O Núcleo de Infância e Juventude da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia em parceria com o Polo da Borborema realizou no último dia 18 de março, na sede da entidade em Esperança-PB, o Planejamento Regional da Campanha de Fortalecimento da Vida na Agricultura Familiar 2014, que contou com a presença de representantes dos 14 municípios que integram o Polo. O objetivo do encontro foi fazer reflexão sobre o tema e a metodologia dos mutirões com as crianças e jovens para o primeiro semestre. Os mutirões são como são chamadas as atividades de formação e recreação com as crianças e jovens filhos e filhas de agricultores e agricultoras da região da Borborema em suas comunidades. Eles são realizados desde 2002 e a cada ano trazem um tema que é apresentado no ciclo de mutirões do primeiro semestre e aprofundado no segundo semestre do ano.
Em 2014 o tema dos mutirões será a Agricultura Familiar. “A gente pensou nesse tema porque esse é o ano Internacional da Agricultura Familiar para as Nações Unidas e porque a gente vive isso, a agricultura familiar é feita pelos filhos e filhas, pelo homem e pela mulher. A agricultura familiar é nossa forma de viver e nossa subsistência. É ela que traz a auto-organização, a autonomia das comunidades e é através dela que os conhecimentos e os valores como a solidariedade e a união são passados para as novas gerações”, afirmou Giselda Bezerra, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Remígio e da coordenação do Polo da Borborema.
Brincadeiras – Além de trazer o tema da Agricultura Familiar, a Campanha vai também valorizar o brincar das crianças dentro do universo da agricultura, promovendo um resgate das brincadeiras mais comuns às diversas gerações. “Sabemos que a criança tem o seu saber, e é através do brincar que ela adquire este conhecimento, por isso, vamos valorizar este ato e relembrar com os mais velhos as suas brincadeiras de infância. Vamos procurar saber os brinquedos e os espaços usados para brincar e o quanto essas brincadeiras tiveram influência no adulto de hoje, vivenciando isso com as crianças”, explica Ana Paula Anacleto, do Núcleo de Infância e Juventude da AS-PTA.
Os participantes do planejamento fizeram uma rodada de conversa sobre o assunto e compartilharam as suas lembranças da infância. Anailde de Lima, do sítio Veloso, em Casserengue, relembrou os seus tempos de menina: “Infelizmente eu brinquei muito pouco, comecei a trabalhar muito cedo, com 10 anos de idade já cortava terra e fazia serviço pesado. Muitas vezes meu pai me tirava até da escola para trabalhar. Hoje eu tenho dois filhos e tenho outra consciência, acho que deve ter hora pra tudo, de estudar, de trabalhar e de brincar. Pois eu entendo como isso é importante na vida da criança”, contou a agricultora. Márcia Rodrigues da comissão de jovens do Polo e do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lagoa Seca completa: “Nossas brincadeiras foram uma verdadeira escola, a gente aprendia a plantar, a colher, a contar e a reciclar materiais, fazendo nossos próprios brinquedos”, afirmou lembrando das bonecas de sabugo, das casinhas e jogos feitos com pedras e dos carrinhos feitos com latas de sardinha vazias, entre outros exemplos citados.
Após esta rodada, os participantes se dividiram em três grupos para pensar em metodologias de trabalho para os mutirões com as crianças, de onde saíram propostas como: realizações de gincanas, oficinas de confecção de brinquedos, adivinhações, carrosséis de brincadeiras, cirandas, diálogo entre as brincadeiras de antigamente e as de hoje e exposições de brinquedos produzidos.
Em seguida foi feita uma avaliação sobre a participação dos jovens nos momentos dos mutirões. Foram colocados os desafios para o envolvimento da juventude nos momentos da Campanha como o grande número de jovens estudando nas cidades, muitas vezes em tempo integral, sem espaço para participar dos eventos na comunidade, o casamento e os filhos aparecendo precocemente na vida dos jovens e a influência negativa da mídia e do ensino formal somado à falta de oportunidades de renda afastando os jovens da agricultura. “A proposta é de que a partir deste ano os mutirões sejam direcionados exclusivamente para as crianças, contando com o apoio dos jovens, mas que haja momentos específicos para a juventude, com conteúdos que sejam do seu interesse, de acordo com essa fase da vida”, disse Severino dos Santos Terto, também do Núcleo de Infância e Juventude.
O encontro foi encerrado com a definição dos municípios que tem interesse de realizar neste momento eventos municipais específicos para a juventude, além dos mutirões da Campanha, foram eles: Massaranduba, Queimadas, Alagoa Nova, Casserengue, Arara, Remígio, Lagoa Seca, Alagoa Nova e Matinhas. O próximo passo será a realização dos planejamentos municipais, onde se definirá a data dos encontros com a juventude que ocorrerão em paralelo aos mutirões. Em 2014 haverá 52 mutirões reunindo pessoas de 110 comunidades (um mutirão reúne duas, três ou mais comunidades). A expectativa é que as atividades, encontros de juventude e mutirões reúnam mais de 1.200 jovens e algo em torno de 2.600 crianças.
O trabalho com a infância e juventude da Campanha pelo Fortalecimento da Vida na Agricultura Familiar acontece desde 2002, com apoio da ActionAid. Em 2013 a iniciativa com a juventude em especial ganha impulso com o fortalecimento da Comissão de Jovens do Polo da Borborema e o apoio do projeto Sementes do Saber, co-financiado pela União Europeia.