O Dia de São José, 19 de março, é tradicionalmente lembrado pelas homenagens ao santo padroeiro dos agricultores e pela crença popular de que a ocorrência de chuva em seu dia é um sinal de que haverá um inverno proveitoso naquele ano. Mas na Paraíba em 2013 a data passa a ser também um dia de luta contra uma realidade assustadora: o uso indiscriminado de agrotóxicos. Pesquisas recentes apontam que o brasileiro consome em média 5 litros de veneno por ano.
Mais de 300 assentados da reforma agrária, além de caravanas de agricultores familiares de todas as regiões do estado, mobilizaram um conjunto de atividades na capital João Pessoa, no primeiro Dia Estadual de Combate ao uso de Agrotóxicos. A data foi instituída no ano passado pela lei estadual 9.781, de propositura do Deputado Estadual Frei Anastácio (PT-PB). A instituição dessa data é fruto do histórico embate dos agricultores locais contra o uso de agrotóxicos na agricultura. Disseminado pelo pacote da Revolução Verde, o uso de venenos vem se configurando num problema de saúde pública. Em 2012, a luta culmina em uma audiência na Assembleia Legislativa, momento em que se discutiram os riscos do uso de agrotóxicos tanto para os produtores e consumidores, como para o ambiente e onde foi firmada uma série de providências e iniciativas dos poderes públicos no sentido de combater seu uso.
O dia de mobilização teve início às 7h, no Ponto de Cem Réis (Praça Vidal de Negreiros), no Centro de João Pessoa, onde foi montada uma feira de experiências dos agricultores e agricultoras de todo estado, animada com apresentações culturais e debates e esclarecimentos sobre o uso dos agrotóxicos. A iniciativa é da Superintendência Estadual do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária na Paraíba (Incra-PB) e diversos parceiros, como Polo da Borborema, Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Articulação do Semiárido Paraibano (ASA-PB), Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Pastoral da Juventude Rural e Fórum Estadual da Economia Solidária, entre outros. O Polo da Borborema esteve representado por 30 agricultores e agricultoras lideranças dos 15 municípios do Território.
Participaram também outros órgãos públicos estaduais, municipais e federais, a exemplo do Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Centros de Referência em Saúde do Trabalhador, Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Secretarias de Saúde, Educação e de Políticas Públicas para as Mulheres de João Pessoa.
Para Nelson Anacleto, do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Lagoa Seca e da coordenação do Polo da Borborema, a trajetória do Polo está diretamente ligada esta data, pois há muitos anos os agricultores da região lutam para construir um território agroecológico livre de veneno: “a história do Polo tem tudo a ver com esse dia, o dia de São José é também o dia da esperança, esperança em uma agricultura livre, pois os agricultores têm ficado dependentes do uso dos agrotóxicos, se contaminando e ficando escravos de uma indústria que só nos prejudica. Sem falar na saúde de quem consome os produtos”, enfatizou.
Ainda segundo Anacleto, nada mais oportuno do que o dia em que se espera a chuva, com a esperança de uma boa produção, para se denunciar a forma criminosa com que as empresas vêm impondo os seus pacotes de agroquímicos. “Nós do Polo da Borborema estivemos durante toda a feira com uma barraca expondo os produtos da agricultura familiar agroecológica e mostrando as nossas experiências como a produção do biofertilizante, entre outras substâncias naturais para o uso do controle de pragas na agricultura”, disse.