Representantes do Comitê de Solidariedade Ana Alice acompanharam na manhã do dia 28 de novembro, no Fórum da Comarca de Queimadas, a audiência de instrução do caso de Antônia Rodrigues de Sousa Duarte. A dona de casa de 39 anos foi uma das vítimas de Leônio Barbosa de Arruda, que também é acusado do homicídio da jovem Ana Alice de Macedo Valentim, agricultora e militante do Polo da Borborema, que quando voltava da escola em setembro de 2012 foi sequestrada, violentada e brutalmente assassinada aos 16 anos. Antônia sobreviveu ao sequestro e a tentativa de homicídio praticadas por Leônio em outubro de 2012, um mês após o desaparecimento de Ana Alice.
O caso – Por volta das 17h, a dona de casa fazia uma caminhada pelas redondezas de sua residência, na zona rural do município de Caturité, a 16km de Queimadas, quando foi abordada pelo vaqueiro de 22 anos, que armado com uma espingarda calibre 12 a obrigou a entrar no veículo que conduzia e, após mantê-la em seu poder por algumas horas, a agrediu violentamente, chegando a amputar parcialmente a orelha direita da mulher, fazendo-a perder os sentidos. Ao acreditar que sua vítima estava morta, ele a jogou em um buraco de uma caixa d’água e fugiu. Mesmo gravemente ferida e muito abalada, na manhã do dia seguinte a mulher conseguiu reunir forças para sair do local onde foi jogada e buscar ajuda. Foi graças à sua denúncia que o seu algoz foi preso e acabou confessando ainda o estupro e assassinato de Ana Alice. O criminoso indicou ainda o local onde o corpo da jovem estava enterrado, pondo fim à busca desesperada da família pelo paradeiro da adolescente.
Foi graças à coragem de Antonia, que quase teve o mesmo destino de Ana Alice, que este criminoso pode ser preso. “Não tenho ódio por ele, porque o ódio não leva a nada. Tenho sim, o sentimento de justiça, de querer que ele pague por todos os seus erros, porque um homem desses é um perigo para a sociedade, eu tenho certeza de que ele não se recupera nunca”, diz ainda emocionada, Tana, que durante a audiência contou em depoimento toda a violência que sofreu.
Desde então o Comitê de Solidariedade Ana Alice, formado por um conjunto de entidades de defesa dos direitos das mulheres e de trabalhadores rurais, tem somado esforços e se mobilizado no acompanhamento do caso e na cobrança firme às autoridades para que estes e outros crimes contra a mulher não fiquem impunes. O Comitê já realizou mobilizações, caminhadas e protestos em frente ao Fórum exigindo justiça. “Nós nunca pensamos em vingança, a única coisa que a gente quer se chama ‘justiça’. Pra isso a gente paga impostos altíssimos, para que o nosso direito enquanto cidadão, seja preservado”, afirma Sônia de Sousa, irmã de Antônia.
Na audiência, foram ouvidas, além da vítima, quatro testemunhas, sendo elas o ex-marido de Tana, um sobrinho, um irmão e uma vizinha, todos prestaram informações sobre o carro utilizado pelo acusado, visto rondando a comunidade no dia do fato. Em seguida procedeu-se ao interrogatório do acusado, que confessou a prática dos crimes.
Os advogados Claudionor Vital Pereira, José Ricardo Pereira e Jairo de Oliveira Souza, do Centro Popular de Assessoria Jurídica (CEPAJ), que são assistentes da acusação no Caso Ana Alice, foram contratados pela família da vítima para acompanhar também a acusação do caso Antônia.
De acordo com o advogado Claudionor Vital, a audiência serviu para colher provas, por meio da oitiva de testemunhas, que vão instruir o processo em que Leônio é acusado formalmente de tentativa de homicídio e sequestro para fins libidinosos. Ainda de acordo com o advogado, o próximo passo será a fase das alegações finais da acusação e da defesa, e, em seguida, o processo será encaminhado à juíza para proferir a sentença, e, sendo o réu pronunciado, será submetido a julgamento pelo Tribunal do Júri, fase final do processo. “No depoimento o acusado confessou os crimes, negando apenas a intenção de matá-la, mas pelas provas técnicas colhidas, ficou comprovada a tentativa de homicídio, então nossa expectativa é que ele seja pronunciado e submetido a julgamento pelo Tribunal do Júri e, ao final, condenado pelos crimes que cometeu, cujas penas vão de 12 a 30 anos, diminuída de um a dois terços, no caso da tentativa de homicídio, e de 2 a 5 anos, no caso do sequestro para fins libidinosos”, afirmou o advogado. O promotor de justiça Márcio Teixeira Albuquerque é o responsável pelo caso.
Fonte: www.centrac.org.br