O evento, que já está em sua quarta edição, espera reunir no município de Lagoa Seca mais de 250 participantes, sendo a maioria de agricultores e agricultoras de todas as microrregiões do estado (Litoral, Borborema, Cariris, Agreste, Curimataú, Médio e Alto Sertão). Promovido pela Articulação do Semiárido Paraibano (ASA Paraíba), o encontro é parte do processo preparatório para o VII Encontro Nacional da Articulação no Semiárido (EnconASA), que ocorrerá em Juazeiro, Bahia, entre os dias 16 e 20 do mesmo mês.
Diante da grave crise socioambiental que afeta o conjunto da sociedade, torna-se evidente que a sua superação exige profundas mudanças no rumo do desenvolvimento do País, especialmente no que se refere à produção de alimentos para atender as demandas de uma população em franco crescimento. Ganha relevância, portanto, apontar os diferentes caminhos trilhados pelas famílias agricultoras, cujo papel têm se mostrado fundamental não só para a produção de alimentos, como também para a geração de empregos e de riquezas, como atestam os dados do último Censo Agropecuário, amplamente divulgado.
Nessa perspectiva, o EPA representa uma grande oportunidade para debate e análise sobre os mais diversos temas de interesse das famílias agricultoras, suas organizações, entidades assessoras, assim como para outros setores da sociedade, tais como centros de pesquisa, universidades e instituições públicas de desenvolvimento.
O objetivo é proporcionar um ambiente favorável para o intercâmbio de experiências, estimulando a reflexão sobre as diferentes trajetórias de transformação da agricultura familiar na Paraíba. Nesse sentido, o encontro buscará avaliar não só as experiências que exibem maior diversidade produtiva e menor emprego de insumos externos, mas também as iniciativas de famílias que, por uma ou outra razão, optaram pela especialização produtiva, invariavelmente recorrendo à aplicação de agrotóxicos ou de outros tipos de agroquímicos. Por meio da apresentação de estudos de caso que ilustrem cada microrregião, a ideia é comparar o desempenho, mas, sobretudo, o grau de sustentabilidade das diversas estratégias de inovação encontradas no semiárido paraibano.
Segundo Luciano Silveira, da AS-PTA e um dos coordenadores do EPA: Queremos identificar qual dos modelos de produção apresenta maior grau de sustentabilidade e adequação para o contexto da agricultura familiar do semiárido. Até hoje, o que temos percebido é que sistemas familiares que se especializaram em certas culturas ou criações, os chamados agronegocinhos, têm se mostrado mais vulneráveis às oscilações do mercado e cada vez mais dependentes da aquisição de insumos e equipamentos agroindustriais. Já os sistemas mais diversificados, de base agroecológica, que buscam reproduzir as funções naturais dos ecossistemas, têm proporcionado maiores níveis de autonomia para as famílias agricultoras.
A partir desse exercício de mapeamento e diagnóstico da agricultura familiar da Paraíba, o EPA busca dar destaque à contribuição que a Agroecologia vem prestando para que a mudança de rumo no modelo de desenvolvimento rural se concretize. Ao longo de sua atuação, a ASA Paraíba vem documentando e sistematizando um importante conjunto de experiências agroecológicas por todo o estado. E é esse acúmulo que deverá ser apreciado, socializado e, principalmente, apropriado pelos agricultores e agricultoras e suas organizações, de modo a sedimentar os aprendizados dele decorrentes.
Esse processo de apropriação deverá ocorrer por meio do intenso intercâmbio de experiências das diferentes microrregiões a partir de diversos eixos temáticos: acesso a terra, acesso a água, sementes, criação animal, saúde e alimentação, acesso aos mercados, finanças solidárias, entre outros. A proposta é tentar construir uma síntese coletiva acerca dos projetos em disputa e apontar caminhos para a promoção da agricultura familiar em bases agroecológicas.
As políticas públicas incidentes sobre a agricultura familiar serão outro foco de discussão e avaliação. O objetivo é analisar o seu impacto tanto no Brasil como no semiárido. As seguintes questões deverão orientar o debate: Que políticas favorecem a agricultura familiar camponesa? Que políticas favorecem a agricultura familiar empresarial?
Finalmente, o EPA tem como objetivo resgatar e revalorizar o conceito de campesinato para designar as formas de agricultura que, na contracorrente do modelo hegemônico de desenvolvimento e apesar de terem sido muitas vezes condenadas ao desaparecimento, têm conseguido afirmar sua identidade, seu modo de vida, assentado em relações de solidariedade, reciprocidade e harmonia com a natureza.
Fortalecer a agricultura familiar camponesa é repudiar o papel secundário na produção agrícola relegado às famílias agricultoras, é reconhecer a sua importância e seus direitos. Enfim, é celebrar a luta em defesa de melhor qualidade de vida para o campo e, consequentemente, para toda a sociedade, que terá acesso a alimentos saudáveis, livres de agrotóxicos e transgênicos, conclui Luciano (AS-PTA).
Data: 5 e 6 de novembro
Local: Convento Ipuarana, município de Lagoa Seca (PB)
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