Marcha das mulheres – AS-PTA https://aspta.org.br Agricultura Familiar e Agro­ecologia Mon, 04 Dec 2023 14:17:59 +0000 pt-BR hourly 1 Em defesa do território agroecológico, mais de 5 mil mulheres ocupam as ruas de Montadas-PB na 14ª. Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia https://aspta.org.br/2023/03/16/em-defesa-do-territorio-agroecologico-mais-de-5-mil-mulheres-ocupam-as-ruas-de-montadas-pb-na-14a-marcha-pela-vida-das-mulheres-e-pela-agroecologia/ https://aspta.org.br/2023/03/16/em-defesa-do-territorio-agroecologico-mais-de-5-mil-mulheres-ocupam-as-ruas-de-montadas-pb-na-14a-marcha-pela-vida-das-mulheres-e-pela-agroecologia/#respond Thu, 16 Mar 2023 22:06:04 +0000 http://aspta.org.br/?p=19985 Hoje (16), Dia Nacional de Conscientização das Mudanças do Clima, Montadas, um município de 5,8 mil habitantes, no semiárido da Paraíba, se torna palco de um ato de importância mundial. Durante toda a manhã, cerca de cinco mil mulheres agricultoras evidenciaram a contradição do modelo industrial de energia eólica e solar que avança com rapidez … Leia mais

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Hoje (16), Dia Nacional de Conscientização das Mudanças do Clima, Montadas, um município de 5,8 mil habitantes, no semiárido da Paraíba, se torna palco de um ato de importância mundial. Durante toda a manhã, cerca de cinco mil mulheres agricultoras evidenciaram a contradição do modelo industrial de energia eólica e solar que avança com rapidez em diversos territórios do Semiárido brasileiro. Justamente quando as energias renováveis são apontadas como caminho para substituir a matriz energética dos combustíveis fósseis – que contribui para o aumento da temperatura do globo.

Considerada limpa, a energia renovável gerada de forma centralizada causa uma série de perturbações que conduzem as famílias rurais para o empobrecimento, adoecimento e  abandono do campo. E quem sabe disso? Quem conhece essa versão da história contada sobre as energias renováveis? Tanto a população do campo, quanto da cidade muito pouco a conhecem.

E foi, justamente, para combater a desinformação que o Movimento de Mulheres de um coletivo de sindicatos rurais – o Polo da Borborema – elegeu a defesa do território onde vivem como tema, pelo segundo ano consecutivo, da 14ª Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia.

“O que queremos aqui é dizer para a sociedade e para os políticos que a energia que nos interessa é a energia descentralizada. Essa, sim, vem para contribuir com a economia das vidas das famílias agricultoras e do município”, sustenta no palco montado para a Marcha a liderança sindical Ana Paula Cândido.

Mas não foi só para deixar recado para os políticos e para quem mora em áreas urbanas que as mulheres se encontraram na praça central de Montadas. Foi, principalmente, para espalhar as informações no próprio território, onde as empresas buscam as famílias para que assinem contratos completamente prejudiciais aos proprietários das terras.

“Vocês vão assinar o contrato?”, perguntou a personagem Jerusa do teatro apresentado no palco antes das mulheres saírem em marcha. Um sonoro “não” foi a resposta em uníssono do público que assistia atento e indignado à esquete. Na hora da apresentação da peça, que retratava a forma como as empresas entram em contato com as famílias e os argumentos que usam, quatro pessoas da plateia se arrepiavam com o que ouviam e viam.
Roselma, sua filha Gleice, Quelaine, sua prima, e Núbia, vizinha, vieram direto da comunidade Sobradinho, em Caetés, Pernambuco. As quatro moram há oito anos ao lado das gigantes torres eólicas. O arrepio era porque o palco imitava direitinho a vida delas.

No fim da peça, as quatro subiram no palco e deixaram seus depoimentos. Roselma foi a primeira a falar. “Queria que o nosso reencontro [ela participou da Marcha do ano passado] fosse por um motivo bom. Mas não é. O que tenho a dizer a vocês aqui é que ‘pensem bem’. A gente não assinou o contrato, mas também somos prejudicados. Foi uma riqueza conseguir as nossas cisternas (que guardam água da chuva para beber e cozinhar). Antes a gente tinha que caminhar 2 a 3 quilômetros para pegar água. Hoje, o pó que as hélices soltam contamina a água da cisterna, contamina o solo e o nosso alimento. Quando as empresas chegaram, a gente pensava que era bom pra gente. Mas não tem dinheiro no mundo que pague e devolva o nosso sossego. Parabéns pela organização de vocês. Se fôssemos como vocês a gente não estaria nessa situação. Estou falando em nome de 60 famílias de nossa comunidade”
Núbia também falou: “Muitos que assinaram não tinham consciência do que realmente ia acontecer. O que é 8 a 10 meses de trabalho comparada com uma vida inteira? A gente já dorme e acorda pensando no perigo que é viver ao lado das torres”.

Em seguida, a Marcha ganhou as ruas de Montadas. Uma das mulheres que segurava uma bandeira com a marca da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia foi dona Carminha. Maria do Carmo Barbosa, que vai completar 69 anos no dia 9 de abril. Qual foi o melhor momento da Marcha até agora, dona Carminha? “Ah, gostei da fala das meninas que estavam no palco falando no microfone. A gente tem que aproveitar a fala dela, porque tudo o que elas falaram é verdade”, respondeu de primeira. E a senhora sabia desses problemas que são causados para as famílias pelas torres eólicas? “Não sabia! E, quando voltar para Pocinhos vou avisar pro povo que não aceite, porque junto com isso só vem doença.”

Pocinhos é um município vizinho a Montadas e onde dona Carminha mora desde que o marido morreu, há 14 anos. Pocinhos também é o endereço de oito parques eólicos do Complexo Serra da Borborema, da empresa EDP Renováveis, além de três usinas fotovoltaicas nos nomes das empresas Sices Brasil SA e Arigo Solar Energia SPE Ltda.

Antes da Marcha voltar ao palco, uma parada para outra encenação no chão. Vestidas a caráter, mulheres agricultoras munidas de matraca – instrumento usado para fazer covas para as sementes – e de sementes de milho crioulas, elas fizeram um círculo bem na frente da igreja católica matriz de Montadas. E do carro de som, Roselita Vitor cantou Plantadeiras, a princípio, sem acompanhamento de instrumentos. Depois, imbuída da emoção trazida pela mística, Rose bradou “Viva as plantadeiras do Polo da Borborema. Viva a todas as mulheres que semeiam a vida e semeiam a esperança. Queremos outro modelo de produção de energia para nosso território. Somos semeadeiras da vida. Somos semeadeiras da vida. Somos semeadeiras da esperança”.

Depois, todas voltaram a se aglomerar na frente do palco para ouvir, cantar e cirandar com Lia de Itamaracá, as filhas de Baracho e os músicos da banda. As cirandeiras são grandes parceiras da Marcha de Mulheres do agreste da Paraíba.

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Em 2021, a Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia vai ser diferente porque “não podemos nos calar” https://aspta.org.br/2021/02/21/em-2021-a-marcha-pela-vida-das-mulheres-e-pela-agroecologia-vai-ser-diferente-porque-nao-podemos-nos-calar/ https://aspta.org.br/2021/02/21/em-2021-a-marcha-pela-vida-das-mulheres-e-pela-agroecologia-vai-ser-diferente-porque-nao-podemos-nos-calar/#comments Sun, 21 Feb 2021 20:22:30 +0000 http://aspta.org.br/?p=18522 A mobilização, que chega a 12ª edição, sai das ruas e denuncia, na internet, a sobrecarga de trabalho ampliada pela pandemia e anuncia o papel das mulheres nos cuidados com a alimentação e a agroecologia Estamos nos aproximando do fim de fevereiro e, no início de março, é tempo de uma marcha que reúne milhares … Leia mais

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A mobilização, que chega a 12ª edição, sai das ruas e denuncia, na internet, a sobrecarga de trabalho ampliada pela pandemia e anuncia o papel das mulheres nos cuidados com a alimentação e a agroecologia

Estamos nos aproximando do fim de fevereiro e, no início de março, é tempo de uma marcha que reúne milhares de mulheres do campo desde ano 2010 na região de atuação do Polo da Borborema. É a tradicional Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia. No ano passado, a 11ª edição aconteceu em Esperança e foi a última atividade que reuniu muita gente que o Polo e a AS-PTA realizaram. E este ano vai ter a Marcha?

