Diário de Cuiabá, Domingo, 28 de setembro de 2008
http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=328264
OGM perde espaço em MT
Alto custo do glifosato e logística em favor das regiões oeste e noroeste do Estado fazem variedade retroceder na lavoura a cada safra. Tecnologia OGM que já foi vista como ‘salvação da lavoura’ se revela agora em MT, uma variedade cheia de ‘poréns’
MARCONDES MACIEL
Da Reportagem
Vedete das lavouras nas safras de 2004, 2005 e 2006, os transgênicos ou OGMs (organismos geneticamente modificados) começam a perder espaço para a soja convencional em Mato Grosso, principalmente na região oeste e noroeste, em lavouras localizadas em Campos de Júlio e Sapezal, por exemplo, onde a presença do grão OGM recua para cerca de 5% da área plantada. A elevação de até 70% nos preços do litro do glifosato – químico específico para este tipo de variedade – e a logística favorecida por meio dos portos de Itacoatiara e Santarém, fizeram com que os sojicultores retrocedessem no planejamento da cultura e optassem pela soja convencional, a isenta de trangenia.
Os portos que embarcam soja para Europa, localizados no Amazonas e Pará, respectivamente, só movimentam variedade convencional, obedecendo a exigência do seu mercado consumidor.
Por conta destes fatores, a soja geneticamente modificada vem sendo gradativamente substituída pela convencional, fenômeno que há dois anos não se observava em Mato Grosso. Hoje, apenas 5% do plantio na região oeste/noroeste são de soja transgênica. Nas regiões norte e leste, este percentual chega a 40% e, no sul, 75%.
“O produtor está fazendo as contas antes de plantar e está chegando à conclusão de que trabalhar com OGMs hoje sai muito caro”, aponta o diretor-executivo da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja), Marcelo Duarte Monteiro.
Aliada a este fator está a estratégia das tradings responsáveis pelo escoamento da produção das regiões oeste e noroeste de Mato Grosso – a Amaggi e a Cargill – que possuem um nicho de mercado bem pontual: o europeu, que via de regra, paga um pouco mais pela soja convencional a estas empresas exportadoras. Entretanto, o produtor não vê a cor do ‘dinheiro a mais’ pago pelos europeus. Quem ganha mesmo são as tradings, que criaram um sistema de escoamento próprio para o transporte da soja convencional. Normalmente, essas empresas não compram produtos OGMs para não misturá-los aos não-transgênicos (convencionais) e, assim, evitar a contaminação e o comprometimento da carga.
A via de escoamento, denominada “Corredor de Exportação Noroeste”, sai da região do Parecis por caminhão até Porto Velho (RO) e vai de balsa até ao porto de Itacoatiara, no Amazonas.
Os portos de Itacoatiara, da Amaggi, e Santarém, controlado pela Cargill, por exemplo, são exclusivos para o transporte de soja não-transgênica. Por isso, quem tem terra nas regiões oeste e noroeste de Mato Grosso acaba optando pelo plantio de não-transgênicos e vendendo para essas duas empresas, pela facilidade de escoamento.
Segundo dados da Aprosoja/MT, através desse corredor são transportados cerca de três milhões de toneladas por safra, para atender basicamente o mercado europeu, que tem preferência pela soja não-transgênica. Nesta transação, a trading recebe um ‘prêmio’ de US$ 60 a US$ 80 por tonelada, ‘faturamento extra’ de até US$ 240 milhões por safra. Mas o produtor não tem qualquer participação nesta diferença paga às empresas. Muito pelo contrário: se a soja for transgênica, o produtor é que tem de pagar um deságio de US$ 2 por saca às tradings.
A reportagem procurou a Cargill e a Amaggi, mas as tradings se negaram a dar informações, alegando ‘questões estratégicas’. A Amaggi, via assessoria de imprensa, informou que o presidente do grupo, Pedro Jacyr Bongiolo, “não gostaria de falar sobre este assunto, pois são informações estratégicas do Grupo que não podemos divulgar”.
FATORES – Para o presidente da Aprosoja/MT, Glauber Silveira, o cultivo de soja transgênica depende de três fatores básicos: preço do glifosato, variedades adaptadas à região e produtividade. “Os produtores estão colocando tudo isso na balança”, conta, apontando que a transgenia é vantagem do ponto de vista da operacionalidade, pois facilita o controle e manejo da lavoura. “Mas o problema é na hora de comprar o glifosato”.
