FAQ – da equipe de pesquisa do CRIIGEN
Protocolo – Resultados – Discussão
http://www.criigen.org/SiteEn/index.php?option=com_content&task=view&id=368&Itemid=130
Tradução: Paulo Cezar Mendes Ramos – Analista ambiental ICMBio; Membro da CTNBio; Coordenador do GT de Agrotóxicos e Transgênicos da ABA
SEÇÃO UM: PROTOCOLO
Por que não usar um alimento variado “referência” sobre seus controles, como fez a Monsanto?
Em ciência, devemos estudar uma variável de cada vez. Podemos assim comparar seriamente apenas a um controle geneticamente semelhante demonstrado ser substancialmente equivalente ao estudar precisamente o efeito do OGM.
Por que não ter usado um método estatístico padrão?
Esses métodos não tem sido julgados satisfatórios pelos organismos especializados para demonstrar a toxicidade para grupos de 10 ratos. No entanto, as diferenças máximas de mortes ou tumores com os controles (600 dias, 2 – 5 vezes mais) falam por si.
Além disso, há uma subestimação dos efeitos tumorigênicos no final de dois anos, comparados aos controles de acordo com os dados dessas curvas. Esta subestimação se deve ao fato de que os controles estão vivendo mais tempo e desenvolvendo patologias, incluindo tumores, no final da vida.
Qual o grau de confiança que existe em diferenças significativas encontradas pelo método estatístico OPLS-DA, não existem valores de p?
Este é um dos mais modernos métodos para tratar um grande número de variáveis, tais como em genómica, na verdade o significado não passa através do valor-p reservado para outros testes.
(Nota do tradutor: OPLS-DA – Análise Discriminante de Projecções Ortogonais para Estruturas Latentes – trata-se de método em Quimiometria Metabonômica e Metabolômica utilizada para análises metabólicas. Dados Metabolômicos podem dar uma visão imparcial de alterações no metabolismo durante as mudanças ambientais, genéticas ou de desenvolvimento. Em vez de rastreamento de somente alguns metabólitos, alterações nas quantidades relativas em 300 a 1000 ou mesmo mais metabólitos podem ser registrados e analisados, cobrindo todas as principais vias metabólicas.)
Por que mostraram as análises bioquímicas no mês 15?
Não poderíamos colocar tudo em um primeiro artigo. Este é o último ponto no tempo quando há mais ratos vivos, que demonstra significância.
Os ratos foram tratados durante o experimento por outras moléculas? Sanitizantes? Antibióticos?
Não. Não com as Boas Práticas de Laboratório em geral, caso contrário êles são excluídos do experimento.
Por que você estava usando duas formulações diferentes do Roundup (com água contaminada e culturas)?
As formulações contém cerca de 500 g/L de glifosato. Elas têm nomes diferentes em países diferentes.
Onde você cultivou o milho e tratou os ratos?
Utilizamos o milho do Canadá porque lá a cultura desse OGM é permitida, ao contrário da França. A experiência com ratos foi realizada na França e as análises foram realizadas em laboratórios diferentes, na França e na Itália, alguns desejam manter o anonimato.
Os proponentes deste tipo de estudo são geralmente empresas industriais e o fato de que uma ONG e uma Universidade desenvolveram este estudo juntos significa que ele é independente e exclusivo.
O milho usado como controle é exatamente o mesmo que os OGM?
Uma identidade genética não é possível devido ao método de produção de sementes, mas é o mais próximo genética e fenotipicamente.
Os diferentes milhos foram cultivados ao mesmo tempo? As condições climáticas eram as mesmas?
Absolutamente sim e geograficamente muito próximas, embora evitando contaminação cruzada.
Quantas vezes os milhos foram tratados? Em que momento?
Uma vez durante a cultura com Roundup, quando tratados. Resíduos de glifosato e AMPA (ácido aminometilfosfônico, principal metabólito microbiano da biodegradação do Glifosato – considerado tóxico – nota do tradutor) em OGM são reconhecidos e regulamentados, mesmo nos tecidos dos animais que os consomem. Renúncias dos direitos para exceder são regularmente concedidas, infelizmente. Este não era o caso para nós.
Houve glifosato na água dos controles?
Não dentro de limites de detecção. Nós mudamos a água semanalmente e contaminamos com as doses precisas indicadas para os tratamentos.
Por que você usou uma média e não uma mediana para o limite de envelhecimento?
É o costume geral; há pouco dito da vida mediana dos franceses por exemplo. Não tiramos dela quaisquer cálculos estatísticos, mas uma marca gráfica.