Quem responde é Roselita Vitor, da coordenação do Polo – uma rede territorial de sindicatos rurais de 13 municípios, mais de 150 associações comunitárias e uma associação de produtores agroecológicos, a EcoBorborema: “Nós, mulheres camponesas do Polo da Borborema, estamos vivendo nosso momento de preparação da 12ª Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia. Vamos realizar a nossa Marcha de uma forma diferente das outras que já fizemos, que a gente se encontrava, revia as companheiras, escutava seus depoimentos, suas histórias de superação e, no dia 8 de março, a gente sempre se encontrava nesta caminhada de 6 mil mulheres. Mas, mesmo nesta pandemia, nós temos a clareza de que não podemos nos calar e é preciso nos reinventar no cenário desafiador que estamos vivendo.”

“Precisamos dizer para a sociedade o quanto tem sido dolorida a pandemia na vida das mulheres. Passamos a ter aumento de trabalho. As crianças em casa, todo mundo em casa. As tarefas domésticas e de cuidados triplicaram. O que temos percebido são mulheres exaustas, cansadas. E, se isso já era uma realidade, com a pandemia, dobrou”, ressalta Rose, como é conhecida, acrescentando que há outra coisa que as mulheres querem denunciar…

“A conjuntura violenta, cada vez mais, no Brasil contra as mulheres. Porque há todo um discurso de conservadorismo, de que essas coisas [do crescimento do trabalho das mulheres, por exemplo] não precisam ser ditas e que é preciso construir a moralidade no país silenciando a voz das mulheres, das mulheres negras, da periferia, do campo”.

Live “Sem cuidado não há vida” – E, apesar da pandemia, no dia Internacional das Mulheres, a Marcha vai acontecer pela internet. Em vez de caminhada, várias mulheres vão falar, dar seus depoimentos e tudo vai ser transmitido pelas redes sociais. A live a começa às 16h e pode ser vista pelos canais do Youtube e Facebook do Polo da Borborema e da AS-PTA.

Mesmo sendo uma marcha virtual, as instituições organizadoras acreditam que “será um momento de muita energia, vibração, de sentir o calor das companheiras que estão lá nas comunidades rurais, com suas vizinhas, com seus filhos e filhas acompanhando nosso debate e discurso de que é preciso resistir, é preciso ecoar nossa voz”, afirma Rose.

E como driblar as dificuldades de acesso à internet que o campo vive? Para isso, a juventude está sendo convocada. A moçada jovem vai dar suporte para que a live possa ser vista nas comunidades pelo maior número de pessoas possíveis.

Depois da live, segue o processo de debates e conversas sobre o tema da Marcha. O planejamento do Polo e da AS-PTA é que haja reuniões comunitárias envolvendo, ao todo, cerca de 600 mulheres. Para dar início ao clima da Marcha, foram organizados dois espaços nas redes sociais e desde o dia 10 de fevereiro, estão sendo publicados nas redes sociais do Polo, da AS-PTA e da Marcha 30 vídeos com agricultoras falando do impacto da pandemia na vida delas.

O canal no Instagram da Marcha foi lançado na semana passada e já tem vários depoimentos de agricultoras, jovens e lideranças sobre a importância da Marcha na vida delas, como estes:

“Acho que todo mundo foi pego de surpresa. Um momento muito novo, difícil para todos nós, principalmente para nós mulheres. A gente está conseguindo se habituar nesse momento, mas ainda está muito difícil. Muitas companheiras nossas entraram em depressão e a gente só não entra em depressão se a gente estiver juntas. Mesmo longe uma da outra, a gente está sempre em contato, sempre segurando uma a mão da outra, nos fortalecendo nesse momento pra gente não cair, porque essa pandemia é difícil pra nós mulheres”, conta Anilda, agricultora de Remígio-PB, no insta da Marcha.

“Se não fosse a Marcha, eu não chamaria mais Ligória! Porque a Marcha tem uma história muito forte na minha vida e na da minha família também. Eu aprendi a lidar com a violência, aprendi a me defender e também a ter minha autonomia, que eu não tinha. Essa Marcha veio me dar bastante sabedoria”, depoimento de Ligória, agricultora de Esperança-PB, também no instagram.

“Pra mim, a Marcha das mulheres mudou a minha vida de forma porque eu tive conhecimento de coisas que eu não tinha antes. Como eu não sabia que o marido em casa querer que a gente desse tudo prontinho na mão dele, que aquilo ali era um tipo de exploração e agora eu sei que é. Até ele mesmo já mudou o comportamento em casa. Então pra mim, a Marcha teve um grande desenvolvimento pra mim. Eu gosto de participar, eu me sinto à vontade no dia da Marcha por conta disso”, conta Tereza, agricultora de Alagoa Nova-PB também nesta rede social.

No início da pandemia, a escuta de mulheres – Em abril de 2020, a AS-PTA e o Polo fizeram uma escuta com as mulheres para saber como elas estavam vivendo aqueles dias iniciais da pandemia. Neste período, ainda não tinha chovido na região e estavam sem produzir alimentos. A pesquisa foi enviada por WhatsApp para 30 mulheres, 24 delas responderam. Em geral, as mulheres falaram sobre o impacto material, principalmente pela redução da renda devido ao fechamento dos espaços de venda de seus produtos. Falaram sobre o rápido empobrecimento das comunidades e até do retorno à fome, já que muitos não tinha qualquer produção.

“Mas elas trouxeram também muitas questões do campo emocional e afetivo – falaram do medo da doença, pânico em ser contaminadas, a saudade por não poder encontrar suas mães ou filhos naquele começo de pandemia”, conta Adriana Galvão, assessora técnica da AS-PTA que acompanha de perto a organização da Marcha e o trabalho com as mulheres realizado na região do Polo.

Na pesquisa, as mulheres relataram também o aumento do trabalho dos cuidados em casa. E, ainda por cima, elas tinham que lidar com toda a insegurança gerada por filhos adolescentes e maridos que negavam a doença e não se isolavam. Além disto tudo, havia a dificuldade de partilhar todos estes desafios, dificuldades e receios com outras pessoas devido ao estado de isolamento, necessário para evitar a contaminação do coronavírus.

“O estado foi ausente no tratamento da pandemia e acabou transferindo para as mulheres todo o ônus desse momento”, reflete Adriana. “Foram as mulheres que cuidaram dos doentes. Foram as mulheres que alimentaram a famílias. Foram as mulheres que se responsabilizaram pela educação dos filhos. As mulheres, se responsabilizaram pela sustentação da vida. E o mais desafiador disso tudo é desnaturalizar que esse trabalho seja única e exclusivamente responsabilidade delas, que isso é um trabalho natural das mulheres”.

Por esta razão, para desnaturalizar as situações de exploração da mulher, é que as mulheres do Polo da Borborema reinventam seu espaço de denúncia e vão ocupar o domínio virtual para dizer ao mundo como vivem e reafirmar o primordial papel assumido pelas mulheres, nesta pandemia, com relação à alimentação.

