Car@s Amig@s,
A reportagem a seguir foi publicada esta semana no Caderno de Ciências do jornal Folha de São Paulo e revela a insatisfação de cientistas americanos que se vêem impedidos de exercer com liberdade e autonomia sua função. As pesquisas com sementes transgênicas devem ser autorizadas pelas empresas donas das patentes.
Em declaração conjunta enviada ao governo americano, eles afirmam que “Como resultado do acesso restrito, nenhuma pesquisa genuinamente independente pode ser conduzida legalmente (…). Conseqüentemente, os dados submetidos ao Painel Científico da Agência de Proteção Ambiental pelo setor público são indevidamente limitados”.
Por aqui, há na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio pesquisadores (poucos) com preocupações semelhantes e que há tempos criticam a pobreza e a falta de rigor dos dados que as empresas lhes fornecem quando solicitam a liberação comercial de uma semente transgênica. Seus pareceres, embora bastante fundamentados, são sistematicamente descartados pela CTNBio, que prefere se apoiar nos dados gerados pelas próprias empresas ou por aqueles que pesquisam se submetendo às suas regras.
No endereço abaixo é possível ter acesso aos questionamentos levantados por essa fatia minoritária da CTNBio:
https://www.aspta.org.br/monitoramento-da-ctnbio
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Folha de São Paulo | 21 de fevereiro de 2009
Empresas sabotam estudo de transgênicos, diz grupo
Monsanto, Syngenta e DuPont vetam uso de planta em pesquisa independente
Agricultores que compram sementes modificadas têm sido impedidos de fornecer amostras a cientistas, diz relatório enviado à agência
ANDREW POLLACK
DO "NEW YORK TIMES"
http://www.nytimes.com/2009/02/20/business/20crop.html?_r=2&emc=eta1
Empresas de biotecnologia estão impedindo cientistas independentes de pesquisar a eficácia e o impacto ambiental de plantações geneticamente modificadas, afirma um relatório encaminhado ao governo americano por um grupo de 26 pesquisadores de universidades.
“Nenhuma investigação independente pode ser conduzida de forma legal em muitas questões críticas”, escreveram os cientistas na declaração apresentada à EPA (Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos), que está recolhendo opiniões para pautar uma série de encontros científicos que realiza nesta semana sobre transgênicos.
A declaração vai provavelmente dar força aos críticos dessas plantações, como grupos ambientalistas que há muito queixam-se de que transgênicos não têm sido suficientemente estudados e que poderão ter consequências inesperadas à saúde e ao ambiente.
Os autores do novo manifesto, especialistas em insetos de milharais, não divulgaram seus nomes porque receavam ser cortados de pesquisas pelas empresas. Mas vários deles concordaram em dar entrevistas e ter seus nomes utilizados.
O problema, dizem os cientistas, é que os agricultores e outros compradores de sementes geneticamente modificadas têm de assinar um acordo para garantir que honrarão os direitos de patentes e os regulamentos ambientais. Mas os acordos também proíbem o cultivo das culturas para fins de pesquisa.
Permissão negada
Dessa forma, enquanto cientistas de universidades podem comprar livremente pesticidas ou sementes convencionais para suas pesquisas, não podem fazer o mesmo com sementes geneticamente modificadas.
Em vez disso, devem solicitar autorização das empresas de sementes. E, às vezes, a permissão é negada ou a empresa insiste em rever as conclusões antes de poderem ser publicadas, afirmam os pesquisadores.
Esses acordos são problemáticos há muito tempo, mas os cientistas disseram ter ido a público agora porque suas frustrações foram se acumulando.
“Se as empresas podem controlar a pesquisa, elas podem esconder possíveis problemas que apareceriam em qualquer estudo”, diz Ken Ostlie, professor da Universidade de Minnesota, um dos cientistas que assinaram a declaração.
O mais surpreendente é que os cientistas que fizeram o protesto – a maioria deles afiliados a universidades com grandes programas em agrociências – dizem não ser opositores do uso da biotecnologia.
Entretanto, dizem, a asfixia provocada pela indústria sobre as pesquisas faz com que eles não possam fornecer algumas informações para os agricultores sobre a melhor maneira de cultivar as lavouras.
E, afirmam, os dados fornecidos a órgãos reguladores do governo estão sendo “indevidamente limitados”. As empresas “têm o potencial de maquiar os dados, a informação que é submetida à EPA”, afirma o entomologista Elson J. Shields, da Universidade Cornell.
Licença interrompida
Os acordos da Syngenta com os agricultores não só proíbem a pesquisa em geral mas também dizem que um comprador de semente não pode comparar um produto da empresa com qualquer outra cultura rival.
Ostlie, conta que, ainda em 2007, tinha permissão de três empresas para comparar a maneira com que as variedades de milho resistentes a insetos se saíam contra uma larva de besouro que ataca a cultura.
Mas, em 2008, a Syngenta, uma das três empresas, retirou sua permissão, e seu estudo precisou parar. “A empresa decidiu que não era de seu interesse deixar que a pesquisa continuasse”, afirmou.
Chris DiFonzo, da Universidade Estadual de Michigan, disse que, quando conduz suas pesquisas em insetos, evita entrar em campos com culturas transgênicas porque sua presença faria com que os agricultores violassem os acordos e ficassem sujeitos a processo.
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Dois dias após, o mesmo caderno de Ciências da Folha de São Paulo publicou nota divulgando estudo de 2008 que confirma a contaminação por transgênicos do milho crioulo no México. O estudo de 2001 que originalmente furou o bloqueio descrito acima foi tão bombardeado pelo status quo científico que a Revista Nature chegou a se retratar por tê-lo publicado. Agora suas conclusões estão sendo aceitas.
Folha de São Paulo | 23 de fevereiro de 2009
ESTUDO VÊ TRANSGENES EM MILHO SELVAGEM
Um estudo indica que pólen de milho transgênico está contaminando variedades tradicionais (“crioulas”) da planta no México. Elena Álvarez-Buylla, da Universidade Nacional Autônoma do México, detectou 1% de transgenes em 2000 amostras de milho da região de Oaxaca. O lugar é o mesmo onde em 2001 os biólogos David Quist e Ignacio Chapela notaram a contaminação.
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O estudo de Alvarez-Buylla e colaboradores foi publicado em dezembro passado na revista Molecular Ecology e teve sua divulgação antecipada pela Nature.