O Polo da Borborema realizou nos dias 26, 27 e 28 de janeiro de 2016, no Santuário Santa Fé de Padre Ibiapina, em Arara-PB, o seu primeiro Encontro Regional de Planejamento para 2016. O evento reuniu cerca de 180 agricultoras e agricultores ligados à dinâmica dos 14 sindicatos rurais que compõem o Polo da Borborema, além de assessores técnicos da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia e convidados de instituições de pesquisa, entidades parceiras e de universidades.
Nesse ano, o Encontro foi divido em três grandes momentos. O primeiro dia foi inteiramente dedicado à atualização do Diagnóstico Territorial da Agricultura Familiar, realizado no ano de 2006 e aprofundado pela oportunidade do Projeto de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) Agroecologia que a AS-PTA vem desenvolvendo em parceria com o Polo desde fevereiro de 2015.
Luciano Silveira, da coordenação da AS-PTA, apresentou o mapa do Polo da Borborema construído em 2006, com a atualização do zoneamento e das delimitações dos ambientes: “Em 2006 nós saímos em caravana para conhecer o nosso território. Olhando a realidade, o relevo, as chuvas, a vegetação, os tipos de agriculturas, o que deu origem ao nosso mapa. Fizemos esse mapa porque sabemos que a agricultura na nossa região não é igual, para pensar de acordo com a realidade de cada região. Houve pequenos ajustes nas fronteiras desse mapa, nas comunidades, em breve teremos um novo mapa atualizado”, disse.
Em seguida, foi feito um resgate da história da agricultura familiar no território da Borborema, dividida em quatro grandes períodos: de 1900 à 1964 dos antepassados a ocupação da região; de 1965 à 1980 marcado pelo Golpe Militar e a chamada ‘Revolução Verde’, modernização da agricultura; de 1981 à 2000 período da redemocratização do país e ascensão das lutas e de 2001 até os dias atuais, momento da ampliação do Estado Brasileiro, com políticas públicas voltadas para o campo e o reconhecimento da agricultura familiar enquanto modelo viável para a produção de alimentos. “A história da Borborema está conectada com a história da Paraíba e do Brasil, acontece que muitas vezes a nossa história é contada pelas elites, o que esconde a nossa realidade a partir do nosso lugar. Desde a colonização, a história da nossa região foi marcada por elementos que estão presentes até hoje, como a ocupação das terras com latifúndios de monoculturas para exportação. Uma história de subordinação e superexploração dos trabalhadores do campo, que tinham uma relação de dependência com os fazendeiros, dono das terras, entre outros aspectos”, completou Luciano Silveira.
Seguiu-se à apresentação, uma rodada de falas, momento em que se reconstruiu os últimos períodos, já a partir do surgimento do trabalho do Polo da Borborema na região. Manoel de Oliveira, conhecido como “Nequinho”, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Nova e da coordenação do Polo, lembrou que o Polo da Borborema completa 20 anos em 2016: “No próximo dia 25 de junho, o Polo faz 20 anos. Ele foi fundado no dia 25 de junho de 1996. Esse trabalho em parceria com a AS-PTA, conseguimos consolidar o Polo, o nosso objetivo foi unificar as lutas, fortalecer a organização dos trabalhadores e organizar o povo, mobilizar para enfrentar os problemas”, disse.
No período da tarde, a plenária fez uma reflexão sobre como o trabalho desenvolvido na região foi capaz de influenciar as mudanças que ocorreram na agricultura familiar camponesa nos últimos 15 anos e como esse trabalho se articula com outras lutas em outras partes do estado e do país.
Na manhã do segundo dia foi apresentado um balanço com números e informações do ano de 2015 de cada uma das comissões temáticas (criação animal, sementes, infância e juventude, mercado, saúde e alimentação, manejo da fertilidade do solo e cultivos agroflorestais), fruto dos encontros de avaliação do final do ano passado, e o que esses dados significaram para o conjunto do trabalho.
Balanço da ação – Entre o balanço de 2015, merece destaque alguns elementos como a forte presença da juventude atuando nas diretorias dos sindicatos diversas comissões temáticas, jovens apicultores, coletores de sementes, viveiristas e comercializando nas feiras agroecológicas, com 134 jovens feirantes, num universo de 685 famílias nas feiras, que tiveram seu número ampliado para mais três feiras agroecológicas (Areial, Arara e Queimadas). O trabalho com as mulheres segue sendo uma referência no território, inclusive para o trabalho com a juventude e as mulheres jovens. O ano de 2015 trouxe o debate do beneficiamento para consumo familiar e comercialização, com forte iniciativa das mulheres, das 685 famílias feirantes na Borborema, 189 são chefiadas por mulheres, que são as responsáveis pelo aumento exponencial de produtos beneficiados nas feiras, que este ano venderam 9 mil quilos desse tipo de produtos.
