No dia 19 de abril, agricultoras e agricultores, professores e estudantes, moradores de Massaranduba-PB caminharam pelas ruas da cidade pelo fim da violência. Com cartazes na mão e a cara pintada, a população do campo e da cidade mostrou-se unida em busca da paz. A passeata teve seu ponto final no Salão Paroquial onde aconteceu uma Audiência Pública para debater o tema com a presença do Deputado Estadual Frei Anastácio (PT-PB), do Comandante do 10º Batalhão da Polícia Militar, Ysmar Soares, da Prefeita Joana D´arc,da Vice-prefeita Maria Rogério, vereadores, Igreja Católica, Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Polo da Borborema e presidentes das associações comunitárias do município.
A mobilização e a audiência nascerama partir da participação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, de diversas associaçõescomunitárias eda Igreja Católicano Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural, espaçoonde chegam os relatos e os dados da situação de violência no campo. Em que pese o crescente aumento das ações de fortalecimento de uma agricultura familiar agroecológica no município, a cada dia o fenômeno da violência rural vem se constituindo uma forte barreira para sua reprodução. “Temos várias ações no município que vem fortalecendo a agricultura como a rearborização das propriedades, a construção e a democratização do acesso a água de beber e de produzir, entre outras. Mas a gente vem sentindo a violência afligindo a vida do homem e da mulher do campo cada vez mais. São assaltos, violência física, agricultores que quando vendem seus animais pela manhã, a noite são vítimas de assaltos. E isso vem tirando as pessoas do campo, as pessoas que tem uma história lá na comunidade”, explica Maria Leônia Soares, Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Massaranduba e do Conselho de Desenvolvimento Rural.
Esse fenômeno, contudo, não é exclusivo de Massaranduba, a interiorização da violência vem se repetindo em vários municípios da região da Borborema. Remígio, Arara, Alagoa Nova, Lagoa Seca já são conhecidos pelo elevado índice de criminalidade. E na região, a violência vem se configurando como um dos principais motivos de migração da população do campo para a cidade. A violência vem roubando bens materiais das famílias agricultoras, mas vem roubando também a dignidade, o direito de trabalhar, a oportunidade dos mais jovens de viver a agricultura. O Polo da Borborema vem assumindo o tema da violência como ponto chave para a construção da agroecologia no território.
Antes um problema urbano, a violência vem chegando de forma avassaladora na zona rural, sem que o estado tenha uma política para coibir seu avanço.A realização de Audiências Públicas municipais na região do Polo da Borborema é um esforço de chamar as autoridades competentes para a construção conjunta de alternativas concretas para a superação do problema. “É fato que num passado próximo as preocupações maiores destinavam-se à zona urbana, os assaltos a banco, à criminalidade, os seqüestros, mas de uns anos pra cá, a gente vê o crescimento de ocorrências na zona rural. E o contingente, o efetivo das polícias civil e militar, não acompanhou essa questão. Mas com esse mapeamento, com essa aproximação do Comando com as autoridades locais, os sindicatos, as comunidades, podemos fazer também com que as pessoas denunciem mais para que possam aparecer os arrombamentos, os furtos e que a gente através dessa catalogação, possa saber onde colocar o policiamento”, explica Ysmar Soares, Comandante do 10º Batalhão da Polícia Militar.
“Se a gente paga o direito, a gente tem que ter o direito. E é isso que estamos fazendo aqui hoje. Vamos fazer tudo para ver se melhora. As nossas comunidades estão ficando sozinhas lá, jogadas ao relento, diversas propriedades aí fechadas, casas caindo, e o povo se acumulando nos cantos da cidade, assombrado, sem ter outro meio de vida. Eu acho que já chegou a hora de a gente exigir nossos direitos. Mas também quero dizer uma coisa para as comunidades: nós temos que fazer nossa parte, as comunidades também tem que se movimentar”, conclamava Juvenal Ferreira, presidente da associação de Gameleira, em Massaranduba.
Fica o desafio estrutural de construir um projeto de segurança capaz de proteger uma população rural difusa; constituir uma polícia de inteligência para resolução dos casos;fomentar a formação de profissionais para tratar com um público culturalmente distinto;constituir com a sociedade civil um sistema de informação que possaaumentar a eficiência da polícia e restituir a sensação de segurança da população. Mas por outro lado, como afirmou o deputado Frei Anastácio durante a audiência: “Essa questão não se resume em só se fazer tudo para que não haja violência.Para que não haja violência, nós precisamos construir uma sociedade mais justa, e nós vivemos numa sociedade injusta”. A violência rural é sem dúvida um fenômeno novo e que merece novos estudos. O bandido muitas vezes é morador e membro da própria comunidade. Só com a compreensão dos fatores geradores das anomalias sociais e a construção de políticas sociais é que podemos enfrentar essa nova realidade.
Ao final da audiência, o deputado estadual Frei Anastácio se comprometeu em levar até o Secretário Estadual de Segurança, Cláudio Lima, no dia 22 de abril, um documento sobre a situação da segurança no município. Novas audiências públicas municipais estão agendadas para Remígio e Alagoa Nova.
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