O Polo da Borborema e a AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia estão realizando um ciclo de oficinas sobre o manejo da fertilidade dos solos e a produção de biofertilizantes nos municípios de Esperança, Arara, Areial, Montadas, Lagoa de Roça, Lagoa Seca e Matinhas. Com a proximidade do tempo das chuvas na região, o trabalho pretende ampliar a produção de biofertilizantes que serão utilizadas pelas famílias agricultoras no plantio dos roçados, das hortaliças e especialmente no cultivo da batatinha agroecológica.
Em meados de março, foi realizada uma oficina no município de Areial, na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. A atividade contou com a participação de cerca de 40 agricultores e agricultoras de cerca de oito comunidades do município. A oficina foi iniciada com uma rodada de depoimentos dos agricultores (as) experimentadores (as) que relatam suas experiências bem sucedidas com o uso e manejo dos biofertilizantes em seus cultivos. Vilma Félix da Silva, do sítio Três Lagoas, começou a usar o biofertilizante em 2010, com estímulo do sindicato. “Usei na plantação da batatinha e percebi a diferença, tanto nas ramas mais verdes, quanto na produção de batata, foi muito boa a safra, deu de estouro”, comemorou a agricultora. A partir dos relatos, Emanoel Dias, assessor técnico da AS-PTA, explicou que ao contrário do que muita gente pensa, o biofertilizantes não ‘mata’ as pragas, e sim fortalece a planta e repõem nutrientes ao solo, deixando as plantas resistentes ao ataque das pragas e doenças. “Os biofertilizantes atuam no desenvolvimento das plantas e seu uso contribui diretamente na produção de alimentos saudáveis e livre de adubos químicos, fundamental na saúde humana”, exemplificou.
Luiz de Oliveira Cyrino, morador do sítio Lajedo do Cedro, contou que experimentou o biofertilizante pela primeira vez em 2012, com o apoio do Sindicato. O agricultor que, por muitos anos produziu batatinha, havia perdido a sua semente e abandonado o cultivo. Mas retomou a plantação e usou o biofertlizante pensando em melhorar a produção da batata e em combater as pragas. “No começo eu fiquei meio desapontado, pois achei que ia combater a praga e não foi isso que aconteceu. Depois eu vi que com o uso do biofertilizante, mesmo com o ataque de algumas lagartas na folha não afetou a produção da batata”. Luiz diz ainda que depois que retomou a cultura da batata, veio uma maior preocupação com a saúde do solo. “Quando eu voltei a plantar, não quis mais usar veneno, em anos passados, por falta de consciência, eu usei muito. Hoje eu vejo que tem outras formas de melhorar a produção sem prejudicar a minha saúde e das outras pessoas”, conta o agricultor.
Na oficina os agricultores trocaram receitas de caldas e dos vários usos das plantas para combater pragas e melhorar o solo em suas propriedades. Foi distribuído o Boletim de Boas Práticas de Produção do Biofertilzante produzido pela AS-PTA e repassadas receitas de caldas como a bordalesa, à base de cal; o ACC feito com castanha de caju e álcool etílico; coquetel de folhas de nim (Azadiractha indica A. Juss) que servem como repelente para as plantas. Houve ainda a parte prática, onde os agricultores e agricultoras puderam acompanhar algumas receitas sendo feitas, todas com ingredientes que, em sua maioria, são encontrados dentro da propriedade, como folhagens de plantas verdes, esterco animal, leite, melaço ou rapadura e urina de vaca, entre outros.
Emanoel Dias chamou a atenção para as causas do aparecimento das pragas: “Vocês mesmos disseram aqui que a causa desse excesso de pragas é da ação do ser humano na natureza, que causou um desequilíbrio ambiental. É preciso lembrar que isso que estamos fazendo (controle de pragas) é um paliativo, nós precisamos saber que o trabalho de rearborização das propriedades está diretamente ligado a isso, pois se a gente não se organiza para repor o que a natureza foi perdendo, as árvores, os animais que se alimentam dos insetos, vamos viver sempre nesse desequilíbrio e não vai ter um resultado satisfatório”, alertou.
Zeneide Granjeiro Balbino, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Areial e da coordenação do Polo da Borborema, falou sobre a importância do trabalho de manejo da fertilidade do solo para a estratégia de atuação do Polo e a construção do projeto agroecológico para a região: “Nós sempre falamos pra os agricultores ‘não usem veneno’, mas a gente sabe que pra não usar veneno nós precisamos ter alternativas para melhorar a produção, e o biofertilizante é uma dessas alternativas. Então eu quero estimular vocês que ainda não usam, que experimentem e que multipliquem em suas comunidades os conhecimentos que vocês vem trocando nestas oportunidades”, finalizou.
A oficina de produção de biofertilizantes é parte das ações do Projeto Terra Forte que tem entre as suas estratégias iniciativas de manejo da fertilidade dos solos. O Terra Forte é realizado pela AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia em parceria com o Polo da Borborema, PATAC e os Agrônomos e Veterinários Sem Fronteiras (AVS) e é cofinanciado pela União Europeia.