Na Borborema, 104 famílias agricultoras de 43 comunidades de sete municípios (Remígio, Areial, Lagoa Seca, Esperança, Montadas, São Sebastião de Lagoa de Roça e Alagoa Nova), estão reconstruindo a história da cultura da batatinha na região. O processo de revitalização da batata agroecológica na Borborema se dá numa nova conjuntura que busca a produção de alimentos saudáveis e em harmonia com o meio ambiente, sem o uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos. Ou seja, o cultivo da batatinha se dá em novo momento que busca valorizar as condições da agricultura familiar e as estratégias locais de melhoria da fertilidade dos solos.
Esse fato é relevante, pois o estímulo ao plantio da batata na região teve início nas décadas de 70 e 80, quando os incentivos governamentais eram condicionados à monocultura e a compra de sementes melhoradas, além de uso dos agrotóxicos e fertilizantes químicos. Isso gerava uma enorme dependência e o consequente endividamento das famílias agricultoras, além da contaminação do meio ambiente. Os pacotes utilizados na época, tornavam o cultivo muito mais caro, e em muitos casos, inviável para os agricultores, fazendo com que as famílias abandonassem a cultura. Além disso, nos últimos anos observou-se um verdadeiro abandono por parte do governo estadual, culminando no fechamento da câmara frigorífica, fato que contribuiu para perda de algumas das poucas variedades cultivadas a partir da resistência de algumas famílias agricultoras.
Em 2011, as famílias do Território da Borborema participaram de um intenso processo de formação para resgatar e fortalecer a cultura da batatinha, agora em base agroecológica. Foram realizados cursos de formação para produção de batata semente adaptada a realidade da agricultura familiar, oficinas de produção de biofertilizantes, oficinas sobre regeneração da fertilidade do solo e debates sobre a importância econômica da cultura da batatinha agroecológica na região. Os agricultores já comemoram os primeiros frutos da nova forma de produzir. Seu José Irenaldo é um deles, que há quatro anos está produzindo batatinha no Sítio Olho D’água de Punho, no município de Remígio. Em 2011, está colhendo a batata Cartucha, uma das quatro variedades compradas do estado de Santa Catarina pela Secretaria Executiva de Agricultura Familiar do Governo do Estado no início desse ano.
Segundo Irenaldo, no passado o uso dos agrotóxicos empobrecia o solo e prejudicava a produção. “O veneno não mata só a praga, mas todo tipo de vida que existe na terra, então a batata não vinga depois de um certo tempo”, explica o agricultor, que planta batata em consórcio com mais de 20 tipos de hortaliças e verduras. Em Julho 2011, Irenaldo recebeu 06 caixas de batata semente e colheu 40 caixas de batatinha, iniciou a comercialização na Feira Agroecológica e na Feira Livre de Remígio. Metade dessa produção será armazenada na câmara frigorífica para o novo plantio.
Já o agricultor Robson Gertrudes da Comunidade de Retiro, no município de Lagoa Seca, plantou 40 caixas (1.200 kg) da variedade Cristal, e foi tão bem sucedido que já vendeu 120 caixas (3.600 kg) da sua produção para a empresa paranaense Rio Una Alimentos. Além de comercializar aproximadamente 60 caixas (1.800 kg) na Feiras agroecológica de Lagoa Seca e ainda armazenar 70 caixas (2.700 kg) na câmara frigorífica para o novo plantio.
A reabertura da Câmara Frigorífica foi outra conquista importante, após uma revisão na sua estrutura de refrigeração, as famílias estão armazenando batata sementes para plantio na próxima safra. Essa medida é fundamental para garantir autonomia dos agricultores e das agricultoras no armazenamento do material genético. Até o momento 80 famílias de 06 municípios armazenaram 1200 caixas de batata sementes. Esse número ainda pode aumentar à medida que as colheitas dos campos vão sendo finalizadas.
O trabalho de formação e de incentivo para a revitalização do cultivo da batatinha na região é coordenado pelo Polo da Borborema, AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, Secretaria Executiva de Agricultura Familiar do Estado, a Embrapa, a Emater, o Banco do Nordeste (BNB) e outras organizações que compõem o Território da Borborema. Essas organizações estão articuladas através de uma Comissão Territorial que vem acompanhando todo o processo de revitalização da batata agroecológica. O objetivo é construir uma abordagem participativa em todo o processo de negociação política no trabalho, fortalecendo a formação das famílias agricultoras, produção, comercialização e planejamento das próximas etapas do trabalho, inclusive repensando como adquirir outras variedades de batata importante para região da Borborema. A iniciativa conta com o apoio do Projeto Terra Forte, realizado pela AS-PTA com o co-financiamento da União Europeia e da agência de cooperação ICCO.