Nos dias 12 e 13 de dezembro cerca de 200 agricultoras e agricultores do Polo da Borborema participaram de um encontro de avaliação do ano, no Convento Ipuarana, em Lagoa Seca-PB. O encontro se realiza ao final de um ano marcado por uma das secas mais severas dos últimos 30 anos. Neste contexto, ganhou centralidade no debate a análise do trabalho que o Polo vem desenvolvendo, ao longo dos últimos anos, e em que medida as inovações promovidas na agricultura da região foram capazes de atenuar os efeitos da longa estiagem.
“Hoje a gente não sente mais a seca como antes. Hoje a seca está maior e estamos sentindo ela menor”, começa avaliando o agricultor de Alagoa Nova, Zé Pequeno. As inúmeras experiências desenvolvidas pelos agricultores e agricultoras do Polo da Borborema vêm contribuindo para essa mudança. No ano de 2012 choveu apenas nos meses de junho e julho. As famílias que armazenaram forragem no ano passado puderam alimentar seus animais até a chuva chegar e quem estocou a pouca forragem formada esse ano, ainda permanece com seus animais desenhando um quadro bastante diferente dos tempos anteriores.
A reestruturação dos quintais ainda fez a diferença na segurança alimentar das famílias: a cerca de tela, as pequenas criações, as cisternas de placas, as cisternas-calçadão, e a recarga das infraestruturas por meio de bombas coletivas ou individuais, permitiram otimizar o uso da água e estabilizar a produção produzindo alimentos e gerando renda para as famílias agricultoras.
Para Nelson Ferreira, do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Lagoa Seca e da Coordenação do Polo, o encontro foi significativo e mostrou que o trabalho está no caminho certo: “foi uma debate riquíssimo, a partir dos depoimentos dos agricultores pudemos ver que esta seca é diferente das outras, que as experiências como as das cisternas de placa, das cisternas-calçadão e a estocagem para alimentação humana e animal têm ajudado as famílias a enfrentar o período da seca. Também pudemos fazer uma avaliação das ações do poder público, avançamos muito, mas ainda temos muitos desafios a exemplo da violência contra a mulher e o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), que é uma política pública que precisa ser acessada”, afirmou Nelson.
Planejamento – um momento do encontro foi reservado para que as sete comissões temáticas do Polo reunissem seus membros para avaliar os resultados deste ano e tirar as principais orientações para 2013. Como encaminhamento foi programado um segundo encontro de cada comissão para organizar as ações sugeridas e as agendas específicas de cada temática, além das jornadas municipais de planejamento que terão início na segunda semana de janeiro.
Lançamento – Ainda dentro da programação houve o lançamento do Calendário 2013 do Polo da Borborema, que traz a temática da estiagem: “Agricultura Familiar do Polo da Borborema convivendo com a seca e produzindo alimentos”. “Há 20 anos sentíamos muito mais forte os efeitos da seca, o calendário deste ano mostra um pouco desta realidade”, afirma Roselita Vitor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Remígio e da Coordenação do Polo. A dirigente também avaliou 2012 como um ano de reafirmação da luta na construção de um projeto de agricultura familiar agroecológica: “Foi um ano de muita luta por políticas públicas apropriadas à agricultura familiar, conseguimos grandes avanços, na segurança pública, que já melhorou muito, no tema das sementes crioulas e seu reconhecimento, e na visibilidade do trabalho das mulheres”, comemora.
Esse evento é uma ação do Projeto Terra Forte, cofinanciado pela União Europeia.