SEÇÃO DOIS: OS RESULTADOS
Qual é a magnitude da diferença na mortalidade dos controles em relação à norma histórica?
Cada experimento tem suas próprias condições, a norma histórica é muito grande para ser um comparador relevante. Os controles estão na vida normal média, e as nossas diferenças são comparadas com os controles do experimento.
Como você explica a ausência de manifestação de distúrbios bioquímicos nos machos?
Ao contrário, há muitos. No entanto, não são apresentados todos os resultados no estudo, o que era impossível por causa de seu número. Há sempre uma diferença de tempo entre distúrbios bioquímicos, os primeiros a aparecer e lesões patológicas que observamos em ambos os sexos. Nos machos, as lesões patológicas foram anteriores e maiores do que nas fêmeas e essas lesões são as mais notadas.
As mesmas diferenças podem ser encontradas em todos os tratamentos, como você sabe que os controles não são os anormais? Ou que não é devido à sorte?
Nossos controles correspondem aos valores observados nas espécies. Achados patológicos têm explicações lógicas para todos os tratamentos, são consistentes e numerosos o suficiente para não ser relacionados ao acaso; extensivas estatísticas a nível bioquímico são consistentes e demonstram isto. Nossos estudos in vitro são consistentes.
Como você pode ter certeza de que uma depleção tão pequena em ácidos caféico e ferúlico explica também uma grande variedade de patologias?
Existem para nós indicadores compreensíveis para as alterações no metabolismo do milho que poderia ter acontecido, as pegadas lógicas muito interessantes da literatura científica e o nosso trabalho, eles em nenhuma maneira excluem a ação de outros metabólitos tóxicos devido aos OGM e é por isto que estamos a pedir financiamento para análise em proteômica, transcriptômica, a fim de saber detalhes chave mecanísticos dos eventos.
Você tem quaisquer resultados interessantes para as doses de Roundup em tecidos, microbiologia e dosagem transgene?
Sim, nós temos resultados que devem ser concluídos e que nos dão pistas muito interessantes que serão publicadas mais tarde. Várias publicações estão planejadas após este trabalho preliminar.
Por que usar o limite de 17.5 * 17.5 mm nos machos e 20 * 20 mm nas fêmeas para contagem de tumores?
Porque é o tamanho-limite em que mais de 95% dos tumores são não-regressivos.
O que é a base para determinar os critérios de patogenicidade utilizados na tabela 2? Que classificação você usa?
Por eliminação diferencial dos menores intervalos.
Mediram-se com resíduos de glifosato no NK603 ou o alimento seco?
Sim, nós checamos o seu uso e a presença de todos os pesticidas. Os valores foram abaixo os limites regulamentares. Os limites de quantificação em diversas matrizes são diferentes.
Você indica um efeito de estresse oxidativo em ratos devido a seus tratamentos, os marcadores de estresse oxidativo estão corrompidos?
Sim para os citocromos no fígado e o GST, por exemplo.
(Nota do tradutor: Glutationa S-transferase (GST) é uma família de enzimas que desempenham um papel importante na desintoxicação de xenobióticos.)
O milho tem sido pulverizado com outros pesticidas? Encontraram-se com outros resíduos?
Sim, normalmente, não eram culturas orgânicas que nós poderíamos testar daí por diante. Não há nenhum pesticidas acima do limite de quantificação em alimentos.
SEÇÃO TRÊS: DISCUSSÃO
Os resultados que você encontrou neste estudo são correspondentes aos distúrbios encontrados nos testes subcrônicos reanalizados anteriormente em suas publicações, que a Monsanto sub-interpretou?
Sim, há sinais de toxicidade hepatorrenal que foram publicados anteriormente depois de apenas 90 dias de tratamento, que são relatados firmemente como patologias em nossa experiência a longo prazo.
Você acha que essas patologias podem ser transmissíveis aos seres humanos?
Muito geralmente, sim, mas não todas. Na verdade, quaisquer sinais de toxicidade em ratos devem ser tomados em conta para a proibição de um produto. Há 50 anos os estudos são realizados em ratos ou células humanas para produtos que não são testados em seres humanos (onde eles testam apenas drogas, não testam OGMs, nem pesticidas e nem químicos). E, para drogas, testes em ratos ou 2-3 mamíferos precedem qualquer ensaio clínico. Se mostram efeitos graves, os seres humanos não são tratados em seguida. Distúrbios hormonais são certamente relevantes para as mulheres para contribuir para tumores de mama e efeitos hepatorrenais foram encontrados em células humanas in vitro.
