Na última terça-feira (16), foi realizado um encontro da Articulação de Agroecologia da região metropolitana do RJ na casa de farinha Laço de Prata, nas terras de Jeremias, agricultor de Magé-RJ. Este foi o terceiro encontro/mutirão de aprendizagem da AARJ na região. Estiveram presentes representantes da Rede Carioca de Agricultura Urbana, do assentamento Terra Prometida, da feira agroecológica de Duque da Caxias, de agricultores e agricultoras de Magé, assessores técnicos da AS-PTA e da ANA, além de representantes do projeto Ambientes de Interação Agroecológica (NIA/Rural-AARJ).
Durante o encontro, a conversa teve como eixo central as histórias da família que, chegou no distrito agrícola de Cachoeira Grande, em Magé, ainda no início do século XX. Mas foi também uma oportunidade única dos/as participantes aprenderem sobre o processo da feitura da farinha. Os participantes acompanharam e contribuíram no processamento desde o descascar da mandioca, a lavagem, passando pelo sovador ou roldete, em seguida pela prensa, peneira e depois para o tacho de cobre para a secagem e torra da farinha. No final da torra da farinha, Juliana Medeiro Diniz, agricultora também de Magé, produziu goma de tapioca fresquinha. A prosa seguiu com um café e a tapioca feita na hora.
O resgate da história do lugar fez com que muitos outros agricultores e agricultoras que estavam ali presentes também contassem suas histórias. Edilson, que hoje trabalha na feira agroecológica de Duque de Caxias vendendo plantas ornamentais foi morador de Cachoeira Grande, contou como era sair pela mata identificando espécies de plantas, relembrou como era a tranquilidade do lugar. As histórias das rezadeiras, benzedeiras e parteiras foram trazidas pela agricultora Filomena de 72 anos. Mineira, dona Filomena é moradora de Magé, e contou que curou muita gente rezando com o galho de vassourinha e cinza no copo.
Troca de Sementes – Um momento foi dedicado para trocas de material genético e de histórias de sobre as sementes crioulas. Levi, agricultor de Cachoeira Grande que também faz farinha, relembrou que havia uma espécie de mandioca chamada “aipim vassourinha”, que era típica na região e que hoje não se encontra mais. Foi levantada a necessidade de recuperar essa variedade.
Juliana, que é paraibana, contou que trouxe fava do nordeste e que nos últimos 15 anos cultiva e guarda as melhores sementes, ela vende a fava na Feira Agroecológica da Freguesia e diz que agrada muito aos consumidores. Tânia, agricultora do assentamento Terra Prometida, contou que nunca deixa uma semente para trás “mesmo quando uma espiga de milho não parece bonita eu guardo”, ela fala ainda que “se na espiga tiver um milho e você plantar, ele vai te dar pelo menos 10”.
Jeremias questionou sobre a entrada das sementes biofortificadas na região. Para ele não é necessário essas sementes, pois, isso cria dependência e tira autonomia do agricultor. Reforçando a fala do Jeremias, Renata Souto, assessora técnica da AS-PTA, lembrou que “ter sua própria semente é ter sua liberdade” e ainda completou, “o pacote químico, o uso de agrotóxicos, de sementes modificadas e de fertilizantes químicos foram responsáveis por invisibilizar as sementes crioulas e os saberes dos/as agricultores/as sobre as práticas milenares de agricultura”, ressalta que a “agroecologia traz de volta esses saberes”.
Ao final do encontro, Tati Pastorello, pode iniciar uma conversa sobre “Boas Práticas no beneficiamento de produtos da Agricultura Familiar”. O Encontro da AARJ na casa de farinha Laço da Prata teve o apoio do projeto “Alimentos Saudáveis em Mercados Locais” da AS-PTA.
A Articulação de Agroecologia do Rio de Janeiro realiza encontros/mutirões a cada trimestre. A cada encontro trabalha-se os temas prioritários a partir da experiência de uma família agricultora. O próximo encontro está marcado para dezembro de 2014.