As comissões de Saúde e Alimentação e Recursos Hídricos do Polo da Borborema realizaram entre os dias 22 e 24 de maio, na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Queimadas-PB um curso de formação sobre os arredores de casa. Um grupo de mais de 30 mulheres esteve presente na atividade, voltada para as famílias beneficiárias do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), que terão a construção de cisternas calçadão e cisternas de enxurrada (com capacidade para 52 mil litros) em suas propriedades. O curso faz parte do conjunto de formações do P1+2 em Gerenciamento da Água para a Produção de Alimentos (GAPA). A AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia que vem trabalhando com a otimização do uso da água na região desde 1993, é atualmente Unidade Gestora Territorial (UGT) do Programa, que objetiva oportunizar às famílias que já têm a primeira água (de beber e cozinhar) reservatórios e outras infraestruturas para o armazenamento de água para a produção de alimentos e criação de animais, a segunda água.
De acordo com Leda Alves Gertrudes, animadora do P1+2 e técnica da AS-PTA, a proposta de realizar esta formação sobre os quintais produtivos, surgiu do desejo de unir o trabalho das comissões de saúde e alimentação e de recursos hídricos, que dialogam com os objetivos do programa: “as infraestruturas do P1+2 vem fortalecendo na região, a reorganização dos quintais, área de expressão do conhecimento das mulheres agricultoras. E é nesse sentido que a proposta de formação para o manejo da água de produção nas propriedades se casa com o trabalho das duas comissões: valorizando, organizando e dando visibilidade ao arredor de casa como um sistema produtivo eficiente, ao mesmo tempo em que organiza e fortalece o trabalho das agricultoras-experimentadoras”, afirma Leda.
Programação – o curso teve início com o diagnóstico sobre a organização do trabalho familiar na propriedade, sobre partes do arredor de casa, e um carrossel de experiências sobre otimização do uso da água. As participantes ainda assistiram ao vídeo “O arredor de casa”, produzido pela AS-PTA em parceria com o Polo da Borborema. As agricultoras debateram sobre a importância do arredor de casa como um espaço de promoção da segurança alimentar, da criação dos filhos, da experimentação das primeiras chuvas, de novas sementes e da geração de renda, bem-estar e autonomia.
As participantes foram provocadas a indicar, em um painel colorido que mostrava cada local da propriedade, qual era a presença mais marcante do ponto de vista da contribuição de cada membro da família. Ao observar a organização do trabalho, as mulheres puderam perceber que sua divisão nem sempre é justa: “A gente vê que a mulher trabalha muito mais, tudo que o homem faz a mulher também está no meio, mas nem tudo que a mulher faz o homem ajuda, dentro de casa, por exemplo”, afirma Sebastiana Araújo, do sítio Maracajá, em Queimadas. Agricultora Pauliana Bezerra, também do sítio Maracajá, concorda: “Eu duvido é o (homem) lá de casa não ir atrás de uma saia para ajudar no curral”, brinca quando alguém afirma que só os homens trabalham com os animais maiores.
As agricultoras ajudaram a montar uma maquete que reproduzia o espaço dos quintais. Nesse trabalho, as mulheres indicaram cada parte que constitui o arredor de casa, os seus usos, os desafios de cada uma e as sugestões de superação de cada desafio, no sentido de otimizar o uso da água e incrementar os seus sistemas produtivos.
Puderam perceber toda a riqueza existente nesse espaço e também observar o caminho das águas dentro da propriedade, seus usos e formas de reaproveitamento e armazenamento. “Vemos que aquela água do banho, da louça, ela não está perdida, pode continuar produzindo. Aquela água servida, como a gente chama, já vai para as fruteiras, para lavar os porcos e a cisterna calçadão vem pra aumentar ainda mais esse trabalho de fazer a água ficar na propriedade, não deixar que ela vá embora depois da chuva”, explica Ivanilson Estevão da Silva, técnico da AS-PTA que acompanha o trabalho da comissão de Saúde e Alimentação.
Ao final do evento houve o planejamento de ações que serão desenvolvidas para o fortalecimento da autonomia das mulheres e da segurança alimentar das famílias (Fundos Rotativos Solidários, beneficiamento de frutas, oficinas de canteiro econômico, etc.).