Por que você cita Zhang et al. 2012 como referência? Esta referência não se relaciona com OGMs.
Uma hipótese é que novo micro RNA produzido por OGMs pode interferir com o metabolismo. Nós não poderíamos deixar isto não dito, mas temos outras hipóteses explicativas.
Como você explica que os efeitos não são encontrados nas populações humanas? Ninguém nunca notou um aumento no câncer de mama em populações expostas ao Roundup?
Há uma explosão no número de tumores de mama que não são explicados por estudos epidemiológicos. Lembramos-lhe que os OGMs não estão sendo rotulados, o consumo de OGM nos EUA não está listado, nem para o uso do Roundup ao redor do mundo.
Recomenda-se a experimentar em 50 ratos para estudo estatutório sobre a carcinogênese. Qual o valor de trazer seus resultados em 10 ratos?
Foram estudados 200 ratos, 10 ratos/grupo. Estudos bioquímicos legais são recomendados pela OCDE em no mínimo 10 ratos por grupo.
Nenhum estudo legal que permitiu a autorização dos OGM tinha mais de 10 ratos medidos por grupo.
Portanto, fizemos os testes mais robustos do mundo, especialmente porque estávamos a analisar a longo prazo.
Nós não poderíamos antecipar os resultados dos tumores, mas nós observamos e os registramos neste estudo, o que era normal, não é o estudo dos efeitos de carcinogênese específicos com 50 ratos/grupo que não teria permitido observar os efeitos hepatorrenal e outros.
As concentrações de ácido ferúlico encontradas são correspondentes as indicadas na experiência da Monsanto?
A Monsanto infelizmente não mediu as concentrações de ácidos hepatorrenais e mama-protetor diretamente na dieta, mas apenas uma vez o ácido ferúlico no milho e no controle de OGM.
Você diz que 76% dos parâmetros no rim estão perturbados, em que isto mostra toxicidade? Eu não entendo esse método.
Registramos todos os parâmetros perturbados em comparação aos controles e comparamos com o número de parâmetros relacionados com a atividade renal, sobre o conjunto de todos os parâmetros. Nós temos 48% dos parâmetros renais entre todos os parâmetros medidos, ainda 76% dos perturbados são marcadores da atividade renal! Qualquer médico iria entrar em pânico para um paciente neste caso. A distribuição não pode ser devido ao acaso. (Esta figura foi 42% em uma de nossas publicações anteriores, de parâmetros perturbados, 24,9% medidos no rim de machos e um consumo trimestral em média de 19 OGMs, normas de ensaios). O rim é 1,5 vezes mais afetado do que outros órgãos.
Roundup aumenta o tempo de vida em machos? Isso não é um melhor indicador da segurança deste herbicida? Esse aumento é dose-dependente do mesmo. Estranhamente você não falar sobre isso, por que?
Deixamos a você esta interpretação equivocada! Machos tratados eram mais doentes do que os controles em todos os casos, mesmo em um caso em cada 6 tratamentos (3 machos + 3 fêmeas) não havia nenhuma mortalidade extra em qualquer dose antes de espectativa média de vida. Porém, estes ratos perdem peso (discutido em outra publicação) e isso pode dar-lhes alguma resistência.
Você comparou os resultados com os do estudo japonês de Sakamoto, ou algum outro? Ao contrário do que você diz você não é o primeiro a estudar a segurança de um OGM por 2 anos.
Sim. Nenhum foi tão abrangente como o nosso, e nenhum é sobre o milho NK 603 além de 3 meses.
Por que você escolheu ratos Sprague Dawley?
Este é o modelo mais comum nesses estudos, o mais conhecido.
Você já fez o estudo em um ambiente de Boas Práticas de Labortório, é o estudo BPL? O fato de não sê-lo não o denigre?
Não havia nenhum protocolo padrão para este tipo de estudo muito longo com OGM, nós o estabelecemos enquanto o aprimoramos. Este é o primeiro no mundo. Assim, não poderia haver qualquer padrão previamente definido para esse tipo de teste. Além disso, esta pesquisa é um protocolo onde adicionamos juntamos análises, bioquímica e microscópica para entender o que estava acontecendo. Agora ele pode servir de exemplo para estabelecer padrões para BPL para OGMs, muito mais sérios do que o que as agências de saúde fazem hoje que não trabalham honestamente nem cientificamente. No entanto, nós fizemos isso em um ambiente de laboratório BPL, claro.
Produzido pela equipe do Prof. Séralini.