Nos dias 12 e 13 de dezembro, o Polo da Borborema reuniu cerca de 70 representantes dos 14 municípios onde atua no Convento Ipuarana em Lagoa Seca-PB, para realizar o seu balanço anual e avaliar a trajetória do movimento sindical na região. Participaram ainda assessores técnicos e estagiários da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, que presta assessoria ao Polo. Após a realização da mística de abertura, quando se fez uma primeira “colheita” do trabalho do ano, os participantes se dividiram em três grupos, que reuniram cerca de quatro municípios cada um, para levantar os avanços de 2013 e os desafios postos para 2014.
Avanços e desafios – Entre os principais avanços identificados pelos agricultores e agricultoras estão: o fortalecimento das feiras agroecológicas; o papel da juventude nas comissões municipais; o fortalecimento e a valorização do trabalho das mulheres e dos jovens; a universalização do acesso às cisternas de placas em alguns municípios; a ampliação do trabalho dos Bancos de Sementes Comunitários; ampliação do trabalho da comissão de Criação Animal e o aumento da quantidade de forragem armazenada; o aprimoramento da comunicação e aumento da visibilidade do trabalho; e a relação com o Estado e com as políticas públicas. Já entre os desafios, os grupos apontaram o avanço do modelo das cisternas de plástico na região; a ameaça dos transgênicos, o aumento da violência no campo e a relação com o poder local.
Sindicalismo – No período da tarde do primeiro dia e na manhã do dia seguinte, os agricultores e as agricultoras promoveram um debate sobre as principais transformações no sindicalismo da região nos últimos 20 anos. Foram levantados avanços importantes no trabalho dos sindicatos que antes de tudo, segundo a avaliação dos participantes, deixaram de ser espaços só de homens, para contar cada vez mais com a presença e a valorização das mulheres e dos jovens atuando nas diretorias. Na região foi se construindo um novo modelo de sindicalismo, mais democrático, que “saindo de trás do birô” foi capaz de abraçar as lutas dos trabalhadores em defesa da agricultura familiar agroecológica.
“O movimento sindical do Polo está construindo uma nova democracia. Conseguimos romper com o presidencialismo. Rompemos não só quando a família agricultora tira você de trás do birô, mas também quando elas passam a participar do espaço do sindicato”, avalia Euzébio Cavalcanti, presidente do Sindicato de Remígio.
“Fomos construindo um sindicalismo que não é personalizado em seu presidente, mas que é da diretoria e dos agricultores e agricultoras, que passam a dizer também como querem o sindicato. Fico me perguntando sobre o significado das 640 toneladas de silagem armazenadas em Remígio nessa seca. Isso é fruto do investimento dos recursos do sindicato para o fortalecimento de um projeto que é comum”, completa Roselita Vítor, também da direção do Sindicato de Remígio e da coordenação do Polo.
Nelson Ferreira, presidente do Sindicato de Lagoa Seca, lembrou que a união é uma característica marcante dos sindicatos que compõem o Polo da Borborema: “Conseguimos quebrar o isolamento e romper com a cultura do individualismo desses sindicatos. No começo não foi fácil, foi preciso que alguém experimentasse, e o sindicato de Solânea e de Remígio foram os primeiros e a gente foi aprendendo a aprender com a experiência do outro” disse. “Outro diferencial foi a nossa parceria com a AS-PTA, nossa assessoria, que nos ajudou a fazer a leitura da nossa realidade, a descobrir que não somos iguais”, completou a liderança, se referindo ao diagnóstico realizado pelos municípios nos anos 90, início desse trabalho.
A programação do primeiro dia foi encerrada com uma comemoração dos 20 anos de parceria entre Polo e AS-PTA onde os participantes acompanharam uma retrospectiva do trabalho mostrada em fotos e partilharam um bolo de aniversário. A noite terminou ao som de cantoria e forró da banda Gigahertz, formada por jovens do município de Remígio.
Lançamento – O segundo dia de encontro foi aberto com o lançamento do calendário 2014 do Polo da Borborema e da AS-PTA, que este ano trouxe como tema: “Agricultoras e Agricultores Experimentadores na construção da agroecologia no Território da Borborema” e foi montado a partir de 365 fotografias de homens e mulheres, pais, mães, filhos, filhas, avós de famílias agricultoras da região indicando cada dia do ano. Durante o lançamento foi reafirmado o papel de cada agricultora e cada agricultor na construção do projeto político desse território.
“A importância que eu acho de ser agricultor-experimentador e hoje ser representado pelo Polo é porque ninguém conhecia o agricultor, a não ser no seu roçado. Hoje, o Polo da Borborema resgatou o agricultor para ele próprio dar sua contribuição e pegar seus conhecimentos e repassar um para o outro. Eu acho que evoluiu bastante por isso. Antes do Polo isso não existia. Então a gente se torna tão importante que nós estamos na página do calendário. Isso para mim é um orgulho e me sinto satisfeito e feliz, avalia Juvenal Ferreira, agricultor-experimentador de Massaranduba durante o lançamento do calendário.
O evento de balanço foi encerrado com a inauguração do processo de construção da V Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia, que em 2014 acontecerá, no dia 08 de março, no município de Massaranduba. “A cidade é pequena, mas o coração é grande. É com muita alegria que a gente recebe esta marcha em nosso município, Massaranduba acolhe vocês de braços abertos”, disse Gabriela dos Santos Galdino, jovem agricultora da direção do Sindicato. Uma ciranda, puxada pelas mulheres, encerrou a programação e animou a volta das delegações aos seus municípios.
Leia a poesia de Euzébio Cavalcanti sobre os 20 anos de parceria entre o Polo e a AS-PTA
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