Glauber informou que apesar do alto custo do glifosato, 40% da soja produzida em Mato Grosso é transgênico. “Mato Grosso ainda é um dos poucos estados que têm grande área de plantio de soja convencional. No Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, mais de 90% das áreas utilizam sementes transgênicas”.
Grandes produtores justificam opção que fizeram para a nova temporada
MARCONDES MACIEL
Da Reportagem
Alegando alto custo do glifosato e maior facilidade de escoamento pelos portos de Itacoatiara (AM) e Santarém (PA), os produtores das regiões oeste e noroeste mato-grossense já começam a substituir a soja transgênica e estão retornando ao plantio convencional.
Odenir Ortolan, com 5,5 mil hectares de soja na região oeste – Sapezal, Brasnorte, Campos de Júlio e Comodoro – optou este ano por plantar sua lavoura com 95% de sementes não-transgênicas.
“Estou reduzindo a cada ano a produção de soja OGM por dois motivos básicos: a facilidade de escoamento via portos de Itacoatiara e Santarém, que estão adaptados ao transporte de soja não-transgênica, e ao alto custo do glifosato”, esclarece Ortolan.
Segundo ele, em sua região 90% dos plantios são de soja convencional. “A redução dos OGMs vem caindo gradativamente, na medida em que se criam facilidade para escoamento da soja convencional e os custos dos transgênicos aumentam”.
O Grupo Scheffer, do megaprodutor Eliseu Maggi Scheffer, também irá cultivar este ano apenas 5% de soja transgênica nos municípios de Sapezal e Campos de Júlio. A mudança em relação à safra 2007/08 é notória: o grupo aumentará em 20% o plantio de não-transgênicos e, na mesma proporção, reduzirá o cultivo de OGMs. “No ano passado plantamos 75% de não-transgênicos e 25% de transgênicos. Este ano, o cultivo convencional ficará com 95% da área e os OGMs com apenas 5%”, informa um dos sócios do grupo, Guilherme Scheffer.
Scheffer adianta que se os preços do glifosato continuarem subindo, na próxima safra reduzirá ainda mais o cultivo de transgênicos. “A vantagem [do não-transgênico] é o sistema de escoamento. Por outro lado, o manejo dos transgênicos é bem mais fácil, sem contar que existem mais variedades disponíveis no mercado”.
Com 40 mil hectares nas regiões de Lucas do Rio Verde, Sorriso, Tapurah, Trivelato, Novo Mundo e Ipiranga do Norte, o produtor Orcival Guimarães fez uma drástica inversão do plantio das duas variedades – transgênica e convencional – na safra 2008/09. “Em 2007, 80% da nossa área foi de transgênicos e, 20%, convencional. Este ano resolvemos inverter estes percentuais: 20% apenas da área será de OGMs e, 80%, de não-transgênicos”.
A explicação para mudança é a de que não existem variedades adaptadas para a região e os custos do glifosato estão elevados. “Se levarmos em conta esses fatores, vamos chegar à conclusão de que é melhor hoje plantar a soja não-transgênica”, enfatiza o sojicultor. “É mais difícil, dá mais trabalho, mas é a melhor opção para o produtor, no momento”.
Guimarães faz uma ressalva: “O produtor tem de fazer conta antes de plantar, ver o que é melhor para ele e se preparar para o futuro, pois daqui a alguns anos esta tendência [cultivo de OGMs] será irreversível”.
EUROPA – Principal mercado comprador da soja convencional de Mato Grosso, a Europa tende cada vez mais a optar pelos alimentos não-transgênicos ou orgânicos. A verdade é que a soja OGM não é bem-aceita pelo consumidor daquele bloco econômico. Boa parte desse mercado aceitava soja transgênica mas, com a entrada em vigor da lei de rotulagem e de rastreabilidade imediata de transgênicos, e uso de código identificador único, até o mercado de farelo para ração de animais está optando por soja convencional em razão da ração precisar ser rotulada como contendo OGM (organismo geneticamente modificado) e a forte rejeição do público consumidor europeu contra os transgênicos se revelou.
