Cerca de 170 agricultoras e agricultores dos 15 municípios onde o Polo da Borborema atua estiveram reunidos nos dias 15 e 16 de dezembro, em Lagoa Seca, no seu encontro anual de balanço das atividades. O objetivo do evento foi refletir sobre o significado do projeto político do Polo para o fortalecimento do movimento sindical, debater a ampliação e os principais resultados e impactos do trabalho para os agricultores e suas organizações em 2014 e dar visibilidade a ação com a juventude, além de lançar a VI Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia.
O encontro foi aberto com uma mística onde dois representantes de cada sindicato membro do Polo trouxeram uma vela e uma bola para pendurar na árvore de natal que ficou montada durante todo o evento. Em seguida, foi feita uma rápida rodada de debate em plenária sobre os principais avanços do ano de 2014, que destacou, entre outros pontos, o fortalecimento e a ampliação dos programas P1MC (Programa Um Milhão de Cisternas) e P1+2 (Programa Uma Terra e Duas Águas), o monitoramento da produção e da comercialização nas feiras agroecológicas, o fortalecimento do papel da juventude e o investimento nas ações de manejo da fertilidade do solo com as esterqueiras, compra do pó de rocha, produção de biofertilizantes, além da disseminação de inovações como o fogão ecológico e o biodigestor.
Os participantes então seguiram para um trabalho em grupo, divididos por municípios, que refletiram em cima das questões provocadoras: quais os principais avanços para o meu município? Como este trabalho tem contribuído com a nossa ação sindical? A forma que os sindicatos tem se organizado, tem dado conta do trabalho? Francisco Luís da Costa, agricultor do Sítio Gruta de Santa Tereza de Solânea-PB, avalia que há avanços em todas as áreas: “Até porque quando as partes não andam bem, o todo também não pode estar. Antes eu produzia, mas não participava da feira. A gente tá tendo uma oportunidade que nossos avós não tiveram, de ter um trabalho organizado, porque sem união a gente não vai a lugar nenhum”, afirmou.
Euzébio Cavalcante, presidente do Sindicato de Remígio-PB, agricultor do Assentamento Queimadas, lembrou os três encontros municipais da juventude realizados no seu município em 2014, fruto de um trabalho apoiado desde as comunidades: “Estamos conseguindo apoiar várias experiências e grupos de jovens, mesmo tendo limites, de muitas vezes, os próprios pais considerarem os jovens apenas como seus ajudantes. Por isso temos estimulado a participação desses jovens nas comissões temáticas no sentido de ir fortalecendo o conhecimento e a autonomia do jovem”. Para Maria do Céu Silva, da direção do Sindicato de Solânea e João Batista Filgueiras, do Sítio Chã de Solânea, o trabalho do Polo ao longo do tempo foi ajudando a elevar o nível de exigência das pessoas com relação à atuação dos sindicatos rurais: “Hoje as pessoas sabem que você não pode mais assumir um cargo e ficar ali parado, sem prestar contas”, avaliou o agricultor. “O sindicato só tem vida porque tem pessoas organizadas nas comunidades cobrando. Isso tem nos puxado para o campo e para reconhecer o papel das famílias agricultoras”, afirmou a dirigente sindical.
O período da tarde foi aberto com a socialização dos grupos da manhã e a apresentação em fotos das principais lutas e ações de 2014, como: o lançamento do Projeto Aliança pela Agroecologia, o processo eleitoral da Federação dos Trabalhadores da Agricultura da Paraíba (Fetag-PB), com a chapa de oposição encabeçada pelo Polo, a participação no III Encontro Nacional de Agroecologia e no ato público de apoio à candidatura petista, a articulação e a mobilização pelo enfrentamento à violência contra a mulher com a realização da V Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia em Massaranduba-PB e a mobilização dos 2 anos sem Ana Alice em Queimadas-PB, o fortalecimento do trabalho com as escolas em defesa da educação contextualizada, a realização dos encontros nacional e estadual de agricultoras experimentadoras, a articulação da juventude, a comemoração dos 40 anos do Banco de Sementes São Francisco e o fortalecimento do trabalho da criação animal e das cisternas de beber e de produção.
