Agricultores e agricultoras da Comissão de Criação Animal do Polo da Borborema se reuniram no Santuário Santa Fé de Padre Ibiapina, em Arara-PB, nos dias 7 e 8 de julho de 2015, durante o Seminário Ampliação e Fortalecimento da Rede de Beneficiamento e Armazenamento de Forragem do Polo da Borborema. O Polo é um conjunto de 14 sindicatos de trabalhadores rurais de municípios da região da Borborema na Paraíba, que atua desde 1993 pelo fortalecimento da agricultura familiar de base agroecológica no território.
Roselita Vitor, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Remígio e da coordenação do Polo da Borborema, ao abrir o evento e apresentar os objetivos do seminário, provocou a construção da contextualização do tema da criação animal no território com base nas perguntas: “Como era o período de travessia da seca, para as famílias e para os animais, no passado? Por que não estocavam forragem?”.
Seguiu-se uma rodada de falas que resgataram fatos marcantes que foram traçando um panorama da criação animal nos anos 80, antes do início do trabalho do Polo da Borborema na região: perda de animais por doenças ou fome, poucos animais, sobretudo os agricultores que não tinham terra, ausência do plantio de forragem, uso de palha do roçado e das plantas nativas da caatinga, a exemplo das cactáceas, a maioria das famílias trabalhava para fazendeiros e estes não permitiam que criassem, muitas só possuíam um animal de carga para o transporte de água, não havia informação, políticas públicas e incentivo para a estocagem de alimento e também dificuldade de acesso a equipamentos, atuação dos sindicatos estava mais voltada para os direitos previdenciários e o acesso à terra, contudo, a prática da estocagem é cultural e faz parte da estratégia das famílias agricultoras desde sempre, mesmo que em menor escala.
“A gente tem o privilégio de dizer que essa realidade é passada, pelo menos para aquelas famílias que estão dentro da dinâmica de organização do trabalho do Polo”, afirmou Felipe Teodoro, assessor técnico do Núcleo de Agrobiodiversidade da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, que assessora o Polo desde o seu surgimento. Felipe provocou os participantes a avaliarem como aconteceu a mudança para o momento mais próximo à realidade que existe hoje, depois que se passou a ter acesso a máquinas para produzir a estocagem com o incentivo do Polo da Borborema e com a organização para a confecção dos primeiros silos e o compartilhamento das máquinas por meio de rodízio.
Roselita Vitor lembrou a história de criação de rede e afirmação da experiência de estocagem das famílias do território: “O processo de estocagem no Polo teve uma trajetória, a gente experimentou o fenil e o silo de buraco em 1996. Em 1998, a gente já tinha três máquinas na região, nesse ano houve uma visita de intercâmbio com a Embrapa Sergipe, teve a experiência do silo tambor, o uso da gliricídia. Em 2000, a experiência do silo cincho e o silo trincheira, que vimos em Soledade” acrescentou. Avanços como a ampliação do número de famílias estocando, o aumento do número de animais e melhoria na sua saúde, o aprendizado para os sindicatos na gestão dos equipamentos, o fortalecimento da ação sindical, fortalecimento da agroecologia com a redução da compra de ração vinda de fora, aumento da autonomia das famílias, fortalecimento dos laços de solidariedade nas comunidades, que se organizam em mutirões e o incentivo para diversificar o uso de uma variedade maior de plantas forrageiras foram lembrados pelos participantes do seminário.
“Os agricultores foram vendo que era possível armazenar conforme a sua necessidade. A partir de 2008 a gente foi vendo a oportunidade de fortalecer essa rede, com a conquista dos agricultores junto aos Governos Estadual e Federal, a vinda de 10 máquinas ensiladeiras que ficaram sob a gestão dos sindicatos, uma luta para que elas não ficassem nas prefeituras, sujeita a interferências políticas”, lembrou o assessor técnico.
