Foi ascendendo velas umas nas outras que os mais de 200 agricultores e agricultoras de sete territórios que compõem a Articulação de Semiárido Paraibano (ASA-PB) selaram o compromisso de continuar iluminando e repartindo as ideias, os projetos, as estratégias debatidas durante dois dias de encontro, realizado em Lagoa Seca-PB.
O Encontro de Agricultoras e Agricultores Experimentadores da Paraíba aconteceu nos dias 03 e 04 de outubro e teve como tema: Guardiões da Biodiversidade cultivando vidas e resistência no semiárido. Durante dois dias os participantes puderam fazer encontrar suas experiências e mais, puderam debater sobre o significado delas para a construção de um projeto de desenvolvimento baseado na convivência com o semiárido.
Cheias de riqueza e sabedoria, as experiências trazidas do Alto e Médio Sertão, Folia, Casaco, Coletivo Regional, Curimataú e da Borborema estavam centradas na valorização dos recursos locais como a água, a terra e a biodiversidade e de como as mãos de cada agricultora e de cada agricultor misturam e transformam esses elementos em alimento, em segurança alimentar, em riqueza.
No primeiro dia pela manhã, as experiências foram organizadas em um Carrossel das Redes Territoriais e Microrregionais. E como em um carrossel, os participantes puderam circular e conhecer como essas experiências se organizam e se expressam em contextos com características ambientais, sociais e econômicas próprias, incluindo nessa análise as diversas formas de disputa desse espaço.
Logo o público foi dividido em grupos por oficinas temáticas sobre: Sementes, Revitalização dos quintais produtivos, Arborização, e Criação Animal. As oficinas permitiram com que os participantes pudessem partilhar e aprofundar o conhecimento sobre as inúmeras estratégias de uso da biodiversidade local e as experiências exitosas desenvolvidas por agricultores e agricultoras de diferentes regiões do estado.
A oficina de criação animal foi coordenada pelos territórios do Médio Sertão e do Curimataú. Durante a atividade foram apresentadas experiências com criação de galinhas, silagem e plantio consorciado. Gilberto Nunes, coordenador de uma das oficinas destacou alguns elementos abordados. “O debate foi muito rico, vimos diferentes estratégias de armazenamento da ração animal. Vimos também que neste período de estiagem, os agricultores estão recorrendo às plantas da caatinga e utilizando-as para alimentação animal, a exemplo do mandacaru e outras nativas. Isso é muito importante, pois na nossa região a principal poupança dos agricultores e agricultoras é a criação animal.”
A programação da tarde teve início com a apresentação da peça “Margarida e Biu – Os caminhos da agricultura na Borborema”. A apresentação trouxe a para reflexão a disputa de dois modelos de agricultura: um que desvaloriza e desqualifica o conhecimento local, trazendo pacotes externos à realidade e outro, que por outro lado, baseia sua construção a partir dos recursos e dos conhecimentos locais. “Na peça nós vimos que a família organizada e com o conhecimento teve tudo e a outra não teve nada. O conhecimento foi tudo. A família que tinha conhecimento rejeitou o agronegócio. A agroecologia é o futuro de cada um de nós que está aqui”, explica Sara Constâncio agricultora de Cubati região do Coletivo Cariri e Curimataú.
À noite uma feira de saberes e sabores, com produtos trazidos das diversas regiões pelos agricultores e agricultoras, foi montada. Muitas sementes, plantas medicinais, mudas, doces, artesanatos foram trocados ou vendidos, mas, sobretudo, foi espaço para que pudessem partilhar o conhecimento associado a cada produto. O dia finalizou com um bingo beneficente.
No dia seguinte, os participantes foram provocados a olhar e organizar as ações de seus territórios: “Nesse encontro, discutimos sobre o valor da biodiversidade, suas diversas estratégias e formas de uso. Mas para manejar a biodiversidade, para produzir alimentos, precisamos de conhecimento. Sem o conhecimento sobre o uso e o manejo dos recursos não saberíamos como plantar, como criar. Esse conhecimento é historicamente gerido pelas comunidades em seus territórios. Mas temos que considerar que esse conhecimento é também dinâmico. Evolui na medida em que surgem novos problemas. E para o conhecimento evoluir, precisamos experimentar. Colocar a prova novas técnicas e propostas, não é isso? Mas a agricultura não se faz sozinha, de forma isolada. Aqui no estado conhecemos inúmeras formas coletivas e inovadoras de gestão de recursos: os bancos de sementes, as máquinas forrageiras, os viveiros de mudas, os fundos rotativos solidários. Esses instrumentos são fundamentais para manter o patrimônio em nossas mãos. E quem são os responsáveis por essa construção? São vocês, agricultoras e os agricultores experimentadores que assumem não só o papel de inovar, mas também de ser proativo no fortalecimento de seu território. A partir das muitas lições que vimos até agora, como vamos organizar nossas ações nos territórios?” provoca Luciano Silveira, da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia e um dos coordenadores do evento.
Em plenária, os Territórios partilharam suas reflexões: intensificar os intercâmbios e promover sistematizações de experiências foram ideias que saíram de vários grupos como forma de resgatar os “tesouros escondidos”. Após o debate foi feita a escolha de quatro delegados por território para o Encontro Nacional de Agricultoras e Agricultores Experimentadores do Semiárido Brasileiro que trará o mesmo tema do encontro estadual e será realizado em Campina Grande de 28 a 31 de outubro.
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