“Esta Marcha traz o debate sobre os cuidados e sem os cuidados não há vida. A história das mulheres é marcada pelo cuidado com a vida e é por isso que estamos na luta pela agroecologia, por um alimento puro, livre de agrotóxico, não só para o mundo rural, mas para todas as pessoas”, arremata Rose.

 

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Mulheres dizem não ao feminicídio e se levantam contra a violência doméstica na 11ª Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia https://aspta.org.br/2020/03/13/mulheres-dizem-nao-ao-feminicidio-e-se-levantam-contra-a-violencia-domestica-na-11a-marcha-pela-vida-das-mulheres-e-pela-agroecologia/ https://aspta.org.br/2020/03/13/mulheres-dizem-nao-ao-feminicidio-e-se-levantam-contra-a-violencia-domestica-na-11a-marcha-pela-vida-das-mulheres-e-pela-agroecologia/#comments Fri, 13 Mar 2020 17:26:10 +0000 http://aspta.org.br/?p=18008 Em cada rosto, havia alegria, coragem, sorrisos. Havia braços pintados, corpos despidos livres e também vestidos com a bandeira da ‘11ª Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia’. A atividade foi realizada hoje (12), no município de Esperança, Agreste paraibano, e reuniu cerca de 6 mil mulheres diversas. A concentração aconteceu no Campo da … Leia mais

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Em cada rosto, havia alegria, coragem, sorrisos. Havia braços pintados, corpos despidos livres e também vestidos com a bandeira da ‘11ª Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia’. A atividade foi realizada hoje (12), no município de Esperança, Agreste paraibano, e reuniu cerca de 6 mil mulheres diversas. A concentração aconteceu no Campo da Rodoviária, na entrada da cidade, que recebeu uma Feira Agroecológica, expressão da produção da agricultura familiar protagonizada pelas mulheres; shows, como o da cirandeira Lia de Itamaracá, que fez questão em estar em mais uma edição; peça de teatro e o depoimento de mulheres que passaram por relacionamentos abusivos e agressivos na denuncia contra todas as formas de violência. A marcha é uma realização da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia e pelo Polo da Borborema.

De acordo com Marizelda Salviano, uma das organizadoras do evento e representante do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Esperança, a Marcha é o momento de reafirmar a luta pelas mulheres e de dizer não ao machismo. “Não aceitamos essa sociedade que oprime e mata as mulheres. De mãos dadas, construiremos com a agroecologia um mundo mais fraterno para homens, mulheres, crianças e jovens. É a marcha pela vida”, resumiu. Além de participantes de vários municípios do estado, a marcha também contou com mulheres da Articulação Semiárido Paraibano (ASA PB), que todos os anos fortalecem ao evento, e de outros movimentos de mulheres do campo. Mulheres dos três programas da AS-PTA (PR, RJ, além de PB), também estiveram reunidas na atividade.

A vida, de fato, pulsava na 11ª Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia. As mulheres dançavam, brincavam, mas não se esqueciam do sentimento que as unia: a luta por um mundo mais igual entre homens e mulheres e contra os retrocessos de seus direitos. “Temos muita força e precisamos ser reconhecidas”, afirmou Maria Eduarda Sales, de 17 anos. A adolescente não só reconhece a força da organização como já a usou ao resistir, junto com as amigas, e lutar para que sua turma do colégio não fosse fechada. “Os nossos colegas de sala desistiram da turma de informática, que era formada por cerca de 40 alunos. Quiseram fechar a turma, mas não deixamos. Hoje somos apenas sete alunos e vamos terminar o curso. Estamos no 3º ano”, explicou.

A luta pelos direitos da mulher começa cedo e se estende por toda a vida adulta. Como é o caso da agricultora Rosilda de Lima, de Montadas, que sobreviveu a um relacionamento abusivo e agressivo. Segundo Rosilda, as agressões começaram logo após o casamento e a justificativa das agressões era porque seu então marido queria um filho e ela não conseguia engravidar. Mesmo após ter seu primeiro filho, as agressões não pararam e na terceira gestação teve consciência do universo violento que a cercava, e após sua quinta gestação reuniu forças para se levantar contra as agressões. O grupo de teatro do Polo da Borborema também, em forma de arte, contou a história de um relacionamento abusivo. Com brigas que se avolumaram, até que o poder que o homem acredita exercer sobre a mulher vira agressão e feminicídio.

Após os depoimentos, as mulheres seguiram em marcha pelas ruas do município de Esperança. A mística ‘O violador é tu’, realizada pelas organizadoras da marcha chamou a atenção. Nela, as mulheres com rostos cobertos e com ajuda de instrumentos percussivos falaram sobre a violência e o racismo praticado pelo Estado e pela Justiça brasileira. Elas apontaram o dedo para falar sobre o estupro, o fascismo, a falta de respeito que precisam vencer todos os dias.

Com o fim da mística, a 11ª edição da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia seguiram para o Campo da Rodoviária e foram recebidas com a apresentação das crianças que participam do Serviço municipal da Convivência e Fortalecimento de Vínculo de Esperança. Em seguida, a cirandeira Lia de Itamaracá se apresentou com os as filhas de Mestre Baracho, mestre cirandeiro, fazendo a luta de forma cantada com todas as milhares de mulheres que se uniram e juntas realizaram mais uma marcha pela vida das mulheres e pela agroecologia no Agreste paraibano.

Troca de experiências – A realização da Marcha e a atuação das mulheres no Polo da Borborema é uma referência e inspiração para grupos feministas em outros territórios. No intuito de vivenciar este momento de encontro e conhecer experiências protagonizadas por lideranças da Paraíba, mulheres do Paraná e do Rio de Janeiro, articuladas pelos programas da AS-PTA nos estados, participaram do dia de ontem. O intercâmbio, que teve como primeira parada a marcha, segue até o próximo domingo, dia 15. No roteiro, o banco mãe de sementes, quintais produtivos, unidades de beneficiamento e a cozinha comunitária, promovem a troca de experiências e assim fortalece as articulações territoriais.

Texto e Fotos: Marcelle Honorato/Angola Comunicação

 

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A 11º Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia se levanta contra o Feminicídio nesta quinta-feira (12) https://aspta.org.br/2020/03/11/a-11o-marcha-pela-vida-das-mulheres-e-pela-agroecologia-se-levanta-contra-o-feminicidio-nesta-quinta-feira-12/ https://aspta.org.br/2020/03/11/a-11o-marcha-pela-vida-das-mulheres-e-pela-agroecologia-se-levanta-contra-o-feminicidio-nesta-quinta-feira-12/#respond Wed, 11 Mar 2020 13:10:54 +0000 http://aspta.org.br/?p=17998 A Marcha terá a apresentação da peça de teatro Por que o homem mata a mulher? e um show da cantora de ciranda Lia de Itamaracá (PE). No dia 12 de março de 2020, será realizada a 11ª edição da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia no município de Esperança, no Agreste Paraibano. … Leia mais

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A Marcha terá a apresentação da peça de teatro Por que o homem mata a mulher? e um show da cantora de ciranda Lia de Itamaracá (PE).

No dia 12 de março de 2020, será realizada a 11ª edição da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia no município de Esperança, no Agreste Paraibano. A Marcha se levanta contra o crime do feminicídio, que vitima a cada dia 13 novas mulheres no Brasil. A concentração do evento será às 8h, no Campo da Rodoviária, na entrada da cidade, e seus organizadores esperam reunir mais de 6 mil mulheres, número registrado na Marcha do ano passado em Remígio (PB).

