A 3ª Oficina de Formação para entidades parceiras da pesquisa: “Sistemas agrícolas familiares resilientes a eventos ambientais extremos no contexto do Semiárido brasileiro: alternativas para enfrentamento dos processos de desertificação e mudanças climáticas” aconteceu de 22 a 25 de setembro na sede do Instituto Nacional do Semiárido (INSA) em Campina Grande, na Paraíba e trouxe para o centro das discussões a economia da agricultura familiar e camponesa.
Resultado de uma parceria entre a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) e o INSA, essa pesquisa monitora 100 famílias no desenvolvimento de atividades agropecuárias em todo o Semiárido. A cada módulo, assessores e pesquisadores aprofundam ferramentas para análise dos sistemas agrícolas. O 3º módulo foi dedicado aos instrumentos de análise da geração de renda dos sistemas de produção.
Durante a oficina, Paulo Petersen, coordenador executivo da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia e facilitador desse módulo, conduziu o debate sobre a lógica da economia da agricultura familiar e camponesa comparando-a com a lógica empresarial do agronegócio. O objetivo foi de contribuir com o entendimento das relações econômicas que aí se estabelecem e dos aspectos que precisam ser observados pelos pesquisadores e pesquisadoras.
Entre as questões apresentadas, Paulo Petersen assinala que esse tipo de economia gera riqueza no próprio lugar: “se você analisar estritamente pelo ponto de vista monetário, ela pode parecer inviável, já que existe uma série de economias ocultas, as trocas, por exemplo, são deixadas de fora pela contabilidade convencional”. Acrescenta ainda, que é preciso “desocultar essa economia para entender a lógica da economia camponesa”.
Luciano Silveira, da AS-PTA e coordenador da pesquisa pela ASA, assinalou que “as economias capitalistas impõem suas regras sobre a economia camponesa e isso gera insustentabilidade”. Para Paulo Petersen, é preciso superar a lógica que nos foi imposta: “nos impuseram que a economia é só mercado, porém, diferente do agronegócio que só pensa em lucro, na agricultura familiar não há a lógica do capital, a lógica é a do valor agregado”, diz.
Paulo segue explicando que “as famílias definem suas estratégias econômicas em função do balanço entre seus projetos de vida e dos recursos disponíveis para colocá-lo em prática” e que a conta que deve ser avaliada “é a autonomia e as relações sociais que se estabelecem” nos agroecossistemas. Ressalta que “em geral a agricultura camponesa é vista como ultrapassada e se ela existe ainda é considerada um freio ao desenvolvimento”, no entanto, o que ela representa é o “enfrentamento da pobreza, soberania alimentar e qualidade do alimento.
No dia seguinte a essas reflexões, os participantes divididos em grupos visitaram quatro experiências produtivas de famílias agricultoras apoiadas pelo Projeto Terra Forte, da região da Borborema, nos municípios de Esperança, Areial e Remígio. Nas visitas, os participantes puderam exercitar o olhar para os aspectos econômicos e para os instrumentais de coleta, sistematização e apresentação dos dados.
O encontro foi encerrado no dia 25 com a socialização das visitas, o ajuste de entendimentos, os encaminhamentos para os próximos passos da pesquisa em cada região e o compromisso de qualificar cada vez mais o trabalho na interação com as famílias e a formação permanente tanto nas oficinas quanto nos encontros virtuais.
Com informações de Karol Dias – comunicadora popular da ASA Brasil.