento alimentar.

As experiências mapeadas serão cadastradas na plataforma  Agroecologia em Rede (AeR), um sistema integrado de informações sobre iniciativas de agroecologia e que reúne mais de 1.600 experiências de base popular e agroecológica. Desde 2018 o AeR passa por um intenso processo de atualização e reestruturação, com apoio da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e gestão da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) e da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA-Agroecologia).

Organizações

A “Ação Coletiva Comida de Verdade: aprendizagem em tempos de pandemia” é composta pela ActionAid Brasil, Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável, Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), Associação Brasileira de Agroecologia (ABA-Agroecologia), Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Centro de Referência em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Ceresan/UFRRJ), Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN), Grupo de Estudos em Agricultura, Alimentação e Desenvolvimento (Gepad), Instituto Ibirapitanga, Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutricional (Opsan/UnB), Observatório de Desenvolvimento Regional (Observa DR), Rede Brasileira de Pesquisa e Gestão em Desenvolvimento Territorial (Rete), Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PenSSAN).

 

Serviço

Lançamento da “Ação Coletiva Comida de Verdade: aprendizagem em tempos de pandemia”
Dia 31 de julho, sexta-feira, das 17h às 19h
Facebook: https://www.facebook.com/acaocoletiva.comidadeverdade
E-mail: [email protected]
Site: https://acaocoletivacomidadeverdade.org/

Texto: Priscila Viana
Arte: Patrícia Nardini
Assessoria de Comunicação | Ação Coletiva Comida de Verdade

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Tecendo Redes de experiências em Saúde e Agroecologia https://aspta.org.br/2020/06/30/tecendo-redes-de-experiencias-em-saude-e-agroecologia/ https://aspta.org.br/2020/06/30/tecendo-redes-de-experiencias-em-saude-e-agroecologia/#respond Tue, 30 Jun 2020 21:10:59 +0000 http://aspta.org.br/?p=18132 Atividade de Lançamento apresenta processo inédito de sistematização de experiências em saúde e agroecologia a partir da plataforma virtual  Lançamento – Na próxima terça-feira, dia 07 de julho às conexões entre a Saúde e Agroecologia estarão no centro dos diálogos.  O Seminário organizado pela Fiocruz, pela Associação Brasileira de Agroecologia (ABA-Agroecologia) e pela Articulação Nacional … Leia mais

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Atividade de Lançamento apresenta processo inédito de sistematização de experiências em saúde e agroecologia a partir da plataforma virtual 

Lançamento – Na próxima terça-feira, dia 07 de julho às conexões entre a Saúde e Agroecologia estarão no centro dos diálogos.  O Seminário organizado pela Fiocruz, pela Associação Brasileira de Agroecologia (ABA-Agroecologia) e pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) lança um amplo processo de pesquisa que buscará identificar as práticas desenvolvidas por muitas organizações e coletivos.

É com alimento de verdade, com saneamento, com plantas medicinais, com pesquisa, com cuidado e com você que se faz agroecologia e se promove saúde. E o que queremos fazer é juntar todo mundo em uma grande rede, para estarmos – ainda mais – conectadas e conectados. O lançamento contará com a presença de Aparecida Vieira (Tantinha) – Ervanário São Francisco/MG e Articulação Pacari, Denise Oliveira e Silva – coordenadora do Observatório Brasileiro de Hábitos Alimentares (OBAH)/Fiocruz Brasília e Marco Menezes –  Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAS)/Fiocruz e será transmitido pelas redes sociais da ABA-Agroecologia e pelas organizações parceiras desta iniciativa.

O Seminário virtual marca a culminância de um intenso processo de pesquisa que resultou em um instrumento de coleta de dados para a identificação inédita das experiências em Saúde e Agroecologia no Brasil e na América Latina. Durante a pandemia da Covid-19, percebemos ainda mais a relevância da parceria entre as redes de Saúde e Agroecologia, e é justamente sobre a potência desse encontro que mais um processo de sistematização e mapeamento será lançado e estará disponível na Plataforma do Agroecologia em Rede (AeR).

Experiências em saúde e agroecologia correspondem às diversas estratégias construídas pelos povos, pelas organizações, coletivos, movimentos sociais e grupos de pesquisa, que buscam conjugar conhecimentos locais e populares com conhecimentos técnicos e científicos, baseadas em princípios solidários. Essas iniciativas caminham na direção da transformação das condições de saúde e vida das populações, sobretudo aquelas mais vulnerabilizadas.

São experiências de lutas contra agrotóxicos e de transição agroecológica, de valorização dos saberes de raizeiras, benzedeiras e parteiras, de defesa dos territórios camponeses e de povos e comunidades tradicionais, de hortas junto a postos de saúde do SUS, de promoção de territórios sustentáveis e saudáveis, de pesquisas e encontros, são múltiplas experiências.