O evento tem dois grandes objetivos centrais: denunciar toda e qualquer forma de violência contra a mulher e dar visibilidade ao papel e à contribuição das camponesas na construção da agricultura familiar do território. De acordo com Roselita Victor, uma das organizadoras da Marcha e da Coordenação do Polo Sindical da Borborema, um dos grandes problemas encontrados na região é a falta de políticas públicas direcionadas às mulheres. “Não há delegacias da mulher suficientes no Polo da Borborema. A região tem apenas uma delegacia da mulher em Campina Grande. Uma mulher que mora em Casserengue, por exemplo, e sofreu violência está a 70km da delegacia da mulher. Se ela não for acolhida, ela não vai denunciar”, destacou.

Além de delegacias, as mulheres reivindicam ainda uma eficácia maior nos programas de acolhimento das mulheres vítimas de violências, como o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) e processos de formação para que os profissionais da área da segurança pública e da saúde possam atuar com mais qualidade nas situações de violência contra a mulher.

A Marcha é organizada pela AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia e pelo Polo da Borborema, uma rede de 13 sindicatos de trabalhadoras e trabalhadores rurais da região da Borborema, na Paraíba. A cada ano, a marcha acontece em um dos 14 municípios do Polo e aborda um tema diferente, discutido nos diversos encontros preparatórios realizados nas comunidades rurais desde novembro.

Programação

A atividade tem início às 8h e terá concentração no chamado ‘Campo da Rodoviária’ na entrada do município de Esperança. Após a animação no palco e recepção das caravanas, haverá a apresentação da peça de teatro Por que homem mata mulher?, do Grupo de Teatro Amador do Polo da Borborema. No espetáculo, a família da personagem ‘Margarida’ se perceberá envolvida com uma situação de sucessivas violências que culminarão em um caso de feminicídio. O objetivo é chamar a atenção da sociedade para o debate acerca dos relacionamentos abusivos, que, na maioria dos casos, evoluem para a violência física e para o homicídio.

Segundo Roselita Victor, o teatro é uma ferramenta importante, pois consegue fazer com que a mulher se perceba em situação de violência. “O texto da peça, inclusive, é montado a partir dos relatos de violência das mulheres. Temos o caso de Luzia, do município de Esperança, que escapou da morte por triz. A bala direcionada a ela pegou de raspão”, relembra. Ainda segundo Roselita Victor, quando um homem chega a matar uma mulher, ela já passou por vários tipos de violência. É preciso que as mulheres saibam identificar esses passos que podem levar ao feminicídio.

Após a encenação e alguns depoimentos, a Marcha seguirá pelas ruas centrais da cidade com panfletagem, ato público, bandeiras, estandartes, faixas e cartazes, retornando para o palco da concentração para a atração cultural e a tradicional Feira Agroecológica com exibição e comercialização da produção das agricultoras da região. A Marcha contará com o show da Rainha da Ciranda, Lia de Itamaracá, que abraçou a ação.

13 Feminicídios por dia

Segundo o anuário de Segurança Pública 2019, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, no Brasil, acontecem 13 feminicídios por dia. O levantamento do Centro 8 de Março de João Pessoa (PB) revela que, só em janeiro de 2020, 15 mulheres foram assassinadas na Paraíba, cinco desses casos foram, tipificados como feminicídios, que é quando assassinatos de mulheres são cometidos em razão do gênero, ou seja, a vítima é morta por ser mulher. De acordo com o mesmo levantamento, que leva em consideração apenas os casos que foram noticiados pela imprensa, 56 mulheres tiveram suas vidas tiradas em 2019, sendo 32 feminicídios.

Uma reportagem do El País mostrou que, na América Latina, nove mulheres são assassinadas por dia, vítimas de violência de gênero. A região, segundo um relatório da ONU Mulheres, é o local mais perigoso do mundo para elas, fora de uma zona de guerra. Quase metade dos 2.559 assassinatos cometidos na América Latina ocorreu no Brasil. No país, a Lei do Feminicídio, de 2015, estabelece que, quando o homicídio é cometido contra uma mulher, a pena é maior.

Porém, se de um lado existem leis, há um cenário encorajador para a violência contra ao contra a mulher do outro lado. “Temos observado o aumento de denúncias, mas há uma conjuntura política brasileira na qual os homens agressores estão se sentindo a vontade para agredir mulheres. Há um governo essencialmente masculino e que provoca esse olhar de desatenção à mulher e mais a vontade para praticar crimes contra a mulher”, contextualizou Roselita Victor, das organizadoras da Marcha.

Fotos: Túlio Martins.

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No rastro de Margarida: da Usina Tanques à Brasília, o caminho das Mulheres da Borborema até a Marcha das Margaridas 2019 https://aspta.org.br/2019/08/19/no-rastro-de-margarida-da-usina-tanques-a-brasilia-o-caminho-das-mulheres-da-borborema-ate-a-marcha-das-margaridas-2019/ https://aspta.org.br/2019/08/19/no-rastro-de-margarida-da-usina-tanques-a-brasilia-o-caminho-das-mulheres-da-borborema-ate-a-marcha-das-margaridas-2019/#respond Mon, 19 Aug 2019 16:20:51 +0000 http://aspta.org.br/?p=16470 Nos dias 13 e 14 de agosto, aconteceu em Brasília a sexta edição da Marcha das Margaridas, que nesse ano, ganha um novo caráter, o de contestação. Mais de 100 mil mulheres marcharam, por seis quilômetros em direção ao Congresso Nacional, carregando a plataforma política que foi escrita pelas muitas mãos das mulheres do campo, … Leia mais

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Nos dias 13 e 14 de agosto, aconteceu em Brasília a sexta edição da Marcha das Margaridas, que nesse ano, ganha um novo caráter, o de contestação. Mais de 100 mil mulheres marcharam, por seis quilômetros em direção ao Congresso Nacional, carregando a plataforma política que foi escrita pelas muitas mãos das mulheres do campo, da floresta, das águas e das cidades. Com o lema “Margaridas na luta por um Brasil com soberania popular, democracia, justiça, igualdade e livre de violência”, pela primeira vez não houve um encontro com o Governo Federal, que vem retirando direitos dos trabalhadores, e sobretudo, das trabalhadoras.

Era ainda domingo (11/08) à tarde, quando um grupo de 22 mulheres do Polo da Borborema chegou até Campina Grande, para se somar ao ônibus da caravana da Articulação do Semiárido Paraibano. A alegria se misturava com medo e as incertezas de como seriam recebidas no planalto central. Muitas frutas, doces, um livro de cânticos e muitas, mas muitas histórias foram companheiras das mulheres até Brasília. Eram mulheres jovens, idosas, lésbicas, agricultoras, estudantes, mulheres de toda sorte. As histórias de vida e de superação do machismo, da violência, foram construindo cumplicidades e laços de amizade, que dias depois da volta ainda mantém o grupo de WhatsApp criado para partilhar informações e fotos ativo e agitado.

A caravana da Paraíba seguiu para Brasília com 5 ônibus, e os atrasos foram inevitáveis. Já chegando em Brasília, a emoção foi tomando cada mulher, o medo foi sendo substituído pelo sentido de resistência, de luta e de pertencimento ao encontrar outras tantas mulheres de tantos outros lugares, cores e tipos. Nem as filas intermináveis para o banho, para se alimentar ou para carregar o celular para mandar notícias para a família não atrapalharam o evento, ao contrário, davam mais sentido à luta.

Eram ainda três horas da manhã do dia 14/08 quando as mulheres começaram a se levantar para se preparar para a Marcha. A caravana da Paraíba vestiu sua camiseta lilás em homenagem à Margarida Maria Alves, a ilustre sindicalista paraibana que perdeu sua vida na luta contra os usineiros por direitos dos trabalhadores da cana. Com orgulho da conterrânea e a responsabilidade de manter viva a luta, a caravana foi organizando o material levado, que por sua vez, havia caminhado na décima edição da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia, que acontece todos os anos no Polo da Borborema.

