Para Emanoel Dias, da AS-PTA: Essa é uma oportunidade de fortalecer as experiências que temos e continuar na luta para a estruturação de uma estratégia em rede, a partir de práticas sustentáveis e interesses comuns pela conservação dos recursos existente na região.
No dia 9 de setembro, foi realizada em Lagoa Seca uma reunião com representantes da Rede de Viveiros da Borborema, que se encontra em processo de formação continuada. Entre as experiências já em andamento, estão: as das comunidades Cachoeira de Pedra D’água (Massaranduba), Timbaúba (Esperança) e Videl (Solânea); as dos assentamentos Engenho Geraldo (Alagoa Nova) e Oziel Pereira (Remígio); a da AS-PTA e do Campus Bananeiras da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Na ocasião, cada representante relatou a situação atual de seu viveiro de modo a socializar as diferentes formas de manejo. No primeiro semestre, foram realizadas outras reuniões com esse grupo de comunidades e, desde então, todas receberam um conjunto de materiais e insumos que pretende garantir uma produção de mudas para serem distribuídas nas comunidades no ano de 2011.
Algumas iniciativas já têm conseguido abarcar um número considerável de adesões, como é o caso do Assentamento Engenho Geraldo, que começou a produção de mudas num terreno abandonado. Por meio dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais (STRs), o assentamento estabeleceu uma parceria com diversos municípios – Alagoa Nova, Lagoa Seca, Lagoa de Roça –, envolvendo um conjunto de comunidades rurais que acreditam na rearborização e na função das árvores para amenizar os impactos ambientais. O assentamento também vem apostando na montagem de uma estufa para garantir uma produção permanente de mudas. Com o apoio do Projeto Agroecologia da Borborema, o viveiro está quase pronto, e a expectativa é já começar a produzir mudas de laranja, graviola, nim, sabiá, abacate, mamão, limão e manga.
O Assentamento Oziel Pereira, em Remígio, é outro exemplo da importância de atividades que visem a qualidade ambiental das áreas agrícolas. Segundo os agricultores, o assentamento foi entregue muito desmatado pelo antigo dono, o que motivou as famílias a estruturarem o viveiro. Apesar da triste lembrança, hoje é possível observar nas propriedades e nos arredores das casas uma grande diversidade de árvores: sabiá, gliricídia, leucena, nim, caju, pinha, acerola, e outras nativas nos lotes, como mandacaru, pereiro, angico, aroeira, caraibeira e cumaru.
Nesse segundo semestre pretendemos produzir mudas para serem levadas ao campo em 2011, sobretudo de espécies forrageiras e nativas. Hoje o viveiro é uma ação comunitária e não vamos parar. A prova disso é que passamos dois anos sem apoio de nenhum projeto! A oportunidade de adquirir novos materiais pelo Projeto Agroecologia na Borborema nos permitirá aumentar e qualificar nossa ação, afirmou Ronaldo, representante do assentamento.
Embora ainda não tenha finalizado a estruturação do viveiro, a comunidade de Timbaúba já conseguiu produzir 600 mudas para as comunidades e as escolas no município. As famílias o chamam de Projeto Timbaúba Verde. A atividade tem despertado o interesse de crianças e jovens que têm inclusive levado mudas para plantar nas comunidades.
A AS-PTA, instituição que assessora diversas comunidades da região, sobretudo por meio da articulação com o Polo da Borborema, também tem conduzido um viveiro no Centro Agroecológico São Miguel. Hoje é possível encontrar um conjunto diversificado de variedades produzidas, entre elas, espécies florestais nativas (sabiá, ipê, pereiro, umbuzeiro, mandacaru, jucá, macaíba, ingá, favela, jenipapo, catingueira, etc.); espécies florestais nativas ameaçadas de extinção (aroeira e baraúna); espécies frutíferas nativas e naturalizadas (manga, caju, tamarindo, jaca, mamão, umbuzeiro, ubaia, pinha, limão); e espécies florestais exóticas (nim, gliricidia, leucena, atriplex, moringa). Com o apoio do Projeto Agroecologia na Borborema, espera-se ampliar ainda mais essa capacidade de produção de mudas que são distribuídas a comunidades da Borborema e, eventualmente, outras regiões da Paraíba.
Já a experiência do viveiro da UFPB Bananeiras, embora não seja nova, será reforçada pela parceria com o Projeto Agroecologia na Borborema. A distribuição das mudas acontece em algumas comunidades próximas ao Campus e articuladas na ação do trabalho junto ao Polo da Borborema. A expectativa é que os estudantes possam realizar atividades práticas ao levar as mudas para comunidades ou mesmo ajudando na produção do viveiro.
A partir desses relatos, torna-se evidente a relevância dessa ação conjunta para as famílias agricultoras. Multiplicar mudas numa perspectiva agroecológica se traduz num ato de zelo com o meio ambiente, resultado de tarefas complexas e conhecimento aprofundado sobre como coletar, selecionar, entender a lógica e o comportamento de cada espécie, adubar com produtos naturais, controlar pragas e doenças. Essa não é uma ação fácil, ela exige de cada pessoa envolvida dedicação, organização e comprometimento para garantir um trabalho sustentável e duradouro. Construir um planejamento para intensificar a produção das mudas e pensar a continuidade do processo de formação da Rede de Viveiros da Borborema, portanto, são duas tarefas que visam fomentar esse movimento de articulação regional em busca da tão almejada sustentabilidade socioambiental.
A partir da estruturação das experiências dos viveiros de mudas estamos conseguindo aumentar ainda mais nossa contribuição para melhoria da qualidade ambiental. Talvez esses impactos não sejam sentidos agora, mas tenho certeza que as futuras gerações irão agradecer pelo que muitos agricultores e agricultoras estão fazendo hoje, resume Nequinho, do STR de Alagoa Nova.
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