Lançamentos – na segunda parte da tarde, foram lançados o vídeo “Minha vida é no meio do mundo” que trata sobre o trabalho do Polo da Borborema de valorização e reconhecimento do trabalho e do papel das mulheres na agricultura familiar e também da sexta edição da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia, que em 2015 acontecerá em Lagoa Seca. “Ainda bem que a nossa vida é no meio do mundo, né gente? A gente sai para as visitas de intercâmbio, pra conhecer coisas novas. Mas, infelizmente ainda temos companheiros que dizem que a gente não tem o que fazer, que colocam na cabeça dos nossos maridos que eles vão levar chifre. As vezes a gente vê uma mulher participando de uma reunião, mas não sabe o que ela passou pra poder chegar ali. É por isso que a gente precisa mostrar esse vídeo pra outras companheiras, que não puderam estar aqui. Essa é a nossa mensagem para a nossa marcha em 2015, todas vocês serão muito bem vindas ao nosso município”, disse Marlene Pereira, liderança da Comissão de Mulheres do Sindicato de Lagoa Seca-PB. Após este momento, o dia de trabalho foi encerrado com uma ciranda. A noite cultural foi animada pela cantora paraibana Cida Dias.
Juventude Camponesa – O segundo dia do encontro foi iniciado com uma encenação com a participação de dois jovens, que trabalham em um cenário de arredor de casa. Enquanto trabalhavam, Erivan Alves, de 27 anos, do Sítio Floriano em Lagoa Seca e da Comissão de Jovens do Polo da Borborema, leu a sua “Carta da Juventude do Campo”. O documento é um relato pessoal de mulheres e homens jovens que contam de uma forma resumida, em formato de carta, a sua experiência na agricultura familiar, seus sonhos e desafios. Ao todo serão publicadas 60 cartas como a de Erivan, com o apoio do Projeto Sementes do Saber, desenvolvido pela AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, com o apoio do CCFD, da Action Aid e cofinanciamento pela União Europeia. Após isso, foi exibido um de uma série de 19 vídeos com depoimentos dos jovens semelhantes aos escritos nas cartas. Os vídeos foram produzidos numa parceria entre o projeto Sementes do Saber e a Bagabaga Studios, produtora de vídeo de Portugal.
Em seguida, os demais jovens, dispostos em círculo, leram cartazes que trouxeram com palavras de ordem e desejos para o trabalho da juventude rural e gritando: “Juventude e agroecologia, a luta é todo dia”, iniciaram o lançamento do calendário 2015 do Polo da Borborema, que este ano trouxe como tema: “Jovens na Agricultura Familiar: construindo o futuro na Borborema” e a foto de um grupo de jovens segurando produtos frutos do seu trabalho. Gabriela dos Santos Galdino, de 18 anos, do Sítio Nicolândia, em Massaranduba-PB, apresentou a proposta da publicação, de 15.000 exemplares: “O calendário não mostra apenas o que acontece hoje, mas um trabalho que começou há 12 anos com a Campanha de Fortalecimento da Vida na Agricultura Familiar. Aquelas crianças cresceram e se tornaram jovens. Então quisemos mostrar que estamos no campo e que temos sonhos, mas que a gente não só sonha, mas realiza também”, disse.
O encontro de balanço seguiu para trabalhos em grupos divididos por comissões temáticas: cultivos agroflorestais, criação animal, acesso a mercados, saúde e alimentação, recursos hídricos e sementes e fertilidade do solo. Em seguida, houve a socialização do trabalho dos grupos, que apontou avanços e desafios do ano que está terminando e propostas para o que se inicia. Em seguida foram apresentadas datas importantes de ações que acontecerão já nos primeiros meses de 2015 a exemplo do planejamento anual e as jornadas municipais, das formações em preparação à marcha das mulheres em Lagoa Seca, entre outras atividades. O encerramento do encontro aconteceu com um grande círculo, que terminou com um abraço coletivo entre os participantes.