A convite da Secretaria Municipal de Educação de Lagoa Seca-PB, assessores técnicos do Núcleo de Infância e Juventude da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia e lideranças mulheres da Comissão de Saúde e Alimentação do Polo da Borborema, participaram no dia 25 de fevereiro do Seminário de Educação do Campo, dentro da programação da III Jornada Pedagógica do município, que teve início no dia 23 de fevereiro.
O evento contou com cerca de 400 professores e gestores escolares do ensino fundamental I e II. Ao dar as boas vindas, a Secretária de Educação, Joelma Rocha, lembrou que das cerca de 5 mil crianças matriculadas na rede do seu município, apenas 400 são urbanas, daí a importância estratégica de se debater a educação do campo e a educação contextualizada. A gestora lembrou o início da parceria com o Polo da Borborema e com a AS-PTA que deu um ponta pé para que a secretaria começasse a iniciar ações nesse campo. Em 2015 haverá uma ampliação do diálogo, no sentido de debater temas mais amplos, como a água no Semiárido.
Após a acolhida feita com uma ciranda, a pedagoga e atriz Maria do Socorro Alves Santos, do Núcleo de Infância e Juventude da AS-PTA, fez uma intervenção artística com a personagem “Vó Maria”, criada para trabalhar os conteúdos da agricultura familiar com crianças filhos e filhas de agricultores da região do Polo. “Vó Maria” interagiu com a plateia e fez alguns dos participantes reviverem brincadeiras da sua infância.
Em seguida, Manoel Roberval da Silva, coordenador da AS-PTA, apresentou o trabalho que a entidade, junto com o Polo da Borborema, desenvolvem na região desde 2002, com a Campanha em Defesa da Vida na Agricultura Familiar, apoiada pela ActionAid, que busca reforçar a identidade camponesa desde a infância, valorizando os conhecimentos e o modo de vida do campo. Roberval fez ainda uma breve caracterização do município de Lagoa Seca, onde as duas instituições (Polo e AS-PTA) atuam há mais de 20 anos: “Este município é marcado por várias diferenças, climáticas, ambientais e culturais. Aqui 60% das pessoas vivem no campo, esse é o único município da região com tantas pessoas vivendo na zona rural. O aprendizado coletivo dos agricultores daqui sobre a sua cidade e a sua região ajudou a transformar a vida, a paisagem e as políticas públicas no território em que estão inseridos”, afirmou.
Após essa fala, Ana Célia Silva Menezes, convidada de João Pessoa da Rede de Educação do Semiárido Brasileiro (Resab), fez uma exposição sobre os princípios da educação no campo. Ela iniciou conceituando a educação do campo, que caracteriza, não só uma escola localizada em zona rural, mas também aquela escola que atende uma população rural. Ana Célia lembrou que discutir a educação do campo não é mais uma opção, mas um dever previsto na legislação brasileira da educação.
A convidada afirmou que, apesar de as escolas do campo serem uma realidade desde sempre, ela só se constitui enquanto movimento a partir de 1998: “Temos ainda pouco conhecimento, muitas escolas do campo não trabalham as normas e diretrizes para a educação do campo, que é uma educação constituída a partir dos sujeitos do campo. Precisamos conhecer estes sujeitos e suas formas específicas de viver. Estas formas precisam estar na escola, para fortalecer a cultura dos povos do campo”, disse.
Concluindo sua fala, a representante da Resab listou os princípios da educação do campo como a contextualização, a problematização da realidade e o trabalho com um princípio educativo. Ela relembrou ainda o processo de afirmação da educação do campo, um movimento de “baixo pra cima”, que nasce da experiência dos movimentos sociais e de resistência À negação de direitos às populações rurais, marcado pela violência, expropriação e humilhação dessas populações.
Por último, Marlene Pereira, vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lagoa Seca e da Comissão de Saúde e Alimentação do Polo da Borborema e Adriana Galvão Freire, assessora técnica da AS-PTA, que acompanha o trabalho com as mulheres, fizeram um exercício com os presentes a respeito das desigualdades de gênero. A proposta foi dar início aos debates, nas escolas, sobre os temas problematizados pela VI Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia, realizada pelo Polo da Borborema e AS-PTA, como forma de valorizar o papel das agricultoras e denunciar todas as formas de violência contra a mulher.
Em seguida, houve a exibição do curta “Vida Maria”, que conta a história de Maria José, uma menina de 5 anos, que é levada a largar os estudos para trabalhar. Enquanto trabalha, ela cresce, casa, tem filhos, envelhece. Após o filme, foi feito um debate sobre os efeitos de uma sociedade, seja no campo ou na cidade, que não oferece oportunidades iguais para homens e mulheres.
A programação foi realizada em dois turnos, o encontro foi encerrado com o convite a participação na VI Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia, que este ano acontecerá em Lagoa Seca, no dia 12 de março. São esperadas cerca de 5 mil mulheres rurais do Polo da Borborema, mais convidadas de outras regiões do estado. O evento contou ainda com a presença do prefeito do Município, José Tadeu, que saudou os presentes e se disse muito satisfeito com a realização da marcha no município.