Nesta sexta-feira, 05 de dezembro, cerca de 400 pessoas, representantes de entidades sociais e movimentos de mulheres que integram o Comitê de Solidariedade Ana Alice e o Coletivo de Mulheres do Campo e da Cidade, tomaram as ruas do município de Queimadas, no Agreste Paraibano, para lembrar os dois anos do assassinato de Ana Alice de Macedo Valentin, militante do Polo da Borborema e jovem liderança do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Queimadas-PB.
A jovem de 16 anos foi violentada e brutalmente assassinada, ao voltar da escola, no dia 19 de setembro de 2012, pelo vaqueiro Leônio Barbosa de Arruda. Seu corpo foi enterrado em uma fazenda no município de Caturité, só sendo encontrado 50 dias após o crime. Graças à denúncia de uma nova vítima, que sobreviveu à tentativa de assassinato e teve o apoio do Comitê Ana Alice, o criminoso conseguiu ser preso.
O objetivo da mobilização, organizada dentro do 16 dias de ativismo, foi denunciar todas as formas de violência contra a mulher, além de cobrar da justiça celeridade no julgamento dos dois envolvidos no caso, já que o criminoso contou com a ajuda de um comparsa, à época menor de idade, que até o momento não cumpriu as medidas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Além disso, Ana Alice foi a quarta vítima de um mesmo criminoso, de alta periculosidade, que cometeu outros crimes após o assassinato da jovem. Mesmo sob custódia da justiça, no Presídio do Serrotão, o criminoso conseguiu fugir em abril deste ano, deixando as famílias de suas vítimas e a comunidade local em pânico, só sendo recapturado 10 dias após a fuga. Situações que, para as representantes do Comitê, justificam a pressa em seu julgamento.
As manifestantes saíram em caminhada do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Queimadas, acompanhadas por carro de som, segurando faixas, cartazes e cruzes, simbolizando e denunciando as mortes de mulheres vítimas da violência. De lá seguiram até o Fórum da Comarca de Queimadas-PB, onde uma comissão formada por representantes do Comitê Ana Alice e do Coletivo de Mulheres do Campo e da Cidade, foi recebida pelo Juiz Titular da 1ª Vara Mista de Queimadas, Antônio Gonçalves Ribeiro Junior, responsável pelo caso. O magistrado recebeu das mãos de Angineide Macedo, mãe de Ana Alice, um ofício solicitando agilidade no julgamento e punição dos criminosos.
Angineide lembrou ao juiz que todos os 10 criminosos envolvidos no caso do estupro coletivo ocorrido em Queimadas também em 2012, já foram julgados e condenados, enquanto o do caso de Ana Alice permanece aguardando julgamento: “Por se tratar de um réu confesso, a gente não esperava que demorasse tanto tempo, queremos ter a certeza de um julgamento exemplar, até para que o que aconteceu com minha filha não volte a se repetir”, afirmou.
O juiz se comprometeu em empenhar esforços no sentido de agilizar os procedimentos para o agendamento do júri popular a que o assassino será submetido e justificou a demora no andamento do processo: “Temos uma tramitação que devemos respeitar, no sentido de garantir a ampla defesa aos acusados, e estamos vigilantes ao cumprimento destas etapas. Mas, nesse caso, a demora se deu pelo acúmulo de serviço que temos, devido ao ano eleitoral que atravessamos. Além disso, aqui atualmente tramitam 2.300 processos, todos têm a sua necessidade, mas sensivelmente reconhecemos que alguns se impõem pela sua especificidade e eu posso afiançar a vocês que, que tão logo a defesa seja intimada, nós daremos seguimento para o julgamento”, disse.
Após a parada no Fórum, a caminhada seguiu para o Centro da cidade, onde houve um ato público, que teve a participação de representantes da Secretaria de Estado da Mulher e da Diversidade Humana (SMDH), do Centro de Referência Estadual da Mulher Fátima Lopes e das famílias de Isabella Pajuçara e Michele Domingos, assassinadas durante o bárbaro estupro coletivo ocorrido em Queimadas.
No local, cinco mulheres se deitaram no chão e ao redor de seus corpos foi pintado um contorno com tinta branca, simbolizando as mortes de mulheres vítimas de violência. Gritando palavras de ordem como: “Somos todas mulheres de Queimadas!”, as manifestantes distribuíram panfletos e com a ajuda de um carro de som dialogaram com a sociedade do município e com passageiros de ônibus que passavam pelo local: “Chamamos a atenção de vocês, estudantes que estão indo para as suas escolas e esperam mais tarde retornar, nós todos temos que estar atentos para a violência, pois há dois anos atrás, Ana Alice também saiu para ir à escola, e como vocês, esperava voltar para a sua casa, no entanto foi vítima desse crime terrível. Por isso estamos aqui hoje, para que isso não volte a acontecer jamais”, disse Maria Anunciada Flor, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Queimadas, no final do ato.