A comissão de jovens do Polo da Borborema participou, nesta quinta-feira, 19 de novembro, do Seminário Regional para Construção Coletiva da Problemática e das Hipóteses do Diagnóstico da Juventude, na sede da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia. O objetivo do seminário foi dar início às ações com participação efetiva dos jovens no desenvolvimento do projeto “Diagnóstico das trajetórias e projeções de futuro dos jovens”, que tem a finalidade de realizar um estudo sobre os aspectos objetivos e subjetivos que conformam as trajetórias e projeções de futuro dos jovens em comunidades rurais da região Agreste da Paraíba, região de atuação do Polo da Borborema, com assessoria da AS-PTA.
A atividade também teve como objetivo mobilizar os jovens participantes a tecer primeiros elementos sobre sua participação política e reflexão dos processos organizativos. Foi também a oportunidade de preparação de um grupo de jovens que participará de modo protagonista no acompanhamento dos estudos de caso, fase posterior do projeto.
Estiveram presentes cerca de 30 pessoas da coordenação ampliada da Comissão de Juventude do Polo da Borborema e do Núcleo Infância e Juventude da AS-PTA, além de assessores técnicos de outros núcleos que têm ação direta com a juventude. A programação teve início a proposta da realização de um diagnóstico da juventude. A partir daí, partiu-se para a questão: o que é um diagnóstico? Quantos de nós participaram do momento em que foi construído o mapa do Polo? Podemos chamar esse mapa de diagnóstico?
Foi relembrado ainda o início do trabalho com a juventude do Polo da Borborema, a partir da realização do I Encontro da Juventude Camponesa, em 2010, com a participação dos jovens que estiveram envolvidos, enquanto crianças, com a Campanha pelo Fortalecimento da Vida na Agricultura Familiar, que teve início em 2002 e atua até hoje.
Após uma rodada de debate acerca da necessidade e importância de conhecer a realidade da juventude, os participantes foram divididos em dois grupos para refletirem sobre as seguintes questões: O que é a nossa ação com a Juventude do Polo da Borborema? Quais os desafios para a gente desenvolver esse trabalho? Quais os desafios
No final da manhã, os grupos se reuniram para a socialização das discussões. Como principais desafios para o trabalho com a juventude, foram elencados: a falta de incentivo de alguns pais; a falta de interesse de alguns jovens em participar; uma mídia e uma escola que desvalorizam a agricultura familiar; a dificuldade de envolver jovens mais maduros, que já se casaram; a falta de confiança de alguns pais nos jovens; a violência no campo; a dificuldade de acesso à terra e de acesso a políticas públicas para a juventude rural; a politicagem nos municípios que barra o acesso a serviços e políticas locais e o alto número de jovens contaminados pelo vírus HIV e de gravidez na adolescência, entre outros.
Na avaliação dos grupos, mesmo com estes desafios, muito tem sido feito no sentido de superá-los, a exemplo da campanha com a infância, que pavimenta o caminho para a entrada dos jovens no trabalho; o acesso às mídias (rádios comunitárias, boletins, cartas da juventude do campo, vídeo-cartas, calendário do Polo com tema da juventude) que contribuem na valorização e autoestima do jovem, assim como o incentivo dos Sindicatos do Polo à juventude, o apoio com kits de viveiristas e o estímulo para a participação dos jovens nas feiras agroecológicas.
Os Fundos Rotativos Solidários (FRS) voltados para a juventude também foram lembrados como ações que ajudam a reduzir o êxodo rural e dão autonomia aos jovens, à medida que geram uma fonte de renda: “Se não fosse esse trabalho, não estaríamos na agricultura, mas trabalhando nas cidades, sendo explorados, vivendo em um mundo que não é o nosso. Eu acho que os fundos rotativos de pequenos animais são uma oportunidade para os jovens, de dizer ‘esse animal é meu, eu quem vou cuidar e decidir o que fazer com o recurso’, assim como esses projetos tem contribuído no sentido de fazer o jovem querer mais, como participar das feiras”, avalia Mônica Lourenço, de 17 anos, do Assentamento Caiana, em Massaranduba-PB, integrante da comissão de jovens municipal.
Os participantes também refletiram sobre as desigualdades de gênero na juventude, à partir do questionamento de Adriana Galvão Freire, assessora técnica da AS-PTA: “A confiança depositada em jovens homens e mulheres é igual?”, quando se debateu o problema da falta de autonomia dos jovens em experimentar devido à baixa confiança dos seus pais. A partir da rodada de percepções, os jovens apontaram que muitas vezes a filha não pode ser herdeira e que a partilha de terras prioriza os homens, a quem a terra é mais cedida; alguns pais consideram que o trabalho na terra é pesado para a mulher e que elas são mais estimuladas a se casar para ter terra e maior autonomia.
Outro ponto abordado durante os debates foi a forma como a educação, seja na cidade ou seja pelos professores da cidade que lecionam no campo, acaba se constituindo com um bloqueio para a permanência dos jovens na agricultura e como alguns pais foram construindo uma imagem para seus filhos que a vida na agricultura é de sofrimento e poucos ganhos. “Já na escola, nos ensinam para um negócio chamado ‘mercado de trabalho’, que é muito mais para sustentar as empresas. Para você ir buscar coisas que muitas vezes, você nem precisa”, disse Edilma da Silva Alves, de 20 anos, agricultora do Sítio Capivara III, em Solânea-PB.
Delfino Silva Oliveira, mora com os pais no Sítio Riacho do Boi, em Esperança-PB, ele conta que dos oito irmãos, foi um dos três que decidiu ficar trabalhando na agricultura e afirma que a sua renda é maior do que a dos meus irmãos que estão com empregos na cidade. “Ouvindo o depoimento de Delfino, a gente percebe o quanto é revestida de preconceito a ideia de que não dá para viver da agricultura, de que agricultura ‘não dá dinheiro’”, comentou Adriana Galvão Freire.
A jovem Mônica Lourenço, também criticou o modelo de educação adotado até pelas escolas do campo: “A gente tem uma educação no campo, mas para a cidade. Ao invés de trabalhar uma doença que a sua cabra pode ter, estuda um semáforo de uma cidade. É muito difícil quando a gente termina o fundamental e tem que ir para escola na cidade, enfrentar preconceitos, até bulliyng. Meus professores me criticam muito, pelo meu trabalho no sindicato e na agricultura”, afirmou.
As sínteses produzidas na oficina de levantamento de informações serão o ponto de partida para a construção de hipóteses da pesquisa e as referências nortearão o próximo passo, ouvir os jovens em suas comunidades. Ficou encaminhado com os jovens da comissão a um mutirão de sistematização que será nos dias 10, 11 e 12 de novembro.
O projeto “Diagnóstico das trajetórias e projeções de futuro dos jovens” é apoiado pela entidade de cooperação internacional suíça “Terre des hommes (terra dos homens) schweiz – oportunidades para jovens”.