Representantes da coordenação do Polo da Borborema e da AS-PTA na Paraíba se reuniram na terça-feira, 18 de fevereiro, com equipe de coordenadoras pedagógicas da Secretaria Municipal de Educação de Lagoa Seca-PB, município que está entre os de atuação do Polo. O objetivo do encontro foi apresentar às educadoras o trabalho que vem sendo realizado pelo Polo desde 2002 com a realização da Campanha de Fortalecimento da Vida na Agricultura Familiar, um trabalho que procura valorizar e resgatar o conhecimento das crianças e jovens e do lugar onde elas vivem a fim de fortalecer e valorizar a identidade camponesa.
A secretária de educação Joelma Rocha informou que o órgão está fazendo uma atualização da educação no município e uma revisão de seus currículos, voltando a sua atenção para a educação no campo, por isso estão buscando a parceria com o Polo e com a AS-PTA: “Somos um município rural, mais de 90% dos nossos alunos vem do campo, e mesmo assim nossos conteúdos não fazem parte da vivência desses alunos. Por isso nós estamos buscando a humanização do processo de ensino-aprendizagem, para dar sentido ao ser humano como um todo, enxergando ele a partir do seu lugar. Então estamos dando esse pontapé, engatinhando na formação dos educadores para avançar nesse sentido”, afirmou a gestora.
Nelson Ferreira, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lagoa Seca e da Coordenação do Polo da Borborema, fez uma apresentação sobre o trabalho dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais que compõem o Polo na região desde o seu surgimento. Ele lembrou que a preocupação em melhorar a educação no campo é antiga: “Não é de hoje que temos iniciado esse esforço para melhorar a educação no campo. Nós dos sindicatos, dos movimentos sociais, da ASA Paraíba (Articulação Semiárido Paraibano) vimos construindo essa crítica há anos, porque a educação nunca foi voltada para o campo, sempre formou as pessoas para que saíssem do campo. Sabemos que você aprende mais rápido quando você estuda aquilo que está à sua volta. Hoje muitos filhos de agricultores não conseguem sequer usar a matemática nas suas vidas, para ajudar aos seus pais”, afirmou a liderança.
Mutirões – Ana Paula Anacleto, do Núcleo de Infância e Juventude da AS-PTA, apresentou em detalhes a Campanha de Fortalecimento da Vida na Agricultura Familiar, os seus objetivos e os temas mobilizadores que são trabalhados a cada ano com as crianças e com os jovens, como: uso e conservação das sementes crioulas, criação de animais e o resgate das raças nativas, manejo da água, o arredor de casa como um espaço de aprendizagem da criança e inserção do jovem na agricultura, entre outros. Ela explicou que o que se chama de “mutirões” da Campanha são momentos de encontro da comunidade com as crianças e os jovens realizados duas vezes por ano, onde eles brincam, debatem os conteúdos e refletem sobre diversos temas que norteiam a agricultura familiar. Em 2013 os 106 mutirões realizados envolveram mais de 2.600 crianças, mais de 1.200 jovens, em 110 comunidades dos 14 municípios que fazem parte da área de atuação do Polo. O processo contou com a parceria de 19 escolas e quase 50 professores e professoras. só em Lagoa Seca o mutirão é realizado em seis comunidades (Floriano, Almeida I e II, Alvinho, Lagoa de Gravatá e Covão), reunindo crianças e jovens de 15 localidades.
Ana Paula citou algumas atividades promovidas nos mutirões nas comunidades e como as crianças, jovens e as escolas se envolveram. Exemplos de sucesso foram as oficinas de produção de mudas e de canteiros alternativos com garrafas pet ou as trilhas para conhecer as árvores e as fontes de água existentes na comunidade: “No momento em que trabalhamos as trilhas, pedimos para que cada comunidade escolhesse um agricultor ou uma agricultora para conduzir a caminhada, definir uma rota para ir mostrando as árvores. Mas o que aconteceu na maioria dos casos foi que foram as próprias crianças quem guiaram e foram apresentando a vegetação local. Já na produção de canteiros alternativos, um impacto interessante é que a escola continuou o trabalho com os canteiros que os alunos iniciaram, tocaram e aqueles alimentos serviram para a alimentação escolar”, afirmou a educadora.
Fechamento de escolas – Outro tema bastante debatido na reunião foi o reordenamento das escolas rurais que está em curso na Paraíba, o que pode culminar com o fechamento destas unidades de ensino e o impacto sobre a vida dessas crianças. Manoel Roberval da Silva, da coordenação da AS-PTA, partilhou os resultados preliminares de uma pesquisa que a Rede de Educação no Campo vem promovendo no território do Polo da Borborema. Já se detectou o reordenamento de cerca de 800 escolas rurais na Paraíba, só entre 2009 e 2012, sendo mais de 500 escolas municipais e mais de 200 escolas estaduais. Segundo ele, para o Ministério da Educação, o reordenamento significa que cada gestor pode decidir sobre a viabilidade de cada escola rural e se achar necessário, suspender as atividades daquela escola, usando uma lógica meramente econômica. Após isso, se no período de cinco anos a comunidade que teve a escola suspensa não se manifestar, a escola poderá ser fechada em definitivo. Este cenário preocupa educadores, pais e mães que serão obrigados a mandar os seus filhos para longe de suas comunidades para poder estudar e muitos até a abandonar os seus estudos. “A escola é uma referência para a comunidade. Precisamos trabalhar na política de reorganização, construir escolas, formar professores, pois é muito mais fácil levar o professor para o campo do que trazer todos os alunos”, afirmou a secretária de educação de Lagoa Seca.
O debate foi encerrado com as educadoras manifestando interesse em conhecer mais de perto as experiências das famílias agricultoras envolvidas nas dinâmicas do Polo para influenciar na construção de conteúdos do ano letivo de 2014. Para tanto será agendada nos próximos dias visitas de intercâmbio em propriedades de agricultores experimentadores de Lagoa Seca. A ideia é que a partir das experiências, elas possam se aprofundar mais no universo da agricultura familiar como uma das iniciativas para melhorar e aproximar os conteúdos da sala de aula àqueles que os estudantes vivenciam no seu dia a dia. Novas reuniões serão agendadas para discutir como o Polo e AS-PTA poderão contribuir com a formação dos educadores das escolas do campo.