Outro destaque foi o processo de construção de cisternas nas escolas do campo, que trouxe a possibilidade da ampliação com o trabalho de educação contextualizada com as escolas dos campos e a comunidade escolar, e o envolvimento de cerca de 300 professores e oito secretários e secretárias municipais de educação, nos oito municípios da região onde já foram com 83 cisternas nas escolas rurais. Outro tema que apareceu com destaque no balanço de 2015 foi o tema das sementes, com a execução do Projeto Sementes do Semiárido que tem apoiado o fortalecimento e melhoramento de 42 bancos de sementes comunitários no território, a realização da VI edição da Festa Estadual das Sementes da Paixão no território e iniciativas como o PAA Sementes.
“Estamos celebrando esse processo que começou lá atrás, os números que apresentamos hoje são o fruto da nossa organização, das nossas parcerias, nós somos um movimento da agricultura familiar e da agroecologia aqui na região da Borborema, cada um de nós com a sua contribuição, é importante. Por isso cada vez mais a gente precisa trazer a nossa família, os nossos vizinhos para dentro da nossa dinâmica, da nossa comissão, dos espaços onde estamos atuando. É dever de cada agricultor participar de cada sindicato, nas assembleias, nas regiões, para ampliar esse trabalho. 2016 será um ano santo, que nós possamos contar com essa misericórdia”, disse Nelson Ferreira, presidente do STR de Lagoa Seca-PB.
Divididos nas comissões temáticas, agricultoras e agricultores puderam afinar o balanço de 2015 e ainda planejar as grandes ações para 2016. No final da tarde do segundo dia, os participantes fizeram uma excursão pelo Santuário de Padre Ibiapina, onde, com a orientação do Padre José Florin, grande conhecedor da história do Padre Ibiapina, visitaram os espaços do museu que o santuário abriga e conheceram sobre a obra missionária do religioso que percorreu a região Nordeste em missões evangelizadoras, erguendo casas de caridade, igrejas, capelas, cemitérios, cacimbas d’água, açudes e compartilhou seus conhecimentos sobre técnicas agrícolas com os sertanejos, atuação que inspirou no Nordeste o Padre Cícero e Antônio Conselheiro, e defendeu os direitos dos trabalhadores rurais.
Por fim, no último dia do encontro, cada comissão pode trazer as grandes linhas de ação e os principais eventos a serem realizados no ano. Dois temas foram ainda debatidos como pontos de atenção. O primeiro é a questão da violência no campo. Para Francisco Antonino, da direção do Sindicato de Remígio, “ a violência vem se constituindo na maior “seca” que a população da Borborema vem passando. A violência vem expulsando povos das comunidades rurais e precisamos enfrenta-la”.
Recontando uma das histórias sistematizadas durante a realização do Diagnóstico da Juventude Camponesa, o grupo de jovens trouxe para o debate questões para o movimento sindical: o acesso à terra para a sucessão familiar; a abertura e o fortalecimento dos espaços para os jovens nas associações e nos sindicatos; o incentivo a experimentação para a geração de autonomia e a superação da violência rural como principais focos de atenção para o ano de 2016.
Após emocionante entrada das mulheres cantando Apelo de Mulher, de Gilvanisa Maia, com faixas e bandeiras em punho, o Encontro encerrou com o lançamento da VII Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia que acontecerá, em 2016, no município de Areial, com a participação de 5 mil mulheres agricultoras. “Garantir uma sociedade mais justa e a igualdade entre homens e mulheres é uma ação prioritária dos sindicatos do Polo da Borborema. É fazer evoluir nossa ação sindical.”, avalia Nelson Ferreira, da Coordenação do Polo.
O Encontro Regional de Planejamento do Polo da Borborema é uma atividade do projeto Aliança pela Agroecologia, que reúne organizações sociais de sete países – Bolívia, Nicarágua, Paraguai, Guatemala, Equador e Colômbia, além do Brasil – dedicadas à promoção do desenvolvimento rural sustentável. O Aliança pela Agroecologia tem como objetivo promover intercâmbio entre organizações da América Latina tendo em vista a análise e a produção de estudos que avaliem como governo e sociedade civil nesses diferentes países vêm se organizando para criar políticas para a promoção da agroecologia. Aliança pela Agroecologia é um projeto cofinanciado pela União Europeia. Um evento de intercâmbio entre representantes das organizações destes países está programado para o Brasil em 2016.