Agricultores do Polo da Borborema na Paraíba apresentaram o conjunto de suas experiências no dia 24 de agosto, no Centro Marista de Eventos, em Lagoa Seca-PB, a um grupo composto por representantes de diversas organizações, entre instituições públicas, não governamentais, de pesquisa e extensão e grupos produtivos, todos participantes da terceira Rota Estratégica de Aprendizagem, uma das metodologias do Programa Semear – Gestão do Conhecimento em Zonas Semiáridas do Nordeste brasileiro. O programa é implementado pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura – IICA e pelo Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola – FIDA, com o apoio da Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento – AECID.
A terceira rota tem como tema “metodologias de construção e disseminação do conhecimento” e busca estabelecer metodologias que facilitem o diálogo entre os saberes acadêmicos e populares, abrindo caminhos para que agricultoras e agricultores, técnicos e pesquisadores possam compartilhar conhecimentos e leituras sobre a complexa realidade da agricultura familiar.
Entre os dias 23 e 31 de agosto os cerca de 30 participantes viajaram pelos territórios do Sertão do Pajeú e Sertão do Araripe, em Pernambuco e da Borborema, na Paraíba, debatendo conceitos e técnicas relacionados à temática da Rota, visitando iniciativas desenvolvidas por agricultoras e agricultores experimentadores, jovens, educadores e núcleos acadêmicos. A programação da atividade formativa incluiu ainda a construção de Planos Conjuntos de Gestão do Conhecimento, a serem elaborados pelas organizações participantes e que poderão contar com o apoio do Programa Semear.
“A expectativa é que, ao final da Rota, sejam elaborados Planos Conjuntos de Gestão do Conhecimento, com ações articuladas entre as diversas organizações, a partir dos intercâmbios e das aprendizagens gerados no âmbito da Rota Estratégica”, explica Angela Brasileiro, uma das coordenadoras do Semear.
Agricultores/as Experimentadores/as – No dia 24 de agosto, a programação teve início com a apresentação dos participantes e as boas vindas dos representantes da coordenação do Polo da Borborema, que apresentaram a experiência da rede de agricultoras e agricultores experimentadores da região da Borborema, que conta com a assessoria da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia. Nelson Ferreira do Sindicado dos Trabalhadores Rurais de Lagoa Seca, Roselita Vitor e Gizelda Beserra do Sindicato de Remígio fizeram uma contextualização do território da Borborema e um resgate histórico sobre o surgimento do Polo em 1993, em seguida apresentaram como o trabalho se organiza hoje, as suas comissões temáticas, os princípios da ação e as disputas políticas existentes no território: “A leitura aprofundada da realidade, feita pelos próprios agricultores, ajudou a qualificar a sua atuação nos momentos de disputa pela afirmação do projeto agroecológico para a região, facilitando o diálogo e a luta por políticas públicas, pois temos o nosso trabalho, mas não quer dizer que tá tudo bonito, não. Tem muita disputa sim, a mão pesada do agronegócio”, lembra Roselita Vitor.
Em seguida os participantes conheceram mais sobre o trabalho por meio da metodologia do carrossel de experiências, onde quatro temas foram divididos em quatro salas: criação animal, saúde e alimentação, arborização e sementes. Por meio destes temas foi apresentado o conjunto das ações e iniciativas que mobilizam as mais de cinco mil famílias agricultoras do Polo. Os participantes, também divididos em quatro grupos, fizeram um “giro” visitando todas as experiências, que foram apresentadas pelos agricultores e agricultoras de municípios como Remígio, Massaranduba, Alagoa Nova, Queimadas, Lagoa Seca, Solânea e Esperança. Após o Carrossel, foi feito um debate sobre a experiência e os participantes da rota puderam fazer perguntas e tirar dúvidas.
No segundo momento foi feita uma apresentação sobre como o trabalho dos agricultores se liga com a pesquisa e com a produção do conhecimento científico. Na ocasião foi apresentado o estudo comparativo, realizado pela AS-PTA e pela Embrapa Tabuleiros Costeiros, com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que comprovou a qualidade das sementes crioulas, as “sementes da paixão” cultivadas pelos agricultores da região há séculos com as variedades comerciais, distribuídas pelos governos.
De acordo com Marcelo Galassi, coordenador do Programa Paraíba da AS-PTA, que participa da terceira rota como consultor, mesmo sendo um momento de intercâmbio, optou-se por não se realizar uma visita à campo: “pensamos que seria difícil visualizar e perceber a dimensão da rede de agricultores experimentadores, pois como se tratava de um dia de visita, teríamos que optar por uma ou duas comunidades apenas, por isso resolvemos trazer uma representação dessa rede para cá, e expressar através do carrossel, essas experiências, destacando como os agricultores vêm produzindo e disseminando seus conhecimentos”, frisou.