Um grupo de agricultores ligados à Comissão de Sementes do Polo da Borborema e agricultores da Comunidade de Arara, município de Areial-PB, realizaram junto a pesquisadores da Embrapa Tabuleiros Costeiros, de Sergipe e a professores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), do Centro de Ciências agrárias, Campus II, em Areia-PB, além de assessores técnicos do Núcleo de Sementes da AS-PTA, uma avaliação participativa da produção de 10 variedades de feijão macassar, no dia 17 de setembro. De acordo com Emanoel Dias, assessor técnico da AS-PTA, essa fase do estudo buscou fazer uma análise qualitativa e o objetivo do ensaio é comparar a qualidade das sementes da paixão com variedades de feijão distribuídos nos programas públicos de distribuição de sementes, onde as famílias agricultoras tem papel decisivo nesse processo.
Das 10 variedades de sementes que fizeram parte da avaliação, três fazem parte das variedades de feijão distribuídas pelo Projeto Sementes do Semiárido, e são da Embrapa (Pajeú, Nova Era e Guaribas). As outras sete variedades fazem parte dos estoques dos cerca de 60 Bancos de Sementes Comunitários (BSC) existentes na região da Borborema (Sedinha, Corujinha, Verde Ligeiro, Cariri, Costela de Vaca, Azul e Sempre verde). Nesse momento de avaliação as variedades não foram informadas para as famílias, cada uma delas estavam marcadas por códigos, evitando que algumas fossem privilegiadas.
A proposta do experimento foi avaliar o desempenho das sementes cultivadas pelas famílias agricultoras da região em comparação com as variedades da Embrapa. O ensaio comparativo foi realizado em dois campos, uma na sede da AS-PTA no Centro Agroecológico São Miguel, em Esperança-PB, e outro na comunidade Arara, município de Areial. Um terceiro plantio foi feito no Assentamento Oziel Pereira, mas nesse momento as plantas não estão no estágio de maturação para realizar essas análises.
Para a avaliação, a Rede de Sementes da ASA Paraíba, definiu junto com os agricultores sete atributos importantes que não podem faltar numa variedade de feijão macassar como: a produção do feijão, da vagem, a resistência à seca e as doenças, a produção de folhas, número de vagens por plantas, a altura das plantas e a relação entre produção de folhas e vagens. A professora do departamento de solos da UFPB, Vânia Fraga, acompanhou o experimento junto com cinco estudantes de Agronomia. Ela diz que ficou muito impressionado com a avaliação dos agricultores e agricultoras: “O que me chamou a atenção é que eles não davam respostas sem pensar, apenas para responder ao questionário, a gente via que eles eram muito criteriosos, que tinham um respeito muito grande pelo trabalho, e tinham um olhar muito da sua vivência, da sua prática, eu acho que é um outro nível de observação”, avaliou a docente.
O pesquisador na área de Agroecologia da Embrapa Tabuleiros Costeiros, Amaury Santos, chama a atenção para o fato de apesar de estarem submetidas a condições tão pouco favoráveis, as sementes dos agricultores apresentaram um desempenho muito bom. Dentre as 10 variedades, duas delas se destacaram: “Claro que todas as sete variedades dos agricultores, estão ali por algum motivo, elas já são um material genético selecionado pelas famílias, mas houve duas delas que nos surpreenderam, pois apresentaram um resultado muito além do esperado”, disse.
A agricultora Tereziana dos Santos Silva, moradora do Sítio Arara, em Areial-PB, participou pela primeira vez de uma pesquisa participativa, ela achou interessante a experiência: “O feijão foi plantado fora de época, as chuvas vieram tarde, e teve uma variedade que deu bem, a planta ainda estava verde, com canivete, no momento da pesquisa eu não sabia, mas depois a gente confirmou que era a do macassar sempre verde, que a gente sempre planta aqui. A gente tinha aquela certeza, mas só depois confirmamos que era dele”.
Após a avaliação participativa com as famílias agricultoras, será iniciado outro processo de avaliação quantitativa. Nesse momento serão avaliados os seguintes parâmetros: tamanho das vagens, quantidade de sementes por vagens, o número de vagens por planta e a produção de sementes. Quando será realizada outra atividade com as famílias agricultoras para compartilhar os resultados e produção de cada variedade.
O Projeto Sementes do Semiárido é desenvolvido em parceria pelas organizações da Articulação Semiárido Brasileiro, com apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Governo Federal por meio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) no âmbito do Programa Brasil Agroecológico – Plano Nacional de Produção Orgânica e Agroecologia (Planapo). Na Paraíba existem três unidades gestoras do Projeto, uma delas é a AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, que atua em parceria com o Polo da Borborema, uma rede de 14 sindicatos rurais da região da Borborema.