Cerca de 30 pessoas de todas as regiões do país reuniram-se entre os dias 26 e 29 de maio de 2015 na sede rural da ONG Caatinga, em Ouricuri-PE, para participar da Oficina Nacional sobre Análise Econômico-Ecológica de Agroecossistemas. Promovida pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) e pela AS-PTA a oficina teve por objetivo debater e exercitar método desenvolvido pela AS-PTA que será empregado para a realização de estudos sobre o desempenho econômico de agroecossistemas geridos pela perspectiva agroecológica em todas as regiões do Brasil. Para praticar o método, foram realizadas visitas a seis unidades produtivas familiares no território do Sertão do Araripe, onde o Caatinga atua há mais de 25 nos assessorando organizações da agricultura familiar.
De acordo com Denis Monteiro, secretário executivo da ANA, a oficina foi fruto do amadurecimento na rede da importância de organizar o debate e a incidência política a partir das realidades concretas vivenciadas pelos agricultores e agricultoras nos territórios, valorizando as experiências e compreendendo os projetos em disputa nos territórios. A atividade dá sequência ao III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), realizado em maio de 2014.
“O enfoque territorial tem sido cada vez mais incorporado. Procuramos responder por que interessa à sociedade apoiar a agroecologia, estamos produzindo evidências de que ela é importante para sociedade, de que a agricultura familiar é capaz de produzir alimentos saudáveis e conservar os recursos naturais. Dar visibilidade à existência de projetos em disputa nos territórios, mostrando projetos alternativos construídos pelas redes em contraposição aos projetos de desenvolvimento que impactam negativamente os territórios. Precisamos fortalecer o campo da comunicação para que as experiências agroecológicas dialoguem com as pessoas da cidade, e que o caminho do debate seja da realidade da agricultura familiar e dos povos e comunidades tradicionais para a construção das políticas públicas”, disse.
A estratégia da ANA é fazer esse olhar dos territórios e produzir essas evidências. Foi realizada uma seleção de territórios em todas as regiões do país. Esse encontro foi um momento de estudo dos fundamentos teórico-conceituais e dos instrumentos utilizados na operacionalização do método. Serão realizados estudos em sete territórios que serão valorizados em atividades regionais de mobilização como, por exemplo, as caravanas agroecológicas e culturais, seminários etc. Ao final do processo, a ANA publicará um livro com os resultados dos estudos e dos debates realizados nesses eventos territoriais
“É um momento de transição na ANA. Estamos passando do descritivo para o analítico. Momento histórico do movimento agroecológico. É um processo inicial, o método ainda está sendo construído. Minha preocupação é depois a análise dessas informações, no sentido de nivelar a forma como você escreve se queremos familiar as pessoas com uma linguagem acadêmica. É preciso conversar sobre o tema, e aprofundar a questão analítica. Precisamos refletir e nossa contribuição é superimportante”, destacou Denyse Melo, pesquisadora que apoiará a condução de quatro estudos de caso na Amazônia.
Segundo Paulo Petersen, da AS-PTA, um dos formuladores do método e facilitador do curso, o agroecossistema é a unidade de análise básica para compreender as dinâmicas de desenvolvimento agrícola. A ideia essencial é analisar as trajetórias evolutivas dos agroecossistemas, procurando identificar como as famílias agricultoras e as comunidades rurais respondem às mudanças estruturais que ocorrem através do tempo nos territórios em que vivem e produzem.
“Um dos fenômenos empíricos mais notáveis e, contraditoriamente, mais invisibilizados no mundo rural, é que a agricultura familiar assume diferentes trajetórias de desenvolvimento sempre que políticas públicas e atores do agronegócio investem recursos voltados à promoção da modernização agrícola. Em vez de promover uma homogeneização do mundo rural na linha do empreendedorismo mercantil, como pressupõe a teoria da modernização, o que se verifica é a geração de heterogeneidades entre os agroecossistemas de gestão familiar em um mesmo território. Identificamos essa heterogeneidade como diferentes níveis de campesinidade. O método permite comparar agroecossistemas geridos por diferentes lógicas econômico-ecológicas, desde as mais camponesas às mais empresariais”, afirmou.
Esperamos que esse esforço da ANA contribua para qualificar nossos debates sobre o desenho de políticas públicas para o desenvolvimento rural.
“Procuramos desenvolver um método que seja aplicável de forma universal, possibilitando que adaptações sejam feitas de forma a ajustá-lo a diferentes contextos socioecológicos. Ao mesmo tempo, o método busca integrar conhecimentos das ciências sociais e das ciências naturais. Finalmente, tem como objetivo criar ambientes de diálogo de saberes entre conhecimentos acadêmicos e conhecimentos populares, valorizando a ativa participação e as perspectivas de análise peculiares das famílias e comunidades, de homens e mulheres, de adultos e jovens”, acrescentou Petersen.
A proposta apresentada é interessante uma vez que a ferramenta é bastante analítica, pontuou Rosa Godinho, da equipe de Ater do CEAPAC, em Santarém (PA), com formação técnica em agroecologia. “Essa ferramenta vai contribuir grandemente com os aspectos sociais, econômicos e ambientais dos agroecossistemas através do olhar diferenciado das equipes que farão os diagnósticos”, afirmou.
“Essa metodologia abre a possibilidade de influenciar concretamente na Anater (Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural), mostrar na prática esse novo olhar da economia política, ecológica e feminista”, observou Lilian Telles, do GT Mulheres da ANA.
Fonte: www.agroecologia.org.br