Cerca de 60 agricultoras e agricultores ligados à Rede de Bancos de Sementes Comunitários do Polo da Borborema, na Paraíba, participaram nesta terça-feira, 28 de abril, do Encontro Territorial de Lançamento do Projeto “Sementes do Semiárido”, da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA Brasil). O Projeto Sementes do Semiárido tem como unidades gestoras na Paraíba três organizações não governamentais, entre elas, a AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, que assessora o trabalho do conjunto de 14 sindicatos de trabalhadores rurais organizados em torno do Polo da Borborema.
O encontro aconteceu na sede do Banco Mãe de Sementes do Polo da Borborema, localizado no município de Lagoa Seca-PB. A programação foi iniciada com uma mística em que os representantes dos municípios presentes foram convidados a semear o que desejavam para este dia. Em seguida, Roselita Vitor, da coordenação do Polo da Borborema, fez uma apresentação relembrando a trajetória de luta e resistência das famílias agricultoras pela autonomia no acesso às sementes dentro do território do Polo, que tem início no começo dos anos 90, relembrando inclusive a luta pelo próprio espaço do Banco Mãe, que apesar de ainda não estar adequado às necessidades dos agricultores, já está sendo ocupado para momentos políticos importantes. A liderança frisou os acúmulos que vem construindo a crítica aos programas governamentais de distribuição de sementes, que muitas vezes desconsideram o que os agricultores estão fazendo nas suas bases e operam na lógica da reprodução de dependência das sementes vindas de fora.
Rose também lembrou que o Território do Polo este ano irá receber a VI Festa Estadual das Sementes da Paixão, da Articulação do Semiárido (ASA Paraíba), prevista para outubro de 2015, uma responsabilidade grande para o movimento da região que exige uma preparação no território. Ela finalizou provocando a platéia a pensar quais os avanços na luta pelas sementes que podem ser identificados até hoje. Após esta fala, Diva Medeiros, assessora técnica do Núcleo de Sementes da AS-PTA, fez uma socialização do monitoramento dos Bancos de Sementes Comunitários (BSC) existentes nos municípios do Polo realizado em 2014.
O levantamento mostrou que atualmente o Polo da Borborema possui 57 bancos comunitários em funcionamento e cerca de 30 fora de atividade no momento, neste monitoramento não estão contados os bancos de sementes abrigados nos sindicatos dos municípios. Os estoques de todos os bancos somam 14.805 toneladas de sementes armazenadas, o que surpreendeu a equipe técnica, considerando-se os três anos de estiagem que a região vem enfrentando. Após a socialização do monitoramento, houve uma rodada de debate onde debateu-se a importância do monitoramento para o fortalecimento do trabalho e os presentes viram a necessidade de discutir o que fazer para colocar novamente em funcionamento os 30 bancos “adormecidos”.
Emanoel Dias, assessor técnico do Núcleo de Sementes da AS-PTA lembrou que o exercício do monitoramento aconteceu no território, mas que a idéia não é a de acompanhar banco a banco: “Não temos como fazer esse acompanhamento em todos os lugares, até porque acreditamos em um modelo de assistência técnica em que os próprios agricultores são capazes de fazer esse acompanhamento e monitoramento das ações nas comunidades. É preciso que as pessoas estejam conscientes do seu papel no município”, disse.
Após esse momento, Emanoel fez a apresentação do Projeto Sementes do Semiárido e iniciou lembrando que antes de qualquer projeto, existe um trabalho e uma luta em torno das sementes, até porque o projeto tem início, meio e fim e a luta é permanente e o que está em disputa são dois modelos de agricultura, o dos agricultores familiares e o do agronegócio.
Segundo Emanoel, o Projeto chega após uma longa trajetória em que a ASA Brasil vem se constituindo em uma referência na gestão de recursos públicos. Ele explicou que o projeto é uma experiência piloto que a Borborema vai atuar em oito municípios: Arara, Areial, Casserengue, Lagoa Seca, Queimadas, Remígio, Solânea e Damião. Este último município não compõe o Polo, mas é uma proposta do projeto que vá além do território onde está sendo desenvolvida a experiência.
O Projeto teve início em março de 2015 a abril de 2016. Foram apresentadas as ações previstas pelo projeto como implantação de campos de multiplicação de sementes, visitas de intercâmbio, oficinas e encontros de formação, aquisição de sementes da paixão para ampliação dos estoques comunitários de sementes e estruturação e/ou construção de 22 bancos de sementes. Cada município envolvido no projeto terá até três bancos de sementes beneficiados.
O período da tarde foi dedicado ao planejamento coletivo das atividades da Rede de Sementes e o calendário de formação do projeto nos municípios que receberam as construções e ampliações dos bancos comunitários de sementes.
O Projeto Sementes do Semiárido é apoiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pelo Governo Federal por meio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) no âmbito do Programa Brasil Agroecológico – Plano Nacional de Produção Orgânica e Agroecologia (Planapo).