Participaram entre os dias 19 e 22 de novembro,15 mulheres com idades entre 22 e 64 anos, do I Curso de Capacitação para Mulheres Agricultoras Pedreiras, realizado pela comissão de Saúde e Alimentação do Polo da Borborema em parceria com a AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia. O curso aconteceu no sítio Maracajá em Queimadas e as mulheres vieram dos municípios de Solânea, Lagoa Seca, Casserengue e Queimadas. “Como a questão do acesso à água é um tema que as mulheres têm enfrentado, pensamos nesse curso como um estímulo para que as mulheres tenham uma nova profissão e uma renda extra na construção de cisternas seja na sua comunidade seja em outros municípios”, explica Maria Anunciada Flor, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Queimadas e da coordenação do Polo da Borborema.
Preconceito – A instrutora do curso, Maria Verônica dos Santos, é agricultora e vive no sítio Cachoeirinha, município de Barra de Santa Rosa, no Curimataú Paraibano. Ela conta como começou a se interessar pelo serviço de pedreira: “comecei fazendo pequenos retoques em casa, pois na minha família tem muitos pedreiros, em 2007 fui convidada para uma capacitação onde só tinha eu de mulher, foi um desafio. Mas foi em 2009 que eu comecei a construir de verdade, daí em diante foi dando certo e hoje nem sei mais quantas cisternas eu já construí, mais de 50”. Sobre o preconceito que enfrenta por ser mulher em um ofício historicamente exercido por homens, ela desabafa: “Diminuiu muito, mas ainda existe muito preconceito, as pessoas falam que isso é coisa de ‘mulher machão’, mas pra mim isso não existe, não sou de conversa não, vou lá e mostro que sou capaz. Hoje me sinto orgulhosa por ver outras mulheres aqui, já dei cursos para outros homens, mas essa é a primeira vez que dou curso para mulheres”.
Marinalva Gomes da Silva tem 43 anos, vive no sítio Almeida em Lagoa Seca e foi agricultora a sua vida inteira, mas agora despertou o desejo de aprender o ofício de pedreira: “Porque a agricultora pode ter uma fonte de renda a mais e incentiva as outras mulheres. As pessoas acham diferente uma mulher se interessar pela construção de cisternas, mas a gente tem mais é que enfrentar e mostrar que é capaz”. Marília Barbosa, é do sítio Goiana, em Solânea, a jovem de 25 anos, se prepara para casar e já faz planos de construir a sua própria cisterna: “Estou me preparando pra isso, se não construir sozinha, pelo menos eu sei ajudar e assim vou aprendendo, devagar”.
Dona Hilda Trajano é a dona da casa onde uma das duas cisternas da capacitação foi construída, ela conta que quando os vizinhos souberam que a sua cisterna seria construída por mulheres, ouviu coisas do tipo: “a cisterna não vai prestar, vai estourar toda”, mas a agricultora aposentada conta que confia totalmente na capacidade das mulheres: “Eu acho muito interessante, é bonito uma mulher aprender de tudo, a mulher pode fazer de tudo que o homem faz. É porque já sou de idade, mas se eu fosse nova eu estava era no meio delas”.
Acesso à água – As cisternas construídas durante a capacitação são do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) do Governo Federal, que na região da Borborema é gerido pelo Polo da Borborema. Dona Hilda conta que a chegada da cisterna foi um sonho realizado: “Essa cisterna é um sonho, ter água doce todo dia, perto de casa, pois antes era um sofrimento. Se ter uma cisterna já é bom, sendo construída por mulheres, melhor ainda!”. O P1MC recruta e forma pedreiros das próprias comunidades, entre os próprios agricultores. Esta foi a primeira capacitação envolvendo só mulheres na região da Borborema.