Um grupo de agricultores, técnicos e pesquisadores do Programa Asociación País (CPP sigla em inglês para Country Partnership Program) do Governo Cubano visitou a Paraíba entre os dias 26 e 30 de novembro para conhecer experiências de combate à desertificação e de convivência com o semiárido desenvolvidas pela Articulação no Semi-Árido (ASA).
A visita, que contou com a parceria do Instituto do Semiárido (Insa), é um desdobramento de um ciclo de intercâmbios entre a ASA e o Governo Cubano para a troca de experiências de desenvolvimento rural referentes à gestão dos recursos hídricos, manejo integrado das criações animais, manejo da fertilidade do solo e a produção de alimentos. O Programa Asociación País busca desenvolver capacidades e condições em Cuba para o manejo sustentável da terra de forma que contribua com a manutenção da produtividade e funcionalidade dos ecossistemas. A delegação de cubanos, formada por seis pessoas, são representantes de duas regiões extremas da ilha de Cuba: Região do Rio Pinas e Zona Costeira de Maisí-Guantánamo. Ambas regiões apresentam problemas severos de degradação da terra, assim como sofrem eventos climáticos extremos. Na primeira, tem-se alternância de períodos secos e chuvosos, mas na segunda vive-se uma seca crônica.
Foi para intercambiar conhecimentos que a delegação visitou comunidades rurais e experiências de famílias agricultoras na região de atuação do Coletivo das Organizações da Agricultura Familiar do Cariri, Seridó e Curimataú, na região do Cariri Ocidental e na região do Polo da Borborema. O grupo também teve a oportunidade de apresentar suas experiências manejo sustentável da terra e luta contra a desertificação e da seca em um dia de programação na sede do INSA.
De acordo com Marta Paula Ricardo Calzadilla, da Unidade de Coordenação Central do CPP, que liderou a visita, a equipe ficou sabendo do trabalho da ASA quando participou, em 2011, de um encontro do “Projeto Palma”, em Havana. Naquele momento um grupo da ASA Paraíba havia ido a Cuba conhecer a experiência cubana com a promoção da segurança e soberania alimentar e apresentar suas experiências: “aí conhecemos o semiárido brasileiro e como se trabalhava aqui em função da sobrevivência com o semiárido. Nossa coordenação de projetos, que trabalha para um manejo sustentável do solo, fez contato com a ASA para que pudéssemos vir trocar experiências”, disse Marta Paula. “Ficamos surpresos como se preparam para conviver com a falta de chuvas, em Cuba temos muitos bons agricultores, mas a maioria não está tão bem preparada. Outra coisa é a forma como se ajudam, as nossas cooperativas se ajudam bastante, mas é admirável como cooperam, tem isso de vamos contribuir aqui e amanhã ali”, completou Marta.
Adel Suarez Gonzales, vive na província de Pinar Del Rio, lado ocidental da ilha, zona menos árida. Ele ficou impressionado com maneira que as famílias agricultoras guardam forragem para os animais, o processo de silagem e como utilizam os recursos que possuem na propriedade como alimento: “Nós não usamos a palma para alimentar o gado, fiquei muito surpreso como fazem isso aqui e os benefícios que traz, com certeza vou experimentar, pois lá temos bastante palma, mas só a usávamos como barreira”, conta o agricultor.
Segundo Teudes Limeres Jimenez, Diretor e Pesquisador do Instituto de Solos na Província de Guantanamo, região semiárida de Cuba, que há 25 anos trabalha com o tema da desertificação, eles sempre tiveram acesso a biografias e notícias sobre experiências do México, também do Chile, mas não tinham conhecimento da imensidade que ocupa o semiárido brasileiro: “Ao chegar aqui ficamos muito impressionados com o que vimos: uma comunidade muito organizada, que trabalha em harmonia com os técnicos da ASA e de outras instituições como o Instituto Nacional do Semiárido e que trabalham com muito amor e unidade. Temos visitado outras experiências em outros lugares mas, nunca tínhamos visto algo assim, aprendemos muito. Nosso país vem trabalhando a agroecologia há muitos anos, mas aqui vimos uma agroecologia sendo executada em condições muito difíceis, no entanto as famílias tem conseguido sobreviver e inclusive com certo nível de desenvolvimento, produzindo seu alimento e criando condições de moradia, de produzir alimentos sem veneno, livre de transgênicos”, relata o pesquisador.
O trabalho com as sementes e o manejo da água são experiências desenvolvidas que também impressionaram a missão de Cuba: “O que a ASA conseguiu junto ao Governo, o projeto das cisternas, é fenomenal, nós levaremos isso também para Cuba, porque é uma experiência que permite que os camponeses continuem vivendo no semiárido, que não o abandonem, é a solução, porque vão ter a água para beber durante os nove meses que não chove. Creio que os agricultores que nos acompanharam durante a visita puderam ver com seus próprios olhos e tocar com suas mãos e saber que é uma realidade possível. Também um trabalho impressionante é o trabalho que estão fazendo com os bancos de sementes, sementes adaptadas à localidade, como as ‘Sementes da Paixão’, nós dizemos que não podemos levar as sementes, mas levamos a paixão. E realmente é muito impressionante porque todo agricultor tem garantido suas sementes para quando chega o período da chuva”, afirma Teudes.
O intercâmbio evidenciou uma forte identidade entre as ações desenvolvidas pelo Governo Cubano e aquelas promovidas pela ASA e pelo INSA. Foi identificado um conjunto de pontos potenciais de colaboração e forte interesse de estreitamento das relações. Para tanto se propôs a elaboração conjunta de um termo de cooperação técnico-científica entre INSA-ASA e o Programa Asociación de País.
Base importante das experiências visitadas integram a ação do Projeto Terra Forte que tem o objetivo de contribuir para a reversão e prevenção dos processos geradores da desertificação e do empobrecimento da população no semiárido brasileiro. O Terra Forte é desenvolvido pela a AS-PTA em parceria com o Polo da Borborema, Patac e AVSF e é cofinanciado pela União Europeia.
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