Nos dias 24 e 25 de setembro mais de 270 pessoas de 15 municípios da Região da Borborema se reuniram em Lagoa Seca na Paraíba, no Encontro de Agricultoras e Agricultores Experimentadores do Polo da Borborema. O encontro foi promovido pelo Polo da Borborema em parceria com a AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia. A programação foi aberta com uma feira de “Saberes e Sabores”, onde os participantes expuseram uma diversidade de plantas, frutas, hortaliças, sementes, artesanato, boletins, banners e cartazes mostrando as suas experiências no campo da agroecologia.
Uma rádio montada no local da feira fez a animação deste momento onde os agricultores e as agricultoras puderam conversar, trocar experiências e produtos da agricultura familiar. A “Rádio-feira” foi conduzida pelos comunicadores do Polo da Borborema e contou com a participação dos agricultores que declamaram poemas, deram seus depoimentos e contaram o que trouxeram e o que iam levar da feira. Edilson Onofre, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Arara, disse à Rádio feira o que estava achando do momento: “Muito interessante essa troca que acontece aqui na feira, do nosso município nós trouxemos jerimum, inhame, milho, macaxeira, que vendemos e trocamos por aqui e também organizamos cartazes, mostrando as experiências que desenvolvemos lá, os grupos de beneficiamento trouxeram polpas de frutas e não sobrou nada”, contou animado.
Após a feira, no final da manhã, foi apresentada uma mística de abertura onde um grupo de agricultores divididos por faixas etárias (menos de 30 anos, 30 a 40 anos, 40 a 50 anos, 50 a 60 anos e mais de 60 anos) convidaram os demais participantes do evento a acenderem as velas que estavam segurando na chama de suas velas acesas, simbolizando o conhecimento dos agricultores e agricultoras, passados de geração para geração e ainda as velas de uns acendendo a de outros, simbolizando a troca de conhecimento de agricultor para agricultor. “Vamos usar as nossas mãos, símbolo da experimentação e do conhecimento que partilhamos para saudar este momento, que não começa agora, nem tão pouco começou hoje de manhã com a nossa bonita feira, começou lá nas nossas comunidades, onde vivenciamos a construção do conhecimento agroecológico”, disse Roselita Vitor, da coordenação do Polo da Borborema e do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Remígio.
Todo esse momento foi encerrado com a plenária cantando “Meu amigo, meu compadre, meu irmão, escreva a sua história pelas suas próprias mãos”, o refrão da música “Como diria Dylan” do cantor Zé Geraldo. Vanda Florentino, mora no assentamento Corredor, no município de Remígio, participa de encontros como este desde 2005. Segundo ela, são momentos ricos e proveitosos: “É uma oportunidade para a gente conversar com o outro, saber o que ta fazendo na sua região, às vezes também tem uma cultura que dá melhor num canto e menos no outro, então a gente pega uma semente, dá, troca, vende. Eu mesma trouxe a semente de cunhã, que muita gente tava querendo, aí eu dei e cada um vai levar um pouquinho dessa semente pra multiplicar lá na sua propriedade”, disse a agricultora.
Oficinas temáticas – no período da tarde os agricultores e as agricultoras se dividiram em sete grupos sobre quatro temas: criação animal, sementes, manejo da fertilidade dos solos, rearborização e quintais. Foi um momento para que cada participante pudesse contar um pouco da sua experiência e ouvir a dos demais. Seu Zé Leal, de Lagoa Seca, participou do grupo de rearborização. “Eu sou velho, mas às vezes vem um jovem, um adolescente que tem muito pra me ensinar, tem pessoas idosas que dizem ‘ah, eu já sei de tudo’, mas minha gente, o que a gente sabe é muito pouco! Eu sou aluno da escola da vida e a gente tem mais que aproveitar esses encontros pra continuar aprendendo sempre”.
Após as oficinas houve a realização de um bingo beneficente, como ação da campanha de arrecadação que vai levantar recursos para o pagamento dos honorários dos advogados que acompanham o caso Ana Alice, jovem militante do Polo da Borborema assassinada em 2012, cujos assassinos ainda aguardam julgamento. O bingo premiou com um fogão ecológico, telas, um carrinho de mão, duas galinhas e um kit de jardinagem. Após o jantar, houve um debate sobre as cisternas de Polietileno que estão chegando a municípios da Paraíba e do Polo da Borborema. As lideranças irão organizar debates sobre o assunto em cada comunidade para preparar um momento de discussão maior, no sentido de alertar e conscientizar as famílias sobre a ameaça deste tipo de política. Um trio de forró pé-de-serra animou a noite cultural do primeiro dia de encontro, onde os participantes puderam se confraternizar.
O segundo dia de encontro foi aberto com uma mística que simbolizou a união dos diversos tipos de conhecimento para a construção da agroecologia. Em seguida os grupos socializaram as discussões das oficinas temáticas do dia anterior por meio da metodologia do carrossel de experiências. De forma que todos os participantes pudessem saber um pouco do que foi discutido nos outros grupos. No período da tarde foi encenada pelo Grupo de Teatro do Polo da Borborema a peça: “Margarida e Biu: os caminhos da agricultura familiar”.
A peça conta as histórias de duas famílias agricultoras que seguem modelos de agricultura diferentes. A primeira família tem a prática da monocultura e utilização de agrotóxicos na produção de fumo. Já a segunda traz um jeito diferente de produzir pautado na agroecologia e na diversidade de culturas. A peça permitiu aos participantes refletirem sobre suas próprias experiências e de confrontarem duas realidades que coexistem na região do Polo da Borborema. Foi realizado um debate após a apresentação que trouxe temas presentes nas histórias como a questão de gênero, as capacidades e a liberdade dos agricultores e agricultoras experimentadores, a variedade de produção, o manejo da água na propriedade entre outros.
“O que expressou muito bem a peça é a agroecologia, a agricultura familiar, a liberdade expressas através da autonomia e da união da família. O amor que o agricultor e a agricultora têm pela terra e aí entra o trabalho das mulheres, dos jovens, a participação das crianças e papel da própria família em si. Quando a gente vai para o agronegócio vemos uma relação de dependência dos agricultores a determinados padrões, pelo modelo que quer apenas transferir tecnologias. E eu acredito que cada um e cada uma de nós homens e mulheres, jovens e crianças somos atores e atrizes da peça representada pela agroecologia e pela agricultura familiar” ressaltou Nelson Ferreira o presidente do Sindicato de Trabalhadores e trabalhadoras Rurais de Lagoa Seca.