Emanoel Dias, da AS-PTA, explicou que essa seria uma oportunidade para, junto com as famílias, identificar as problemáticas ambientais dos lotes, assim como conhecer as ações que já são desenvolvidas pelos agricultores para a melhoria da qualidade de vida e do meio ambiente. Após o diagnóstico, será feito o planejamento coletivo para incrementar a diversificação com espécies arbóreas, frutíferas e forrageiras dos arredores das casas, como também o lote como um todo.
Inicialmente, os agricultores foram questionados sobre como era a realidade do assentamento antes do processo de ocupação em relação à questão ambiental. Paulo e Nivaldo, hoje assentados, mas que sempre trabalharam para um severo patrão, contaram que até 1985 a propriedade era bastante arborizada, com presença de angico, baraúna, aroeira, pereiro, juazeiro, entre outras. Porém, na época o fazendeiro quis derrubar a mata e convidava os agricultores a realizar o desmatamento.
Segundo Paulo: O fazendeiro arredanva a terra por dois anos para fazer o desmatamento e, depois de feito, ele cercava e plantava capim para o pasto do gado. A finalidade maior do fazendeiro era desmatar para criar. Só trabalhei três anos fazendo o desmatamento, mas meus companheiros continuaram. Cortaram muita baraúna, pereiro e angico.
Nivaldo complementou: Antes do desmatamento, a gente colhia 40 sacos de feijão. Hoje não tiramos nem a metade. Na época, havia roçado de milho e fava, sendo que a palha ficava para o fazendeiro e nós não podíamos criar nada.
Eles contaram ainda que os cerca de 100 agricultores que trabalhavam naquela fazenda foram coagidos a trabalhar dois dias de graça para o fazendeiro. Só foi com a desapropriação das terras em 1999 que a situação mudou.
Hoje somos donos de nossa terra e trabalhamos para nós mesmos, lembrou Ronaldo.
Quanto ao trabalho das mulheres, os relatos apontam que elas não tinham permissão nem chance de criar galinhas ou outros animais. Também não podiam tirar lenha sem autorização do capataz.
Se ele ficasse sabendo, mandava bater nas pessoas, desabafou dona Isaura. Os trabalhos eram somente em casa. Tínhamos muita vontade de pelo menos plantar no arredor de casa, mas os patrões não deixavam, completou.
Segundo os agricultores, o asssentamento das famílias trouxe liberdade para as famílias realizarem seus sonhos, uma vez que a partir de então sabiam onde poderiam trabalhar e tinham garantia de poder criar animais. A oportunidade de possuir uma terra devolveu às famílias agricultoras a capacidade de inovar e criar estratégias de convivência, mesmo numa realidade adversa. Com o passar do tempo, as famílias diminuíram as queimadas e aumentaram a diversificação dos roçados, com plantio de algodão, de mudas de gliricídia, sabiá, leusena, nim, graviola, cajú, pau d’arco, palma forrageira, etc.
Após a conversa sobre as mudanças ocorridas com a criação dos assentamentos, os visitantes foram conhecer as ações de experimentação nas propriedades dos agricultores. Foi visitado o pomar de Severino, o arredor de casa de Paulo e o bosque de sabiá e a plantação de gliricídia de Ronaldo.
Muitas práticas conduzidas pelas famílias agricultoras chamaram a atenção, entre elas:
● A economia da água obtida por meio do uso de cobertura morta, que retém a chuva e protege o solo do vento;
● O manejo correto da sabiá em relação à poda;
● A produção de estacas para cercar as propriedades;
● A melhoria de qualidade de vida em função da grande quantidade de espécies cultivadas num pequeno espaço no arredor de casa;
● A preocupação com o conforto dos animais e da família a partir da manutenção de árvores para gerar sombra;
● A produtividade das lavouras no solo com adubação orgânica das folhagens;
● As hortaliças no arredor de casa;
● A manutenção das árvores que agem como quebra vento e ao mesmo tempo fortalecem os solos e conservam a umidade;
● O conhecimento de novas plantas;
● A produção de alimentos sem venenos;
● O armazenamento de forragens;
● A recuperação do meio ambiente.
Quando perguntados sobre o que os incentivou a adotarem essas práticas agroecologicas em suas propriedades, eis o que os agricultores responderam.
Paulo: Pensei em fazer tudo isso para ter um quebra vento, pois não tinha também nenhum tipo. Me preocupei também com a segurança alimentar da minha família, não só da minha família, como também a dos animais. Serviu como armazenamento de forragens e sombras para eles, tendo o conforto e também preocupado com o meio ambiente. Tenho feito alguns cálculos de custo de produção e cheguei à conclusão de que deixei de gastar no comércio aproximadamente R$ 100, pois o que deixei de comprar tenho plantado no arredor da minha casa e no lote.
Ronaldo: Sempre fui preocupado com a questão do meio ambiente e o que fiz foi pela necessidade da natureza que estava precisando, pensava em fazer também um sistema de agrofloresta.
Ao final do dia, foi feito o planejamento de plantio de mudas. As mudas de quixaba, cumaru, favela, caraibeira, gliricídia, sabiá, nim, caju, tamarindo, seriguela, graviola, manga e mais de 4 mil estacas de gliricídia foram distribuídas para todas as famílias. Além dos arredores de casa, as plantas servirão para compor cercas vivas e bosques.
A mensagem que marcou o evento foi passada pelo Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Remígio, Euzébio Calvacante: Temos que viver de forma solidária, não pensar só no dinheiro, mas na forma em que iremos ajudar nossos vizinhos e mostrar à natureza que temos uma responsabilidade com ela. Não só pensar no mercado, se podemos ter nossas verduras, galinhas e outras culturas que vão ajudar muito na melhoria de vida da família.
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