Entre as mulheres da delegação, Maria do Céu Silva era a mais ansiosa. Ganhou do movimento de mulheres do Polo da Borborema a missão de fazer a fala pelo GT Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia no ato em frente ao Ministério da Agricultura. Tinha a missão de denunciar a liberação criminosa dos agrotóxicos, a política perversa do agronegócio, os maléficos efeitos dos transgênicos, do desmatamento e do latifúndio, ao passo que propunha o feminismo e a agroecologia como um projeto soberano para mulheres e homens do campo.

Durante a longa caminhada, os gritos, os cânticos, as palavras de ordem iam conectando aquele “mar” de mulheres na mesma luta pelos quais há 36 anos atrás Margarida perdia sua vida. Não foi por acaso que um grupo de 40 mulheres do Polo da Borborema seguindo os passos de Margarida, foi até Alagoa Grande para conhecer sua história em preparação à Marcha em Brasília. A atividade teve início na Usina Tanques e na sede da casa de um dos mandantes do seu assassinato. Depois o grupo seguiu até a casa de Margarida onde foi assassinada com um tiro na cabeça, na frente de seu único filho. Hoje o local é um museu em sua memória. E chegaram ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande onde puderam ouvir o testemunho de mulheres contemporâneas da sindicalista. Sendo o Polo da Borborema um movimento sindical, esse encontro foi inspirador, capaz de fortalecer a luta e a resistência das mulheres.

Aliás, luta e resistência foram as palavras que mais ecoaram nas avaliações, mas também nos corações das mulheres que foram à Marcha. “A gente vive numa conjuntura difícil de perdas de direitos, do não reconhecimento da agroecologia, do feminismo por esse governo, pelos seus ministérios, mas a gente deu o recado, mais de 100 mil mulheres nas ruas de Brasília no dia 14 de agosto. Foi muito intenso, muitas reflexões, muitos diálogos. Uma multidão lutando pela resistência e pela convivência com nosso semiárido, principalmente a resistência da nossa agricultura e da nossa agroecologia”, avalia Maria do Céu Silva, do Sindicato das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais de Solânea.

“A Paraíba foi forte, foi animada, foi articulada e com muita alegria. Foi com nossa força que o movimento de mulheres camponesas se somou com as demais mulheres que estava em Marcha com o mesmo objetivo de ecoar nossa voz em Brasília, em defesa dos nossos direitos, da nossa terra, da nossa Amazônia, da nossa diversidade. Nos encontramos e marchamos para resistir também aos retrocessos que estão acontecendo em nosso Brasil. Nós, mulheres agricultoras, indígenas, ribeirinhas levamos para Brasília nossa resistência e nossa luta diante dessa conjuntura que o Brasil enfrenta”, confirma Gizelda Beserra, do Sindicato das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais de Remígio.

A Marcha das Margaridas foi sem dúvida um momento de renovação da capacidade de luta e de enfrentamento da onda conservadora e obscurantista que assombra o país. A sexta edição da Marcha das Margaridas se coloca como um marco nas lutas sociais e, com certeza, muitas sementes foram espalhadas pelo país. Como a jovem Gabriela Fernandes, de Lagoa de Roça, que diz: “Eu participei da Marcha pela primeira vez. Essa experiência foi única e incrível na minha vida. Foi um marco na minha vida. Agora vai ter uma Gabriela pós-marcha, uma Gabriela totalmente diferente. Quando chegamos na Marcha, pude ver várias pessoas, de vários lugares do Brasil e até fora dele. Todas com o mesmo intuito, indo ali para reafirmar que as mulheres estão na luta e que não vão desistir até conseguir todos os seus direitos. Ver tantas mulheres e de tantos lugares nos deixa mais seguras. Nos sentimos mais firmes para lutar e para seguir em frente para conseguir direitos não só para a gente, mas também para todas as gerações que virão após a gente. Não estou lutando por Gabriela só de hoje, mas estou lutando por todas as minhas descendências e isso foi o mais incrível que eu pude ver lá!”. Nas costas da camiseta da caravana da Paraíba estava escrito: “Eles não sabiam que Margarida era semente”. É isso, a jovem Gabriela nos mostra que as sementes caíram em solo fértil.

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Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia leva 6 mil as ruas de Remígio por justiça para Marielle Franco https://aspta.org.br/2019/03/14/marcha-pela-vida-das-mulheres-e-pela-agroecologia-leva-6-mil-as-ruas-de-remigio-por-justica-para-marielle-franco/ https://aspta.org.br/2019/03/14/marcha-pela-vida-das-mulheres-e-pela-agroecologia-leva-6-mil-as-ruas-de-remigio-por-justica-para-marielle-franco/#respond Thu, 14 Mar 2019 23:46:10 +0000 http://aspta.org.br/?p=16277 A décima edição da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia levou cerca de seis mil mulheres às ruas do município de Remígio, no Brejo Paraibano. O evento é promovido pelo Polo da Borborema, uma rede de 13 sindicatos rurais da região, em parceria com a AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia e há 10 … Leia mais

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A décima edição da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia levou cerca de seis mil mulheres às ruas do município de Remígio, no Brejo Paraibano. O evento é promovido pelo Polo da Borborema, uma rede de 13 sindicatos rurais da região, em parceria com a AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia e há 10 anos sai às ruas no dia 8 de março para dar visibilidade ao papel das camponesas na agricultura denunciar todas as formas de violência contra a mulher.

Em 2019, a data do dia 14 de março foi escolhida para a realização da Marcha por ser o dia em que se completa um ano do assassinato da Marielle Franco. Negra, pobre e favelada, a vereadora incomodava por sua atuação em defesa dos direitos humanos e das pautas feministas, e por esta razão sua figura transformou-se em um símbolo de luta contra a opressão de gênero, classe social e raça, entrando para a história ao lado de nomes como o de Margarida Maria Alves, agricultora e sindicalista assassinada na Paraíba há mais de 30 anos.

“Nos tiraram Marielle, nos tiraram Margarida, mas o que eles não sabiam é que surgiriam várias outras ‘Marielles’, várias outras ‘Margaridas’. Nosso grito hoje também é por justiça, justiça para Marielle e para as milhares de mulheres que como ela morreram na luta”, afirmou Giselda Bezerra, liderança do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Remígio e da Coordenação do Polo da Borborema, na abertura da Marcha.

Este ano, a Marcha elegeu como tema de aprofundamento em seus momentos preparatórios o racismo e de que forma ele atinge a vida das mulheres. Durante as inúmeros encontros comunitários de formação, surgem depoimentos como de dona Maria José Barbosa de Lima, agricultora de 53 anos, do Sítio Malacacheta, em Remígio-PB, que por ser negra, casada com um homem branco e ter duas filhas de pele clara, já foi acusada na rua de estar roubando a filha quando esta tinha apenas quatro anos, fazendo com que a agricultora andasse sempre com os documentos, a fim de comprovar que era mesmo a mãe de suas duas filhas.

Dona Maria, conta que o episódio a fez sentir tristeza pela cor de sua pele e lembra que muitas vezes se recusou a participar de edições passadas da Marcha por vergonha: “Desde que passei a participar dos encontros, tudo mudou, hoje eu me sinto mais forte e não tenho mais vergonha de ser quem sou, sou negra e aprendi a gostar da minha cor”, diz a agricultora que deu o seu depoimento no palco da Marcha.

O evento teve início as 8h com concentração no campo de futebol “O Dedezão”. No palco, houve a apresentação de uma peça de teatro que mostrou o cotidiano das mulheres agricultoras e negras que buscam no trabalho doméstico uma oportunidade de sobrevivência e lá sofrem diversas violências e preconceitos. O espetáculo foi encenado pelo Grupo de Teatro do Polo da Borborema, formado por agricultores e agricultoras e assessores técnicos da região.

