A Comissão Territorial da Batata Agroecológica, formada por organizações de trabalhadores e trabalhadoras rurais da Borborema na Paraíba, entre elas o Polo da Borborema e a Ecoborborema, por entidades de assessoria como a AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, a Emater e órgãos públicos como Banco do Nordeste, Secretaria de Estado do Desenvolvimento Agropecuário da Paraíba (SEDAP) e Secretaria Municipal da Agricultura de Montadas, realizou um encontro nesta terça-feira, 09 de abril, no Centro Marista de Eventos, em Lagoa Seca. Participaram cerca de 30 integrantes da comissão com o objetivo de fazer um balanço da produção e das ações de promoção da cultura da batatinha agroecológica na região, além de traçar estratégias para o ano de 2013 de incentivo ao cultivo agroecológico do tubérculo.
Os agricultores do território fizeram uma rodada de avaliação sobre o trabalho com a batatinha nos seus respectivos municípios. Seu José Balbino da Silva, do Sítio Estivas, município de Areial avalia que, mesmo com a baixa precipitação pluviométrica, a produção de batata foi boa e deu lucro. Em Areial as 31 famílias que retomaram o cultivo da batata nos últimos anos, conseguiram ter uma produção de 23.550 kg em 2012. Já para o agricultor Francisco Antonino, da direção do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Remígio avalia que no município muitos agricultores poderiam ter resultados melhores, além da irregularidade das chuvas, pesou a baixa fertilidade de algumas propriedades: “vimos que os solos que estavam mais desgastados, não estavam adequados ao cultivo da batatinha, precisavam ser melhorados antes, por isso o resultado não foi tão bom. Mas já aquelas propriedades onde o solo estava bom, produziu bem”, afirma.
Anilda, agricultora de Remígio, organiza a produção da batatinha para venda para o PAA
José Assis de Souza, do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Esperança, plantou cinco caixas (150 kg) de batatinha, vendeu 10 sacos (500 kg) e ainda tem oito caixas (240 kg) no frigorífico do município: “pra mim foi um verdadeiro milagre, eu vejo esse resgate da batatinha como uma coisa importantíssima para a nossa região, a gente viu que vale a pena correr atrás e plantar, pois antes a gente só visava o atravessador, hoje a gente tem as feiras agroecológicas, os programas de governo (PAA e PNAE) que absorvem toda a produção da região”. Experiência positiva também teve a agricultora Gerusa da Silva Marques, do sítio Cachoeira de Pedra D’água, em Massaranduba. Ela afirma que o cultivo da batatinha andava esquecido pelos mais jovens, era uma coisa mais dos pais e avós, mas que agora está experimentando e vem dando certo, no município nove agricultores garantiram renda com a produção de 1.135 kg de batata, fora os 480 kg de semente que estão no frigorífico: “Apesar de o inverno ter sido ruim, eu plantei uma caixa (30 kg) e colhi quatro (120 kg), quando vi a minha sala cheia de batatinha, eu que nunca tinha trabalhado com isso, fiquei muito feliz”, conta entusiasmada.
Uma preocupação levantada por todos os participantes do encontro foi com as condições físicas do frigorífico, sediado no município de Esperança, que segundo os agricultores e as agricultoras está sucateado. Durante a reunião o representante da SEDAP, Fernando Valadares, firmou o compromisso do governo do estado da Paraíba em assumir a manutenção do frigorífico, informando inclusive que já está sendo encaminhado um processo de licitação para aquisição de novas peças.
No encontro foi apresentado ainda o monitoramento da produção no ano de 2012 e o processo organizativo na Borborema de revitalização da cultura da batatinha agroecológica. Emanoel Dias, assessor técnico da AS-PTA, historicizou o processo de resgate da cultura da batatinha de 2011 até os dias de hoje, lembrou o papel das organizações de pesquisa a exemplo da Embrapa na realização de ensaios participativos de avaliação de variedades locais de batatinha agroecológica; o diálogo com o governo estadual para aquisição de batata semente e reabertura do frigorifico; o Ato público de reabertura do frigorífico e a distribuição de 940 caixas de batata semente beneficiando 104 famílias agricultoras, as visitas de intercâmbio e as oficinas de formação, entre outras ações. Enfatizou ainda que a lógica da produção da batata é diferente do passando, está muito claro para as famílias agricultoras que não precisam mais se preocupar em concorrer com a produção de batata da região sudeste, hoje a produção tem escoamento garantido nos mercados locais da região.
Números – os dados da produção da batatinha apresentados foram comemorados pelos participantes do encontro. Areial foi o município que mais se destacou com 23,5 toneladas, em seguida veio o município de Esperança, com quase 19 toneladas, seguido por São Sebastião de Lagoa de Roça, com 17,9 toneladas. Em 2012 foram plantadas 984 caixas de batatinha em nove municípios da região. “Estou impressionado com a resistência da agricultura familiar, com esta produção, que vale frisar, não é a de antigamente, onde a batata era encarada como única cultura, cheia de agrotóxicos, onde o agricultor entregava toda a sua produção para um atravessador e recebia em troca um cheque sem fundo. Estamos falando da produção agroecológica, onde a batata vem pra somar com as outras culturas, sem venenos e os produtores comercializando a sua própria produção”, disse o assessor regional da Emater Antônio Ferreira. Nelson Ferreira, da Coordenação do Polo da Borborema, também destacou a abordagem metodológica definida para o processo de revitalização da batata na região: “definimos agroecologia como base fundamental de produção, construímos princípios de coletividade entre o conjunto de organizações do Território nessa luta e continuamos mobilizados através de um plano de formação que junta o conhecimento das famílias e a sabedoria das organizações parceiras”.
Estoque de batata semente para o plantio de 2013
O encontro terminou com uma série de encaminhamentos em duas grandes frentes: a melhoria da fertilidade dos solos da região e o fortalecimento da Comissão Territorial. Para tanto, estará sendo organizado um Fundo Rotativo Solidário (FRS) de esterco e MB4 (pó de rocha) para ajudar a melhorar a qualidade dos solos, será realizado um curso de formação e capacitação regional sobre a produção de biofertilizantes e haverá ainda a realização de várias oficinas municipais de biofertilizante e compostagem. Também ficou acordada uma periodicidade de encontros mensais da comissão, além da definição de um núcleo executivo dentro da comissão que se responsabilizará por dar acompanhar a execução dos encaminhamentos.
Na região do Polo da Borborema o resgate da cultura da batatinha tem o apoio do Projeto Terra Forte, realizado pela AS-PTA em parceria com Patac e AVSF e cofinanciado pela ICCO e pela União Europeia.
Assista matéria sobre revitalização da batatinha: