No final do mês de outubro deste ano, representantes das organizações que formam a Rede de Assistência Técnica e Extensão Rural do Nordeste (Rede Ater/NE)) se reuniram em Trairi, litoral leste do estado do Ceará, em um encontro de formação. A atividade teve o objetivo de analisar e estudar a aplicação da metodologia de caracterização dos agroecossitemas das unidades familiares de camponeses e de camponesas que recebem a assessoria das instituições da Rede.
O agrônomo e assessor da AS-PTA, Paulo Petersen facilitou o encontro de formação alimentando o debate sobre Economia dos Agroecossistemas de Gestão Camponesa. O grupo discutiu questões como a diferença entre a economia convencional e a camponesa. Esta última, construída numa perspectiva de coprodução com a natureza, de uso e devolução dos recursos naturais. Outra questão interessante levantada no encontro foi a forma como o modo de produção camponês gera cada vez mais autonomia para as famílias agricultoras, visto que elas ficam cada vez menos dependentes da economia convencional.
O debate sobre a economia camponesa foi fundamental para uma maior compreensão do trabalho da Rede. “Nosso papel (como Ater) é identificar as lutas e o desenvolvimento de novidades, para então potencializar através da formação de redes, por exemplo”, afirma Paulo Petersen. A discussão serviu também de base para a aplicação da metodologia de caracterização dos sistemas produtivos das famílias agricultoras.
Caracterização – é uma metodologia que utiliza diversos instrumentos para analisar os agroecossitemas das famílias camponesas, considerando desde o seu sistema produtivo às relações estabelecidas pelas famílias como por exemplo com igualdade de gênero e geração. Essa metodologia foi sugerida pela Rede Ater/NE, ao Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA), para ser utilizada nos projetos de assessoria às famílias camponesas, pois a mesma já vem sendo aplicada com bons resultados pela Rede há alguns anos. A caracterização veio substituir o questionário utilizado pelo MDA, já que ela proporciona a reflexão de técnicos/as e agricultores/as sobre os vários processos vivenciados dentro do agroecossistema camponês. A caracterização é usada na execução da Chamada ATER Agroecologia, que tem o apoio do MDA e está sendo executada por algumas organizações que fazem parte da Rede Ater/NE.
No campo – o curso também foi espaço para praticar a metodologia estudada. Os/as participantes se dividiram em grupos para visitar quatro famílias agricultoras do território, onde tiveram como tarefa aplicar a caracterização. “Esse exercício que a gente está fazendo é para procurar entender a lógica das famílias no processo de tomada de decisões, nos rumos que ela coloca o seu sistema produtivo. E, isso faz parte do processo que o MDA chamou de caracterização do agroecossitema”, explica Geovane Xenofonte, coordenador geral da ONG Caatinga, de Pernambuco.
A intenção da Rede Ater/NE com essa caracterização é incluir elementos pedagógicos que proporcionem o diálogo e a reflexão sobre o sistema produtivo das famílias, facilitando assim o planejamento da assessoria e o fortalecimento da inovações dos/as agricultores/as. “Ela (a caracterização) é feita de uma forma, que também as famílias se enxerguem ali dentro, e que a família veja que seu conhecimento e suas práticas estão sendo reconhecidos, estão sendo valorizados e, em certos casos, estão sendo difundidos pra outras famílias, a medida que são também organizados intercâmbios de troca de experiência”, completa Geovane.
Chamada Ater Agroecologia: essa chamada foi uma reivindicação dos movimentos sociais ligados ao campo e a agroecologia. Uma Chamada específica para uma assessoria técnica, pautada na agroecologida. Uma bandeira de luta da Rede Ater/NE, da Articulação Nacional de Agroecológia (ANA), e de grupo de mulheres através da Marcha das Margaridas. Maria Cristina Aureliano, Coordenadora Técnico Pedagógica do Centro Sabiá, explica que essa chamada se baseia em alguns princípios como a construção coletiva do conhecimento, espaços pedagógicos específicos para as crianças, em encontros e atividades. Essa ultima ação tem a ver com a criação de possibilidade de inserção de mulheres na assessoria.“Ter uma participação grande de mulheres, ou seja, no mínimo 50% das beneficiárias atendidas pela chamada são mulheres, também tem que ter uma certa proporção dos recursos investidos em atividades específicas pra mulheres, bem como ter equipes técnicas que tenham um número significativo de mulheres”, finaliza Maria.
Por Thiberio Azevedo (assessoria Cetra/CE)
Foto Thiberio Azevedo
Fonte: www.centrosabiá.org.br