Mazé Morais, Secretária de Mulheres da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – Contag, participou da Marcha representando a coordenação nacional da Marcha das Margaridas, evento que ocorre a cada quatro anos e está marcado para o mês de agosto de 2019. A liderança falou sobre os desafios da conjuntura atual e sobre a necessidade de momentos como este: “Estamos vivendo um cenário totalmente desafiador de avanço do conservadorismo, com retrocessos em várias áreas e retirada de direitos. Precisamos, mais do que nunca, estarmos unidas para dizer que não vamos aceitar essa reforma da previdência que estão propondo, ela é extremamente cruel, principalmente com as mulheres porque desconsidera a desigualdade existente na sociedade. Convoco a todas vocês para marcharmos juntas em Brasília este ano”.

Por volta das 10h30 da manhã, a Marcha ganhou as ruas do município. Com faixas, estandartes e cartazes, as mulheres do campo e da cidade marcharam contra todas as formas de violência, machismo e opressão sofridas pelas mulheres, além dos números alarmantes de feminicídios acontecendo no país.

Em frente à Camara de Vereadores, a marcha fez uma parada para um ato público, onde Marille foi homenageada, um painel com sua imagem foi exibido da sacada de um prédio enquanto que nas ruas diversas mulheres seguraram placas com seu nome.

No Parque da Lagoa, no Centro da cidade, em um segundo palco, apresentou-se a Cirandeira Lia de Itamaracá. No mesmo espaço ocorreu ainda uma feira de sabores e saberes, com a venda de produtos da agricultura e artesanato frutos do trabalho das agricultoras da região. Após o show de Lia de Itamaracá, a marcha foi encerrada com uma ciranda ao som da música: “Ninguém solta a mão de ninguém”: “É com essa energia que vamos continuar essa luta, vamos continuar de mãos dadas, resistindo e denunciando o racismo, o machismo e todas as formas de preconceito e violência”, finalizou Maria do Céu Silva.

 

Assista ao vídeo da X Marcha

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Jovens da Borborema debatem racismo e identidade racial durante encontro https://aspta.org.br/2019/03/09/jovens-da-borborema-debatem-racismo-e-identidade-racial-durante-encontro/ https://aspta.org.br/2019/03/09/jovens-da-borborema-debatem-racismo-e-identidade-racial-durante-encontro/#respond Sat, 09 Mar 2019 13:04:03 +0000 http://aspta.org.br/?p=16258 “Tu não vai conseguir isso, menina. Tu é pobre, negra, tu vem do sítio. Quem aqui nunca escutou isso? É a sociedade dizendo para a gente que nós não somos capazes”, a afirmação é de Sidneia Camilo, de 23 anos, agricultora e estudante de Agroecologia do município de Remígio-PB, durante o encontro na última sexta-feira … Leia mais

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“Tu não vai conseguir isso, menina. Tu é pobre, negra, tu vem do sítio. Quem aqui nunca escutou isso? É a sociedade dizendo para a gente que nós não somos capazes”, a afirmação é de Sidneia Camilo, de 23 anos, agricultora e estudante de Agroecologia do município de Remígio-PB, durante o encontro na última sexta-feira (8), Dia Internacional da Mulher, que debateu o racismo a forma como ele atinge a vida das mulheres. O evento reuniu cerca de 60 integrantes da Comissão de Jovens do Polo da Borborema, uma articulação de 13 sindicatos de trabalhadores rurais que atuam na região da Borborema há mais de 20 anos com a assessoria da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia.

O encontro aconteceu em Lagoa Seca-PB em preparação à 10ª edição da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia que acontecerá no dia 14 de março e este ano tem como tema o enfrentamento ao preconceito e a discriminação racial. A atividade, que faz parte do calendário de encontros preparatórios à Marcha, foi uma oportunidade para que os jovens agricultores e agricultoras pudessem aprofundar o olhar sobre o tema, a partir da sua perspectiva.

Após uma acolhida e apresentação, os jovens tiveram uma rápida rodada de respostas à pergunta: “Existe racismo no Brasil? Quem aqui se considera racista? Existe racismo sem racistas?”. Em seguida, assistiram e debateram o vídeo “Vendedora de Sonhos” do Coletivo “Coisa de Preto”. Nele, a personagem “Sociedade” determina o tamanho dos sonhos que as pessoas vão ter, onde as brancas podem escolher um sonho grande enquanto as de cor negra devem se contentar com ambições pequenas e posições subalternas.

A seguir, os jovens foram convidados a se dividir em pequenos grupos de ‘cochicho’ com a tarefa de pensarem sobre situações de preconceito racial vivenciadas no cotidiano das pessoas negras e encenar, na forma de pequenas esquetes teatrais, estas situações. A cada apresentação, os jovens comentavam o que viam e observavam como é estar no lugar de quem sofre aquele tipo de violência: ser xingado de “macaco”, ou “cabelo ruim”, ser mal atendido, seguido por seguranças dentro de lojas ou acusado de roubo foram algumas das situações.

Após um novo exercício em grupos, os jovens listaram expressões da linguagem do cotidiano, que de tão repetidas e naturalizadas, acabam não sendo consideradas como racismo, mas são: “Eu escolhi a palavra ‘mulata’ que antes eu até aceitava como um elogio, mas depois descobri que mulata vem da palavra ‘mula’ que se trata de um animal infértil, que só serve para o trabalho pesado”, conta Marcela Silva, de 20 anos, agricultora do Sítio Covão, município de Areial-PB.

Adriana Galvão Freire, assessora técnica da AS-PTA, conduziu então um momento de retrospectiva da história do Brasil desde a chegada dos Portugueses, passando pela escravidão até os dias de hoje, listando fatos e acontecimentos marcantes que são responsáveis pela constituição da nossa sociedade, e ajudam a explicar porque vivemos em uma falsa democracia racial: “É entendendo a nossa história que vamos ver como a abolição da escravidão não conseguiu abolir da nossa cabeça uma mentalidade escravocrata. A mesma lei da educação que em 1837, retirou dos negros o direito ao estudo, tem ideia fortalecida a partir de 2017, quanto estamos vivendo o fechamento das escolas do campo, é ter esse direito ser negado mais uma vez”.

Os jovens conversaram sobre o papel de cada um, desde as suas comunidades e espaços em que atuam. “Eu acho que o ponto o fundamental para acabar com o racismo é falar sobre ele, precisamos começar a falar sobre o racismo, dentro de casa, na escola, para que deixe de ser uma coisa que fica escondida. Sabemos que a gente enquanto brancos, nunca vamos saber o que sente uma pessoa negra, que vive na pele as situações”, é o que pensa Carla Amanda Gonçalves, de 24 anos, moradora do Assentamento Queimadas, município de Remígio. “Ser branco é ter privilégios, entender isso é fundamental para desconstruir o racismo. Todos nós aqui precisamos nos somar a luta antirracista para a construção do território agroecológico”, finalizou Adriana.

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“Conhecer a nossas raízes nos dá força” afirma agricultora negra durante Roda de Diálogo sobre Identidade Racial e Racismo na Borborema https://aspta.org.br/2019/02/26/conhecer-a-nossas-raizes-nos-da-forca-afirma-agricultora-negra-durante-roda-de-dialogo-sobre-identidade-racial-e-racismo-na-borborema/ https://aspta.org.br/2019/02/26/conhecer-a-nossas-raizes-nos-da-forca-afirma-agricultora-negra-durante-roda-de-dialogo-sobre-identidade-racial-e-racismo-na-borborema/#comments Tue, 26 Feb 2019 12:34:04 +0000 http://aspta.org.br/?p=16238 “A nossa sociedade tem tentado, todos os dias, apagar a história do povo negro, queimam museus, queimam livros. Mas o poder da oralidade, da fala, de poder chegar para as crianças e contar para elas quem somos, quem foram seus avós, essa alegria, esse brilho, esse conhecimento, ninguém tira de nós. Eu sempre digo que … Leia mais

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“A nossa sociedade tem tentado, todos os dias, apagar a história do povo negro, queimam museus, queimam livros. Mas o poder da oralidade, da fala, de poder chegar para as crianças e contar para elas quem somos, quem foram seus avós, essa alegria, esse brilho, esse conhecimento, ninguém tira de nós. Eu sempre digo que nunca é tarde para a gente olhar para trás e colher os ‘pedaçinhos’ que foram ficando pelo caminho, são nossas raízes, isso nos dá força e vínculo”, comenta Luíza Cavalcante, agricultora do Sítio Ágatha, município de Tracunhaém, na Zona da Mata Norte de Pernambuco.

