Com o objetivo de aprofundar as estratégias de manejo da fertilidade dos solos desenvolvidas pelas famílias agricultoras e avaliar como estas estão contribuindo para a regeneração e melhoria da qualidade da produção na região da Borborema e Cariri, a AS-PTA Agroecologia e Agricultura Familiar realizou nesta quarta-feira, 23 de novembro, uma Oficina sobre Regeneração da Fertilidade Solo, no Convento Ipuarana, em Lagoa Seca-PB. O evento é um desdobramento da Oficina sobre Saúde do Solo, realizada no mês de outubro, com a assessoria do Professor Sebastião Pinheiro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Na ocasião, os participantes levando amostras de seus solos aprenderam, por meio do método da Cromatografia, a fazer a sua própria análise da saúde da terra onde produzem.
“Sentimos a necessidade de sentar novamente com os participantes da oficina para que cada um analisasse a sua amostra de solo naquele momento e compartilhasse, a partir desse resultado, o que fez para melhorar o solo que não estava bom e o que fez para continuar melhorando o solo de qualidade”, explica Emanoel Dias, assessor da AS-PTA e facilitador da Oficina sobre Regeneração da Fertilidade Solo.
Durante a oficina foram exibidos vídeos com depoimento do Professor Sebastião Pinheiro, analisando os cromatogramas e recomendando alternativas, a partir de cada caso, para melhorar a saúde do solo. Em seguida, os participantes foram convidados a relacionar os resultados da interpretação das análises dos solos com as formas de manejo realizado por cada família, foi possível aprofundar quatro casos diferentes de manejo. Por meio de fotografias e depoimentos, eles apresentaram suas diferentes estratégias de gestão da fertilidade nos respectivos sistemas de produção.
Para João Macedo, da AS-PTA, antes a análise de solo era feita de forma em que os pesquisadores coletavam o material e os agricultores não tinham sua participação: “a partir daquele resultado eles (os pesquisadores) eram quem davam os resultados e diziam o que os agricultores deveriam colocar no seu solo. Hoje, com os acúmulos dessas oficinas, os agricultores perceberam que podem fazer sua própria análise sem precisar de ir para grandes laboratórios, e a partir dela construir estratégias para melhorar a qualidade do seu solo”, afirmou.
Ao final do evento os agricultores e as agricultoras listaram encaminhamentos para continuar a fazer e a disseminar as técnicas de análise da qualidade do solo. No campo técnico, tirou-se como metas diversificar as propriedades por meio do enriquecimento de cercas viva e campos de palmas, a implantação de pequenas matinhas, a construção de estratégias para incorporação da matéria orgânica, entre outras. Foram priorizadas ainda a realização de novas capacitações sobre a análise dos solos e a construção de políticas públicas que reconheçam este método de avaliação. O agricultor João de Deus, da comunidade Bela Vista em Esperança, tem a preocupação de compartilhar este tipo de informação: “Precisamos desenvolver este trabalho junto com as associações e sindicatos da nossa região, fazer visitas de intercâmbio pra saber o que os outros agricultores têm feito e fazer esse conhecimento chegar ao maior número de pessoas”, disse. A agricultora Lourdes Silva, contou que está intensificado o uso da cobertura morta e está construindo uma mureta de pedra para segurar o solo e evitar a erosão na sua terra, no do Sítio Canta Galo em Massaranduba: “muita coisa que dissemos aqui eu já faço lá, mas não é porque está bom que eu tenho que parar, tem que continuar melhorando”.
A Oficina sobre Regeneração da Fertilidade Solo é uma iniciativa do Projeto Terra Forte, realizado pela AS-PTA, co-financiado pela União Européia, e desenvolvido em parceria com o Polo da Borborema, Patac e AVSF. Seu objetivo é contribuir para a reversão e prevenção dos processos geradores da desertificação e do empobrecimento da população no semiárido brasileiro.