A mídia deu destaque a um documento divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pelo qual os transgênicos no mercado não acarretam riscos. Mas o documento também afirma: (1) "é necessário uma base de evidências para facilitar avaliações mais coerentes"; (2) "as controvérsias foram alimentadas por avaliações conflitantes e evidências incompletas"; (3) "ênfase deve ser dada a avaliações de risco que considerem efeitos intencionais e não intencionais"; (4) "resultados contraditórios podem refletir diferentes condições regionais ou agrícolas"; (5) "os riscos (…) devem ser avaliados caso a caso, levando em conta características dos organismos e dos alimentos GM (geneticamente modificado) e de diferenças nos ambientes receptores".
Estas recomendações estão longe de dar carta-branca à liberação indiscriminada dos transgênicos, como vem fazendo a CTN-Bio. E o estudo da OMS merece reparos quanto fala de inocuidade. A comissão externa contratada foi composta por técnicos de quatro entidades vinculadas às empresas de biotecnologia, um à OCDE, um da FAO e um que parece ser crítico à liberação dos OGMs (organismos geneticamente modificados). As quatro primeiras liberaram os transgênicos sem exigir outras provas que não as limitadas e incompletas pesquisas das empresas. É bom lembrar que há pouco tempo foi divulgado um estudo secreto da Monsanto apontando sérios problemas com ratos alimentados com milho transgênico.
O estudo da OMS cita 287 documentos consultados, mas sem indicar quais apresentam pesquisas divulgadas em revistas científicas. É questão-chave, pois a OMS não faz pesquisas próprias. O estudo afirma que é difícil avaliar os riscos e que é necessário pesquisar mais. Nossa imprensa deveria estudar de forma crítica o relatório, antes de repetir suas conclusões por se tratar de entidade supostamente isenta.
JEAN MARC VON DER WEID, economista, é coordenador de políticas públicas da AS-PTA.