Como participar? Durante a atividade virtual de lançamento, serão apresentadas informações detalhadas de como participar desse mapeamento coletivo e descentralizado e instruções para acessar e efetuar o cadastro das experiências da sua organização.

Segundo André Búrigo, assessor da  Vice-Presidência de Ambiente e Atenção à Saúde (VPAAS) da Fiocruz, “com este formulário pretendemos conhecer e ampliar a visibilidade das experiências em saúde e agroecologia. Este mapeamento poderá fortalecer as iniciativas, construir partilhas de saberes e projetar ações conjuntas. A ideia de fortalecer o intercâmbio entre redes de ação temática também dialoga com o nosso compromisso de contribuir com a aproximação entre campo e cidade, aprofundar o diálogo entre esses campos de conhecimento, fortalecer e criar novas Redes de Saúde e Agroecologia”, comenta ele.

Como produtos, após essa primeira onda de alimentação do sistema, estão previstos materiais em diferentes linguagens: vídeos, boletins informativos, publicações, infográficos, artigos e indicadores que possam orientar a ação de diferentes grupos no campo da ação coletiva popular, da pesquisa e das políticas públicas.

Para além da coleta e análise dos dados, espera-se que este processo fertilize a atuação articulada de diferentes redes temáticas que atuam no campo da saúde coletiva e da agroecologia. Como aponta o prefácio da primeira edição do “Caderno de Estudos em Saúde e Agroecologia”, construído pela ABA-Agroecologia e pela ANA, “é premente a necessidade de aprofundarmos e atualizarmos nossos estudos sobre as conexões entre saúde e agroecologia. De um lado, há um extenso conteúdo produzido sobre as diversas experiências de promoção da saúde e sobre os benefícios da agroecologia para a promoção de ambientes saudáveis e solidários. De outro lado, também já existem importantes acúmulos em pesquisas que vêm adensando e aprofundando nossa compreensão sobre os impactos dos agrotóxicos e transgênicos para a saúde e para os modos de vida e produção da agricultura familiar, dos assentamentos da reforma agrária, dos povos indígenas e dos povos e comunidades tradicionais. Precisamos avançar na compreensão das tramas nas quais essas resistências estão integradas”. Baixe aqui o Caderno.

A plataforma do Agroecologia em Rede é um sistema de informações que reúne mais de 1.600 experiências de base popular e agroecológica. Desde 2018, a plataforma está passando por um intenso processo de atualização e reestruturação com apoio da Fiocruz. Além da sistematização das experiências em Saúde e Agroecologia, que será lançada dia 07/07, um Mapeamento dos Núcleos de Agroecologia (NEAs) segue aberto e em breve uma nova iniciativa de identificação das experiências de enfrentamento a pandemia da Covid-19 será lançada. Acesse a página, conheça mais e participe: https://agroecologiaemrede.org.br

Mais do que nunca, compreendemos a necessidade de defender a agroecologia e a saúde pública como caminhos que, conjuntos, colaboram para processos de transformação social emancipatório. Reconhecendo os obstáculos históricos e estruturais, mas também os sonhos e a diversidade de possibilidades e de caminhos em aberto, é assim que desejamos que este mapeamento contribua no fortalecimento das iniciativas construídas em rede nos territórios.

Participaram ativamente do processo de elaboração dos instrumentos de pesquisa e fazem parte da curadoria dessa ação: a equipe da Agenda de Saúde e Agroecologia ligada à VPAAS e pesquisadoras/es de outras unidades da Fiocruz, diferentes integrantes do Grupo de Trabalho de Saúde e Agroecologia da ABA-Agroecologia e diferentes representantes das organizações sociais que compõem a rede da ANA.

 

SERVIÇO

Lançamento Tecendo Redes de experiências em Saúde e Agroecologia

Dia 07 de julho às 10 horas

Seminário Virtual transmitido pelo Facebook e Youtube da ABA-Agroecologia

https://www.facebook.com/AssociacaoBrasileiraDeAgroecologia

Lorena: (21) 97508-7115

[email protected]

Instagram | Plataforma do Agroecologia em Rede (AeR)

 

Foto: Por Vinícius Carvalho (Comunicação OTSS/Fiocruz). Visita de pesquisadoras/es da Fiocruz, integrantes da ABA-Agroecologia e da ANA na experiência de saneamento ecológico da comunidade caiçara da Praia do Sono em Paraty em novembro de 2018 durante o I Seminário Nacional “Diálogos e Convergências em Saúde e Agroecologia”

