Durante os dias 13 e 14 de junho de 2013, o Polo da Borborema, em parceria com a AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, realizou, em Lagoa Seca-PB, o “Seminário da Criação Animal: estratégias e formas de estocagem para a convivência com a estiagem”. O evento, organizado pela Comissão de Criação Animal, contou com a participação de mais de 80 criadores e criadoras dos 14 municípios que fazem parte do Polo da Borborema e da região do Coletivo Cariri e Curimataú. Participaram ainda pesquisadores dos temas abordados: as estratégias dos criadores para convivência com longos períodos de estiagem e a chegada da praga da cochonilha do carmim no território.
O seminário teve início com a apresentação e debate sobre o panorama da seca no nordeste, conduzido pelo professor Francisco Nogueira do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFPB) Campus de Sousa-PB. “A seca movimenta pessoas e movimenta os animais” com essa frase o professor sintetizou sua abordagem, colocando a seca como fator determinante do aumento e da diminuição dos rebanhos na região. De acordo com o pesquisador, em 1992 e 1993 e em 1997 e 1998 anos de estiagem prolongada, a criação de gado sofreu respectivamente uma queda de 30% e 40%. Em 2012 e 2013, não será diferente.
Para aprofundar o assunto, os agricultores se dividiram em grupos de acordo com as suas regiões de origem. No grupo do Brejo estavam os municípios de Matinhas e Massarandunba; no grupo do Curimataú estavam agricultores de Arara, Solânea, Casserengue, Queimadas e por último o Agreste foi formado pelos agricultores e agricultoras de Remígio, Montadas, Esperança e Lagoa de Roça. Após as discussões houve a socialização das estratégias, resultados e desafios debatidos.
Foram aprontadas duas estratégias determinantes para alimentação do gado durante os períodos mais críticos de estiagem: a estocagem de forragem e a organização coletiva para gerir as máquinas forrageiras no território e o papel da diversidade das plantas forrageiras nativas (facheiro, cardeiro, palha de coco catolé, folha de gravatá, sorgo, capim, palmatória, xique-xique entre outras espécies que se desenvolvem na região). Também foi bastante debatido sobre o papel das famílias agricultoras na conservação da caatinga. “O que é importante para a criação é a silagem. Preparamos o terreno, plantamos a palma, conservamos e plantamos a diversidade de nossa caatinga para então criar com segurança. Esse encontro foi muito bom e temos que trazer mais agricultores para a discussão das estratégias. Eu acho essa troca de experiência muito positiva, aprendemos a respeitar e usar a natureza a nosso favor.” afirma seu Luiz Sousa, agricultor-experimentador do Curimataú de Solânea.
Sanidade Animal – Ainda na programação do primeiro dia, outro tema de debate foi a sanidade animal. Houve muitos questionamentos sobre quais as principais doenças que acometem os animais e qual a melhor forma de tratamento. Novamente ganhou destaque a questão da alimentação adequada do rebanho como fator fundamental para a manutenção da saúde dos animais. Neste momento do evento, os agricultores puderam interagir seja com o professor, seja com os demais criadores e tirar as suas dúvidas, por meio da troca de conhecimentos. O verme, o “mal do caroço” e a anemia foram levantados pelos criadores com as principais doenças do rebanho.
O segundo dia do seminário foi dominado pela discussão sobre a praga da Cochonilha do Carmim, suas consequências, formas de prevenção e controle com a participação do professor Daniel Duarte, do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Campus Areia-PB e pesquisador do Instituto Nacional do Semiárido (INSA). Há quinze anos a praga chegou à Paraíba e foi se espalhando por diversos municípios do estado. Já ocupando praticamente todo Sertão e Cariri, chega agora ao Agreste do estado. “A cochonilha do carmim já foi encontrada em pelo de preá, cachorro, raposa e é disseminada por pássaros. Infelizmente sua disseminação é uma realidade. Ela ataca especificamente a palma gigante, a mais usada em nossa região. Só existem duas soluções: ou tornar-se escravo da pulverização de produtos alternativos (o sabão em pó, o detergente neutro, a casca de pereiro) ou plantar palmas naturalmente resistentes como a palma baiana, a miúda ou doce ou a orelha de elefante.”
O agricultor Danilo Rodrigues de Couto, do sítio Malhada de Areia no município de Olivedos, no Cariri, participou do seminário e compartilhou com os demais criadores a sua experiência negativa com a cochonilha. Ele contou como a praga se espalhou rapidamente em sua região e lhe trouxe prejuízos: “Há dois anos tínhamos conhecido a praga no município de Boa Vista, mas hoje ela se espalhou por todo Cariri. Na minha propriedade já perdi 50% do plantio da palma e a gente prevê que até dezembro não tem mais a planta”, conta. Para o agricultor é válida a iniciativa de se reunir com outros criadores para aprender a melhor forma de lidar com dificuldades como a oferta de alimento para os animais e o uso de receitas simples para o controle de pragas: “Esse evento tem as vantagens de mostrar que se a gente armazenar quando a seca vem não há tanto problema, assim a gente fica mais atento em caso de dificuldades e no evento vemos uma nova realidade e produtos naturais que podemos utilizar na nossa propriedade”.
De acordo com Daniel Duarte, a Cochonilha do Carmim chegou à Paraíba vinda do estado do Pernambuco. A cidade de Monteiro foi o primeiro município onde se registrou a ocorrência do inseto. Na região do Cariri os prejuízos foram os mais significativos, porém, no Território da Borborema os produtores rurais, a partir do conhecimento acumulado nos processos de formação e na troca de experiências, poderão enfrentar com menos dificuldades a praga que se aloja na palma forrageira. Durante o evento, foi distribuído aos participantes um panfleto para que cada um possa contribuir nessa luta.
Como encaminhamentos do encontro, a Comissão de Criação Animal do Polo da Borborema: organizar um gabinete da palma na região, espaço dedicado ao debate da cultura da palma e das estratégias de alimentação do rebanho; ampliar a produção e distribuição de mudas das plantas nativas forrageiras e organizar uma campanha de valorização da palma local; fortalecer visitas de intercâmbio sobre o tema da diversificação da alimentação dos rebanhos e sobre estratégias de combate à cochonilha; elaboração de materiais pedagógicos para socializar as experiências bem sucedidas.
O Seminário da Criação Animal: estratégias e formas de estocagem para a convivência com a estiagem teve o apoio do Projeto Terra Forte, desenvolvido pela AS-PTA e pelo Polo da Borborema, em parceria com o PATAC e Agrônomos e Veterinários Sem Fronteiras (AVSF) e o cofinanciamento da União Europeia.
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