A liderança foi uma das convidadas da Roda de Diálogo sobre Identidade Racial e Racismo realizada pelo Polo da Borborema em parceria com a AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, na última sexta-feira (22), em Lagoa de Roça-PB. O momento faz parte do processo preparatório para a 10ª Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia, promovida todos os anos pelo Polo da Borborema e pela AS-PTA no mês de março. Em 2019, a marcha acontecerá no município de Remígio-PB e seu tema central nesta edição será o racismo e como ele recai sobre a vida das mulheres.

Luiza falou sobre a importância de se aprofundarem na cultura, nas tradições e nos conhecimentos negros, as mulheres negras ocupem também os espaços de poder e de fala para denunciar o racismo. “Venho do movimento agroecológico, que pensa a natureza e um mundo bom de se viver. Quando digo que precisamos elevar a nossa voz para denunciar o racismo que existe nesse espaço, dizem que estou querendo causar divisão no movimento, mas acho que nós, enquanto mulheres negras, somos invisibilizadas”, reclama Luiza.

Outra convidada, Mariana Reis, negra, comunicadora e pesquisadora pernambucana, em sua fala, chamou a atenção para a necessidade da afirmação da negritude em um cenário onde, o negro está sempre colocado à margem da sociedade. Ela ressaltou ainda o simbolismo da forma como aconteceu o bárbaro assassinato da vereadora negra e moradora da favela Marielle Franco, ocorrido em março de 2018: “Marielle foi assassinada com tiros na cabeça, que é onde está a força e o nosso principal poder, nossa inspiração, nosso pensamento, nossa produção de conhecimento. Isso é muito simbólico, ela morreu porque incomodava, é a morte não só física, mas simbólica também”.

A assistente social e ativista dos direitos das mulheres negras de Campina Grande-PB, Jô Oliveira, foi a terceira convidada da Roda de Diálogo. Ela falou sobre o chamado “mito da democracia racial” que paira sobre o país e que segundo ela, é uma tentativa de diluir os conflitos e invisibilizar a discriminação e o preconceito que as pessoas da cor negra sofrem na pele todos os dias. “Querem que a gente pense que todos são iguais, mas quem é negro sabe que numa abordagem policial, será tratado diferente pela cor da sua pele. A mulher negra e pobre que vai numa Unidade Básica de Saúde sabe que ela terá menos consultas de pré-natal que uma mulher branca naquela mesma unidade e que o médico tocará menos em seu corpo. Então como militante, eu tenho o compromisso de trazer essas questões, precisamos enfrentar esse debate”.

Participaram do momento de diálogo, cerca de 100 agricultoras dos 14 municípios onde o Polo da Borborema, uma rede de 13 sindicatos de trabalhadores rurais atua há mais de 20 anos na região da Borborema. Após as falas, abriu-se uma rodada de debate onde as mulheres presentes se seguiram comentando e partilhando emocionantes depoimentos sobre suas vivências. Esse momento foi fundamental para o movimento de mulheres do Polo da Borborema que deu passo importante para afirmação de suas identidades e o entendimento que ela é sua fonte de poder.

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08 de março: Mulheres do Polo da Borborema dão seu grito pelo fim da violência e em defesa da Agroecologia https://aspta.org.br/2018/03/08/08-de-marco-mulheres-do-polo-da-borborema-dao-seu-grito-pelo-fim-da-violencia-e-em-defesa-da-agroecologia/ https://aspta.org.br/2018/03/08/08-de-marco-mulheres-do-polo-da-borborema-dao-seu-grito-pelo-fim-da-violencia-e-em-defesa-da-agroecologia/#respond Thu, 08 Mar 2018 21:13:35 +0000 http://aspta.org.br/?p=15703 Mais de cinco mil mulheres jovens, idosas, brancas, negras, do campo e da cidade, marcharam juntas neste dia 08 de março pelas ruas do município de São Sebastião de Lagoa de Roça-PB, na edição 2018 da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia. O evento acontece há nove anos organizado pela AS-PTA Agricultura Familiar … Leia mais

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Mais de cinco mil mulheres jovens, idosas, brancas, negras, do campo e da cidade, marcharam juntas neste dia 08 de março pelas ruas do município de São Sebastião de Lagoa de Roça-PB, na edição 2018 da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia. O evento acontece há nove anos organizado pela AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia e Polo da Borborema, uma articulação de 14 sindicatos de trabalhadores rurais da região da Borborema, o Agreste da Paraíba.

Antes de sair em marcha, sem se importar com o sol forte do Semiárido Paraibano, as milhares de mulheres assistiram à apresentação da peça “Família, lugar de amor”, encenada pelo grupo de teatro amador do Polo da Borborema. O espetáculo, trouxe a discussão sobre dois temas que preocupam as mulheres da região: a questão da diversidade sexual e a divisão justa do trabalho doméstico. Na peça, um jovem homossexual sofre violência por parte de sua família, que o discrimina por sua orientação sexual. O espetáculo também tratou como é injusta a divisão de trabalho doméstico, naturalizado como algo de que só as mulheres devem se encarregar e que é invisível aos olhos da sociedade.

Em 2018, o tema trabalhado nos momentos preparatórios da marcha foi a onda conservadora que o país enfrenta e de que forma ela recai sobre a vida das mulheres. Ligória Felipe dos Santos se emocionou com a encenação do teatro: “A peça foi feita pra mim, eu me vi ali”, conta a agricultora do município de Esperança-PB, que viu o filho homossexual deixar a casa por desentendimentos com o pai.

O evento foi ainda escolhido como local para o lançamento oficial da Marcha das Margaridas 2019: “O lançamento do processo preparatório para as próxima Marcha das Margaridas começa hoje e vai até o mês de agosto de 2019. Nós não vamos mais levar uma pauta para o Governo Federal. Vamos sim, esse ano, mostrar a todas as camponesas quem são os ‘inimigos das margaridas’ que não podem voltar ao congresso nacional, aos governos e às casas legislativas estaduais”, falou Beth Cardoso, da coordenação da Marcha das Margaridas e integrante do Grupo de Trabalho de Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia (GT Mulheres da ANA). A Marcha das Margaridas é uma manifestação realizada desde 2000 por trabalhadoras rurais do Brasil e é um importante instrumento de luta por mais políticas públicas para as mulheres do campo.

As menções aos sucessivos cortes de programas sociais do Governo Federal, fechamento de ministérios importantes para as políticas de inclusão social e para as populações do campo também fizeram parte de um ato político durante uma parada no trajeto da caminhada. Um ‘Vampirão’, em alusão à fantasia de um personagem apresentado pela escola de samba carioca Paraíso do Tuiuti, vice-campeã do Carnaval do Rio, leu um “Pronunciamento” voltado às mulheres, onde dizia que elas são fundamentais para verificar os desajustes de preços nos supermercados. Jovens segurando cartazes com os nomes de políticas públicas importantes para a vida das mulheres, tiraram então as mordaças que traziam nas bocas e se levantaram gritando palavras de ordem.

