Cerca de 50 agricultoras e agricultores envolvidos nas dinâmicas dos 60 Bancos de Sementes Comunitários da região do Polo da Borborema, na Paraíba, participaram de uma Oficina de Formação para Lideranças dos Bancos de Sementes, realizada no dia 10 de setembro, na comunidade São Tomé II, município de Alagoa Nova. A oficina contou com o apoio da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia e do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2).
Manoel de Oliveira, conhecido como Nequinho, presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Alagoa Nova e da Coordenação do Polo da Borborema iniciou as atividades apresentando a programação do dia e falando sobre o sentido de estarem reunidos em torno desse tema: “Cada um e cada uma que está aqui não está por acaso, estamos pelo compromisso com a nossa semente, as Sementes da Paixão. E nós estamos aqui no lugar onde este trabalho começou aqui nessa região, antes mesmo da criação do Polo da Borborema em 1993”, disse, se referindo ao Banco de Sementes Comunitário de São Tomé II, o mais antigo do Polo da Borborema, que em agosto deste ano completou 39 anos de existência.
A oficina iniciou com uma rodada entre os agricultores sobre a situação de seus roçados e sobre como tem sido a colheita deste ano, quais as variedades plantadas e qual a situação dos bancos. Esse monitoramento é importante para sabermos onde os bancos estão mais organizados e onde precisam de mais apoio para podermos centrar esforços e fortalecer toda a rede, bem como estimular a criação de novos bancos familiares ou comunitários, explica Emanoel Dias, assessor técnico da AS-PTA.
Os participantes da oficina debateram a realidade dos bancos e seus principais desafios no acesso à semente: “Acredito que o trabalho com as sementes teria que seguir essa ordem: primeiro a semente, segundo a alimentação e só em terceiro lugar o comércio. Acontece que muita gente virou a mesa e colocou o comércio em primeiro lugar, aí depois quando procura a semente pra plantar de novo, acabou-se”, avalia seu Joaquim Santana, agricultor de Montadas, e da coordenação do Polo da Borborema.
Comemoração – A programação da Oficina de formação dedicou um momento especial para a comemoração dos 39 anos do banco de sementes mais antigo da região. José Alves de Luna, conhecido como Zé Pequeno, responsável pelo Banco de Sementes de São Tomé II desde a sua fundação, fez um resgate histórico da trajetória do BSC, junto com a agricultora Hozana Pereira Nogueira, a sócia mais antiga. “Nem tudo aqui são flores, tivemos momentos muito difíceis para manter esse trabalho, mas no início contamos com um grande apoio da Paróquia do Município de Esperança, também da Ong Patac. Começamos com um pequeno apoio dos jesuítas e compramos duas variedades de sementes, daí começamos o trabalho. Já atuávamos como evangelizadores nas comunidades e então começamos a envolver os agricultores, que chegou a ser em número de 150 famílias”, conta seu Zé Pequeno. Dona Hozana Pereira relembrou o início da sua relação com o banco de sementes: “Casei em 74, em 75, Zé Pequeno fundou o Banco aqui, e como minhas condições não eram muito boas, com dois anos comecei a pegar sementes aqui e nunca mais parei. E todo ano quando eu lucro, a minha obrigação é vir aqui, trazer a semente pra guardar, que é minha garantia da semente pra plantar”, diz Hozana.
Em seguida os agricultores se dividiram em grupos debateram sobre a experiência do banco de sementes apresentado por Hozana e Zé Pequeno e responderam a duas perguntas: ‘que aprendizados do Banco de Sementes de São Tomé II podemos levar para as nossas comunidades e o que poderia ser feito para fortalecer nossos bancos de sementes?’. Os grupos fizeram as suas devoluções com a sistematização de uma série de encaminhamentos para o trabalho da Comissão de Sementes do Polo, tais como: fazer visitas aos bancos de sementes comunitários; realizar reuniões para o levantamento das variedades perdidas; identificar os guardiões de cada uma das variedades das sementes da paixão conservadas nos bancos; debater mais sobre as consequências das sementes distribuídas pelos governos; sistematizar experiências com sementes em boletins e divulgar mais o trabalho, entre outros.
O encerramento do encontro foi feito com um bolo de aniversário do Banco de Sementes Comunitário de São Tomés II, momento que contou também com a participação dos sócios mais antigos, que ajudaram a cortar o primeiro pedaço do bolo. Todos os participantes exaltaram o comprometimento da comunidade com o banco e a gestão do mesmo, tida como modelo para os demais. “Vou levar para o meu banco de sementes o exemplo de honestidade e união na gestão deste banco de sementes, também a forma de negociação adotada”, comenta Severina Pereira, conhecida como Silvinha, do sítio Maracajá em Queimadas, liderança da Comissão de Sementes do Polo. Após esse momento foi entregue aos agricultores e agricultoras o bisaco para guardar as sementes da paixão: “como símbolo do compromisso que cada um e cada uma leva para as suas comunidades, de animar este trabalho, de não deixar desanimar a luta pelas nossas sementes, por este patrimônio tão rico”, finalizou Emanoel Dias.
O próximo encontro da Comissão de Sementes ficou agendado para o dia 20 de novembro, quando os agricultores trarão as devoluções do monitoramento que será feito em encontros em cada comunidade, no sentido de multiplicar o que foi discutido na oficina de formação.
Qual é a sua Semente da paixão?
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