Para tanto, foram estabelecidas parcerias com escolas, professores, catequistas e associações comunitárias que contribuem ativamente na construção dos conteúdos e das metodologias que darão continuidade à reflexão depois do mutirão.
Todos os anos, os mutirões são planejados de forma a trabalhar conteúdos que tratam da educação ambiental e da valorização da agricultura familiar agroecológica. No primeiro semestre deste ano, o tema eleito foi o papel das árvores para a agricultura familiar. Para tanto, foi realizado um levantamento das principais árvores de cada microrregião do território do Polo da Borborema, reconhecendo sua utilidade e valores culturais. Um ponto chave para se tratar esse tema com as crianças foi o resgate das brincadeiras com elementos da natureza nos arredores de casa. Na oportunidade do primeiro mutirão, foram distribuídas mais de 3.500 mudas de árvores nativas e adaptadas com o patrocínio do Projeto Agroecologia na Borborema.
Como aprofundamento neste segundo semestre, estão sendo estimuladas reflexões sobre a relação das árvores com a água na natureza. Para esse exercício foram planejados dois momentos: um primeiro, com as crianças, que reconstituem a organização de seu arredor de casa montando uma maquete e a partir daí analisam em grupo os diferentes tipos de água que abastecem suas famílias e quais são seus usos. A água da cisterna, captada da chuva, é utilizada para cozinhar e beber. Já a água dos barreiros e das cacimbas serve para lavar roupa, lavar louça, tomar banho e dar aos animais. É também um importante momento para entender qual o caminho que a água percorre nesse ambiente, suas formas de armazenamento e as possíveis maneiras de reutilizar a água que lavou a louça ou a do banho, por exemplo.
Um segundo momento é direcionado aos jovens. São realizados passeios pelas comunidades para observar as fontes e os reservatórios de água presentes. Em cada comunidade, sempre é convidado um conhecedor(a), liderança da região que anima a reflexão com o grupo. Durante o passeio são observados olhos d’água, cacimbas, barreiros, tanques de pedra, barragens subterrâneas, pequenas barragens, cisternas de placas, poços, etc. Debate-se qual a utilidade e a duração de cada tipo de água e a presença ou ausência de árvores perto das fontes. O passeio culmina com a construção de um mapa do caminho das águas da comunidade. No mapa ainda são localizados pontos de referência como capelas, escolas, associações, estradas, casa de cada pessoa que participou do debate, os tipos de fontes e reservatórios, as pequenas reservas de mata, etc.
Eu nunca tinha feito um mapa, foi a primeira vez. E não sabia também que aqui tinha tanta coisa boa, só no mapa é que vi que aqui tinha tantos olho d’água e que eles não estão sendo cuidados como deve ser, disse Daniel Pereira Gomes, 11 anos, da comunidade Sítio Fragoso, Solânea.
No final de cada um dos mutirões, acontece o momento mais esperado: o teatro de marionetes, que é a oportunidade para a socialização dos trabalhos realizados tanto com as crianças como com os jovens.
Os jovens ficam com a responsabilidade de continuar construindo o mapa em suas comunidades, acrescentando mais elementos importantes e com a missão de resgatar um pouco da história comunitária. As maquetes produzidas pelas crianças ficam nas escolas para que durante as aulas possam fazer parte das atividades dos programas curriculares, valorizando assim a realidade das crianças e sua importância na construção do conhecimento do lugar onde vivem. Entre os meses de outubro e novembro já aconteceram 21 mutirões envolvendo, em média, 2.000 crianças, jovens e adolescentes.
Para Socorro Melo, professora da comunidade de Lajedo, Alagoa Nova: Os mutirões têm feito a gente refletir sobre os conteúdos que realmente são relevantes para a vida dos nossos alunos. Antes a gente sentia que faltava alguma coisa nas nossas aulas, com os mutirões vimos que precisávamos de novas formas de abordar alguns temas e os temas do mutirão têm sido levantados nos planejamentos da escola, têm sido incluídos no currículo da escola.
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