A chegada das chuvas na Paraíba alimenta a esperança das famílias e fortalece as estratégias de produção da batata agroecológica nos 16 municípios que fazem do Polo da Borborema. Desde 2010, os agricultores da região vêm experimento novas variedades de batata, cultivadas sem uso de adubos químicos ou agrotóxicos.
Introduzida na região do agreste paraibano na década de 1930, a batata inglesa teve sua produção ampliada nas décadas de 70 e 80 por meio de incentivos governamentais condicionados à monocultura e a compra de sementes melhoradas, além de uso dos agrotóxicos e fertilizantes químicos.
“Quando a gente fazia empréstimo no banco já vinha o dinheiro para cada coisa. Tinha o dinheiro para o estrume, para o adubo e o derradeiro era para os venenos. A gente tinha que levar a nota fiscal dos venenos para receber os empréstimos. Os técnicos vinham aqui e diziam que tinha que colocar tal veneno para matar tal praga”, relembra o agricultor Tarcísio Vieira.
Nascido e criado no Sítio Cambucá, município de Lagoa de Roça-PB, onde mora com a esposa e dois filhos, o agricultor cultiva batata desde os 13 anos. Recorda que com os empréstimos para os fertilizantes químicos e agrotóxicos viu muita gente endividada. “Eu mesmo tive que me desfazer de três vacas e um touro para pagar um empréstimo. Ninguém aguentava a inflação. Então, eu me abusei de banco e nunca mais quis saber empréstimo para plantar nada”, destaca Tarcísio.
Assim como ele, muitos agricultores foram desencorajados a pegar novos empréstimos para financiar as plantações. Sem reservas para custear as lavouras, a batata foi substituída por novas culturas. Mas com a possibilidade de cultivar a batatinha de forma ecológica, os campos, que antes vinham sendo ocupados apenas por milho e feijão, voltaram a ser recobertos com o verde escuro das folhas do tubérculo.
“Em 2011, a produção de batatinha agroecológica foi muito boa. Eu mesmo plantei oito caixas da batata Elisa e lucrei 80 caixas, com 30 quilos cada. Uma batata de excelente qualidade usando apenas esterco do gado e biofertilizante. Para combater os fungos, que dão o queima da folha, usei somente calda bordalesa, que fizemos aqui em casa numa oficina realizada para uns 10 agricultores do município”, explica Vieira.
Em 2012, 88 famílias paraibanas, residentes nos municípios de Montadas, Areial, Esperança, Remígio, Lagoa de Roça, Lagoa Seca e Puxinanã plantaram mais de 1200 caixas de sementes que estavam armazenadas no frigorífico em Esperança, outra conquista do grupo de bataticultores. A organização dos agricultores fez com que adaptassem a estrutura para a realidade da agricultura familiar.
A nova forma de plantar e cuidar dos roçados agroecológicos articula as atividades da Comissão Territorial responsável pela condução desse trabalho de revitalização da batatinha na região. A comissão é composta por um conjunto de entidades parceiras como o Polo da Borborema, a EcoBorborema, a AS-PTA, a Secretaria Estadual da Agricultura Familiar, a Embrapa, a Emater e o Banco do Nordeste do Brasil (BNB).
O empoderamento das famílias agricultoras
Para Ailton Guilhermino Dias, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lagoa de Roça-PB, o mais importante é o empoderamento dos agricultores neste processo. As oficinas para produção de biofertilizante e a calda bordalesa, tem ampliado o saber-fazer dos agricultores e diminuído a dependência dos produtores em relação à indústria de agrotóxico, tornando-os autônomos. Hoje as famílias já reconhecem a produção dos biofertilizantes, como atividade fundamental para melhoria da qualidade das plantas e dos solos, recompensando em aumentos da produtividade.
“Não tem como comparar um produto natural, feito pelo próprio produtor que está respeitando o meio ambiente, preservando a terra. Nós do Sindicato ficamos muito satisfeitos em saber que o agricultor está produzindo sem veneno. Outro ponto que merece destaque é que a maioria dos produtos que formam o biofertilizante é retirada da propriedade do agricultor. Mas, o mais importante é que essa experiência está sendo repassada de agricultor para agricultor”, destaca Ailton.
De acordo com Emanoel Dias, assessor técnico da AS-PTA, as famílias estão apostando na produção agroecológica, que valoriza o saber das famílias, que respeita a saúde dos solos e das famílias produtoras, que não contamina os ecossistemas. “O cultivo da batatinha agroecológica da Borborema vem sendo articulado de forma bastante participativa, por meio da realização de ensaios de competição, debates sobre a importância econômica da cultura, as oficinas de produção de biofertilizante e do manejo ecológicos dos solos”, enfatiza Dias.
Essas atividades têm o apoio do Projeto Terra Forte, realizado pela AS-PTA e cofinanciado pela ICCO e pela União Europeia.
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