Nos dias 19 e 20 de maio de 2015, o Polo da Boborema e a AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia realizaram o Seminário Regional sobre Beneficiamento de Alimentos. O evento reuniu no Santuário Padre Ibiapina, em Arara-PB, cerca de 60 participantes, em sua maioria, agricultoras que participam das atividades de formação da Comissão de Saúde e Alimentação do Polo, e mulheres já envolvidas com a prática de beneficiamento, individual ou coletiva, no território.
O objetivo do evento foi fazer um diagnóstico sobre as práticas de beneficiamento no território, refletir sobre o significado dessas práticas para as famílias agricultoras e desencadear novos processos de formação sobre beneficiamento. A programação teve início com a apresentação dos participantes por município, em seguida todas foram convidadas a falar sobre os produtos que trouxeram para o encontro e depois colocá-los sobre o mapa do Polo, em cima do local onde está o seu município.
Durante esse exercício, as mulheres partilharam as suas estratégias e práticas e afirmaram que o beneficiamento surge como uma necessidade da sua própria sobrevivência na agricultura: “Para o doce, eu guardo o mamão já cortadinho no congelador, como a gente planta muito, eu sempre guardo, pois quem vive da agricultura como a gente, guardando, quando quer, sempre tem. Faço bastante beiju, bolo pé de moleque, lá em casa ninguém compra pão”, afirma Elizabeth Ananias Barbosa, conhecida como “Beta”, do Sítio Xique-Xique, município de Remígio. “Eu sou de Queimadas, e quando cheguei em Massaranduba me deu muita tristeza em ver tantas frutas se perdendo. Então comecei a conversar com a associação para saber como a gente poderia aproveitar. Participei de uma oficina do Sindicato e comecei a fazer as polpas, beneficiar frutas. Tem 3 anos que vendo para o PAA e PNAE, hoje na minha casa refrigerante eu não compro, quem chegar, a hora que chegar, vai tomar o suco, porque eu sempre tenho”, afirma Gerusa da Silva Marques, agricultora do Sítio Cachoeira de Pedra D’água, em Massaranduba-PB.
Muitas agricultoras comercializam o excedente dessa produção nas feiras agroecológicas da região trabalhando com os princípios da economia solidária: “Esse pão que eu faço na feira custa cinco reais, mas se a companheira só tiver três, ela vai levar, e se ela tiver maracujá e eu não tiver, a gente troca”, contou Vanderli Florentino, conhecida como “Vanda”, do Assentamento Corredor, em Remígio.
A manhã terminou com uma rodada com depoimentos das mulheres e espaço para a troca de uma grande diversidade de receitas com produtos da agricultura familiar: colorau líquido e em pó, bolo de macaxeira, milho, batata e jerimum, molho de pimenta, pimenta em pó, queijo, cocada, tapioca, beiju, polpas, doces, licores e geléias de frutas nativas, xaropes e lambedores com plantas medicinais, pasta de coentro, suco de coco verde, bife de caju, bolo da casca de laranja e de banana, jaca frita, multimistura, jabuticaba cristalizada foram alguns dos exemplos.
A parte da tarde do primeiro dia do seminário foi iniciada com um trabalho em que os participantes se dividiram em três grupos: umbu, manga e laranja. Foram lançadas para os grupos as seguintes perguntas: Por que a família beneficia essa quantidade de produtos? Quais são os desafios no momento de beneficiar? O que podemos fazer para superar?
O primeiro dia de evento foi encerrado com uma feira de produtos e experiências das agricultoras, que comercializaram e trocaram uma infinidade de produtos, experiências e receitas.
O segundo dia do evento foi aberto com a socialização dos trabalhos em grupo. Entre os principais motivos para beneficiar os produtos estão a preocupação em evitar o desperdício e aumentar o aproveitamento, a diversificação da alimentação da família e a garantia da procedência, qualidade e quantidade da alimentação durante o ano todo, além de evitar a compra e ainda gerar renda com a comercialização destes produtos.
Já entre os desafios levantados foram bastante citados: a burocracia dos programas governamentais de aquisição de alimentos e vigilância sanitária, o acesso a maquinário, a concorrência com os produtos vindos de fora ou industrializados, o armazenamento e acondicionamento, embalagem e transporte dos alimentos beneficiados e a desvalorização de alguns produtos e práticas. Pistas como a conscientização sobre a importância dessa prática e dos alimentos beneficiados em casa por meio de oficinas, promoção de mais momentos de troca de experiências, fortalecer as feiras agroecológicas e as sementes nativas, organização comunitária para a partilha de equipamentos e formação de novos grupos de beneficiamento foram levantadas durante os trabalhos em grupo.
As agricultoras Enildes Soares dos Santos, “Nilda”, da comunidade Araçá, de Arara e Beta, do Sítio Xique-Xique, de Remígio apresentaram e debateram sobre as suas experiências no campo do beneficiamento, a primeira com o grupo de mulheres do qual participa, que beneficia frutas e a segunda com o beneficiamento familiar de uma diversidade de alimentos. Após esse momento, os assessores técnicos da AS-PTA e atores Afrânio Pereira de Azevedo e Edson Possidônio da Silva encenaram um esquete em que, de forma descontraída, representaram um casal de agricultores feirantes (“Jurema” e “Zé Bedeu”) que prepara seus produtos sem nenhum cuidado com a higiene e a limpeza do ambiente.
A peça foi usada para provocar um debate e uma reflexão sobre as boas práticas no beneficiamento e a construção coletiva de normas básicas de higiene para a preparação e a comercialização de produtos. O encontro foi encerrado com o momento de encaminhamentos e planejamento regional de ações no campo do beneficiamento e com uma mística final.