Com a leitura e a interpretação do poema o Cântico da Terra de Cora Carolina deu-se a abertura da oficina sobre Rearborização e o papel das árvores para Agricultura Familiar, realizada no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Casserengue. Durante a reflexão os participantes tocavam a terra e depois lavavam suas mãos num pote de barro com água. O ato buscou simbolizar o respeito e cuidado com a terra que para os agricultores e agricultoras é fonte de vida.
A oficina sobre Rearborização faz parte do ciclo de debates sobre as causas dos processos geradores das mudanças climáticas, da perda da biodiversidade e da reversão da desertificação por meio da afirmação das experiências de uso e conservação da biodiversidade e dos múltiplos papéis das árvores como caminho concreto para enfrentamento desse quadro. Essa oficina será realizada em 10 municípios que fazem parte do Polo da Borborema, no Agreste da Paraíba.
A oficina em Casserengue aconteceu no dia 15 de abril, data em que também se comemora o dia da Conservação do Solo. E foi marcado por esse olhar que os participantes puderam debater e trocar experiências sobre o papel das árvores para o fortalecimento dos solos.
O dia de trabalho teve início com a construção comparativa de como era a natureza da região antes e como está agora, a partir das contribuições dos agricultores e agricultoras presentes. Foi a partir da percepção de cada um que foi recontado o processo de modificação da paisagem e os muitos problemas consequentes da degradação ambiental.
Para reverter esse quadro e estimular o processo de rearborização das propriedades, foram apresentadas duas experiências de agricultores do município de Solânea. Na primeira, Maria da Penha Batista, agricultora do Sítio Videl, contou sobre o processo de implantação do viveiro de mudas de sua comunidade, do qual é animadora. Penha relembra que nos anos 1970, os pacotes estimulados pelo governo na região, incentivavam a retirada das matas nativas das propriedades para substituí-las pela algaroba, uma planta exótica que requer bastante água do solo. Assim, o solo de sua comunidade foi empobrecendo e as plantas nativas desaparecendo. No ano de 1993, a AS-PTA realizou um diagnóstico sobre as plantas nativas no município de Solânea. Olhar para as plantas, foi o mote para um trabalho de conscientização e valorização das árvores. As famílias foram incentivadas a rearborizar suas terras, e foram plantando muitas árvores frutíferas, mas também para alimentação dos animais, as plantas forrageiras, árvores nativas. Esse trabalho foi crescendo e em 2010, o Polo da Borborema viu a necessidade de criar uma rede de viveiros. Em Videl, o viveiro vem produzindo 10 mil mudas por ano e de 5 espécies diferentes que são distribuídas no município inteiro. Hoje já somos oito viveiros em sete municípios do Polo, resume Penha aos agricultores presentes.
A rede de viveiros do Polo da Borborema tem capacidade instalada para produzir 130 mil mudas por ano de mais de 100 espécies entre florestais, frutíferas, forrageiras e medicinais. Em função da estiagem, em 2013 foram distribuídas 80 mil mudas no território, mas a expectativa para 2014 é atingir a distribuição total da produção da rede.
A segunda experiência apresentada e debatida foi a de seu Luiz Souza, agricultor do Sítio Salgado dos Souza. Seu Luiz apresentou as diversas formas de uso das árvores em sua propriedade: o plantio de árvores no roçado para fortalecer o solo e guardar a umidade, uso das cercas vivas como reserva estratégica de forragem por meio do plantio do cardeiro, o plantio de campos da palma consorciados com árvores de múltiplos usos, a implementação de matinhas de leucena e gliricídia como banco de proteína para os animais, dentre outras.
À luz das experiências, os agricultores presentes puderam tirar suas dúvidas e construir suas estratégias de experimentação em suas propriedades: serão implementadas 18 cercas vivas, quatro matinhas de sabiá e 33 presentes irão diversificar seus quintais com mudas de plantas frutíferas e medicinais. Ficou ainda planejado com o grupo oficinas de enxertia, visitas de intercâmbio e a inclusão de novos participantes na Rede de coletores e coletoras de sementes nativas do Polo da Borborema.
Maria Arlete Silva de Amorim agricultora da comunidade Cabeçudo de Baixo, de Casserengue falou sobre a relevância da oficina para o trabalho com as plantas em sua propriedade. Conta que tirou muitas dúvidas sobre o cuidado com a terra e no plantio de mudas. “Na minha terra eu planto milho, feijão carioca e de corda e muitos pés de fruta. Daqui estou levando mudas de coco e de pinha para plantar. Hoje eu aprendi muito sobre como cuidar do solo e usar bem a água para aguar para segurar minhas mudas”.
A oficina de Rearborização está inserida no conjunto das ações do Projeto Terra Forte, que tem o objetivo de contribuir para a reversão e prevenção dos processos geradores da desertificação e do empobrecimento da população no semiárido brasileiro. O Terra Forte é realizado pela AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia em parceria com o Polo da Borborema, PATAC e os Agrônomos e Veterinários Sem Fronteiras (AVS) e é cofinanciado.