“Está claro que, quando chegam as novas máquinas, a gente começou a lidar com uma demanda maior, as pessoas passaram a estocar mais, aumentou o número de pessoas, de silos construídos, a grande conquista foi o Polo ter ficado com a concessão de uso dos equipamentos, pois se tivesse ficado com as prefeituras, não teria funcionado”, afirmou Antônio José da Silva, conhecido como “Toinho Cadete”, da direção do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Solânea.
“Lá em Massaranduba as pessoas se confiavam muito naquelas chuvadas, naqueles invernos grandes, eles quando viam a gente correndo para fazer silagem, diziam que a gente estava adivinhando seca, e que não tinha necessidade de estar guardando comida seca, não. Já hoje a gente vê estes agricultores que diziam isso procurando o sindicato também para fazer o seu silo. E cada vez mais temos conquistado mais pessoas que eram descrentes”, conta Gerusa Marques da Silva, agricultora do Sítio Cachoeira de Pedra D’água, em Massaranduba-PB.
No período da tarde, foi feita uma rodada sobre como cada sindicato está se organizando para dar conta da demanda das famílias pela estocagem de forragem. Os representantes dos Sindicatos falaram sobre ações como reuniões permanentes nas comunidades, calendário do uso das máquinas, Fundo Rotativo Solidário de lona, amolação de lâminas e manutenção das máquinas, custeio com despesas de combustível para as comunidades, custeio de transporte da máquina, óleo diesel, e custeio de lona. Após esse momento, os participantes se dividiram em três grupos para debater e avaliar como tem sido a gestão das máquinas nos municípios. À noite foi realizada, dentro da programação do evento, uma oficina sobre cuidados com as crias, ministrada pelo veterinário e assessor técnico do Núcleo de Agrobiodiversidade da AS-PTA José Devedê da Silva.
O segundo dia do evento foi iniciado com um resgate da oficina sobre manejo das crias da noite anterior, em seguida, foi feita a devolução dos grupos do dia anterior que avaliaram a gestão das máquinas e o trabalho de estocagem nos municípios. Os grupos levantaram avanços como: o fortalecimento de bancos de forragem, a preparação dos agricultores antes dos mutirões de forragem, a contribuição das famílias, os momentos de intercâmbio e formação, ampliação do número de comunidades atendidas.
Como desafios e propostas, foram elencados: a retomada de FRSs, trazer mais agricultores para os momentos de formação, o acesso as sementes forrageiras, demanda muito grande para a máquina, o acompanhamento do uso das máquinas, custo de manutenção dos equipamentos, a ampliação da participação dos agricultores e o fortalecimento da Comissão de Criação Animal, compra de um jogo extra de navalhas para evitar a interrupção do funcionamento, fundos rotativos para a compra de novas máquinas por parte dos sindicatos.
Após esse momento, os agricultores e as agricultoras discutiram a responsabilidade e elencaram princípios coletivos e compromissos políticos para o fortalecimento desse trabalho. Foram debatidos e encaminhados pontos comuns como: a representação do município e de cada Sindicato na Comissão de Criação Animal, a contrapartida das famílias, a criação de um fundo regional dos STRs para manutenção das máquinas. Fizeram ainda uma reflexão sobre a necessidade de estoque para alimentação animal e a constituição da Rede de Beneficiamento e Estocagem de Forragem do Polo da Borborema.
No encerramento do Seminário foi feita a entrega simbólica de uma ensiladeira, uma enfardadeira e um rolo de lona de 50 metros. Os equipamentos, um total de 10 unidades de cada um, foram comprados para o uso das comunidades nos municípios de atuação do Polo da Borborema com o apoio do Projeto Ecoforte – Programa de Fortalecimento e Ampliação das Redes de Agroecologia, Extrativismo e Produção Orgânica, que integra as ações do Plano Brasil Agroecológico, desenvolvido no âmbito da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica – Planapo. Os recursos são do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES e da Fundação Banco do Brasil – FBB.