“O quê que a sementinha precisa pra crescer e se transformar em uma planta bem bonita?” – pergunta a personagem “Chica de Chita”, às crianças e jovens, filhas e filhos de agricultores de oito comunidades rurais vizinhas do sítio Lajedo, município de Alagoa Nova, na região da Borborema, na Paraíba. “Água! Estrume! Terra boa! Cuidado!” – respondem todos. Chica, auxiliada pelos fantoches “Jureminha” e “Pedro Preá”, conversa com as crianças e jovens sobre o que é a semente, sua germinação, sua seleção e armazenamento, e elas apontam no mapa da propriedade pintado em pano, os diversos tipos de sementes que têm como: animais, grãos, plantas e os próprios seres humanos. Este foi o tema escolhido para ser trabalhado nos mutirões da Campanha pela Valorização da Vida na Agricultura Familiar, ação desenvolvida pelo Núcleo de Infância e Juventude da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, em parceria com os sindicatos rurais do Polo da Borborema, desde 2002.
“A agricultura familiar não é construída apenas pelos pais e mães, sabemos que as crianças e os jovens são parte dessa construção e buscamos valorizar e dar visibilidade ao seu papel, aos seus conhecimentos, a partir do olhar do que já fazem na rotina se suas vidas, pensando dessa forma, na própria continuidade e no futuro da agricultura”, explica Ana Paula Anacleto, assessora técnica do Núcleo de Infância e Juventude da AS-PTA, sobre o objetivo da Campanha.
Gabriel Oliveira Luna tem 11 anos e vive com a família no sítio Ribeiro, quando crescer quer seguir a profissão da mãe e do pai, quer ser agricultor. Ele conta que na sua casa existe um banco de sementes com variedades de milho, feijão e fava e que ele sempre ajuda a aguar a plantação e a guardar os grãos. “Pra mim nós também somos sementes, pois temos vida, e quando a gente arranca o feijão pra comer, ele também não morre?”, explica sobre o seu conceito acerca das sementes.
Já Natália Barbosa tem 13 anos e sonha em ser médica para atuar na sua comunidade e ajudar a melhorar a qualidade de vida no sítio Lajedo, onde acontece o mutirão. Para ela o tema das sementes é muito importante: “Porque a semente é uma fonte de vida, alimenta as pessoas. Meus pais têm um banco familiar onde guardamos feijão, fava e milho, que a gente come e guarda pra plantar no ano que vem, assim a gente tem sempre a semente e não depende de ninguém”, conta.
A agente comunitária de saúde Fátima Melo ajuda a mobilizar as crianças e jovens para participar dos mutirões desde o início do trabalho, ela atua nas comunidades de Lajedo, Gameleira e Caldeirão, do município de Alagoa Nova. De acordo com ela as crianças e a juventude são grandes aliados no trabalho de conscientização: “Depois de cada mutirão, quando eu visito as famílias, já percebo a diferença, você sente um retorno, pois eles conversam com os pais sobre o que vêem e aprendem, conscientizam os outros membros da família, na saúde mesmo, eles são grandes aliados nossos”.
Metodologia – Após o teatro de bonecos e a apresentação em painéis do processo de germinação, crianças e jovens se dividem em espaços distintos para aprofundar o tema por meio de brincadeiras, dinâmicas e rodas de conversa. Todos foram estimulados a trazerem sementes de suas comunidades e puderam observar amostras da enorme variedade cultivada na região, identificando as que conheciam e perguntando uns aos outros sobre as que desconhecem. Os jovens conversaram ainda sobre o início da agricultura, a descoberta que revolucionou a humanidade, quando se aprendeu a cultivar e a multiplicar o alimento, garantindo a fixação das famílias em um só lugar. Também discutiram sobre o conceito de semente: “Aquela galinha que bota bem, a minha mãe não vai querer matar, pra ela continuar multiplicando, não é? Pois é assim que funciona com os diversos tipos de sementes que temos, a gente foi aprendendo a selecionar para garantir o alimento”, afirma Ana Paula Anacleto.
Antônio Soares de Melo é agricultor do sítio Lajedo e contribui com os mutirões desde 2002. Ele é ainda conselheiro tutelar e animador comunitário da Igreja Católica. Sua comunidade possui um banco de sementes que mobiliza mais de 80 famílias, e segundo ele, o tema das sementes se articula com diversos outros importantes: “Quando a gente mostra pra criança que não só o grão é semente, trabalha esse entendimento como um todo, a gente tem uma conscientização maior até sobre o meio ambiente, antigamente a gente via os meninos matando passarinho, sapo, hoje eles já entendem que isso não é bom, eles aprendem a preservar e a valorizar a comunidade”, avalia.
Em 2013 os mutirões da Campanha tiveram início em abril e segue até o final do mês de julho, o trabalho pretende envolver mais de 3.150 crianças e jovens de 110 comunidades rurais de 13 municípios da região da Borborema. A Campanha pela Valorização da Vida na Agricultura Familiar é apoiada pela Action Aid.
Assista à matéria: