Ylka Oliveira – Asacom
Areial – Paraíba
06/06/2013
O manejo da água no arredor de casa, a participação conjunta da mulher e do homem nos cuidados com a tecnologia social acessada, a criação animal e a produção de alimentos para garantir a segurança e soberania alimentar da família. Essas foram algumas das temáticas abordadas durante o curso em Gestão de Água para Produção de Alimentos (GAPA), realizado na sede do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do município de Areial, na Paraíba, nos dias 28 e 29 de maio. A atividade foi realizada pela organização que compõe a ASA Paraíba, AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia.
Ao todo, 29 famílias de agricultores e agricultoras da região do Polo da Borborema, que conquistarão este ano as cisternas-calçadão e cisternas-enxurrada foram selecionadas para participar do curso. Durante os dois dias de atividades, os agricultores e agricultoras debateram, trocaram experiências e viram como é possível fortalecer o arredor de casa, buscando alternativas como, por exemplo, o aproveitamento das águas servidas (água da chuva que cai no telhado da casa ou a água utilizada para lavar a louça), os cuidados com a horta e as plantas medicinais, a importância do uso dos defensivos naturais, a fertilização do solo e o acesso aos fundos Rotativo Solidário e de Tela.
Para conhecer de perto como funciona e quais são os cuidados necessários para manutenção dos reservatórios de água, as famílias fizeram uma visita à propriedade de seis hectares da agricultora Maria Lucia dos Santos Silva, dona Maú, como é conhecida. Ela mora no sítio Lagoa do Giral, acompanhado de um filho. Aos 60 anos, se orgulha do trabalho que desenvolve há cinco anos na propriedade. Com a conquista da cisterna-calçadão no ano passado, passou a plantar milho, feijão, laranja, limão, abacate, goiaba e outras plantas no arredor de casa.
Dona Maú fez um canteiro ao arredor da cisterna-calçadão onde cultiva tomate, coentro e pimentão. Além da tecnologia, através do caráter produtivo, ela recebeu duas ovelhas, um reprodutor e uma estrutura para os animais. Hoje também planta a palma para alimentar os animais de forma consorciada – ou seja, alterna dois cultivos. “Planto palma e mandioca. Quando um não dá, colho o outro. Antes eu carregava água nos tanques. Agora, a cisterna mudou a minha vida”, conta entusiasmada. O plantio consorciado possibilita a economia da terra, a diversificação e eliminação de predadores.
Após a visita, o coordenador do Programa Uma Terra e Duas Águas pela AS-PTA, José Camelo, trouxe para o debate a valorização do conhecimento popular, mostrando o quanto os agricultores tem a ensinar. Destacou ainda o quanto é importante esses momentos de formação. “Nós todos temos o que aprender um com o outro. Precisamos aprender a observar mais o que o outro está fazendo. E vocês são detentores do conhecimento. Se a gente visitar a propriedade de cada um de vocês, vamos ter muitos detalhes”, disse Camelo.
Camelo também aproveitou a ocasião para apresentar a ASA, o Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) e o P1+2. Representantes da AS-PTA que facilitaram o processo de formação fizeram uso de maquetes, painéis e desenhos para recriar o ambiente do arredor de casa. Juntos com as famílias fizeram um exercício para identificar desafios, formas de superação e de subsistência. Entre os desafios, eles apontaram a falta de água e as pragas na lavoura. Como superação, mostraram ser os produtos naturais os grandes aliados para garantir o alimento da família.
Discussão sobre gênero – A participação igualitária entre homens e mulheres nos cuidados com a propriedade potencializou o debate durante o curso de GAPA. Em um painel foram elencados diversos subsistemas da propriedade: mata, roçado, cacimba/barreiro, palma, horta, criação animal etc. Ao avaliar a presença das mulheres nestes espaços, o grupo percebeu que elas não só participam como são responsáveis pelo trabalho em toda a propriedade. As agricultoras cortam a lenha na mata, alimentam pequenos e grandes animais, cuidam do quintal da casa, do manejo da água, das frutas, das plantas medicinais e ornamentais. “A mulher, além do trabalho doméstico e de cuidar das crianças, está em quase toda a propriedade. Ela está em busca de ser valorizada por isso. Para a mulher o arredor de casa não é lazer, é trabalho”, conclui a animadora do P1+2 da AS-PTA, Leda Gertrudes.
Fonte: www.asabrasil.org.br