Alimentos beneficiados, hortaliças, artesanato e outras produções fruto do trabalho das camponesas fizeram parte de um feira que ocupou um grande espaço anexo ao local do evento, onde foram comercializados os produtos e houve espaço para a troca de experiências. A animação final ficou por conta da cirandeira pernambucana Lia de Itamaracá que se apresentou momentos antes da caminhada e encerrou o evento com uma bonita ciranda. “Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres! Amanhã começa a nossa preparação para a nossa próxima marcha. E que o movimento sindical seja autêntico, com a força das mulheres!”, se despediu Giselda Beserra, da coordenação do Polo da Borborema.

“Essa marcha para o Polo da Borborema, significa justiça. Quando os sindicatos têm como sua missão o princípio de defender a justiça, a igualdade, é uma obrigação também fazer a luta por igualdade de direitos entre homens e mulheres no movimento sindical, no mundo camponês. O nosso papel enquanto movimento que tem construído a agroecologia, é esse, essa é a nossa missão. A opressão que as mulheres vivem, a carga de trabalho que elas enfrentam, faz com que a gente repense como estão se dando estas relações para que a gente almeje o que tanto queremos uma sociedade mais justa e solidária”, avalia Roselita Vitor, liderança da coordenação do Polo e do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Município de Remígio.

Conheça o vídeo da Marcha

Conheça a Carta Política

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Mulheres Agricultoras do Polo da Borborema debatem gênero e sexualidade durante encontro de formação https://aspta.org.br/2018/03/04/mulheres-agricultoras-do-polo-da-borborema-debatem-genero-e-sexualidade-durante-encontro-de-formacao/ https://aspta.org.br/2018/03/04/mulheres-agricultoras-do-polo-da-borborema-debatem-genero-e-sexualidade-durante-encontro-de-formacao/#comments Sun, 04 Mar 2018 15:53:12 +0000 http://aspta.org.br/?p=15692 Como parte do processo preparatório para a IX Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia, as lideranças mulheres do Polo da Borborema, uma articulação de 14 sindicatos de trabalhadores rurais da região da Borborema na Paraíba, realizaram, no dia 01 de março de 2018, uma atividade de formação sobre gênero, sexualidade e diversidade sexual. … Leia mais

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Como parte do processo preparatório para a IX Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia, as lideranças mulheres do Polo da Borborema, uma articulação de 14 sindicatos de trabalhadores rurais da região da Borborema na Paraíba, realizaram, no dia 01 de março de 2018, uma atividade de formação sobre gênero, sexualidade e diversidade sexual. Cerca de 100 agricultoras, dos 14 municípios onde o Polo atua, participaram da atividade, que aconteceu na cidade de São Sebastião de Lagoa de Roça, a mesma que receberá no dia 08 de março a 9ª edição da Marcha.

A formação contou com a facilitação de Leandra Cardoso, gerente operacional de políticas Intersetoriais e Lúcia Moraes coordenadora das Unidades Móveis de Atendimento à Mulher, ambas da Secretaria de Estado da Mulher e da Diversidade Humana (SEMDH). Leandra iniciou tratando dos conceitos de “Igualdade”, “Equidade”, “Machismo”, “Feminismo” e “Gênero”, este último, segundo ela, foi elaborado para evidenciar que o sexo anatômico (pênis/vagina) não é o elemento definidor das condutas humanas. “Mulheres e homens são produtos da realidade social e não decorrência da anatomia de seus corpos. É a cultura que constrói o gênero, simbolizando as atividades como ‘masculinas’ ou ‘femininas’, em uma educação machista e sexista que prende as mulheres a um lugar de subalternidade, o que começa desde a descoberta do sexo dos bebês, a dividir um mundo para os homens (mais amplo e cheio de possibilidades) e um outro para as mulheres (restrito ao domínio do lar e das tarefas do cuidado)”, disse.

A educadora também falou sobre o feminismo e sobre o movimento recente de como defensores da ideologia que constrói papeis de determinação das condutas de homens e mulheres, tentam enganar as pessoas com uma terminologia de “Ideologia de Gênero”: “Se você compreender o conceito de gênero, vai ver que não existe ‘ideologia de gênero’, o que existe é um conjunto de ideias, entranhadas na nossa cabeça sobre o que é ser homem e o que é ser mulher, hierarquizando as diferenças, transformando-as em desigualdade social. A estratégia é fazer não sermos feministas, não questionar essa desigualdade e manter as coisas como são”.

Diversidade Sexual

As participantes do encontro conheceram ainda os conceitos relativos à diversidade sexual como os homens ou mulheres transgêneros e cisgêneros, os gays, as lésbicas e os bissexuais e, por fim, as diferenças entre identidade sexual (como a pessoa se vê e se sente), o sexo biológico (pênis/vagina), a orientação sexual (com quem a pessoa gosta de se relacionar afetiva e amorosamente) e a expressão de gênero (como a pessoa gosta de se vestir, de se apresentar). As mulheres presentes tiraram suas dúvidas a partir de exemplos do dia a dia, como a figura da cantora “Pablo Vittar”: “Quando está vestida como mulher, pronta para se apresentar ela é a artista, já quando não está vestido assim, ele é um homem gay, que se relaciona com homens, temos que compreender que ela é uma personagem dele. O que acontece é que a nossa sociedade tende a nos separar só nas duas caixinhas (homem-mulher-héteros-cis)”, pontuou Leandra.

Sexualidade, cuidado e prevenção

De acordo com Leandra, a sociedade machista e sexista produziu uma cultura que controla o corpo e a sexualidade das mulheres, em detrimento do dos homens, de tal forma que no espaço do evento, ao serem perguntadas se já se olharam no espelho nuas para observarem as suas genitálias, muitas mulheres se sentiram extremamente constrangidas ao responder. A facilitadora levou para o espaço da reunião moldes e próteses dos órgãos sexuais e, de forma descontraída, explicou os métodos preventivos as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), os preservativos feminino e masculino, mostrando a forma correta do uso e os cuidados necessários a cada um, bem como ter acesso a eles através da rede pública de saúde.

Diversas agricultoras se manifestaram sobre a necessidade e a importância de momentos esclarecedores como este. “Deu para entender um pouco mais e saber coisas que a gente até então não sabia”, avaliou Maria José da Silva, de Montadas-PB. “Essas experiências mostradas aqui são muito válidas”, comentou Márcia Patrícia, de Queimadas-PB.

A agricultora Maria das Graças dos Santos, do Sítio Manguape, em São Sebastião de Lagoa de Roça, contou que foi casada 15 anos e teve um grande susto ao descobrir, 15 anos após a separação, de que seu marido faleceu com HIV : “Essa coisa de os homens dizerem que usar camisinha é chupar bala com papel é muito sério. Meu ex-marido era um desses, ele sempre me traiu e, mais tarde, por ele não se prevenir, contraiu uma doença e morreu há dois meses. Aí você vê a importância de se proteger, hoje ele está morto e eu estou aqui viva e com saúde”, relata a agricultora, que felizmente constatou que não foi infectada e nem os seus dois filhos que teve dessa união.

A Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia é uma iniciativa do Polo da Borborema e da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, entidade que assessora o Polo há mais de 20 anos. Há nove anos, as camponesas da região ocupam as ruas no dia 8 de março para denunciar a violência contra a mulher, bem como para reafirmar o papel histórico das mulheres agricultoras na produção de alimentos. Em sua 9ª edição, a Marcha vem aprofundando a problemática da onda conservadora que o país enfrenta e de que forma ela recai sobre a vida das mulheres, tratando sobre as questões tratadas nesta formação além de temas como a divisão do trabalho doméstico. Todos os anos, dezenas de reuniões de preparação como esta são realizadas em centenas de comunidades dos municípios da região.

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