No dia 10 de dezembro de 2014, cerca de 25 mulheres que fazem parte da Comissão de Saúde e Alimentação, ampliada com a participação de representantes de outras comissões do Polo da Borborema, por lideranças sindicais e assessoras da AS-PTA se reuniram para organizar o processo de formação preparatório à VI Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia, que em 2015 acontecerá em Lagoa Seca, no dia 12 de março.
A reunião teve início com um histórico das Marchas, resgatado por Léia Soares, do Sindicato de Massaranduba, da Coordenação da Comissão e do Polo da Borborema. Léia lembrou cada edição da Marcha, os aprendizados e após o grupo assistir à reportagem da última Marcha, as mulheres fizeram uma profunda e emocionante avaliação dessa trajetória.
“Minha vizinha contou que foi em duas Marchas. Na última, ela saiu sob ameaça. Mas falou: eu vou! E foi. Quando voltou falou: agora se ele me bater, eu bato nele também. Essa multidão de mulheres nos dá força”, explica Cláudia, agricultora-experimentadora de Lagoa de Roça. “Na primeira marcha que eu fui, no meu município, quando voltei meu marido jogou a comida para todo lado. Na segunda, em Solânea, quando voltei eu chamei a polícia quando ele tentou me agredir”, conta Ligória, agricultora-experimentadora do município de Esperança.
Além do sentimento de não está mais só, as agricultoras e lideranças avaliaram que mais importante do que as próprias marchas, são os processos preparatórios à ela. “Os momentos preparatórios são muito importantes. Eu mesma apanhava na hora de sair e na hora de chegar. Mas nas reuniões nos tornamos psicólogas, advogadas e juízas uma das outras. Quando vamos para marcha, ainda podemos sair com dúvidas, mas lá, mais conscientes, voltamos mais fortalecidas”, avalia Márcia Patrícia, hoje da Coordenação da Comissão de Criação Animal e do Sindicato de Queimadas.
As lideranças e dirigentes sindicais levantaram a importância do processo preparatório e da marcha também para o fortalecimento na ação sindical. “Atuamos num ambiente muito machista, mas com o fortalecimento do trabalho das mulheres fomos também nos fortalecendo enquanto liderança e fomos ganhando reconhecimento do nosso trabalho dentro das entidades”, avalia Marlene Pereira, vice presidente do Sindicato de Lagoa Seca, município que receberá a próxima Marcha.
Após a rodada de avaliação, as mulheres construiram os objetivos da Marcha que nortearão o processo de formação e as ações do trabalho de mulheres para o ano seguinte. Para 2015, destaca-se um olhar especial para juventude. Será realizado um momento de formação específico para as jovens agricultoras do Polo da Borborema. Para esse processo será produzido ainda a continuidade do vídeo “A Vida de Margarida”. Nesse episódio, Zefinha, a filha de Margarida quer casar para se ver livre da prisão criada pelo pai e pelo irmão, caindo nas mãos de um namorado tão machista quanto seu pai.
Além dos momentos regionais, cada município pode organizar seu processo interno e juntas construíram um plano de comunicação para ampliar as vozes dessas mulheres na região. “Hoje demos o primeiro passo para a caminhada de 2015. A construção conjunta de um plano de trabalho, assentado na experiência de vida de cada uma dessas mulheres é que vem fortalecendo a ação desse trabalho. É assim que estamos promovendo uma revolução na Borborema, como bem avaliou uma liderança. Podemos falar que é uma revolução construída por pequenas revoluções: ora individual, ora de um grupo, ora refletida no conjunto do trabalho”, avalia Adriana Galvão Freire, assessora técnica da AS-PTA e da Coordenação do trabalho de Mulheres da Boborema.