Cerca de 40 jovens dos 14 municípios que integram o Polo da Borborema participaram nos dias 23e 24 de janeiro de um encontro sobre Fundos Rotativos Solidários (FRS’s) para a juventude. O encontro foi organizado pela Comissão de Jovens do Polo em parceria com o Núcleo de Infância e Juventude da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia e teve como objetivos a formação de formadores sobre conceitos e gestão dos FRS´s, além de promover uma troca de experiência com a Comissão de Saúde e Alimentação do Polo, o fortalecimento dos Fundos existentes e a formação de novos. O evento aconteceu no Hotel Fazenda Day Camp, no sítio Lucas, em Campina Grande-PB.
E Encontro abriu com uma mística centrada na partilha de pão e mel entre os participantes, trouxe uma reflexão sobre o conhecimento e as experiências compartilhados por todos, encerrando com o poema de Pablo Neruda “Ode ao Pão”. Gizelda Beserra, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Remígio e da coordenação do Polo da Borborema fez uma apresentação dos objetivos do evento e falou sobre a importância desta iniciativa para o Polo e para a juventude: “No nosso trabalho vimos colocando em prática várias iniciativas que promovam a solidariedade e a partilha do conhecimento e dos recursos. Um dos instrumentos para isso é o Fundo Rotativo Solidário. Sabemos que a juventude é a responsável pelo futuro da agricultura familiar, por isso esse é um tema muito importante para os jovens e queremos ajudar a fortalecer esse trabalho”, disse.
Depoimentos – Duas jovens apresentaram as suas experiências com fundos rotativos solidários de animais e avaliaram de que forma participar do fundo impactou a sua vida. Para Marília Barbosa Franco Joel, de 26 anos, da comunidade de Goiana, município de Solânea, o principal impacto foi a conquista da sua liberdade e autonomia: “Eu recebi duas cabras, já multipliquei para sete e já comprei várias coisas pra mim com a renda dos animais, sem precisar estar pedindo nada a ninguém. A partir do fundo rotativo eu sinto que ganhei minha liberdade, pois eu passei a mandar nas minhas coisas. Antes o pai dizia ‘toma pra você criar’, mas na hora de vender o dinheiro era dele, agora é diferente”, conta a jovem. Adailma Ezequiel Pereira, 25 anos, do sítio Lutador, município de Queimadas, acredita que a experiência com o FRS contribuiu para que ela se tornasse uma pessoa mais responsável: “não que antes eu não tivesse responsabilidade, mas quando você sabe que aquele benefício é seu, e fruto do seu esforço da sua força de vontade, você se preocupa mais em cuidar, em zelar, visando o seu futuro”, conta. As duas jovens distribuíram ainda os seus boletins informativos contando as suas experiências para os outros jovens.
Inspirados pelas experiências de Marília e Adailma, os jovens presentes sentiram-se motivados em trazer depoimentos, muitas histórias emocionantes de transformação. A história de Edilson Onofre de Souza, de 27 anos, do município de Arara, é uma delas. Edilson conta que quando era mais jovem, sempre teve muita vontade de criar, mas não tinha condições de comprar um animal, então cuidava dos animais de outras pessoas para, ao final de algum tempo, ganhar o seu. Foi assim que depois de muito trabalho recebeu uma ovelha cega, e foi através da venda desse animal que ele conseguiu realizar o sonho de comprar uma bicicleta, assim como várias outras coisas que vieram depois. “Eu acho que o Fundo Rotativo Solidário pode acabar com o êxodo rural, porque se o jovem tem uma oportunidade de renda, ele não vai querer sair. Eu já fui pra São Paulo e me desapontei. Hoje se me derem uma passagem de graça eu não quero, porque eu acho muito triste você ter que abandonar sua família, sua vida por falta de oportunidades, hoje eu também sei que posso ficar e tenho como viver da agricultura”, afirmou o jovem. “É muito difícil pra gente jovem, começar do nada, então esse auxílio do fundo rotativo é muito importante”, complementa Isaías Marcelino da Silva, do município de Solânea.
No período da tarde os jovens fizeram uma discussão em grupo acerca da questão “o que é FRS e quais são os princípios de funcionamento?”, após a chuva de ideias e a socialização dos grupos em plenária, os jovens assistiram ao vídeo: “O que é Fundo Rotativo Solidário?”, produzido pelo Centro Sabiá, de Pernambuco, e puderam aprender que através do Fundo Rotativo Solidário, os jovens podem aprender outras coisas importantes, como o manejo da caatinga para a produção de alimento para os animais, por exemplo. Os participantes também debateram sobre a origem dos FRS’s e como eles fazem parte do que se chama de Economia Solidária.
Gestão – No segundo e último dia de encontro a programação foi aberta com uma caminhada do refeitório até o auditório do encontro. Durante o percurso, eles entoaram cânticos e refletiram sobre o significado da terra e nossa responsabilidade em cuidar e preservar o meio ambiente para ter vida plena. Maria Leônia Soares fez uma apresentação da experiência dos Fundos Rotativos Solidários da Comissão de Saúde e Alimentação do Polo da Borborema cujo trabalho ajudou a romper com o isolamento social de muitas mulheres, a valorizar o seu saber e a articular o seu conhecimento por meio da troca de experiências com outras mulheres, visibilizando o seu trabalho e a sua contribuição para a agricultura familiar. Ao final os jovens discutiram as semelhanças entre as dificuldades enfrentadas pelas mulheres e as que os jovens também enfrentam: invisibilidade e desvalorização do seu trabalho, falta de liberdade e de autonomia, o preconceito, entre outras. Em seguida os participantes ouviram a experiência de Anilda Fernandes, que é gestora do fundo rotativo solidário do assentamento Oziel Pereira, em Remígio-PB onde vive. Para Anilda, a chave para o sucesso de um fundo como esse é a transparência, o comprometimento da comunidade e a paciência: “Eu sei que os jovens tem aquilo de querer tudo pra agora, mas é preciso ter paciência, pra chegar onde chegamos, houve todo um processo até os primeiros resultados chegarem”, disse a agricultora.
O encontro foi encerrado com o levantamento dos fundos rotativos solidários organizados por jovens existentes na região do Polo da Borborema e o mapeamento de comunidades que tem interesse na criação de novos fundos, estes terão o apoio inicial do projeto Sementes do Saber, desenvolvido pela AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia em parceria com a Comissão de Jovens do Polo da Borborema. O projeto visa apoiar ações que favoreçam a inclusão produtiva de jovens rurais por meio do incentivo às iniciativas que os jovens já desenvolvem em suas comunidades como Fundos Rotativos Solidários de pequenos animais e sementes e a produção de mudas, entre outras. O projeto Sementes do Saber conta com o cofinanciamento do Comitê Católico contra a Fome e pelo Desenvolvimento (CCFD) e da União Europeia.