“A verdade é que existem argumentos favoráveis ao cultivo dos transgênicos, mas também, existem razões para se defender a proteção de algumas áreas, em que os grãos seriam totalmente puros. O principal aspecto a ser considerado em favor dos alimentos modificados é o potencial de expansão da safra agrícola. Os grãos modificados têm maior resistência e necessitam de menos herbicidas, o que teoricamente barateia os custos de produção”, afirma o agrônomo Norimar Tironi.
Preço do glifosato dispara em 12 meses no Estado
Da Reportagem
O diretor-executivo da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja), Marcelo Duarte Monteiro, aponta o elevado preço do glifosato como um dos gargalos para a expansão da área de soja transgênica em Mato Grosso. O preço aumentou em até 70% da safra passada para este ano. Segundo ele, os produtores chegaram a comprar o litro do glifosato por R$ 5 na safra passada e, este ano, o produto está custando R$ 8.
“Para se ter uma idéia de quanto os preços do glifosato aumentaram, basta lembrar que atualmente os custos de um hectare de lavoura transgênica – US$ 950 – estão praticamente empatados com os da convencional”, observa Monteiro.
Ele complementa: “Fizemos as contas e constatamos que os prejuízos dos produtores com esta alta podem chegar a US$ 100 milhões nesta safra”, conta, lembrando que o herbicida é usado no plantio direto da soja em Mato Grosso, respondendo por 90% da área.
O glifosato é usado na agricultura em pulverizações para limpeza do terreno no pré-plantio, no manejo da vegetação em rotação de culturas, na dessecação na pré-colheita de cereais e para o controle geral das invasoras em cultivares. Segundo Marcelo Monteiro, o glifosato garante melhor produtividade e maior preservação do solo, daí a preferência dos produtores pelo uso do herbicida.
MONOPÓLIO – A Monsanto e a Nortox detêm 100% da produção nacional de glifosato ácido e 64% da produção de glifosato formulado na concentração de 36%. O glifosato ácido é a base de todas as formas comerciais de glifosato (sais e formulados, torta, pó e solução), que são produzidos por outras quatro empresas no país. (MM)
Transgênico dá prejuízo para produtores na safra 2008/09
Monsanto eleva em 16% valor da taxa sobre a semente e preço herbicida glifosato sobe 40%
DCI, 09/09/2008 | AGRONEGÓCIOS
Priscila Machado
SÃO PAULO – Enquanto os produtores de sementes convencionais irão trabalhar com aumentos moderados, e em algumas regiões até mesmo queda, no preço dos herbicidas na safra 2008/2009, os produtores de sementes geneticamente modificadas terão um aumento significativo nos custos de produção, puxado pelo incremento nos preços dos defensivos à base de glifosato. Segundo levantamento feito pelo Scot Consultoria, o preço da embalagem de 20 litros do Roundup, marca líder de mercado, aumentou de R$ 249,56 em agosto de 2007 para R$ 348,00 em agosto deste ano.
A última tabela com os custos de produção da safra 2008/2009 divulgada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) já mostra os efeitos da alta do produto no bolso do agricultor. Os cinco municípios avaliados pela estatal apresentaram aumento nos gastos com agrotóxicos.
"O preço dos defensivos ficou estável nessa safra, com exceção daqueles à base de glifosato. Como o produtor compra muito esse produto ele acabou puxando para cima o preço dos agrotóxicos como um todo", disse Asdrúbal Jacobina, gerente da gerencia de custo de produção Conab.
O Rio Grande do Sul é o maior estado produtor de soja transgênica. De acordo com a Agroconsult, na Região Sul, a presença de transgênicos foi verificada em 82,1% das amostras de soja. No Brasil, a prevalência de lavouras de soja transgênicas é de 59,1%.
O produtor de transgênicos também arca com um custo maior na aquisição de sementes já que são impedidos de multiplicá-las pela lei de patentes. Para essa safra, a Monsanto já anunciou que aumentará em 17% o royalty da soja transgênica. A cobrança da taxa passará de R$ 0,30 para R$ 0,35 por quilo, já os agricultores que plantarem soja modificada a partir de semente própria deverão repassar 2% do valor de sua colheita para a empresa. Só no Rio Grande do Sul a empresa deve recolher mais de R$ 100 milhões dos agricultores.
Em Cruz Alta (RS), o preço da semente (já com o custo do royalty incluído), subiu de R$ 69,95 para R$ 85,29 por hectare.