Imagem: Lançamento da Colheita ilustração de Patrícia Nardini

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Agricultoras e agricultores familiares exigem recursos para Fomento à Atividade Agropecuária Familiar https://aspta.org.br/2020/06/24/agricultoras-e-agricultores-familiares-exigem-recursos-para-fomento-a-atividade-agropecuaria-familiar/ https://aspta.org.br/2020/06/24/agricultoras-e-agricultores-familiares-exigem-recursos-para-fomento-a-atividade-agropecuaria-familiar/#respond Wed, 24 Jun 2020 14:05:05 +0000 http://aspta.org.br/?p=18125 O Projeto de Lei Emergencial da Agricultura Familiar será votado nesta quinta-feira, 25, na Câmara dos Deputados, sob o guarda-chuva do PL 735/2020. Agricultoras e agricultores já têm ideias para aplicar o recurso do Fomento, melhorando a estrutura de suas propriedades para ampliar e diversificar a produção de alimentos e abastecer as cidades durante a … Leia mais

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O Projeto de Lei Emergencial da Agricultura Familiar será votado nesta quinta-feira, 25, na Câmara dos Deputados, sob o guarda-chuva do PL 735/2020. Agricultoras e agricultores já têm ideias para aplicar o recurso do Fomento, melhorando a estrutura de suas propriedades para ampliar e diversificar a produção de alimentos e abastecer as cidades durante a pandemia.

Veja o vídeo com depoimento dos/as agricultores/as

 

Agricultoras e agricultores familiares planejam como aplicar o recurso do fomento, que pode ser disponibilizado para a categoria caso o relator do Projeto de Lei Emergencial da Agricultura Familiar, o deputado federal Zé Silva (Solidariedade/MG), inclua em seu relatório as propostas apresentadas por redes e movimentos populares do campo e parlamentares progressistas, e o PL seja aprovado no Congresso Nacional.

A expectativa é que as proposições populares, organizadas em quatro eixos, entre eles o Fomento à Atividade Agropecuária Familiar, sejam incorporadas ao relatório do PL 735/2020, um projeto que reúne proposições de outros 23 projetos de lei sobre a matéria que tramitam no Congresso Nacional. O PL 735 será votado nesta quinta-feira, 25, no Plenário da Câmara dos Deputados.

“Eu investiria no meu galinheiro, em um barreiro para ter água o ano inteiro, cerca para o sítio, um curral para criar nossas vaquinhas com mais segurança”, planeja a agricultora Eliane Batista da Silva. Givaldo Santos investiria na produção de hortaliças e polpas de frutas. Nelson Ferreira aplicaria os recursos em tecnologias de armazenamento de água para aumentar a produção de milho, macaxeira, feijão, batata-doce. Rita Izidoro Félix faria um novo galinheiro para ampliar a renda da família com a venda das aves e dos ovos e um depósito de água, para poder irrigar as plantações.

Saiba mais sobre as propostas

O valor proposto para o fomento é de até R$ 5 mil e, no caso das mulheres, de até R$ 10 mil. Há também a possibilidade de cooperativas e associações acessarem até R$ 200 mil. “Esses são recursos não reembolsáveis, destinados a aumentar e diversificar a produção. Para isso, é necessário investir na estruturação das unidades produtivas familiares, a exemplo da instalação de sistemas de irrigação, abrigos para os animais e de processos de beneficiamento dos alimentos”, explica Denis Monteiro, secretário executivo da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA).

A melhoria na infraestrutura das propriedades rurais da agricultura familiar resulta no aumento da produção e no planejamento dos plantios e criações, para abastecer os mercados no período da pandemia. “O resultado desse investimento seria a garantia da segurança alimentar e nutricional da minha família e das que estão ao meu redor”, esclarece a agricultora Maria do Céu. As/os agricultora/es concluem perguntando às/aos companheiros/as: “e você, agricultora e agricultor, o que faria com o recurso do Fomento?”

Os quatro eixos em que se organizam as propostas populares são: fomento à atividade agropecuária familiar e crédito em condições especiais; criação do Programa de Aquisição de Alimentos Emergencial (PAA-E); ações específicas para o apoio a mulheres agricultoras e solução do endividamento da agricultura familiar e camponesa.

Envie sua mensagem para o relator do PL, o deputado Zé Silva, mandando o seu recado e solicitando que ele contemple, em seu relatório, as propostas das redes e movimentos populares. Poste este vídeo nas redes sociais e marque o perfil do relator. Os contatos do deputado Zé Silva são:

Facebook: @deputadofederalzesilva
Instagram: @depzesilva
E-mail: [email protected]
Site: www.zesilva.com.br

Fonte: www.agroecologia.org.br
Por: Viviane Brochardt/Articulação Nacional de Agroecologia (ANA)

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