Cerca de 90 agricultoras e agricultores, pesquisadores, estudantes, professores, extensionistas da Emater, representantes de entidades de assessoria e gestores públicos se reuniram na última terça-feira, 02 de dezembro, em Lagoa Seca-PB, no “Seminário Revitalização da Batata Agroecológica”, promovido pela Comissão Territorial da Batata Agroecológica da Borborema. O objetivo do evento foi fazer um balanço sobre os impactos da revitalização da batata agroecológica em 2014, socializar resultados de pesquisas realizadas sobre o manejo da fertilidade do solo na cultura da batata e discutir estratégias de manejo das doenças da cultura, além de definir estratégias para continuidade da produção da batatinha em 2015.
Nelson Anacleto, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lagoa Seca e da Coordenação do Polo da Borborema, abriu o evento fazendo um resgate histórico da produção da batatinha nos anos 1990 e da sua crise no início dos anos 2000, que quase causou a extinção desse tipo de cultura no território: “A cultura da batatinha era conhecida como uma ‘cultura de renda’ na região, dada a sua importância. Mas o aparato agroquímico fez os agricultores irem perdendo as suas variedades e inviabilizando o cultivo, não só por este, mas por uma série de outros fatores como a concorrência com a batata que vinha do Sul e o alto custo de produção, que estava condicionado à aquisição de pacotes, com o uso de uma grande quantidade de veneno, que ocasionou o desgaste dos solos”, afirmou.
Nelson relembrou ainda todo o processo de revitalização da cultura, à partir da criação da Comissão Territorial em 2011, e já com as primeiras discussões em 2009: “Desde as décadas de 80, 90 a gente já vislumbrava uma outra forma de produzir, sem agrotóxicos. Mas foi a partir de três experiências nos municípios de Areial, Lagoa Seca e Montadas em uma parceria com a Embrapa, que começamos a reacender nos agricultores essa possibilidade. Em 2011, abrimos um diálogo com a Sedap (Secretaria de Estado do Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca) e conseguimos a compra de 940 caixas de batatas sementes, que foram disponibilizadas para os agricultores, o que deu um suporte para esse trabalho de retomada do plantio em novas bases”, completou.
Após a fala de Nelson, os participantes se dividiram em quatro grupos, que por meio da metodologia do carrossel, conheceram quatro experiências exitosas desenvolvidas em 2014 nos temas : Manejo ecológico das doenças na batata agroecológica; Circuitos de comercialização da batata agroecológica; Manejo da fertilidade do solo na produção da batata e Seleção de batata sementes e armazenamento na câmara frigorífica.
Anilda Batista Pereira e Orlando Soares Correia, agricultores feirantes dos municípios de Remígio e Esperança, respectivamente, apresentaram a experiência de comercialização da batatinha da Ecoborborema, associação que feirantes de municípios da região de atuação do Polo da Borborema. “Esse trabalho veio numa hora muito boa, pois a gente vivia na mão dos atravessadores. Hoje a realidade mudou, vendemos nossa produção na feira agroecológica e estamos provando que não precisa de veneno para produzir uma batata de qualidade, com um sistema de produção agroecológico, que só agrega valor ao produto”, afirmou Orlando, atual coordenador da Ecoborborema.
Produção – Em 2014, os 126 agricultores produtores de batatinha da região colheram 270 toneladas do produto. Desta quantidade, 170 toneladas foram comercializadas nas feiras agroecológicas da região e para os programas governamentais PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar). Do restante, 49 toneladas ficaram armazenadas no frigorífico regional de Esperança-PB e 27 toneladas foram para o consumo familiar. Os números foram comemorados pelos agricultores, considerando-se os três anos seguidos de estiagem severa que a região tem enfrentado.
José Nivaldo dos Santos, do Sítio Arara, em Areial-PB, começou a plantar a batatinha em 2011, com estímulo do Polo da Borborema e assessoria da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia. Ele está experimentando a variedade Elisa, consorciada com milho e fava e se diz satisfeito: “Esse ano plantei 25 caixas e colhi 180, em um ano bom de chuva, eu colheria 250 a 300 caixas. Mas estou muito satisfeito, não deixo essa batata nunca!”, afirma o agricultor.
Após a apresentação das experiências, foi feito um debate em plenária. Na parte da tarde foram apresentados os resultados e impactos do trabalho de produção da batata em 2014. O Secretário Estadual de Agricultura da Paraíba (SEDAP), Agamenon Vieira, esteve presente no Seminário, e reafirmou o compromisso de apoiar o trabalho com a compra de novas variedades no ano que vem.
O evento foi encerrado com um trabalho em grupo que levantou avanços, desafios e propostas para o fortalecimento do trabalho em 2015. Foram levantados os desafios como o estoque de batata para consumo, as dificuldades com mão de obra, a renovação das sementes, o enfrentamento ao mercado local e aos atravessadores, o envolvimento da juventude e os problemas com pragas na batata.
Os grupos enumeraram como conquistas do ano o aumento da produção e o crescimento do cultivo, com o aumento do número de produtores, a ampliação da rede, as parcerias com as entidades de pesquisa e o acesso aos programas governamentais para venda do produto. Foram lançadas ainda propostas como a renovação das parcerias com o Estado e a Embrapa, implantação de campos de multiplicação das sementes, incluir mais variáveis no monitoramento da produção, promover mais visitas de intercâmbio e sistematização de experiências e ampliar a divulgação das feiras agroecológicas entre outras.
Além disso, foi reafirmada a necessidade de abertura da segundaª câmara frigorífica para armazenamento de batata consumo, a qual terá como objetivo específico a oferta de batata agroecologica para as feiras agroecologicas, programa de aquisição de alimentos e Programa Nacional d Alimentação Escolar, durante o período de sazonalidade da produção de batata na região da Borborema.