Sobre o custo do glifosato, a Monsanto esclarece que dois fatores são importantes na avaliação dos preços atuais dos herbicidas: o incremento do preço do petróleo, que interfere diretamente nas matérias-primas que compõem o produto, além do aumento da demanda global do produto. A empresa informou ainda que está investindo mais US$ 150 milhões na fábrica de Camaçari, na Bahia, unidade que produz a matéria-prima do glifosato, para atender à maior demanda do produto.
De acordo com Gabriel Fernandes, agrônomo da Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa (AS-PTA), o aumento na procura pelo por defensivo à base de glifosato não está ligado ao benefício do produto, mas sim à dependência. "Nos dois, três primeiros anos o uso de herbicida cai, mas depois a semente fica mais resistente e o produtor tem que aumentar volume de aplicação", afirmou.
Para Fernandes, o fato dos produtores de soja não encontrarem na prática os benefícios que as empresas tinham anunciado deve desestimular a expansão do milho transgênico que terá seu primeiro plantio na safra atual.
Acreditando na ampliação do nicho de mercado de sementes convencionais está sendo criada oficialmente hoje a Associação Brasileira dos Produtores de Grãos Não Geneticamente Modificados. A entidade reúne empresas como o grupo Maggi, Caramuru Alimentos, Imcopa e Brejeiro.
Fonte: DCI, 09/09/2008.
http://www.dci.com.br/noticia.asp?id_editoria=7&id_noticia=248448&editoria=
Mais herbicida, menos produtividade
Na mesma semana, o jornal Valor Econômico divulgou informações a respeito da previsão de crescimento da área com soja transgênica na próxima safra, estimada em 58% do total. Na reportagem, Lars Schobinger, presidente da consultoria responsável pela produção dos números afirma que é "o menor sucesso da soja transgênica na região do cerrado brasileiro que explica o ritmo menos acelerado no incremento da área com soja modificada nas duas últimas safras no país.
O interesse menor pelas variedades transgênicas nessa região está relacionado à produtividade. No cerrado, a soja convencional tem sido mais produtiva que a modificada. "O desafio das empresas é inserir os genes [de resistência ao herbicida glifosato] nas variedades mais produtivas. Isso não aconteceu até aqui", comenta. Schobinger afirma que já há sementes transgênicas mais adaptadas às microrregiões do cerrado. Contudo, elas "não são percebidas como as variedades mais produtivas".
Ele observa também que, diferentemente dos produtores dos Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, os da região Centro-Oeste do país são mais focados em produtividade que em custos. "No Sul, devido ao quadro de margens apertadas, o custo é o foco, mesmo que a produtividade seja menor", afirma. Outra razão para o menor entusiasmo em relação à soja transgênica (RR) resistente ao glifosato no Estados do cerrado é que na região o chamado "quadro" de ervas daninhas exige mais doses do herbicida (Roundup). Enquanto no Sul, são necessários dois litros por hectare, no cerrado são três litros.
A adoção da soja transgênica também foi mais rápida no Sul do país porque as variedades plantadas – no começo trazidas ilegalmente da Argentina – se adaptaram bem à região. Levantamento da Kleffmann referente à safra 2007/08 mostra que no Rio Grande do Sul, 100% da soja plantada foi transgênica. Em Santa Catarina, alcançou 88% da área. No Mato Grosso, maior produtor de soja do país, a área com sementes modificadas foi de 28% na safra que acaba de ser colhida e no Mato Grosso do Sul, de 75%. Apesar de estar no Sul do país, a adoção da soja transgênica também é mais lenta no Paraná porque no Estado existem materiais convencionais muito produtivos, segundo Schobinger.
A pesquisa mostra ainda que o plantio de soja modificada alcançou 25% na Bahia na safra passada. Na região do chamado Mapito, o plantio ficou em 23% a 24% no Maranhão e Piauí e em 40% no Tocantins. O levantamento revelou ainda que, em 2007/08, produtores que plantavam 71% da área de soja do Brasil já tinham uma parte de sua propriedade cultivada com transgênico. Com isso, o percentual de terras destinada à semente modificada ficou em 53%. Além disso, na safra 2007/08, a produtividade média da soja transgênica no país foi 5% menor (o equivalente a três sacas) que a do produto convencional.
Fonte: Valor Econômico, 08/09/2008.
Área com soja transgênica deve chegar a 58% do total
por Alda do Amaral Rocha